ET INNOCENTIAE LABEN - OCCULTATUM II

- Sim, conseguimos... - Damaru não parece tão animado. - Mas a que preço? Como você está se sentindo, Amus?

Seu corpo lentamente volta ao estado normal. Ele também permite que o corpo da criatura recupere seus veios incandescentes, mas sabe que o efeito do frio não abandonará sua mente e espírito tão cedo. O Ancião deixou sua marca.

Ele aproxima-se de seu temporário aliado, tenta entender os efeitos que o golpe causou no corpo de Amus. Damaru não entende como as coisas funcionam deste lado do Véu, então não sabe medir se é grave.

- Espero sinceramente que esta aquisição lhe tenha alguma valhia. - Ele se refere ao caçador aprisionado.

- E agora, o que me diz? Há outra possibilidade de passarmos pelos portões? - Ele não pega a bolsa de volta, prefere manter os braços livres. - Fique. Em breve será sua, de qualquer forma. - 'Não é como se você pudesse fugir de mim', ele conclui em pensamento.

Como Miles suspeitava, aquilo não era um simples mausoléu. Os caixões quebrados, além dos resto mortais e inanimados, indicavam que havia tido uma luta ali. O tempo era uma questão chave, pois pelas roupas de época, isso ocorrera há décadas, se não séculos. Ele observa esses detalhes, até que os dois caixões em destaque lhe chamam a atenção. Seu corpo treme um pouco com a visão. Não por medo, mas por uma excitação momentânea. O sarcófago de um ancião que dorme há eras é a primeira coisa que passa por sua cabeça. Ele se aproxima, ávido por abrir aquilo e dar fim àquele sangue antigo. Porém sua cautela fala mais alto. Aquilo podia não ser o que ele pensava.

O Lasombra circunda os caixões, estudando cada detalhe. Procurava alguma marca ou inscrição, tanto na rocha quanto no machado, mas sem tocá-los. Se havia correntes por fora, era pra impedir que algo saísse. Não parecia com o local de descanso de um Antigo. Uma prisão. O pensamento retorna. Não ousaria abrir a tampa de pedra, não ainda. Ele continua a investigação, elevando-se na cúpula, até se deparar com algo mais estranho. Uma aranha gigante. "Puta merda", ele pensa. Não havia como ser outra reação. Apesar de vampiros e lobisomens já se tornarem normal, um aracnídeo daquele tamanho não era algo comum. As conexões são feitas mais uma vez. Deuses. Aranha. Guardião do portal do inferno. Diabo. Prisão. O olhar daquela fera é como um catalisador. Ela era o guardião ali. Inferno e diabo podiam ser metáforas para algo terrível, porém não era coincidência.

Se houvesse uma boca naquelas sombras, ela estaria sorrindo. "Se eu não estivesse na minha forma atual, seria emboscado como uma mosca". As palavras passam na sua cabeça e, diante da mudança de paradigmas na situação, Miles decide o que fazer em seguida. Sua missão em Nuiqsut era ser um batedor para confirmar a previsão de um Malkaviano. Antes de chegar lá, não havia uma informação sequer, apenas o suposto evento sobrenatural. De fato, ele existia. Alguns detalhes ainda lhe faltavam, mas as evidências o levavam a crer que não era só um devaneio de um Cainita louco. Portanto, precisava relatar isso o mais rápido possível, e depois poderia seguir e descobrir mais coisas. Ele desce de sua posição, cauteloso e ainda estudando os movimentos da besta. Seu chute era que ela ainda não o percebera, já que sua interação com o ambiente era mínima, mas também havia a possibilidade de ela estar guardando apenas o caminho à frente. De toda forma, o Lasombra retorna pelo caminho que fizera, esgueirando-se por fendas. Ao final de ambos bloqueios, iria procurar um local seguro para ligar para aquele que o enviou e contar o que descobrira.

- Compreendo. - Ele retoma a sacola, colocando-a no ombro. - Em todo caso, fico feliz que nosso encontro tenha lhe rendido algo de valor.

Para existir em meio a terras tão assoladoras e selvagens, é natural que a cidadela tenha meios bastante restritos de acesso. Inconveniente, mas compreensível. Neste caso, Damaru decide averiguar suas opções.

- Abrirei então minha passagem adentro. Vá em paz, Amus. - Ele se despede, tomando outro rumo. Negociar almas não é do feitio de Damaru, então qualquer informação extra sobre o tal portal não lhe interessa.

Assim que sai da vista de Amus, o Ancião oculta-se completamente (Presença Invisível). Ele aproxima-se do portão, observando cuidadosamente como se dá o processo de entrada na cidade. Ele observa quem entra, o que eles portam. Ele observa quem vigia, como se dá a liberação. Em detalhes, adentra suas mentes (Telepatia) para entender o que buscam nos viajantes. Busca exceções a regra, histórias de acessos facilitados no passado. Trocas de turno, outras entradas de acesso restrito.

O ancião toma seu tempo estudando e estudando. Olhos e ouvidos que, das sombras, nada deixam escapar.

Miles prefere seguir pelo caminho mais cauteloso. Ele retorna pelos túneis escuros e sobe de volta até a igreja, no entanto não havia mais energia elétrica na cidade. Ele ri do seu azar, lembrando que as luzes não haviam acendido quando ele entrara no calabouço. Então havia sido mesmo um blecaute. "Que hora mais oportuna", pensa ele com ironia. Levando isso em consideração, havia duas possibilidades. Esperar e tentar investigar as coisas aqui em cima até a energia voltar, para então avisar à Mão, ou retornar ao subsolo e, sozinho, chegar ao cerne desse misterioso fenômeno lá. As duas opções não o agradavam, pelo fato de que provavelmente não dependeria só dele. Teria de ter sorte para a energia voltar em um momento adequado ou para que as informações necessárias estivessem ao seu alcance depois de descender novamente.

O Lasombra pondera quando luzes fora da igreja chamam sua atenção. Ele rapidamente entende a situação. Um ônibus, provavelmente de forasteiros, parou na cidade por acaso e agora todos estavam prestes a morrer nas mãos dos locais. Ou era o que ele pensava a princípio. Quando o fogo se alastra por um dos homens, logo nota-se que havia um dedo sobrenatural naquilo. Um Tremere talvez, ou um mago. Mais e mais peças poderosas apareciam no tabuleiro a cada momento. Sua hipótese era que outras criaturas, assim como ele, estavam sendo atraídas para aquele local pelos eventos que estavam para acontecer e isso não era necessariamente uma coisa boa. O veículo acelera, vindo na direção da igreja, e caos se instaura. Era uma oportunidade para Miles, quem sabe, entender um pouco mais dos objetivos alheios ali e, além disso, diminuir a quantidade de inimigos. Não deixaria que outros interferissem em seus negócios como o Desgarrado na estrada. Ele aproveita seu corpo de sombras para ascender e ocultar-se na parte superior da igreja, escolhendo um canto que permitisse-o atacar caso necessário, mas também ver a confusão se desenrolar sem se expor caso o ônibus saísse desgovernado quebrando tudo e, no pior dos casos, explodisse.

Do topo da igreja, Miles avistava novamente a estátua da serpente em uma das bordas da cidade, além de uma estátua da aranha, a qual ele não havia visto antes, na outra extremidade. Ele estava certo em pensar que tais monumentos eram importantes, já que várias pessoas se reuniam ao redor deles. Porém a situação com o ônibus era mais urgente. Ele aproveita o confronto para contar as pessoas envolvidas. Segundo suas observações da situação, ele imaginava que dentro do veículo houvesse no mínimo dois indivíduos, sendo um deles o autor das chamas e o outro o motorista, porém poderia haver muito mais. Os mortais do vilarejo não teriam chance, mas serviriam como uma distração, adequando-se aos seus propósitos. O motorista perde o controle e choca-se contra uma casa, então logo alguns dos locais começam a invadir o local. Miles aproveita o momento caótico e tenso para se mover furtivamente até o topo de uma casa vizinha a fim de poder ter uma percepção melhor da situação e uma posição melhor para agir. Sua forma negra e disforme podia lhe dar certo privilégio nessa movimentação.

Enquanto o Guardião se aproxima, os gritos de dor começam a ecoar de dentro. Os tiros intercalados eram só uma forma vã de impedir a morte do atirador. Em sua cabeça, aqueles homens já eram. Nesse momento, o Lasombra percebe que não devia apostar contra a sorte. Apesar da sua necessidade de mais informações, arriscar e deixar escapar a oportunidade de eliminar um possível inimigo seria uma péssima decisão. Se ele fosse poderoso, poderia não haver outra chance. No entanto, se meter no meio do conflito sem um plano também era uma má ideia. Deixaria, então, as forças opostas se minarem, para então agir. Ele aguarda como um predador, avaliando as rotas de fuga do local e espreitando até a hora de atacar.