Frias Noites em Denver - Inverno Vermelho

Mais uma noite se iniciava e com ela a nova vida do ex bombeiro. Levantava-se da cama vagarosamente, ainda com uma certa preguiça, se alongava, olhava para o lado e criava coragem para colocar sua nova cortina que havia chegado por volta de duas noites atrás, talvez aquele fosse o momento de tornar seu lar mais seguro e confortável para seu novo eu. Vestindo uma calça de moletom preto ele abria a encomenda e colocava a cortina na sala, faltava só aquele cômodo para o apartamento ficar totalmente seguro do sol ‘pronto, acho que não falta mais nada.’ pensava enquanto olhava para todos os cômodos tentando lembrar se faltava ajeitar algo. Ia para o banheiro, ainda com hábitos antigos de humano que insistiam em ficar. Escovava os dentes, arrumava o cabelo em frente ao espelho, ligava o chuveiro e esperava a água esquentar um pouco e tomava um rápido banho. Saia do banheiro com a toalha enrolada na cintura, ligava a tv da sala e aumentava o som enquanto procurava algo confortável para vestir. Uma calça jeans preta que havia ganhado em seu último aniversário e só tinha usado duas vezes no máximo, uma camisa cinza simples de manga curta, um moletom cinza escuro e por cima um casaco preto jeans um pouco mais comprido do que o habitual.  Ia para frente do espelho, arrumava seu cabelo quando as notícias do jornal chamavam sua atenção ‘Dez pessoas mortas, que tragédia. Será que foi o nosso regimento que atendeu esse chamado?’ Sentava na cama para colocar seus coturnos, havia aprendido a gostar daquelas botas graças ao quartel e ao mesmo tempo era uma memória saudosa de sua melhor época.

Pronto para sair ele escutava o jornalista dando as características físicas de um suspeito. Com o controle na mão, aumentava o volume e prestava atenção nas palavras do chefe de polícia e do xerife ‘Só questão de tempo… Eles não fazem ideia de onde o cara está isso sim.’ - Franklin Oswald Walker - repetia o nome com um certo rancor. A criação típica patriota dada por seu pai lhe aflorava toda vez que alguém fazia algum absurdo. Pegava seu smart fone da geração passada e salvava a foto desse desgraçado para que não esquecesse com tanta facilidade. Podia ter se tornado um sangue suga mas jamais seria comparado a um verme como esse sujeito. Ao terminar de ouvir parava para pensar mais um pouco ‘Será que ele era um vampiro e está fugindo de algo? Como as coisas mudam depressa. Eu jamais me colocaria em pé de comparação com um sujeito como esse mas como as situações mudaram, eu poderia ser ele há qualquer hora. Um recém criado sem informação alguma ou alguém fugindo de algo.’ - Hora de desligar! - apertava o botão vermelho do controle, estava começando mais um episódio daquele programa da família que ficou rica por causa de uma gravação pornô e agora todas são famosas e tem bundas grandes.

Verificava se tinha esquecido alguma luz acesa, algo na tomada, algo do gênero antes de sair. Passava seu perfume rapidamente, pegava a chave de casa, seu celular, sua carteira e trancava a porta de seu apartamento. Era hora de sair, se alimentar. Não era seu melhor momento já que sua sede por sangue ainda estava sendo digerida, a ideia de quase matar alguém para sobreviver era muito primitivo e o jeito que o fazia também o assustava. Ainda não sabia controlar muito bem essa besta que crescia quando sentir o gosto de sangue em sua boca. Normalmente suas caças aconteciam em bares afastados do bairro onde morava, procurava mulheres solitárias, com baixa auto estima e que estivessem sozinhas. Muitas características mas assim não saia caro. Não possuía carro e nem moto, havia aprendido a dirigir quando estava no colégio mas nunca gostou muito da ideia, talvez tenha sido por ver muitos acidentes e concluir que era mais seguro usar o transporte público e também tinha mais contato com o mundo, se sentia menos excluído do que já é… Seu andar era duro, passadas curtas, sempre muito atento, mãos no bolso, sem nenhum adorno ou algo que chamasse atenção. Seu celular no bolso do casaco, sua chave no bolso esquerdo da calça. Se encaminha para o metrô reparando que o noticiaria realmente havia deixado as pessoas um pouco assustadas, a rua estava mais vazia do que imaginava, por sequência dos terríveis fatos que haviam acontecido ‘ Tomara que seja uma noite tranquila’ pensava enquanto caminhava.

ão Francisco, conhecida pela névoa que dura o ano todo, pela emblemática Ponte Golden Gate, por seus bondinhos e por suas coloridas casas vitorianas. Apesar de toda essa beleza era mais conhecida pela violência constante, gangues, garotas de programas e pubs de quinta categoria. Antes disso tudo acontecer, raramente frequentava tais lugares, não gostava de multidão, não apreciava bebidas alcoólicas e muito menos pagar por sexo, nunca precisou. Só que agora, aprendendo a conviver no meios dos humanos, precisava se misturar e nada melhor que um local em desordem para se camuflar entre os demais. Multidões hoje em dia era perfeito para perseguir possíveis vítimas, se esconder ou até fugir de futuros perigos. Bebidas e drinks eram artimanhas que usava para fraquejar sentidos mais aguçados e sexo, era seu meio de conseguir se nutrir. Kane precisava de uma substância, um hormônio para que pudesse se alimentar, a única explicação lógica que havia conseguido, por si só, para tal fato era sua atividade como bombeiro, seu corpo na hora do abraço devia estar no ápice e durante a transformação virou necessário ter isso.

Ao passar pelo local que aconteceu toda essa mudança ele parava em frente, refletia, lembrava de detalhes ‘Maldito! Ainda vou vou te achar…’ pensava no causador de tudo aquilo. Era um vingança não selada mas um dos objetivo da nova vida de kane era achar Jack, seu 'criador'. Seguia em frente, atento as pessoas em volta pois sabia que ali poderia ser perigoso, até para ele. Virava uma esquina e avistava algumas mulheres, um jeito fácil de se alimentar e sem levantar muitos questionamentos. Naquele local pessoas desapareciam toda hora, garotas de programas então não seria nenhum fato novo. O jeito frio de pensar em determinadas coisas o incomodava, era como se cada vez estivesse perdendo o lado humano. Infelizmente a fome e o desejo falavam mais alto ‘Uau, bela bunda…’ reparava no pequeno short que a mulher vestia. O convite era feito de uma forma direta e não havia reação nos primeiros segundos. Um pouco sem jeito com aquela situação ele então respondia - Err.. É claro! Para onde podemos ir? - Questionava olhando para os lados, procurando um lugar com mais privacidade.

A inexperiência era tanta que ele mal desconfiava que poderia ser uma vampira, um caçador, alguém querendo algo mais. Ele simplesmente via uma oportunidade caindo no seu colo para se alimentar e ia.

Às vezes o destino aponta certos caminhos que não tem como recusar. O banquete já estava servido, agora era hora de se lambuzar. O vampirão sedutor seguia a moça de mãos dadas, sentia uma vergonha por estar fazendo isso mas já conseguia sentir o sabor do vitae descendo por sua garganta. Era conduzido para um quartinho onde de longe já ouvia alguns gemidos graças a sua audição apurada, o cheiro também não era um dos melhores mas já tinha sentido piores ‘Que pocilga!’  Apesar do lugar abafado, sujo e com pouca iluminação e sendo de longe um dos lugares nos quais o desgarrado jamais escolheria para fazer algo, precisava se desprender de certas frescuras para poder sobreviver. Abrindo sua carteira e tirando duas notas de vinte ele colocava em sua cueca e falava - só pegar! - no jeito mais cafajeste que podia soar. Se encostava na parede, puxava a mulher pela cintura, agarrava aqueles seios com vontade e os chupava. Conforme as coisas foram ficando quentes, Kane ia ficando mais selvagem, deixando seu lado animal florescer. Colocaria a mulher de joelhos à sua frente e deixaria que ela fizesse um bom oral, controlando a velocidade com as mãos em seus cabelos. Sabia que o poder de sangue era tão poderoso que faria com que ele se sentisse vivo novamente, se sentisse duro e rígido o suficiente para aproveitar aquele momento. Depois de alguns minutos, a colocaria contra a parede e começaria uma masturbação para que ela sentisse o prazer, prenderia suas duas mãos contra a parede, segurando firme, quando sentisse que aquelas mãos hábeis estavam sendo condutores de prazer, beijaria seus pescoço, pararia a onda de prazer e tampava sua boca, deixando assim suas presas para fora e daria uma mordida em seu pescoço. Infelizmente a falta de prática e de experiência deixava aquela onda de prazer ir embora e virava agonia, dor, sofrimento… O beijo do vampiro era algo feroz, talvez enfiasse as presas muito fundo e fizesse que isso incomodasse de uma maneira que jamais poderia descrever. Com a força seguraria a mulher para que ela não gritasse e nem tentasse sair até que sua sede estivesse ido embora. Quando estivesse satisfeito, lamberia os ferimentos, a colocaria deitada em uma posição confortável, se limparia se tivesse como, pegaria o seu dinheiro de volta ‘Desculpa moça, não foi um serviço tão bom assim.’ arrumaria seu cabelo, sua roupa e antes de sair verificaria se estava barra limpa para poder sair sem ser incomodado ou então questionado. As vezes o humor mórbido recém adquirido surpreendia o próprio.

Conseguindo sair dali sem incomodo algum, andaria mais um pouco pela região, quem sabe o que poderia descobrir ou encontrar de novo. Talvez Jack estivesse por perto ou então alguém que o conhecesse. Um pub talvez, fosse um bom lugar após o acontecido. Andava atento a região por saber que era perigosa, as mãos nos bolsos, um andar rígido, cabeça mais baixa que o normal. Prestaria mais atenção nos becos, aquela porta vermelha havia deixado o cainita um pouco chateado por não ter notado, um erro que iria ser corrigido agora 'Vamos lá Kane, o que fará agora? ' questionava-se no quesito de não ter um rumo certo e nem algum plano para aquele dia. Ao entrar no bar, retiraria suas mãos dos bolsos do casaco, esfregava os pés no tapete ou no próprio chão antes de dar o segundo passo, repararia na clientela local apenas por costume, não que estivesse procurando alguém em especifico, daria alguns passos, se desviaria das pessoas da melhor forma possível, - Licença - falava ao passar para um lugar que achasse o mais isolado possível para ter uma boa visão do local. Olharia as entradas e saídas, coisas de um profissional que gostava de saber a saída de emergência ou saídas possíveis caso acontecesse alguma coisa.

Kane havia planejado em sua cabeça como faria assim que entrasse no pub. Movimentos simples, furtivos, procurando sempre por saídas e com o olhar atento para achar quem procurava. Tudo isso não passava de um planejamento, já tinha ouvido falar que quanto mais você imagina o que irá fazer, quando realiza, se torna mais fácil. Procurando o ambiente mais propício para encontrar seu desafeto, caminhava bastante, cerca de três quarteirões e finalmente havia visto algo que pudesse lhe trazer mais informação. Enchendo seu pulmão de ar, em um ato de se preparar para o que iria fazer, era surpreendido com a ação de um carro a sua frente, interrompendo sua passagem ‘Que porra é essa ?!’ pensava surpreso. O carro preto de vidros escuros abria as portas e os olhos do vampiro se arregalaram ao perceber que a garota de programa que havia deixado minutos atrás, estava presente e machucada ‘Caralho! O que eu fiz?’ Fechava sua expressão imediatamente assim que via que possivelmente ela havia sofrido uma agressão e sentia um certo remorso quando ela mal conseguia afirmar que era Kane que havia lhe passado a perna. Os sentimentos se misturavam de uma forma muita intensa e rápida. Ao mesmo tempo que sentia pena daquela mulher por ter colocado ela naquela situação, uma voz interior repreendia esse sentimento, havia sido uma ação por sobrevivência própria, os mesmo podem ter sido errados mas a intenção é sobreviver a qualquer custo.

O caitiff se deparava com uma situação conflitante. Sentia pena da mulher e ao mesmo tempo uma raiva vinha crescendo devagar pelo fato dela ter apanhado. Criado por uma família religiosa, com pai militar e sempre muito bem quisto pelo público feminino, ele havia aprendido desde de garoto que não se devia levantar a mão para uma dama e o fato dela ter apanhado por culpa do mesmo fazia com que ele fechasse os punhos, cerrou o cenho, comprimiu os olhos, mostrando seu total descontentamento com aquela situação. A raiva era por ela ter sido agredida, por ser tido por culpa dele, por aqueles dois que desciam do carro que a agrediram e por ter sido irresponsável e não ter pensado que isso poderia ocorrer ‘Como fui burro. Como fui deixar que isso acontecesse…’ Tudo isso era em questões de segundos e quando o homem, aparentemente Ucraniano, Russo talvez lhe cobrava algo, ele abria um sorriso de imediato. O vampiro sempre achava os sotaques engraçados, ele lembrava de um amigo do corpo de bombeiro que vinha do Texas e das altas risadas que dava. Ao ver que possivelmente aquele homem estava armado e possivelmente todos eles também estariam, Kane dava um passinho para trás, olhava para os lados, pra trás para analisar e compreender o que havia por perto e então dizia - Espero que isso aí não seja felicidade em me ver - a voz era serena, como de quem queria rir da própria piada mas se segurava, mantinha movimentos simples, sabia que qualquer insinuação poderia acabar em tragédia e não queria que isso acontecesse ‘Será que consigo acabar com todos eles?’ com a cabeça mais centrada no que aquilo poderia resultar, questionava-se se seus poderes, recém adquiridos, poderiam lhe tirar daquela situação. Independente de como aquilo iria terminar, sua primeira opção sempre seria a passiva, o diálogo.

Sem surpresa nenhuma que a piada infame não teria graça, contudo já revelava a situação e seriedade que aqueles homens estavam determinados a ter. Cobrado novamente e percebendo que se não conseguisse persuadir ou então fazer alguma coisa a situação mudaria de figura, agia por um impulso da emoção. Suspeitava que aqueles dois a sua frente fossem humanos e por mais que tivessem armados, se considerava mais rápido que aqueles dois e que talvez, aquele homem dentro do carro pudesse ser algo a mais e a preocupação seria maior, decidia resolver aquela situação de forma normal. Sentia a adrenalina correr suas veias como sentia quando entrava em um prédio em chamas por exemplo (1ps em destreza). Com uma fisionomia totalmente diferente, ele adotava uma postura mais rígida, abria um pouco sua base de apoio e com uma firmeza em sua voz, deixando o tom de descontração de lado - Dou $40,00 e estamos quites - Sabia que dificilmente seria aceito mas estava ganhando tempo. Imaginava como as coisas iriam acontecer em sua mente para testar a teoria. O homem com sotaque engraçado seria o primeiro, um soco na barriga e depois um chute no peito do outro, esperando que esse voasse longe e por último agarraria o primeiro para fazer de escudo humano. Pensamento positivo

Quando você começa a pensar que a solução de seus problemas é recorrer a força bruta é porque você já perdeu. Não era segredo que aquele ser galante, normalmente acostumado a ser sempre atendido em seus pedidos recorresse a força bruta quando era encurralado. Como era uma situação que havia acontecido pouquíssimas vezes e empolgado por sua nova condição, onde dúvidas e medos lutavam para saber se essa mudança havia sido boa ou ruim, uma vontade de se experimentar, de se testar, de saber seus novos limites crescia… Talvez o fogo que ardia quando era bombeiro agora fosse substituído por esse conhecimento de sustentar, de se provar, de saber qual era seu valor dentro daquele novo mundo. Tentando não partir para a violência ele tentava usar de sua audição aguçada para quem sabe conseguir ouvir os batimentos, caso ouvisse, teria certeza que aqueles seres eram humanos e talvez não lhe fizessem tanto mal assim, se fosse esperto. Agora, se ouvisse a falta de um, talvez não de todos, a situação poderia mudar de figura. Talvez não estivesse pronto para ter um duelo de não vivos. Ao ouvir a explicação do sujeito, ele olhava para trás para saber onde estava pisando, dava dois passos para trás, abaixava a cabeça, fitava bem aqueles homens e respondia - Não abusem da minha boa vontade. Peguem - jogava quarenta dólares no chão - ou caiam fora antes que as coisas comecem a ficar ruim para vocês - dava pequenos passos para trás procurando a sombra de algum canto. Sua tentativa de persuasão, intimidação era baseada em seu porte físico, a localidade, até em sua voz mais robusta, sua aparência e até sua postura militar. Era apenas uma carta em sua manga, havia outras ideias que poderiam dar certo… Essa situação fazia seu sangue ferver pela adrenalina que a situação se demonstrava, se não tivesse se alimentado recentemente ficaria tentado em rasgar suas veias e ter aquele líquido em seu paladar novamente.

Apesar de não ter muita certeza em suas suspeitas levaria em conta o seu instinto e trataria aqueles seres como humanos, sem maiores desafios. Ao ver que estavam bem equipados, sentia uma certa relutância, um certo receio de como aquilo poderia terminar, afinal de contas não dominava por completo suas novas habilidades 'Deveria ter dado o dinheiro' pensava ao ver a arma de choque, que era sua maior preocupação 'Não posso deixar ele me acertar com aquilo.' planejava em como poderia acabar com aquilo rapidamente. Levantava seus punhos e fazia sua postura de luta. Pernas um pouco arqueadas, punhos fechados, braço direito protegendo o queixo, braço esquerdo mais a frente para manter a noção de distancia, olhos atentos ao primeiro ataque. A sensação que sentia o empolgava, o excitava que chegava a abrir um sorriso malicioso onde suas presas saltavam para fora e seus olhos brilhavam. Todo seu sangue percorria seu corpo com grande intensidade, se pudesse descrever era como se seu coração estivesse batendo tão rápido, tão rápido que quase não poderia se segurar. Ao ver que o homem com bastão era o primeiro, tentaria esquivar, uma porrada com aquele bastão deveria doer e não gostaria de ser atingido logo no primeiro golpe. Vendo que o segundo homem estava com intenções de lhe agarrar, se adiantaria lhe aplicando um soco já que o mesmo estaria vindo em sua direção, um direto no queixo poderia nocauteá-lo.

Era possível sentir a adrenalina correndo em suas veias novamente. Era como se estivesse vivo. Jurava que seu coração agora estava batendo tão forte que era isso que o deixava mais forte. Com uma esquiva perfeita e um direcionamento de peso, conseguia aplicar um soco perfeito que, enquanto setia seu punho amassar o rosto daquele miseravel, um sorriso era aberto em tamanha felicidade e excitação que sentia 'Que maravilhoso!' exclamava em seu pensamento. Havia brigado poucas vezes mas nesta condição, nesta nova condição onde tudo era tão novo e intenso, essa não seria diferente e muito menos poderia passar desapercebido. Recolhia o braço e olhava para o Russo que, olhando e tentando interpretar um pouco suas feições, via uma certa preocupação. Talvez fosse o momento perfeito para quem sabe tentar intimida-lo. Voltava a uma postura normal, abaixava a guarda diante de uma distancia segura, enfiava uma da mão no bolso da calça, enquanto a outra apontava para o desgraçado, em um tom de voz mais duro, como se ainda tivesse no quartel, esbravejou - Acho que é melhor para todos se você pegar seu amigo e sair! Te darei uma ultima chance, seja esperto e saia - Pronunciava com firmeza, seu tom de voz brado, falava alto, estava confiante já que derrubou seu amigo com um só golpe e ainda esquivou de um ataque.

O caitiff notava a troca de olhares e confirmava sua suspeita 'Só peões. Como esperado. Agora, quem será ele?' Os pensamentos eram tão rapidos quanto sua esquiva, que fugia novamente de mais um ataque. Com um certo estilo, só virava seu ombro para trás vendo aquele bastão passar bem perto de seu corpo. Voltava sua postura de luta, erguia seus punhos, fechava o rosto e fazia seu primeiro movimento. Um soco na barriga e um outro no rosto, seriam dois ataques que achava que poderia ser o suficiente para derruba-lo, igual ao primeiro. Caso tivesse sucesso, pegaria o bastão de choque, pegaria a arma e ficaria com as duas em punho. Esperaria algum movimento para então reagir. Obviamente se for um movimento que feriria sua integridade fisica ele se esquivaria ou então procuraria abrigo em alguma parede ou algo do tipo. As coisas estavam prestes a terminar, assim esperava, certamente essa noite ficaria em sua memória.

O ex bombeiro firmava bem sua base, seus pés pareciam grudados ao chão enquanto o movimento do homem ainda era formado. A princípio pensou em esquivar, como havia feito antes mas sua confiança estava tão grande que mudava seu plano nos últimos segundos ‘VEM! VEM!’ esbravejava mentalmente vendo aquele bastão de choque encostar em seu peito e não feri-lo ‘Agora sim!’ afirmava em sua mente sua confiança e sua surpresa em ver que era tão forte quanto resistente. O quanto que isso poderia evoluir? Empolgado com sua absorção ele desferiu um soco que pegou em cheio na barriga do homem que imediatamente sentia. Não demorava muito para que o gancho pegasse na ponta da pêra (queixo) e ele apagasse. Confiante de seus feitos, recolhia as armas e apontava com um ar de superação jamais presenciado.

Agora bem perto do desconhecido bem vestido, analisava suas feições, suas características em busca de qualquer coisa que pudesse lhe dar uma certeza sobre natureza. ‘Será um vampiro?’ Sua pele estava parecida com a sua ou mais pálida, havia sinal de veias, procurava as pulsações e tentava notar alguma marca em seu rosto e em suas mãos. O Homem aplaudia seus feitos, realmente deveriam ser poucos que poderiam dar uma surra daquelas naqueles dois brutamontes. Apesar de gostar das palmas, muito bem merecidas por sinal, ele mantinha sua postura. O bastão de choque em mãos, a arma na outra e não se descuidava de nada ao seu redor, seus sentidos estão presentes que esperava um momento de silencio para saber se aquelas batidas que antes havia escutado poderia ser do homem a sua frente ‘ Uma proposta?’ Surpresa! Era sua cara ao escutar o que o homem lhe oferecia. Abaixava as armas, guardava, olhava para trás para ver se aqueles homens estavam acordando, encarava o homem a sua frente novamente, olhava para de trás dele e via a moça novamente e aquele sentimento de culpa voltava. Imediatamente fechava o cenho e então dizia - Vocês vieram atrás de mim por causa dela, o que vocês vão fazer com ela ? - questionava ainda mantendo sua postura rígida e notando que mesmo com armas em punho o homem não parecia recuar e nem se intimidar. - Que tipo de trabalho ? ‘Droga, não perguntei quem ele é…’ meio que interrompendo as falas ele perguntava por cima - Quem é você? - ele começava a ficar um pouco inquieto, as pessoas na rua começava a parar, comentar e o medo de policias aparecerem estava começando a lhe deixar um pouco tenso - É o seguinte, posso até aceitar o seu trabalho ai mas ela vem comigo - apontava pra mulher - Ela será meu pagamento! - terminava girando o bastão de choque, mostrando seu nervosismo enquanto esperava o homem responder.

As mudanças na vida são complicadas, requerem tempo, dedicação e muito aprendizado para se acostumarem com as novas situações. O recém criado não era um ser tão diferente e seus costumes antigos já não se adequavam tanto assim a sua nova realidade. Para tal, isso poderia lhe causar certos privilégios como ainda se parecer um humano. Sem um mentor ou alguém que pudesse lhe orientar, as mudanças demorariam a acontecer. Nesse mundo dark em que se encontrava agora, conhecimento era uma arma muito forte mas saber se camuflar, poderia ser seu grande trunfo. Ao ser respondido que a moça voltaria a trabalhar como se nada tivesse acontecido isso lhe ascendia uma certa raiva, chama dentro de si que o fazia pensar rapidamente em dizer algo mas logo era contido 'Nem posso oferecer ajuda ou abrigo porque ele com certeza a mataria. Tenho que ser safo e tomar cuidado com as palavras.' Antes de entrar no carro ele olhava para trás e via seus feitos, seu ego ainda estava em alta, ajeitava a roupa, puxava a camisa para baixo, jogava os ombros para frente ajeitando seu casaco, jogava longe aquele bastão de choque mas guardava a arma na cintura e cobria com a sua camisa. Arrumava seu cabelo e entrava no carro. Olhava para a mulher com um olhar penetrante e antes dela sair puxava uma mexa de seu cabelo e cheirava. Já tinha ouvido falar que animais selvagens rastreavam outros através do cheiro, estava longe de ser algum animal, ainda mais selvagem mas possuía um grande olfato que poderia ajuda-lo a reencontra-lo, tinha planos para aquela mulher, até como uma forma de desculpa e quem sabe de negócios futuros 'Ainda vamos nos ver, garota. Desculpe por tudo isso!' Se ajeitava no banco do carro e aproveitaria a chance para novamente tentar saber qual a natureza daquele desconhecido. Com sua audição aproveitaria para tentar ouvir algum batimento que agora estava bem próximo, com a sua visão era mais fácil de ver movimentos de respiração, pulsações talvez e até quem sabe o suor da testa. Perguntava novamente - E então, quem é você?  Pelo seu relógio caro, pela sua roupa de marca e seu sapato muito bem cuidado deve ser um grande cafetão... Esta no ramo a muito tempo?. Sabia que a ousadia poderia lhe custar caro mas gostava de assumir riscos e se aquele homem tinha um plano ou pensava em utilizar de sua força não lhe faria mal, pelo menos esse era seu pensamento e confiava nesse argumento para descobrir quem aquele cara era e por isso ser mais ousado. Durante a conversa que rolava tentava se localizar no meio do caminho, até tentando adivinhar para onde estava indo. Como bombeiro, conhecia a cidade, os bairros, os territórios e isso poderia lhe ser útil.