Seven Elders - Capítulo I

"Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz
à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta,
e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem."

Mateus 7:13,14

O Padre Judas despendeu um pouco de seu tempo a fim de obter mais informações sobre o objeto daquela imagem, com as imponentes bibliotecas dos templos e monastérios grandiosos em sua cabeça, ele buscou no singelo acervo de seu refúgio, algum livro que desanuviasse os misteriosos símbolos incutido no Cálice. Mas no fim, sua própria habilidade linguística já foi suficiente para dar-lhe as informações necessárias. Tratava-se de um objeto ligado a um dos principais ritos católicos, a eucaristia.

Antes de dormir o Salubre aproveitou para tentar novamente extrair, através de seu dom, alguma informação do penduricalho que achou com o homem que horas atrás o havia confrontado. As mesmas sensações que tivera antes revelavam-se agora, nada além do jovem rapaz que por alguma influência nefasta percorreu o caminho fácil, a porta larga, mas que levara a sua perdição.

Na noite seguinte, enquanto preparava seu Trailer, adaptado para suas necessidades específicas, o jovem membro da Espada trazia o resultado de suas buscas, pela expressão frustrada do rapaz, o Padre Judas já sabia que não poderia contar com grandes informações sobre os casos de Scranton.

- Perdoe-me Padre, eu falhei na minha missão, achei pouquíssimas informações e não sei se elucidarão as suas necessidades... A Procuradoria-geral do nosso estado divulgou um relatório onde acusa diversos padres de, por mais de 30 anos, cometerem abusos sexuais. E uma das catedrais citadas foi a Catedral de Scraton, porém não achei nenhuma informação além dessas, não houve nenhum julgamento e imagino que o caso tenha sido totalmente abafado... Irei continuar a investigação, caso eu ache mais alguma coisa, informarei de imediato.

Após as breves palavras o jovem rapaz se preparava para se retirar pois sabia que o Padre Judas não preparava o seu Homecar atoa, num ímpeto de coragem o jovem soltou:

- É dessa vez que o senhor irá me levar junto?

Visivelmente o jovem se arrependeu de ter dito aquilo, agora refletindo percebeu que suas palavras poderiam soar mais inquisitivas do que pretendia, não podendo voltar ao passado só coube-lhe enrubescer a face envergonhado.

Acordou cedo, junto com o por do sol, como o de costume. A primeira coisa que alcançou foi a sua Bíblia de cabeceira e fez sua leitura e oração diárias. Rezou pedindo resiliência, ânimo e, mais importante, discernimento para cumprir a sua missão sagrada da melhor forma possível. Ao levantar e colocar-se a preparar-se para a viagem, Maxwell foi até ele com os modestos resultados de suas pesquisas. Judas acomoda uma gaiola de coelhos e limpa suas mãos de serragem batendo as palmas uma na outra e então se vira para dar atenção ao Aprendiz. - Muito bom, Max! - Sorri calorosamente. - Não encare isso como uma falha, não... - O Padre segura o ombro do jovem com uma das mãos e então com o indicador da mão esquerda em riste, explica. - Veja, você está indo bem, mas precisa continuar se esforçando. Porque não dá uma olhada no histórico desses padres? E tente descobrir a razão do processo ter sido engavetado... Você está indo no caminho certo!

E quando se virou para continuar os preparativos, Maxwell o questionou se iria acompanhar Zadiel nesta empreitada. Assim como Guilherme fora na juventude, o rapaz também estava ávido para se provar, contudo diferentemente dele, as maiores capacidades do jovem não estavam em seu físico, mas talvez em seu intelecto que poderia florescer com o incentivo certo. O Padre procurou as palavras certas por algum segundo e então disse: - Bem, vejo que está ávido por um trabalho de campo... Mas tenho uma tarefa melhor pra você do que levá-lo comigo. Veja bem, preciso que seja discreto, pois não quero levantar suspeitas, ok? - Esperou a confirmação do discípulo e então continuou. - Procure pelo nome do Procurador que fez a Denúncia contra esses padres, e então dê um jeito de falar com ele. Talvez ele tenha sido calado, talvez comprado... mas em algum momento ele se levantou contra essa injustiça, então ele pode ser nossa melhor chance de obter mais respostas. - Concluiu. - Mas lembre-se, não levante suspeitas e em hipótese nenhuma mencione a Espada, certo? Se tiver dificuldades em ter acesso a ele, me avise. Posso fazer um telefonema. - Então com um tapinha nos ombros, Judas deixou o garoto, voltando a seus afazeres.

Estocou comida suficiente para a viagem, já considerando o gasto de sangue extra que ele poderia enfrentar na caçada. Afiou sua espada, e a Ofuscou devidamente. Preparou estacas, mesmo não esperando encontrar outros vampiros. Água benta, bíblia e todo o resto. E então, caiu na estrada, rumo à Scranton.

Pararia há algumas quadras da Catedral, chamaria então animazinhos da cidade como pombos, corvos, gatos, cães... alimentaria-os com ração ou pão e questionaria-os sobre a grande e bonita construção há oeste dali, se viam ou sentiam algo de nefasto ou esquisito por ali, movimentação fora do comum de pessoas e etc.

O Padre Guilherme de Braga mais uma vez se levantou de seu sono, pegou sua bíblia e, assim como fez quase todos os dias dos seus 5 séculos de existência, pôs-se a ler o salmo do dia:

Salmo 16:

Enquanto terminava os seus preparativos para a sua viagem, o Padre fora abordado pelo jovem Maxwell, um garoto que estava mostrando-se esforçado e dedicado. Porém ele não obtivera muito sucesso em suas pesquisas.

- Muito bom, Max!...  Não encare isso como uma falha, não... Veja, você está indo bem, mas precisa continuar se esforçando. Porque não dá uma olhada no histórico desses padres? E tente descobrir a razão do processo ter sido engavetado... Você está indo no caminho certo!

O jovem assente com a cabeça, feliz com a nova oportunidade.

(...)

- Bem, vejo que está ávido por um trabalho de campo... Mas tenho uma tarefa melhor pra você do que levá-lo comigo. Veja bem, preciso que seja discreto, pois não quero levantar suspeitas, ok?

Num mix de decepção, felicidade e curiosidade o jovem balançava sua cabeça em concordância com Padre.

Procure pelo nome do Procurador que fez a Denúncia contra esses padres, e então dê um jeito de falar com ele. Talvez ele tenha sido calado, talvez comprado... mas em algum momento ele se levantou contra essa injustiça, então ele pode ser nossa melhor chance de obter mais respostas. Mas lembre-se, não levante suspeitas e em hipótese nenhuma mencione a Espada, certo? Se tiver dificuldades em ter acesso a ele, me avise. Posso fazer um telefonema.

- Certo! Irei fazer isso.

Após sentir-se preparado o Padre iniciou sua curta viagem para o Estado vizinho. Eram quase 22 horas quando o Clérigo chegou as redondezas da Catedral. Após estacionar seu veículo ele começou a emitir determinados sons a fim de chamar alguns animais da região. Após interpelá-los sobre a "Bela Construção" ele descobriu que:

• Poucas pessoas estavam frequentando a Catedral. O que não seria comum para uma Catedral tão imponente.
  

• Os jardins que outrora eram bem cuidados, agora estavam quase que abandonados e isso se refletia de certa forma em outras manutenções da igreja (luzes, muros, cercas, etc)
  

• Os animais estavam assustados com a morte cruel de duas corujas.
  

Judas desce de seu homecar e busca um local mais reservado como um beco ou uma rua deserta, então começa a assobiar, sibilar e uivar, atraindo os animais urbanos. Então, como se pudesse conversar com as feras, passou a interrogá-las sobre a Catedral. Descobriu que o movimento lá é curiosamente baixo comparado ao de outras Catedrais e que parecia estar abandonado a julgar pela manutenção do local.

Contudo o mais preocupante era a existência de uma grande criatura, predadora de corujas, com grandes presas. O diabo foi assim tão longe a ponto de trazer um filho infernal para Scranton? Judas já havia pelejado com criaturas como as descritas. Nunca era uma batalha fácil. Ou seria o próprio demônio? A devorar corujas? Não, não poderia ser. Ele não desceria tanto, aquele demônio seria orgulhoso e só aceitaria oferendas. Esse é outro, menor. Ou até mesmo um servo modificado. O jeito seria ver com os próprios olhos. Ofuscado, Zadiel se aproxima com cautela da Catedral, procurando mais pistas e principalmente pela criatura.

Chegando em frente à Catedral, rapidamente identificou os poucos locais de acesso que ainda eram utilizados, já que aparentavam estar mais bem cuidados do que o resto do templo. 

Apesar disso, nenhum sinal de qualquer criatura com grandes presas reluzentes. Nem mesmo o seu sexto sentido sobrenaturalmente aguçado foi capaz de identificar qualquer presença tão ameaçadora quanto a descrita. Bom, para para analisar melhor, para aqueles animaizinhos, isso poderia significar um cachorro grande ou outro animal comum. 

Com exceção do aspecto assombroso da Catedral semi-abandonada, não havia nada que lhe chamasse atenção. Nem mesmo uma aura profana que geralmente o alertava. Nada. O pensamento de que algo ou alguém apenas o atraíra até ali foi inevitável. Haveria alguém o observando? Ou pelo menos o esperando ali, já que estava sob o Manto de Sombras da Ofuscação.

Ao pensar nisso, decidiu aguçar seus sentidos com o Dom dos Auspícios. O cheiro da grama impregnava nas narinas, sobrepujando qualquer outro cheiro. Impossível farejar qualquer perfume característico de alguém que possa ter passado por aqui. Os sons se resumiam a conversas dentro dos apartamentos próximos, os sons das televisões, dos eletrodomésticos, carros passando de vez em quando. Tudo normal. Nada vindo de dentro da igreja.

A reunião estava marcada para a próxima noite. Zadiel não colocaria tudo a perder por não conseguir esperar um dia. Com paciência, poderia recolher muito mais informações do que se simplesmente entrasse antes da hora e acabasse revelando sua presença para todo o culto. Simplesmente sumiriam. Não, o melhor seria encontrar um bom lugar onde pudesse observar com calma. Vigiar a entrada e saída de pessoas por esses acessos que ainda são utilizados. Marcar seus rostos, buscar detalhes em suas vestimentas, seus trejeitos, tentar memorizar suas vozes e perfumes com os sentidos aguçados. Se possível, tirar uma foto com o telefone e mandar para Max pesquisar. 

Pelo menos até umas 3:30 da manhã, horário em que sairia, buscaria o homecar e seguiria para alguma área de camping. Lá, pediria para os animaizinhos protegerem seu homecar e o alertarem caso alguém tente entrar, em troca de comida, é claro. Então rezaria e dormiria.

Na noite seguinte, após a sua rotina de estudos bíblicos e suplícios por sabedoria. Se alimentaria de um coelho, agradecendo ao Pai pelo alimento. Limparia o corpo, como um caçador, e deixaria a carne no frigobar do homecar, se livrando das partes desnecessárias. Depois do asseio pessoal, faria o mesmo que fez na noite passada. Dirigiria até algumas quadras da Catedral, seguiria a pé, oculto pela Ofuscação e com a espada embainhada. Observaria a entrada de acesso à Catedral, até o horário combinado.

João 8:44

O Padre Guilherme esperava que, com pouca antecedência, os membros começassem a aparecer no local da reunião, contudo, já meia hora depois nenhuma alma viva adentrou a Catedral. Esperaria por mais uma hora até tomar qualquer atitude.

Caso ninguém aparecesse, ainda sob o manto da Ofuscação, aproximaria até a entrada mais improvável que encontrasse, tomando cuidado para não passar por poças d'água, se possível, para não revelar sua posição. Tocaria a maçaneta com a parte de trás da mão, para não deixar digitais, e leria os padrões deixados no objeto.

Após, testaria se a porta estava trancada ou não e, se aberta, entraria na Catedral.