Hodopai Highway (Território Camarilla)

O jato de Juliette pousava em Las Vegas exatamente às 22:30. Olhando pela janela, a cainita conseguia ver de longe as luzes dos cassinos e resorts que refletiam nas nuvens noturnas. O clima chegava a ser mais seco do que na Califórnia e o que ela mais queria mesmo era voltar para a Inglaterra. No entanto, a Ventrue tinha negócios a tratar. Se seu Sire a mandou para Nevada, ela deveria então tirar o máximo proveito dessa estadia.

A limusine já aguardava na área de pouso para que ela não precisasse perder tempo no saguão do aeroporto. O príncipe já estava ciente de sua chegada, logo, ela achava que não teria problemas. Graham entrava no veículo e seguia em direção ao gabinete de maneira pontual para seu encontro. Durante o curto trajeto, ela observava a paisagem do lado de fora e pensava sobre a primeira e última vez que havia vindo a Las Vegas. Com algumas amigas solteiras, a passeio, ela passara um fim de semana digno dos filmes de Hollywood. Com muito champanhe, festas e diversão nos cassinos, até hoje ela não se lembra quanto gastou na jogatina. Contudo, aquela época era diferente, a inglesa não tinha ideia de que a próxima vez em que pisasse nessas terras, seu mundo seria avassaladoramente distinto.

A Ventrue começava a ficar nervosa pois já quase chegava ao destino. O príncipe de Las Vegas na verdade seria o segundo de sua espécie que ela conheceria. Apesar do seu clã saber de sua existência até mesmo antes do Abraço, ela ainda não havia sido formalmente apresentada à sua linhagem, muito menos à Camarilla. Graham repetia em voz baixa pela milésima vez toda a sua ascendência de sangue azul, afinal, ela não queria cometer nenhuma gafe.

Assim que a limusine parava em frente ao pesado portão de ferro, a cainita pedia ao motorista que anunciasse a chegada de Lady Juliette Graham, a Duquesa de Exeter.

O tempo havia mudado completamente, o tempo seco de Las Vegas dava lugar a uma chuva fininha que lembrava até sua cidade natal. Apesar do seu motorista estar insatisfeito, pelo menos Juliette se sentia mais em casa. Passada a entrada, a Ventrue observava o suntuoso jardim que nada se assemelhava ao que vira no exterior. Suas expectativas eram altas sobre o que iria encontrar lá dentro. De qualquer maneira, um ambiente luxuoso e exclusivo pelo menos iria deixa-la mais a vontade para se apresentar ao Príncipe.

O mordomo a recebia na porta da mansão e Juliette se espantava um pouco pelo seu comentário, afinal ela havia chegado pontualmente na hora marcada como toda boa aristocrata inglesa. A Vetrue agradece e adentra a porta principal, o salão de entrada era como ela havia imaginado e enquanto caminha em direção ao sofá, Lady Graham observa os quadros nas paredes e na decoração interior. Era uma mistura rústica com traços vitorianos que a primeira vista pareciam não combinar, mas dava um toque refinado no cômodo de qualquer maneira.

Juliette se sentava no divã em frente a lareira apagada, e ela agradecia silenciosamente por esta não estar em chamas, e respondia ao serviçal enquanto cruzava as pernas:

- Certamente. No entanto, avise ao seu superior que eu cheguei pontualmente na hora marcada, como previsto.

Enquanto esperava, a Ventrue checava suas mensagens para ver se havia algo importante do Arquidique e em seguida retirava o seu livro da bolsa e continuava a reler “the 48 laws of power” pela terceira vez, uma de suas obras favoritas.

Juliette mal tinha tempo de abrir seu livro quando recebia as mensagens no seu celular. O SMS de Eric a fazia gelar por dentro, a cainita lembrava que o fatídico encontro ainda estaria por vir e por mais que ela não sentisse a paixão de antes emanando do seu coração, ela ainda tinha compaixão o suficiente para não querer quebrar o coração do jovem nobre. Ainda pensando nisso, Lady Graham abre a segunda mensagem na sua inbox com o já conhecido código de área de San Diego. Aquele SMS era fora do comum, ela só tinha os contatos do Arquiduque e de Morgana no celular. Quem mais poderia enviar esse aviso?

Uma outra jovem muito bela saía da sala do Príncipe. A Ventrue seria próxima e ela tinha pouco tempo para pensar no que ia fazer. Se aproveitando do momento em que o mordomo iria chamá-la, Graham disse:

- Desculpe, eu trouxe um presente para o seu superior mas acabei o largando na limusine. Poderia me acompanhar até o meu veículo? Prefiro ir pessoalmente pois só eu sei onde deixei.

Assim que Juliette chegasse no carro, ela entraria no veículo e ligaria para o Arquiduque para tirar aquela história a limpo.

Juliette passava de volta pelas suntuosas portas que levavam de volta ao jardim macabro pelo qual ela havia entrado. O carpete macio dava lugar às pedrinhas do estacionamento. Sua limunise preta estava lá e quase se misturava às sombras do jardim. Seu motorista parecia levemente atordoado, querendo partir daquele local.

Graham entrava no carro pedia para seu motorista ligar a luz interna do veículo e fingia que procurava algo no banco traseiro. Mas o invés disso, ela se aproveitava que estava de costas para o vidro para olhar o visor do seu celular. A cainita queria saber se aquele número era talvez algum que ela conhecia. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ela recebia outra mensagem do mesmo destinatário. Juliette olhava para o celular por alguns instantes, isso definitivamente não era um bom sinal. Ela se voltava para a porta novamente e dizia ao mordomo:

- Desculpe senhor, acho que o presente ficou no meu jatinho. Preciso voltar ao aeroporto e checar se voltou para San Diego ou se ainda está em Las Vegas. Não posso estar no domínio do Príncipe com as mãos vazias. Minhas tradições me proíbem que cometer tal gafe. Por favor, diga-lhe que voltarei logo. – dizia Juliette tentando não demonstrar nervosismo na sua voz.

Em seguida ela mesmo fechava a porta do carro e dizia a seu motorista:

- Vamos para o Hilton por favor. Preciso de um lugar pra ficar.