O Ruir do Velho Mundo - A Sombra dos Anciões

Gerrard sente o peso de suas ações e leva às mãos à face para esconder-se da realidade... a dura realidade do que acabara de fazer, ou do que ele deixou sua Besta fazer... aquele pequeno momento de retorno da sanidade poderia ser o suficiente para evitar esse estrago, mas como um bom Gangrel, ele se deixou levar pelo animal feroz que existe dentro de si.

Com suas faculdades mentais retornando, o Cainita calcula que não seria bom para sua imagem de recém-chegado deixar vestígios do seu ataque de fúria. Dessa forma, Gerrard invoca suas Garras e corta a garganta do cão morto. Nesse momento ele tem a percepção do quanto estrago fez no animal, pois somente algumas poucas gotas escorrem dos buracos, o suficiente para sujar de vermelho o pelo ao redor do ferimento.

O Imortal então leva a mão à orelha para ativar o fone e comunicar-se com seus companheiros. Ao colocar a mão na orelha, Gerrard liga o comunicador e tenta falar, mas nenhuma palavra sai de sua boca. O som que o Cainita ouve lembra alguém com uma crise de garganta muito forte, um som que vem do fundo da garganta... independente do quanto ele tenta falar não há nada... Além disso, ele sente algo estranho na orelha... há mais pelos... mas talvez seja resultado da batalha... Ele então toca com mais vigor na pele, que não só está mais peluda, mas agora parece estar arredondada, como a orelha de um urso marrom.

Sem entender muito bem o que está acontecendo, o Gangrel olha para os lados freneticamente. Nesse movimento de virar o pescoço, Gerrard consegue perceber por um mísero segundo o movimento do peito de Athena, muito leve, quase imperceptível.

Há mais barulhos de tiro vindo de não muito longe...

Assim que Antonnela chega, Beaumont despede-se dos três, que saem do quarto junto da Mulher... mas antes do Ancião fechar a porta, Ana volta-se para o Malkaviano e fala algumas palavras antes de seguir em direção à escada. Erwin da de ombros, mostrando não entender o que a colega quis dizer e todos seguem o seu caminho...

- Somos tantos e tão diferentes entre nós que precisamos de nossos templos sagrados para unir-nos e elevar nossas palavras aos céus, ou então alguns de nós talvez não fossem ouvidos... - São as palavras de Ana.

Antonnela demora um pouco para retornar. Beaumont ouve quando a irmã de Filippo fecha os ferrolhos e cadeados da igreja e casa paroquial. Ela vem subindo as escadas conversando com o Padre, que entra em seu quarto.

- Eles me pareceram pessoas muito boas. Seria ótimo tê-los por mais tempo por aqui. - Diz Antonnela parada à porta para Beaumont. O Ancião chama a mulher para dentro e tranca a porta. Os dois estão sentados na cama e de repente Beaumont segura as mãos da mulher, que olha profundamente nos olhos do Imortal.

Beaumont então usa seus poderes sobrenaturais para modificar as memórias de Antonnela. A mulher olha profundamente nos olhos do Ancião, que percebe uma perda no brilho do olhar...

- Sim, principalmente depois da sua chegada ele parece estar ficando cada vez mais renovado... - Ela leva a mão ao rosto. Em sua voz há um leve, bem leve, tom de preocupação. - Mas aquilo que aconteceu ontem me deixou preocupada. Eu nunca o vi tão eufórico... como a Irmã disse, ele deve ter sonhado com algo que o fez ficar naquele estado, mas tenho que me preocupar com meu irmão... - Ela toca novamente na mão fria de Beaumont. - Por favor Irmã, ajoelhe-se comigo na frente Dele. - Ela aponta para o crucifixo acima da cama de Beaumont. - E reze pela saúde de Filippo. - Ela ajoelha-se e começa a rezar um pai nosso. Seus olhos estão abertos esperando que o Ancião também se ajoelhe.

O frenesi de um gangrel, as vezes deixa algumas marcas. Tá aí a desvantagem de deixar a besta tomar o controle sobre nós. Por um lado confesso que a fúria da besta ajudou ou foi vital para que eu saísse vivo da batalha. Similar a fúria dos lupinos, o frenesi nós transforma em verdadeiras máquinas de matar. No meu caso acabei adquirindo aspectos da minha forma de batalha. Orelhas de urso tomaram o lugar das orelhas humanas.


Tento fazer contato com a equipe mas ao tentar dizer algo minha voz simplesmente não saía. Ao invés disso, sinto dor. Lembro da sensação que senti ao tentar me alimentar da criatura. A memória é meio deturpada pelo frenesi, porém a marca deixada é bem presente. Sinto como se minha garganta estivesse derretida... Droga!


Ao cortar o corpo de Thor, percebo que o pobre cão está seco. Apenas uma carcaça seca. Me ajoelho diante do animal e saco minha faca que levo preso a minha bota. Retiro o meu chapéu da cabeça e o coloco ao meu lado sobre o chão.  Afasto meus cabelos compridos, exponho as orelhas de urso. Com a mão esquerda, seguro a orelha esquerda e com a mão direita encosto a lâmina da faca no ponto alto da orelha e deslizo até o ponto baixo. Decepando a orelha de urso e sangrando em cima de Thor. A dor é intensa, mas repito o processo na outra orelha. Tudo tem um preço, e esse foi o do meu frenesi. Novamente sangro em cima do corpo de Thor, deixando a carcaça mais aceitável como vítima de uma daquelas bestas.


Olho para Athena mais uma vez, com o pesar em meu coração. Porém, em meio aquela carnificina, algo me alegra instantaneamente. A pobre coruja parecia ainda estar viva, apesar de provavelmente estar lutando para se manter assim. Num movimento brusco, eu salto para perto dela e com as duas mãos a pego delicadamente e a levo próximo a meu rosto. Faço silêncio e consigo ouvir e sentir batimentos cardíacos e respiração. Tento explicar o golpe, porém novamente sou tomado pela dor de uma garganta dilacerada. Ainda vou sentir muita dor até me acostumar. Eu não estava no controle de minhas ações! _ em outra ocasião eu daria um pouco de sangue para Athena, porém tenho que administrar minha reserva de sangue e manter minha sanidade. Tiro o meu casaco e enrolo a ave para manter aquecida. A deixo ao pé de um tronco de árvore estrategicamente escondida para buscar depois que o caos for resolvido.


Com o cenário"administrado" da melhor maneira que pude, dou atenção aos tiros próximos a mim. Recarrego minha arma e sigo em direção do tiroteio para dar suporte a Camarilla como tenho feito a minha não-vida inteira... Não que isso seja ruim.

- Quem sabe... Agora corra ou nunca vai descobrir. - É a reposta que chega quase que instantaneamente.

Enoch busca ocultar-se nas sombras e sai de seu esconderijo, ele caminha pelos corredores de caixas até que ouve o som do apito do navio. Ele então se dirige nessa direção. O Malkaviano caminha de forma a não chamar atenção para si... mas pouco depois de ouvir o som do navio ele começa a escutar o som de metal batendo em metal novamente. Cada vez mais próximo, e vindo de direções diferentes.

- Cão sardento... - Mais batidas de metal no metal. - Acha que vai sair bem assim da minha cidade? Depois de tudo o que você fez? - O som da voz é de um homem, e assim como o som da batida, a voz dele parece vir de todas as direções. - Você não sabe o trabalho que eu terei para encobrir a porcaria que você fez ali atrás.

Ainda em Ofuscação, eu tento me embrenhar entre os containers, em direção ao pier, a fim de despistar o perseguidor. Tento ser ao mesmo tempo cauteloso e andar rápido

Vendo o que tinha feito com Thor, Gerrard tenta encobrir sua ação fazendo parecer que o animal havia caído em batalha com as criaturas. Ele corta suas orelhas e deixa o sangue escorrer nas feridas do cão, agora sem nenhuma vitae. Ao passar o olhar, o Gangrel vê Athena no chão, mas ainda viva. Ele a enrola em seu casaco e deixa a coruja escondida antes de seguir na direção dos tiros.

Essa é a última vez que eles se encontram...

Sem cuidados, a coruja vai aos poucos perdendo o resto de energia vital que possui até que morre do ferimento. Quando retorna para buscar o animal, Gerrard vê que a própria natureza estava fazendo seu papel. Formigas e outros insetos estavam por todo o casaco... e inúmeros pequenos animais já estavam começando a devorar a coruja.

Antes disso, o Gangrel corre na direção dos tiros para ver o que estava acontecendo e ajudar seus colegas de time. Ao chegar perto, o Imortal ouve um som ainda mais estranho do que a 'voz' das criaturas. São gemidos de dor unidos a algo que parece ser a voz de humanos... Uma neblina forte toma conta do ambiente e diminui a visibilidade do local...

O som vem se aproximando lentamente. Com os olhos da Besta, o Cainita consegue ver um bando de seres humanoides... na verdade vampiros, mas com o corpo completamente ferido. Alguns estavam sem carne em algumas partes do corpo, com os ossos a mostra, sem olhos, sem braço... Mas certamente eram vampiros, ou ao menos haviam sido. Não dava para não reconhecer suas presas e garras.

Assim como Gerrard em Frenesi, esses vampiros não se preocupavam em beber do sangue venenoso dos seres que atacam Edimburgo. Eles caem sobre as criaturas e com uma força descomunal vão derrubando uma após a outra... enquanto tiros continuam vindo do grupo de batedores da Camarilla, abatendo tanto monstros quanto Vampiros

Prestando mais atenção, todos parecem zumbis... com exceção de um. Ele anda calmamente vendo quem está vivo e quem está morto. Seu terno caro e pose petulante mostram que ele é alguém acostumado a ser servido.

Olhando bem para aquele rosto, Gerrard lembra que já o viu antes... Sim, na quartel onde Marcílius está. Havia uma foto desse homem na parede.

Amino sente uma força vindo de seu interior, como ele dificilmente viu anteriormente, e sua fala sai com uma sinceridade que o próprio Cainita se assusta. A mulher da de ombros, pega um documento, escreve o nome de Amino em um espaço em branco e carimba.

- Pronto Senhor Carl, seja bem vindo a Edimburgo. - Ela entrega o documento, devolve os papeis de Amino e entrega um outro papel. - Aqui está o local onde temos alguns apartamentos para alugar aos novos visitantes...

Ao olhar para o mapa onde está indicado o local onde fica o apartamento, Amino se vê na zona onde Danut disse que ele deveria investigar.

Finalmente Amino está dentro de Edimburgo e pronto para realizar sua missão.

Enoch começa a andar rápido na direção do navio, tentando evitar chamar atenção de qualquer um. Seus passos são rápidos, mas pensados... e não é possível escutá-lo de forma nenhuma.

Após passar por alguns containers, o Vampiro finalmente encontra o navio, o único ligado e pronto para partir. Ele procura uma forma de subir sem chamar atenção e encontra uma rampa. O Malkaviano vai subindo... sempre olhando para os lados a procura de algum perseguidor, mas nada chama a atenção.

Quando Enoch está colocando o pé dentro do navio ele só ouve o som fino de metal cortando o ar e uma sensação estranha no braço esquerdo.

- Você acha que um cão sardento vai fazer esse estrago na minha cidade e fugir sem ter nem uma punição? - A mesma voz de antes grita para Enoch vindo da doca. - Você vai, ma leva um presente meu com você. E nunca mais volte aqui, ou será caçado como o cão que realmente é!

Enoch sente uma pontada no braço. Quando olha, não há mais a mão...
Ele grita de dor enquanto o navio se afasta e o Xerife nas docas gargalha insanamente.

O telefone em seu bolso vibra...

Beaumont vê seu poder surtindo efeito em Antonnela enquanto a mulher reza no chão, ajoelhada ao lado do Ancião. Ela parece cada vez mais calma e, principalmente, cada vez mais a presença de Geovanna parece fazer com que ela se sinta segura. Após rezar um terço inteiro, Antonnela vai para o seu quarto. Chegava o final da noite.

Quando Beaumont acorda, Filippo avisa que os outros religiosos já haviam partido para sua missão na Grécia, mas que pediram ao padre para avisar à Irmã que haviam deixado tudo pronto para o próximo encontro.

- Irmã Felini. - Diz Filippo. - Estamos com tudo pronto para iniciar as obras. E que venha o casamento.