A Monarquia Da Meia-Noite

Socorro... Que palavra estúpida para se pensar naquele tempo! Ninguém atendia chamados de ajuda nesses tempos. As pessoas pensavam em sua própria segurança e que o outro se ferrasse! No caso, que ela se ferrasse. Devia gritar... Sei lá, "Olha o bling!". Isso traria as pessoas na rua, tinha certeza. Era tão estúpido o modo que sua cabeça funcionava quando estava em pânico. Mas algo em sua mente estava anormal. Palavras com uma voz que não eram dela brotavam e a faziam para de correr, assustada e olhando ao redor. quem mais estaria ali além dela? Enfrentar um mendigo armado não era nada emocionante! Sua respiração estava forte e rápida, desacostumada com corridas desabaladas, seu pulmão ardia como se estivesse em chamas. Esse era o resultado pelo seu uso desenfreado das drogas.

Parada no meio da rua, procurando um lugar para se esconder ou alguma salvação, viu o reflexo do mendigo em uma poça e, instintivamente, lançou-se para o lado num giro digno de uma bailarina. O medo dava novas capacidades a quem domina, só podia ser isso. Se pôs a correr novamente, ouvindo o mendigo lhe chamar de Criatura impura. O que ele queria dizer com aquilo? Seria apenas por seu pequeno abuso de paraíso? E o que ele tinha haver com aquilo, a ponto de querer lhe matar?! Sem que notasse quando elas começaram, sentia agora as lágrimas quentes descerem e molharem seu rosto. Estava chorando...? Não, não choraria por isso! Se não conseguisse fugir, o enfrentaria! Não deixaria que nenhum velho louco lhe furasse com uma faca, não era assim que planejava morrer!

A sorte parecia estar ao seu lado, ao colocar um taxi no final da rua. Bataria entrar nele e estaria salva... Mas e se voltasse e o mendigo estivesse ali? Ele por acaso sabia que era ali que morava... Como!? Havia lhe seguido, do bar? Homem maldito! Bastaria gritar e estaria salva... Mas a voz em sua mente lhe dava uma ordem e aquilo a fez ficar insegura, parando de correr novamente. Olhava as opções que tinha, o peito subindo e descendo rapidamente por sua respiração ofegante. O que deveria fazer...!? Entrar no beco poderia acabar em nada, apenas em sua morte em potencial... Ou ela poderia assustar o mendigo e ele nunca mais voltaria.

Sem pensar demais, correu em direção ao beco. Corria escuridão adentro, procurando seu celular dentro da pequena bolsa que havia usado aquela noite e o usava para iluminar o caminho. Talvez pudesse chamar a policia, mas quanto tempo demorariam para chegar ali? Mas pelo menos poderiam prender o mendigo e levá-lo embora e deixa-la livre das acusações sem sentido dele. Com o celulaar, procurava lugares para se esconder no beco, talvez uma escada a subir. Poderia encontrar alguma porta ou janela aberta, bater na casa de alguém. É... Aquilo parecia o mais sensato a ser feito.