Vampiros - A Máscara
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Ameaças novas, ameaças antigas

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Mensagem por NightChill Ter Nov 24, 2020 3:48 pm

Ameaças novas, ameaças antigas





A esposa se esquivava do abraço do marido querido, assim como o pai de seu filho, e o irmão de seu próprio irmão. Aqueles que enterram, carregam, veem ou tocam quem foi infectado morrem subitamente” (relato da Peste Negra, Itália, século XIV)

Pela primeira vez, os separados não tinham repugnância em falar dos ausentes, em usar a linguagem de todos, em examinar sua separação sob o mesmo enfoque que as estatísticas da epidemia. Enquanto, até então, tinham subtraído ferozmente seu sofrimento à desgraça coletiva, aceitavam agora a confusão. Sem memórias e sem esperança, instalavam-se no presente. Na verdade, tudo se tornava presente para eles. A peste, é preciso que se diga, tirara a todos o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instantes” (Albert Camus, A Peste)

Assim o provocaram à ira com as suas invenções; e a peste rebentou entre eles” (Salmos 106:29)

Porque trarei sobre vós a espada, que executará a vingança da aliança; e ajuntados sereis nas vossas cidades; então enviarei a peste entre vós, e sereis entregues na mão do inimigo” (Levítico 26:25)

Fora está a espada, e dentro a peste e a fome; o que estiver no campo morrerá à espada, e o que estiver na cidade a fome e a peste o consumirão” (Ezequiel 7:15)




Nova Iorque, início de abril de 2020. A Grande Maçã tornou-se irreconhecível nas últimas semanas. As ruas, antes fervilhantes com vida, pessoas e carros  24 horas por dia, estão praticamente desertas, em todos os bairros. O centro comercial, financeiro e cultural do globo parou. A cidade mais importante do planeta silenciou-se, assim como o restante das cidades, dos países, acossados por um mau invisível, traiçoeiro e desconhecido. Uma nova peste.



A pandemia de COVID-19 caiu como uma bomba sobre a cidade e o mundo, modificando, em poucas semanas, os modos de vida e de relações entre as pessoas, que se viram forçadas a se afastarem umas das outras e a interromper tudo, para se fecharem em suas casas. Empresas, lojas, restaurantes, bares, clubes noturnos – todos os estabelecimentos viram-se forçados a fecharem suas portas, por tempo indeterminado, seja pelo medo, seja pela força das autoridades, que apesar da resistência de diversas esferas, não tiveram outra opção, senão determinar um virtual lockdown do centro urbano.

Rapidamente, o crescente medo que as pessoas sentiam umas das outras, seja pela criminalidade, seja pelo extenuante nível de competição da sociedade nova iorquina, seja pela crescente inabilidade de se construírem relacionamentos pessoais em um mundo digital, aumentou rapidamente, assim como o nível de desemprego, de desesperança e da busca por alguma explicação para aquele flagelo inesperado e silencioso.

A vida, diz-se em todos os noticiários, lê-se em todos os jornais, não será mais a mesma. Há e haverá, de agora em diante, um novo normal.



Apesar de celebridades, intelectuais e até mesmo os ocupantes dos cargos mais altos do país afirmarem que a pandemia decorre, na verdade, de uma histeria, provavelmente orquestrada na China, como parte de um plano de dominação mundial, a verdade é que pouco é sabido sobre a origem e os reais efeitos e alcance da doença. E, apesar de muito se dizer que se trata de uma gripe, que sua taxa de mortalidade é baixa, rapidamente Nova Iorque mostra o poder devastador do novo vírus. Uma grande quantidade de mortos é registrada todos os dias. Os hospitais estão cheios, as equipes médicas estão desesperadas e os necrotérios estão abarrotados. Até mesmo os cemitérios lutam para dar conta do fluxo de vítimas diário e crescente. O novo normal, anunciado com leviandade pelos meios de comunicação e repetido nas redes sociais, por todos, parece ser muito mais nefasto do que simplesmente ter que matar o tempo assistindo Netflix e pedir comida cara por algum aplicativo que explora o contingente crescente de pessoas sem outra alternativa de trabalho.

O novo normal, na verdade, para a maioria, tem sido a solidão, o desemprego, a incerteza, o desamparo, a paranoia e o medo constante da doença. Para outros, o novo normal é, simplesmente, a morte, uma cova coletiva e o não mais existir.





A doença não alterou, completamente, apenas o mundo dos vivos. O novo normal também chegou para os mortos que insistem em se levantar, assim que o Sol se põe a dormir, e que vivem do sangue.



Para os descendentes de Caim, de Set ou de qualquer outra história que se deseje comprar nas prateleiras dos mitos e dos deuses da História para explicar a existência dos vampiros, Nova Iorque era uma das mais deliciosas fontes de dinheiro, de poder, de influência e de sangue. E, por isso, sempre foi alvo de disputas entre a Camarilla, o Sabá, os Anarquistas e os Independentes. Apesar de o Sabá ter sido virtualmente expulso, após a Batalha de Nova Iorque, em 1999, ainda há grupos escondidos e atuantes nas zonas mais afastadas. Os Anarquistas, por sua vez, ocupam algumas zonas e convivem em uma espécie de trégua tênue e frágil com a Torre de Marfim, liderada, nos últimos anos, pela Ventrue Hellene Panhard, após a abdicação inesperada do Nosferatu Calebros. Os Independentes buscam, incessantemente, manterem-se assim, independentes.

Esse aparente e frágil equilíbrio entre a Camarilla, os Anarquistas e os Independentes, e a relativa inação do Sabá, contudo, começaram a ser brutalmente ameaçados nas últimas semanas. E esse parece ser o novo normal, para os mortos-vivos. Alimentar-se torna-se crescentemente mais difícil e perigoso: as ruas estão quase desertas, as festas estão proibidas, os museus, os teatros e as casas de shows estão interditados. Deslocar-se de um ponto ao outro da cidade é um ato de esforço, de convicção e de preparação, seja para conseguir um meio de transporte, seja para conseguir passar sem ser parado pelas forças de segurança, que exigem autorização para a locomoção. Assim, a competição por território e por sangue está aumentando sensivelmente, e há um sentimento generalizado, pairando sobre o ar, provocando uma tensão crescentemente exasperante, de que uma guerra, entre as seitas e os clãs, está para explodir a qualquer momento. Falta, apenas, a fagulha, já que a pólvora está em todos os cantos.

Além de todos esses elementos, há o medo da doença. Apesar de os vampiros não adoecerem – pelo menos é o que se sabe até agora, diante desse vírus desconhecido -, há boatos, aos poucos sendo confirmados, de que o Beijo é capaz de transmitir a doença de um mortal para o outro. Diante disso, os vampiros estão tornando-se cada vez mais seletivos e paranoicos ao se alimentarem, por medo de que suas fontes possam, literalmente, secar. Para além disso, surgem, cada vez mais, acusações de que esse ou aquele vampiro está sendo descuidado, irresponsável e contaminando o alimento dos demais, contribuindo para a crescente falta de vitae disponível. Mais do que nunca, uns observam os movimentos dos outros, a fim de obterem uma desculpa para usar esse tipo de acusações, para eliminarem rivais e obterem seus espólios.

É nesse cenário apocalíptico  e de tensão política e social que nossa história começa.

Mas deles deixarei ficar alguns poucos, escapos da espada, da fome, e da peste, para que contem todas as suas abominações entre as nações para onde forem; e saberão que eu sou o Senhor” (Ezequiel 12:16)


Última edição por NightChill em Ter Nov 24, 2020 6:12 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por NightChill Ter Nov 24, 2020 5:51 pm

Crônica: Ameaças novas, ameaças antigas
Narrador: NightChill
Seitas permitidas: Camarilla
Temas: Política, Violência, Horror
Vagas: 3
- Vince
- Ethan Wood
- Aberta
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Mensagem por NightChill Sex Nov 27, 2020 7:21 pm

Boris BaRock

PS: 2/10
FdV: 6/6






Boris despertou-se de súbito, com um grito, atormentado por aquele sonho que tivera repetidas vezes durante aquele dia, apesar de estar submetido ao mais profundo torpor, como todo vampiro, ao dormir. O velho. A canção. O metrô. A cidade. A escuridão. E, apesar de ser uma criatura da noite, ao abrir os olhos, era a escuridão o que ele via no porão úmido, sujo e abafado do bar de Norman. E, não obstante o despertar, naquela noite, houvesse sido confuso e exasperante, uma coisa era absolutamente inequívoca, evidente, presente e dolorosa, corroendo-o por dentro incessantemente, fazendo-se sentir, fazendo-se ser o que havia de mais urgente em sua mente e em seu corpo: a fome.

A fome parecia lacerar as entranhas de Boris e percorrer, como navalhas mal afiadas, seus órgãos mortos, sua pele, seus ossos, tomando conta dos sentidos e dos pensamentos do cainita. A Besta, sempre presente, mas muitas vezes quieta, outras vezes apenas sussurrante, agora gritava desesperada, clamando por sangue de uma forma aterradora. Possivelmente Boris escutasse seus gritos como uma mãe escuta o choro desesperado de um filho faminto há dias, próximo da morte por inanição. E a situação de Boris não era muito diferente daquela. Em razão da pandemia, do lockdown, de todo o caos que tomara Nova Iorque, o país, o mundo, Boris não se alimentava havia dias. A situação chegara a um ponto crítico. Não havia mais alternativa. Boris precisava de sangue.

Yeah the doctors don't know, but New York was killing me,
Bunch of doctors coming round, they don't know
That New York is killing me
Yeah I need to go home and take it slow in Jackson, Tennessee

[É, os médicos não sabem, mas Nova Iorque estava me matando,
Bando de médicos dando voltas, eles não sabem
Que Nova Iorque está me matando
É, eu preciso ir pra casa e desacelerar em Jackson, Tennessee]

Em meio à fome e aos gritos da Besta, Boris escutava, ainda, a voz daquele homem negro e velho, cantando aqueles versos melancólicos, que se repetiram durante todo o seu sono, sem cessar. Foi quando o vampiro escutou algumas batidas na porta e, em seguida, a voz de Norman do outro lado, acompanhadas dos latidos incessantes de King Dog:

- Boris? Tá bem aí? Abre a porta!

A voz do homem e os latidos do rottweiler parecem ter sido capazes de trazer Boris de volta ao momento presente e de silenciar, por instantes, a canção, a fome e o grito da Besta. Era possível, apenas, escutar o som da chuva do lado de fora, em meio à escuridão do porão sujo. E eis que o silêncio voltou a ser interrompido por Norman; mas, agora, os gritos da Besta voltavam com fúria, assim como a dor, a angústia e o desespero causados pela fome, como se ela o devorasse por dentro.

- Boris?! Abre a porta, cacete!

---

(Sinta-se à vontade para descrever o porão, Norman e, até mesmo o bar, se for o caso. Aproveite para descrever Boris – seu corpo, suas feições, sua roupa, seu jeito de mover-se e de pensar. Explore a parte psicológica, também. Esse é um jogo de imersão no personagem e no mundo de trevas em que ele está. Divirta-se e seja bem-vindo!)
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Mensagem por Han Sáb Nov 28, 2020 11:24 am

As batidas violentas na porta do porão me despertavam daquele sonho que, persistia em me atormentar. Quem é aquele velho? O que significa aquelas canção? Novamente as batidas na porta junto aos latidos me interrompiam. Primeiro meu sono, agora meus pensamentos. Assim que recobro minha consciência sou acometido pela fome... Eu podia ouvir o grito faminto da besta que reside dentro do meu corpo. Eu a ouvia, eu sentia o seu cheiro que parecia vir das profundezas, eu a enxergava e, sua imagem não era nada agradável. Era algo além da compreensão humana e até mesmo da nossa... Novamente as batidas... Junto todas as minhas forças para responder Norman.

— O que é Norman? Eu tô bem porra. Não dá pra abrir agora. Cuida do King pra mim, volto daqui uma hora.

Boris sabia da minha verdadeira natureza e, ele sabia que as vezes era bom me deixar na minha. Meu sangue é amaldiçoado com o fervor que alimenta a besta e, o pobre Norman já teve a infelicidade de me ver fora de controle. Eu quase acabei com todo o seu bar. Por isso ele sabia que as vezes eu precisava de espaço. Me esforçando para manter minha sanidade e raciocínio intactos, eu levanto da cama e caminho até as escadas que davam para as portas dos fundos do porão. Tomara que ninguém me siga... tomara...

Essa desgraça que assola a humanidade acabou impactando e muito em nossas não-vidas. As pessoas não saem de casa e se alimentar ficou cada vez mais difícil. Estou fraco e lutando com a besta... uso o resquício de controle que tenho para pedir ajuda. pego meu telefone e mando uma mensagem de voz para Jack. — Jack.... Preciso de ajuda... Estou atrás do BaRock... Não me alimento a dias... Não sei por quanto tempo vou conseguir manter o controle... Mal consigo andar por causa da dor que existia em meu abdômen. Cambaleante, sigo para os becos próximos, em busca de alguma presa fácil e sozinha. Se eu encontrar... Tomara que eu não seque as veias do desafortunado que cruzar o meu caminho... Eu não posso garantir nada no estado em que me encontro...
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Mensagem por NightChill Seg Nov 30, 2020 11:29 am

Giuliano Damazio

PS: 2/13
FdV: 8





Silêncio. Ausência de som. Vazio. Ser um com o nada e com a escuridão. Subitamente, aquele estado foi interrompido por golpes fortes no peito, no estômago, na cabeça, garras e presas lacerando a carne morta e fria de Giuliano, ao mesmo tempo em que uma voz selvagem urrava e gritava em seus ouvidos, de forma horripilante, desesperada, monstruosa e profunda. Não demorou muito para o cainita perceber que tudo aquilo que ocorria – os golpes, os cortes, os urros e o desespero eram todos sensações – ainda assim reais e presentes –, que percorriam seu corpo e se espalhavam com velocidade por todo ele, dominando-o, invadindo-o. Fazia tempo que Giuliano não sentia a presença dessa companheira com aquela intensidade. Talvez jamais a houvesse sentido daquela forma, tão intensa, tão urgente, tão visceral. A companheira era ninguém menos que a fome. E sua mensageira monstruosa, cruel e impiedosa era ninguém menos que a Besta.

Desde que o lockdown fora instituído em Nova Iorque e o pânico se havia instalado entre os mortais, alimentar-se tornara-se mais difícil, mais perigoso, mais trabalhoso. Os lugares mais comuns para se conseguir sangue estavam fechados, sem data para reabrirem, e aquilo impusera aos vampiros da Grande Maçã uma dificuldade especial e inédita, para a maioria, ao menos, com relação ao ato mais básico para a sobrevivência na não vida: beber sangue. Giuliano não era exceção àquele estado de necessidade que se abatera sobre todos os demais de sua raça, de sua espécie. Havia várias noites que o cainita não conseguia a fonte de seu sustento e ele postergara a caçada até aquele momento desesperador. A Besta urrava, se contorcia, chorava com gritos aterrorizadores e constantes dentro do vampiro, pedindo-lhe sangue, ao mesmo tempo em que, de repente, se voltava contra ele e o amaldiçoava, lançando-se contra seu corpo, fazendo de tudo para sair e poder obter sangue, por ela mesma, da forma mais selvagem e primitiva imaginável.

Ficava claro, para Giuliano, que ele não tinha opção. Não podia mais evitar o momento em que teria que sair de seu refúgio e buscar alimento, mesmo com todos os riscos que aquilo envolvia. O frenesi era iminente. Era questão de instantes. Não havia opção. Não havia mais alternativa. Ao abrir os olhos, viu apenas as trevas, mas não eram as trevas do Abismo, apesar de o sofrimento a que estava submetido, naquele momento, era, certamente, aquele reservado para as almas torturadas que nele habitam. A escuridão, na qual ele estava, era a de seu refúgio, que, agora, se tornara o próprio inferno, do qual era necessário sair, se quisesse chegar a qualquer coisa que se aproximasse de um purgatório.

De repente, a televisão do apartamento ligou-se por si só – se foi um defeito do aparelho, se Giuliano esbarrara no controle remoto, se a acertara com algum golpe ao contorcer-se em seu desespero, não se sabe –, e imediatamente o lugar foi levemente iluminado pela luz pálida do aparelho. E dele saía também a voz fervorosa de um pastor, que, no culto da noite, declamava, a plenos pulmões e com uma paixão incomparável, Pedro, capítulo 2, versículo 4:

- Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo!
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Última edição por NightChill em Seg Nov 30, 2020 12:01 pm, editado 1 vez(es)
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Mensagem por NightChill Seg Nov 30, 2020 12:00 pm

Daniel Murdock

PS: 2/13
FdV: 7






“Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos.” (Habacuque 3:5)

Gritar foi inevitável. Daniel sentiu-se despertar de seu torpor com uma dor que passou a se espalhar por seu corpo, com velocidade, e que parecia ter origem em suas vísceras mais profundas. Talvez mesmo em sua alma. Naquele instante, parecia que milhares de agulhas eram sendo fincadas e retiradas de sua pele, de sua carne, constantemente, sem piedade e sem cessar. Sentia seu corpo todo – sua boca, seus olhos, cada pedaço de seu ser – definhar, ao mesmo tempo em que uma segunda voz, diferente da sua, selvagem, profunda, horrenda, desesperada, urrava dentro de si, como se o martírio que Daniel sentia fosse impingido três, sete vezes mais cruelmente a ela. A Besta debatia-se e gritava, sedenta de sangue, assim como o vampiro, que não conseguia manter-se mais inerte. Precisava de sangue. Precisava de sangue. Precisava aplacá-la. Precisava aplacar a fome.

Era difícil, quase impossível, naquele momento, ordenar os pensamentos, conforme as garras da Besta pareciam dilacerar os órgãos mortos de Daniel – aqueles órgãos que, ele sabia, eram inúteis e disfuncionais, mas insistiam em habitar o seu corpo, mesmo após a morte. Era praticamente impossível pensar com clareza, naquele instante, em que a fome o consumia e a Besta clamava por morte, por sangue, para que ela e seu hospedeiro pudessem continuar a existir, contra tudo o que era natural e sagrado. Não obstante isso, Daniel conseguia lembrar-se que estava em seu refúgio, e que a causa daquele horror que estava vivendo, agora, eram noites e noites sem alimento, noites e noites sem uma gota de sangue sequer, pingando em sua boca, em sua garganta sedenta de vida.

Mesmo naquele estado de quase frenesi, Daniel lembrou-se e amaldiçoou-se por não ter levado à sério o aviso, de um subordinado, na Bio Century, de que, a qualquer momento, uma pandemia poderia se abater sobre a Terra e que a humanidade não estava preparada para aquilo. E, como Daniel rapidamente descobrira, os mortos-vivos também não estavam preparados. Desde que o lockdown fora instituído e quase todos tiveram que se recolher em suas casas, Daniel não conseguira caçar ou ir aos seus lugares habituais para se alimentar, assim como grande parte dos demais Membros. Todos estavam aprendendo a lidar com aquela nova situação caótica e perigosa, agindo com cautela. Agora, contudo, não havia mais opção. A Besta parecia atacar seu tórax com fúria, fazendo-o contorcer-se e se dobrar sobre si mesmo, como se quisesse arrebentar seus ossos, seus músculos e sua pele, para sair.

Era preciso alimentar-se. Era preciso sair e se arriscar. Aquilo ia acontecer. Com Daniel ou com a Besta no comando. E a Besta estava a poucos instantes de prevalecer.
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Mensagem por Undead Freak Seg Nov 30, 2020 12:44 pm

Daniel despertou, mas não de forma suave, como costumava acontecer. Seus olhos se arregalaram e sua boca se escancarou. Permaneceu congelado por um instante sobre a cama king size com os braços estendidos, como se estivesse amarrado em uma posição de crucificação. Suas presas estavam expostas, mas ele não percebeu. A dor veio, e veio fulminante... Ele gritou, mas o seu grito não era mais humano. Algo rasgado saiu de sua garganta; algo que lembrava o urro de um leão  misturado com o timbre do sibilar de uma serpente. Não era humano, assim como ele não era mais humano, mas ainda assim conservava hábitos humanos, jovem como era. Colocou as mãos sobre o pescoço, como se estivesse sentindo algo sufocá-lo. A saliva tornava-se espessa demais, lembrando gordura humana. Ele sentia até mesmo o cheiro de gordura humana, que lembrava carne humana e lembrava sangue...

“Sangue...”

Ele saltou da cama, imediatamente ajoelhando-se. O novo grito fora sufocado, saindo como um doloroso gemido. Estava ofegante e, mesmo não precisando mais respirar, inconscientemente ainda fazia isso. Seu estômago queimava, assim como seus olhos. Seus ossos estavam rígidos e pareciam que iriam partir. A pele morta esticava em efeito sanfona, indo e vindo. Era como se literalmente um monstro fosse sair de dentro dele, abandonando a roupagem que ainda fazia com que ele lembrasse um homem comum.

“A Besta está faminta. O monstro se debate.”

Reunindo a parca força mental que conseguia reunir para manter sua consciência, ele caminhou até o banheiro, passando pela suíte imaculadamente bicolor, dual, com paredes brancas e móveis pretos, ignorando a beleza dos quadros e tampouco ligando o seu aparelho de som para ouvir algo que desse alento a alma, como era seu ritual de início de noite. Não havia tempo. Reuniu sua força interior e lavou o rosto. Parou por um minuto encarando seus olhos azuis no banheiro e pareciam brilhar e mudar de cor. A qualquer momento parecia que se tornariam amarelos, ou vermelhos, ou qualquer outra cor que lembrasse o próprio inferno.

“Não há nada mais que se possa fazer. É arriscado, mas é preciso.”

Ele penteou seu cabelo louro escuro, curto e cheio para trás. Seu rosto austero e de feições firmes agora tinha traços de desespero, mas ele tinha de se conter. Ignorou o banho. Ele não fedia, não estava sujo e, mesmo que estivesse, não teria tempo.  Usou seu melhor perfume e foi até o closet, onde se vestiu com um terno cinza de seda muito elegante sobre uma camisa vinho, sem gravata. Escolheu o primeiro par de sapatos que viu – oxford, de couro negro – e foi até a sala, pegar sua máscara. Era algo inútil, mas era o único jeito de sair sem chamar a atenção. Contudo, antes de sair, fez uma pesquisa rápida na internet com o seu smartphone.

“Muitas pessoas não levaram a sério, assim como ainda não levam. Nem todos os lugares estão desertos. Assim como na Alemanha, não deverá faltar um grupo ou dois de hedonistas se rebelando contra essas novas regras.”

Ele colocou seu samsung no bolso interno do paletó, contemplou uma última vez a luxuosa sala antes de sair e colocou a máscara, procurando por mortais que fossem do tipo bon vivant, celebrantes demais para se resguardarem com o medo da morte e da pandemia.

“Hora de criar alguns servos. Talvez seja o único jeito...”
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Mensagem por Ed Araújo Seg Nov 30, 2020 7:17 pm

Ameaças novas, ameaças antigas Diy3ceD



Algo rosnou no vazio. Damazio rosnou de volta. Ele ouviu a Besta gritar e desafiar. Com esforço o assassino forçou-a a afastar-se. Mas sabia que somente a vontade não seria suficiente. Era preciso mais. A praga era uma ameaça real agora. Parecia que era algo que sempre voltava. A Peste Negra, a Gripe Espanhola. Agora isso. COVID. Um nome tão seco, tão impessoal. Asséptico.

O cadáver ergueu-se de seu leito. A TV estava ligada, mas ele não havia a deixado assim. Estranho. Mas "estranho" era o novo preto na sua vida.

– Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo!

– Amém.

Sob a penumbra buscou suas roupas. Arrumou-se. Era automático agora, ele treinara com muito esforço para poder se por em ordem sem precisar de um espelho. Naquele apartamento não havia nenhum. Seria inútil, até um risco. Então ele não tinha. Não gostava também – o espelho sempre o lembrava do que havia perdido.

O apartamento era amplo, com um espaço open for plan, integrando sala, copa e cozinha. Dois quartos, mas um deles era ocupado por um escritório e biblioteca. Um walking closet ao lado do banheiro comum da casa, que era onde Damazio realmente se banhava e se cuidava. Todas as janelas estavam cobertas com cortinas grossas que impediriam a luz de entrar. Damazio considerou que precisava de um empregado. Não, um servo. Alguém pra cuidar da casa. Ele deixou seu quarto, que na verdade estava dentro de outro quarto – o “oficial”, com uma cama de casal que nunca era usada. A porta de acesso era um armário embutido que originalmente continha a entrada do banheiro – mas o aposento a muito se fora para dar lugar ao quarto de seu ocupante. Sem janelas, sólido. A porta de aço disfarçada como uma simples porta de carvalho concedia uma boa proteção contra invasores desavisados. Em tese.

Ele era alto e vestia preto. Terno preto, camisa preta, gravata preta. A barba era como sempre foi, cortada curta, desenhada para cobrir as bochechas. O cabelo liso e corrido até a nuca. Um presente de seu Senhor, que lhe permitiu escolher como seria sua aparência pela eternidade.

Desligou a televisão, pegou suas chaves, saiu do apartamento. Ocorreu-lhe que os marginais da cidade nunca descansavam, não praticavam isolamento social. E ninguém iria sentir falta de um deles. Ou dois.

E talvez ele até encontrasse alguém pra cuidar do apartamento. Alguém que fosse discreto, que não ficasse falando na sua orelha e “soubesse seu lugar na ordem natural das coisas”, como diria Baltazar.
Off:

Vou atrás de um vagabundo pra beber. Talvez dois.
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Mensagem por NightChill Qui Dez 03, 2020 10:02 pm

Boris BaRock

PS: 2/13
FdV:6/6


- Boris! – Norman gritou uma vez mais, acompanhado dos latidos graves e constantes de King Dog, do outro lado da porta, mas o homem não insistiu mais. Talvez porque soubesse, realmente, que, se Boris havia dito que precisava de um tempo, era melhor deixá-lo ter seu tempo em paz. Já vira o suficiente para saber que a verdadeira natureza do cainita era monstruosa, incontrolável e cruel. – Está... está bem. – Disse em um tom mais baixo, mas alto o suficiente para que Boris lhe pudesse escutar. Apenas King Dog continuava a latir, conforme Boris deixava o porão pela porta dos fundos, para ganhar as ruas do Bronx.

A noite era fria, escura e úmida. A chuva caía incessante, com pingos finos e contínuos, que desciam dos céus levemente inclinados pelo vento leve, mas que, às vezes, com alguma rajada mais forte, levava consigo a água, pedaços de jornal e de outros papéis jogados pelas ruas. A iluminação pública era fraca ali. Alguns poderiam dizer que era assim em decorrência do descaso do poder público com uma área pobre da cidade, ocupada, principalmente, por pessoas pobres e sem real importância, a não ser em época de eleições, quando os figurões de Nova Iorque, momentaneamente, se lembravam dos contingentes majoritariamente de afro-americanos que vivem no bairro. Outros afirmariam que a iluminação, ali, era fraca propositadamente, para permitir, mais livremente, as atividades que movimentam a economia da região – prostituição, tráfico de drogas e outros crimes. A conclusão mais acertada é a conjunção das duas possibilidades.

Conforme Boris caminhava, com dificuldade, atormentado incessantemente pela dor, pelo desespero da fome, mandava uma mensagem de voz para seu mentor. Sua voz, em meio à chuva, em meio ao tormento e à agonia, não deixavam a menor dúvida de que o cainita estava em apuros. Estava em sofrimento. Mesmo assim, nenhuma mensagem chegou. Havia apenas o ruído da chuva, das gotas batendo finas contra o asfalto, os tijolos dos prédios, o metal das latas e dos sacos de lixo, e, além disso, o silêncio. Aquele cenário era absolutamente incomum e seria impensável àquela hora da noite, há algumas semanas. Não que o lugar em que Boris estava fosse muito frequentado, mas haveria pessoas ali, grupos de jovens falando alto, uma briga, uma discussão de casal, um bêbado ou um pregador evangélico exaltado. Naquela noite, contudo, havia apenas o som da chuva incessante. E nada de mensagem.

Subitamente, a Besta fez um novo ataque, quase levando Boris ao chão. A fome era implacável e não lhe dava sossego. Impiedosa. A urgência de se alimentar era cada vez mais crescente, e talvez a necessidade desesperada tenha sido capaz de aguçar os sentidos de caçador mais primitivos no cainita. Boris escutou um choro, vindo de um dos becos escuros, bem próximo. Era um choro quase tão desesperado quanto a necessidade dele de se alimentar. Era um choro feminino, entrecortado com urros de dor, emitidos pela mesma voz. Ao se aproximar, Boris pôde ver uma mulher, provavelmente uma moradora de rua, ajoelhada no chão de concreto, apoiada, de um lado, contra uma cerca de madeira, a cabeça baixa, de forma que não era possível ver seu rosto. Em seu colo, um homem imóvel. Com um pouco mais de esforço, não demorou para que Boris pudesse ver que havia sangue sobre o ventre e o peito da mulher.



Um raio cortou os céus, subitamente, e iluminou um pouco mais a cena que era pintada diante de Boris. Ele pôde, então, ver que o homem tinha o rosto dilacerado e desfigurado, assim como seu pescoço, que havia sido aparentemente mastigado, ambos cobertos de um sangue escuro e cujo perfume logo chegou às narinas do cainita. Foi quando um segundo raio cortou o céu, logo após o trovão do primeiro, que a mulher, diante da luz do relâmpago, ergueu o rosto em direção a Boris e o viu. E Boris pôde ver seu rosto. Sua boca completamente tomada pelo sangue, assim como seu queixo, seu pescoço, seus olhos, sua face.

Ao vê-lo, ela cessou seu choro imediatamente e, assustada, mas logo feroz, contraiu o corpo como uma fera acuada e, logo, apresentou seus longos caninos, tal qual um felino ameaçado e pronto para se defender. Diante de todo aquele sangue, Boris sentiu a Besta urrar dentro de si e clamar por sangue: da mulher, do homem, de qualquer coisa que pulsasse aquele líquido quente, rubro e férreo; mas, incrivelmente, o cainita conseguiu manter o controle sobre si.
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(Dados:7, 10, 3, 7
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Mensagem por NightChill Sex Dez 04, 2020 11:10 pm

Giuliano Damazio

PS: 2/13
FdV: 8






Giuliano conseguiu, por alguns instantes, enganar-se e fingir que a Besta estava controlada, após ter sido confrontada por ele com as mesmas armas que ela usara para se manifestar, com violência e fúria, naquela noite. Contudo, provavelmente, ela apenas recuara momentaneamente, para retornar com toda a sua selvageria e impetuosidade, no momento mais oportuno para tomar o controle e realizar todos os seus desejos mais lascivos, mais primitivos, mais monstruosos e grotescos, como é de seu feitio e de sua natureza. Ela silenciou-se, por hora, embora Giuliano a pudesse escutar, se desejasse prestar atenção; mas uma coisa prosseguia constante e forte, aguda, dolorosa e implacável: a fome.

O cainita, já habituado, conseguiu vestir-se adequadamente, mesmo sem ter um espelho ou outro objeto no qual pudesse lançar seu reflexo. Afinal, por mais que se esforçasse, mesmo que estivesse na Sala dos Espelhos de Versalhes, nenhum reflexo obteria. Essa era uma, das muitas maldições que ele adquirira ao ser abraçado pelo clã que escolhera a ele. E essa era uma das muitas maldições com as qual ele teria de conviver, em sua não-vida, por toda a eternidade, ou, ao menos, até sua Morte Final. E, uma vez mais, uma maldição que não permitia ser esquecida, agravou-se, ao menos em seus sintomas: a fome. A dor intensificara-se, impedindo Giuliano de se portar e caminhar com tanta compostura. A sensação de desespero, de inanição e de iminente destruição crescia.

Ao deixar o apartamento, Giuliano deparou-se com a rua em que estava seu prédio, em Manhattan, virtualmente vazia. A chuva caía fina, constante e fria, vindo perpendicularmente do céu negro e nublado da cidade, acompanhada por um vento leve, mas que surpreendia, sem aviso algum, com alguma rajada mais forte. Havia carros, mas estavam quase todos estacionados, estáticos. Ao correr os olhos pela via, pelas calçadas, Giuliano não viu vivalma. Ao longe, podia ouvir sirenes, quase certamente de ambulâncias, que cortavam a cidade de modo frenético, tentando levar doentes de suas casas e de seus asilos para os hospitais, provavelmente cheios demais para recebê-los. Provavelmente já sem respiradores. A chuva intensificou-se, mas as gotas continuavam frias, quase cortantes.

Diante daquele cenário desolador, não foi difícil para Giuliano concluir que, naquele ponto de Manhattan, com a chuva que caía, não encontraria moradores de rua nas calçadas, seja porque, certamente, teriam buscado algum abrigo, seja porque, ali, grande parte das pessoas estava isolada e paranoica, de modo que os moradores de rua não encontravam mais, naquela vizinhança, muitos doadores de esmola. Deviam estar em outro lugar.

A Besta deu um rosnado mais alto, e a fome prosseguia ali, impedindo o cainita de continuar inerte. O desespero era crescente. Giuliano ouviu, então, não muito longe dali, o som inequívoco dos sinos da Catedral de São Patrício, um dos templos católicos mais importantes de Manhattan e de Nova Iorque, construída em um estilo que lembra o gótico, de cores claras, imponente, buscando erguer-se aos céus, ainda que subjulgada pelos edifícios mais altos da região.  
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Mensagem por NightChill Sex Dez 04, 2020 11:52 pm

Daniel Murdoch

PS: 2/13
FdV: 7






Após executar parcamente parte dos rituais mínimos que estava acostumado a realizar usualmente, Daniel deixa seu apartamento luxuoso, para ganhar a rua vazia, em frente ao seu edifício, no Upper East Side de Manhattan. A primeira coisa que notou foi a chuva intensa, constante, fina e fria que se derramava sobre a Grande Maçã, naquela noite escura e inclemente. Rajadas de vento se intercalavam com um leve sopro de vento, que fazia com que as gotas finas da chuva caíssem levemente enviesadas. Alguns raios cortavam os céus, para, depois, trazerem os trovões que os acompanhavam sempre. Daniel logo observou, também, que quase todos os carros estavam estacionados. Havia pouco ou quase nenhum movimento, exceto por um ou outro automóvel que cruzava a rua vazia, ou uma ambulância, que cortava o asfalto em alta velocidade, acompanhada de suas sirene estridente, provavelmente levando alguma vítima daquela doença, que já ceifara quase 50.000 pessoas apenas em Nova Iorque, para um hospital, onde, provavelmente, não encontraria mais muita ajuda.

Ao contrário do que Daniel imaginara ou desejara, não havia pessoas na rua, muito menos boêmios hedonistas. Seja pela chuva, seja pela pandemia, não havia ninguém ali, ao menos não ao alcance da visão do Tremere. Um outro raio cruzou os céus e logo o trovão se fez ouvir. O raio não caíra muito longe, já que o trovão viera quase imediatamente depois. O próximo som que Daniel ouviu, foi o da Besta, amaldiçoando-o e urrando, clamando para que o cainita saísse dali e fosse se alimentar. Fosse cravar suas presas sedentas na carne de alguém com sangue pulsando por seu corpo, quente, salgado, férreo, vermelho. Mais do que sangue, a Besta clamava por carne. Desejava sentir as presas dilacerarem o tecido quente, a pele, as veias de alguém, e, de preferência, arrancando-as, em um ato de quase canibalismo. Mas o vampirismo difere muito do canibalismo, afinal?

Daniel sentia em cada fibra de seu corpo que não poderia ficar parado ali, diante do vazio, enquanto ele era tomado, progressivamente, pelo monstro que o habita e que é, ao mesmo tempo, o monstro que ele é. Não via pedestres, não havia ninguém. Não ali, naquele momento, no Upper East Side, onde os privilegiados estavam isolados em seus apartamentos caros e luxuosos como mansões, com todos os benefícios do 1% que detém grande parte da riqueza não apenas da cidade, mas do país e do mundo. Eles não precisavam sair. Tinham tudo na ponta de seus dedos sujos de foie gras. Se quisesse continuar sua não-vida, se quisesse manter o resto de consciência que possuía, se quisesse se manter no controle de seu próprio corpo, Daniel precisaria se mover e pensar.

Nesse momento, sentiu seu telefone tocar, dentro de seu paletó. Ao agarrá-lo, pôde ver uma mensagem de texto, vinda de um número desconhecido: “Knickerbocker Club, 807, 5ª Avenida”. Era apenas aquilo. Um nome, um endereço. Pensando rapidamente e, tentando se lembrar do que aquele nome significava, pareceu recordar-se, sem muita convicção, de que se tratava de uma casa noturna, ali perto. Outro raio cruzou os céus e logo outro trovão. Parado à saída de seu edifício, seus sapatos e a barra de sua calça começavam a ficar encharcados.

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Mensagem por Undead Freak Sáb Dez 05, 2020 12:44 am



O exterior, antes cheio de vida, agora tornara-se algo silencioso, cinzento, melancólico… Daniel era como o ponto central de um grande nada; um espírito caminhando entre as ruínas do plano astral, onde tudo é decadente, amargo e brutalmente sujo, feio e indiferente. A garoa fina caia sobre ele sem o ânimo de uma tempestade cheia de ímpeto. Até os raios pareciam rasgar o céu com menos brilho e os trovões que os sucediam, antes furiosos, ribombavam de forma mais tímida, lenta e arrastada, como se até mesmo a natureza tivesse sido infectada e perdido muito de seu vigor.

Vez ou outra um carro passava lentamente, ou uma ambulância cruzava a avenida em alta velocidade – muito provavelmente levando mais algum infeliz sem sorte para o hospital mais próximo –, mas apenas isso. Fora o barulho débil do vento, nada se ouvia. O céu era uma massa cinza e disforme de nuvens, o ar era gelado e o sentimento de um estado de sonho estático era absoluto.

– Nil igitur mors est ad nos…

Dor lancinante… O monstro se debate novamente. Acorrentado sob as entranhas daquele cadáver que teima em não descansar, a grande besta se rebela, exigindo alento, exigindo comida, exigindo a luxúria profana que somente o sangue satisfaz. Com fome e molhado, ele gira nos calcanhares e se prepara para cruzar aquela vastidão de nada, quando o seu smartphone vibra, avisando a chegada de uma nova mensagem.

“Knickerbocker Club, 807, 5ª Avenida”

O número era desconhecido e não havia nenhuma informação adicional além do endereço. Daniel consegue se lembrar vagamente sobre o lugar; uma boate noturna. Um lugar público… Em outros tempos, se dirigir sozinho para um lugar indicado por um número desconhecido seria imprudente – para não dizer estúpido –, mas ele não estava em posição de exigir nada, tampouco tinha tempo para avaliar os riscos. Era um lugar público, e isso deveria bastar – ao menos no início – para a sua segurança.

Conforme caminhava em direção ao lugar, Daniel podia ouvir o barulho dos próprios sapatos. Era algo inédito em Nova York. Enquanto se dirigia ao endereço, ele alternava sua atenção entre ouvir o grande vazio ao seu redor, cujo som não era nada além do ruído de seus próprios passos, e “ouvir” os urros ensandecidos do monstro faminto que o representava, reverberando em toda a sua mente, personificando o tormento de cada amaldiçoado como ele – ainda mais nos tempos de agora.
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Mensagem por Han Dom Dez 06, 2020 9:21 am

A passos lentos, eu caminhava entre os becos que separavam os altos prédios comerciais. Novamente aquela cena me atormentava. O vazio. Outrora, esse lugar era mais movimentado. Traficantes ganhavam grana vendendo todo tipo de porcaria para os jovens desmiolados da periferia. Jovens vendiam o seu corpo a troco de mixaria. Casais transavam em meio as latas de lixo. Enfim, esse ambiente proporcionava toda a descrição que, as pessoas precisavam para expressar os seus piores lados... mas agora... agora tudo que vejo é o vazio. Como se aquele lugar sujo tivesse morrido, assim como as pessoas assoladas por esse vírus maldito.

No ápice da minha loucura, quase caio por terra. A besta parecia me golpear, cortar, mastigar de dentro para fora. Sinto uma ânsia de vômito de tão forte a dor abdominal. Mas tiro forças não sei de onde e, consigo manter minha sanidade por mais alguns minutos. Ainda me recuperava do ultimo golpe da besta quando, um choro me chama a atenção. Era feminino e, parecia frágil. Sigo na direção do som, imaginando o que haveria acontecido com aquela mulher. Será que ela foi assaltada? Estuprada? Que merda havia ocorrido para ela estar ali naquele beco sob a chuva fria que caía insistentemente? Vejo sua silhueta sombria ajoelhada no chão. Ela parece estar segurando alguma coisa grande. Sangue... sinto cheiro de sangue... Ao me aproximar mais, vejo que o que estava sob o seu colo, era o corpo dilacerado de um homem. Ao perceber minha presença, a garota chorona vira seu rosto para observar melhor quem havia chegado. Um raio rasgava os céus carregados e, por um instante, posso ver seu rosto coberto de sangue e, suas presas ameaçadoras voltadas para mim. Imediatamente, ela adotava uma postura hostil. Como uma serpente pronta para dar o bote ou uma leoa defendendo a sua caça dos demais predadores? Bom, não sei e, acredito que não terei tempo para perguntar. Faço o sangue percorrer nas minhas veias, queimando-o para acelerar meus movimentos. Sei que era uma manobra arriscada pois já não havia muito vitae dentro do meu corpo. (Ativo Rapidez). Faminto como um grande felino à dias sem comer, avanço para cima daquela fonte de alimento, exibindo minhas presas sem hesitar.

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Mensagem por Ed Araújo Dom Dez 06, 2020 7:49 pm

Ameaças novas, ameaças antigas Diy3ceD



A caçada era infrutífera e a Besta cavava dentro de sua alma, exigindo um preço para ficar quieta. Não era dor – era algo pior. Sofrimento. Um desejo absoluto. Damazio sabia que não resistiria por muito tempo. Era preciso fazer alguma coisa.

Não havia viva alma nas ruas e o monstro se via olhando para os lados. Qualquer um serviria agora. Então ele escuta os sinos.

A catedral.

O monstro não se importa. O que importa é se alimentar. Ele corre pelas ruas em direção ao templo.
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Mensagem por NightChill Sex Dez 11, 2020 11:58 am

Boris BaRock

PS: 1/13
FdV: 6/6






(Dados:5, 6, 5, 9, 10, 3, 7
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Tendo vencido a tentativa mais recente e feroz da Besta de tomar o controle de si, Boris tinha, agora, diante de seus olhos, o que parecia ser uma mulher de pouco mais de vinte anos, vestindo trapos e banhada em sangue; contudo não havia dúvidas de que ela não era uma mulher apenas. Sua postura ferina e as presas ameaçadoras não deixavam restar dúvidas a Boris de que ele estava diante de uma cainita hostil. Por isso, sem perder tempo, nem permitir a ela uma reação imediata, Boris, usando o poder de seu vitae, lançou-se sobre ela velozmente. Conseguiu agarrá-la, com a força de seus braços e de seu peso, chocando seu corpo contra o dela, caindo ambos sobre o concreto – Boris sobre a cainita, ela com as costas sobre o chão, em meio à escuridão do beco, manchado de sangue e marcado pela morte selvagem que o homem, caído ao lado dos dois combatentes, havia sofrido.

(Dados:10, 6, 10, 6, 6, 3, 2
BORIS BAROCK rolou 7 dado(s) com dificuldade 6 para Mordida e obteve 5 sucesso(s)
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Em razão da velocidade sobrenatural de Boris, a cainita não teve tempo de reagir - apenas de soltar um grito rouco e sem força -, quando ele abriu sua boca e, ao mesmo tempo, estendeu seus caninos predatórios, que, junto a um movimento rápido, cravou sobre os músculos, as veias e as artérias localizados entre o pescoço e os ombros da mulher. Com os caninos cravados na carne dela, Boris pôde, rapidamente, sentir o gosto inconfundível e delicioso do vitae de um cainita, incomparavelmente mais saboroso, mais extasiante que o de qualquer homem ou mulher. O líquido rubro ingressava em sua boca em um fluxo inebriante, escorrendo, também, pelos cantos de sua boca, por seu queixo, conforme a mulher, que antes se debatia e tentava se desvencilhar, agora, parecia entregue e submissa.

Conforme Boris se alimentava, o prazer, o perfume e o êxtase do vitae vampírico conseguiam mascarar, para ele, o mau cheiro que a cainita exalava, em decorrência de dias – talvez uma vida toda, e quem sabe quantos dias, meses ou anos de não-vida – habitando as ruas, os bueiros, os becos, as latas de lixo, sobrevivendo como um animal, rejeitado pela sociedade. Não era branca o suficiente, nem tinha dinheiro suficiente, nem educação suficiente, para ser considerada uma cidadã plena ou para ser valorizada pela máquina de moer, de picar e de esmagar gente, que o país se ia, progressivamente, transformando. Possivelmente, havia sido rejeitada pelo pai, depois pela mãe e por todos, ao longo de sua vida e, pelo que tudo indicava, também pela sociedade dos mortos. Naquele momento, contudo, nenhum elemento desses passava pela cabeça de Boris, que conseguia, apenas, disfrutar o gozo, o prazer de alimentar-se, após tantos dias, após tanta fome, tanto desespero; mas eles, certamente, retornariam para assombrá-lo mais tarde.

(Boris BaRock ganha 3 pontos de sangue. A cainita perde 3 pontos de sangue)

O êxtase, contudo, teve um fim abrupto. Boris foi, subitamente, sem aviso e sem ter condições de antever o movimento, golpeado, com grande força, na cabeça, o que o fez, em decorrência do golpe, mesmo, cair para o lado, sobre o chão, desorientado, soltando a mulher. O que pôde ver, em seguida, foi um rápido movimento, em meio à escuridão, em que o que parecia ser uma estaca foi cruel e impiedosamente cravada no peito da cainita, que ficou, imediatamente paralisada, com os olhos e a boca abertos em uma expressão de horror, os braços semi-flexionados e as mãos entreabertas, como se, por algum instante, ela tivesse tido a chance de perceber o que ocorreria.

- Ora, ora, ora. O que temos aqui? – Boris pôde escutar a voz, apenas, mas não ver ou identificar, imediatamente, a figura alta e corpulenta que se colocara ao lado da cainita paralisada. – Vou te dar uma chance, apenas, de me dizer quem você é. Se a resposta não for a que eu espero que seja... bom, as coisas vão ficar pior para você do que já estão. – Aquelas palavras eram ditas com frieza e com segurança ao mesmo tempo; e, apesar da dor e da leve desorientação que Boris sentia, conseguiu escutá-las muito bem. Logo, Boris pôde reconhecer que, quem lhe falava, com autoridade, a tinha para fazê-lo. Era Qadir al-Asmai, o Xerife de Nova Iorque.
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Mensagem por NightChill Sex Dez 11, 2020 10:26 pm

Giuliano Damazio

PS: 2/13
FdV: 8





Os passos rápido de Damazio levavam-no pelas ruas desertas de Manhattan, encharcadas pela chuva fina, que insistia em descer dos céus escuros e nublados, de forma inclemente. Encharcado também estava o cainita, com as roupas, assim como seus cabelos, ficando, progressivamente, tomados pela água e tornando-se pesados. Ante a ausência de pessoas ao redor, tudo o que Damazio podia ouvir era o som constante da chuva, seus passos contra a água e o chão e os gemidos da Besta, clamando por sangue, por morte, por liberdade, por libertação. Ao fundo, e cada vez mais próximo, Damazio podia ouvir, também, o som metálico e compassado dos sinos da catedral. O vento, que quase não se fazia sentir, por vezes, e sem aviso, vinha impiedoso, frio, soprando-lhe o rosto, as roupas e o corpo com um hálito úmido e incômodo.

Não demorou para que Damazio ganhasse a 5ª Avenida, e, finalmente, estivesse diante da Catedral de São Patrício. Ela era, verdadeiramente, um monumento. Um edifício imponente. Em meio à arquitetura moderna da cidade, em geral, mas, especialmente, dos prédios ao redor, a igreja parecia alienígena. Parecia pertencer a um tempo distante, sem mais lugar no mundo. Parecia com um vampiro – uma besta das trevas, antiga como a noite e o terror mais primitivo, escondido no subconsciente dos vivos, quase esquecido, mas que, surpreendentemente, era tão real quanto os próprios homens e os muros de concreto, de ferro e de aço que tanto adoram construir.

(Dados:6, 2, 5, 5, 9, 7, 10
GIULIANO DAMAZIO rolou 7 dado(s) com dificuldade 6 para Percepção + Investigação e obteve 4 sucesso(s)
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Desde a imposição do lockdown em Nova Iorque, todos os templos e igrejas estavam fechados – para todos, fiéis ou, no caso da Catedral, para os turistas, também. O fato de os sinos estarem tocando, nesse contexto, era algo estranho e que chamou a atenção de Damazio. Diante de si, via a imponente porta da Catedral fechada, como era de se esperar; mas, ao correr os olhos pelo edifício, pôde ver, em sua lateral esquerda, uma pequena porta entreaberta, de onde vinha uma luz quente e amarelada. Damazio pôde ver, além da porta, uma figura ao seu lado, com as costas apoiadas na parede do templo. Era um homem de aparentes vinte anos, de cabelos loiros, vestindo uma roupa de padre – negra como a noite. Tinha sobre si um guarda-chuvas, que o abrigava parcialmente da chuva, enquanto lutava para acender um cigarro com o que parecia ser um isqueiro, constantemente apagado pela água ou pelo vento.

O homem, subitamente, ergueu os olhos e viu Damazio. Ao contrário de esboçar surpresa, desconfiança ou medo, sorriu.

- É. Você veio mesmo. Deve haver alguma razão em tanta loucura. Venha. – Dito isso, o homem jogou o cigarro – que nunca conseguira acender – ao chão e fez um gesto com a mão direita, para que Damazio o seguisse. Feito isso, entrou pela porta, deixando-a a aberta, para que o cainita entrasse.

Ao ver o homem e ao ser convidado para entrar em um ambiente onde, talvez, aquele padre pudesse se tornar uma vítima fácil, a Besta ignorou a estranheza da situação e das palavras do religioso e rosnou mais alto, uivando, gemendo, chorando, gritando e amaldiçoando Damazio, clamando por morte, sangue e tripas.

- Feche a porta. – Disse o padre, conforme caminhava para dentro do interior magnífico da catedral. Era um templo cheio de grandes pedras de mármore claro, grandes móveis de madeira e vitrais gloriosos - predominantemente azuis, mas também vermelhos, brancos, amarelos. O ambiente, agora, era acolhedor e aquecido, sobretudo comparado com o clima hostil, úmido e frio que existia do lado de fora. Por um momento, parecia que Deus estava, realmente, presente ali; contudo a Besta, dentro de Damazio, não o deixava esquecer que, mais real que alguma divindade, naquela igreja, era o demônio que o habitava e era, a uma só vez, ele mesmo.

O padre sentou-se em um dos bancos de madeira maciça do lugar e olhou Damazio, conforme o cainita adentrava o lugar. Não havia, aparentemente, ninguém mais ali. Havia um silêncio absoluto, assombroso até, que foi, subitamente, cortado pelas palavras do homem, com sua voz calma e confiante.

- Giuliano, não é mesmo? Sim. Você só pode ser Giuliano. – Disse o cura, abrindo um largo sorriso.
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Mensagem por NightChill Sex Dez 11, 2020 11:23 pm

Daniel Murdoch

PS: 2/13
FdV: 7





Os passos de Daniel o faziam cruzar algumas ruas – sem dificuldade, pois não havia carros – em meio ao vazio da cidade, à chuva e ao vento frio daquela noite, que parecia assombrada. Talvez o vazio fosse o mais assombroso. Daniel estava no centro do mundo, ao redor do que outras cidades, povos, países, economias, governos, de uma forma ou de outra, giravam; mas, agora, não havia nada. Apenas a chuva, o vento e o vazio. Se alguma vez alguém houvesse imaginado o fim do mundo daquela forma, o fim do mundo, não importa a cultura na qual estivesse inserido, seria verdadeiramente aterrorizante, já que era extremamente real, e não marcado por criaturas fantasiosas, como bestas de sete cabeças, cavaleiros amaldiçoados ou anjos. O fim do mundo era simplesmente vazio, cruel e real.

Não obstante alguns pensamentos pudessem tentar levar Daniel por devaneios, em meio àquele ambiente inédito e dado a contemplações, a Besta, abraçada à fome, em uma cópula hedionda, fazia com que o cainita logo os abandonasse, para, constante e incessantemente, sentir o horror, a dor, a agonia e a fúria da falta de sangue em sua boca, em sua garganta, em seu corpo morto.



Subitamente, o relativo silêncio e o vazio absoluto foram rompidos pelo som alto de pneus tentando freiar. E, num golpe de olhos, Daniel pôde ver um carro desgovernado passar por si e quase lhe atropelar, fazendo um último movimento brusco, para capotar, girando sobre si mesmo diversas vezes, até chocar-se contra um poste, que tombou instantes depois, como uma antiga árvore. O golpe do metal batendo contra o asfalto, em meio àquele silêncio opressivo, fez-se ecoar ainda mais alto e terrível. O carro, um Toyota Corolla, ficou com os pneus para o alto, de ponta-cabeça, completamente desfigurado, com todas suas partes tortas e amaçadas. Os vidros estavam estilhaçados ou quebrados, e, de onde Daniel estava, pôde ver o para-brisas coberto de sangue. Um pouco mais adiante, Daniel pôde ver um corpo, que havia sido arremessado do carro e jogado contra o asfalto, a poucos metros, esvaindo-se em sangue.

Sangue. O perfume férreo do vitae rapidamente tomou de assalto as narinas e, finalmente, o olfato de predador faminto de Daniel. A Besta urrou dentro de si, sentindo a morte, sentindo o sangue, sentindo ambos tão perto, tão acessíveis, tão presentes. Sangue. Morte. Sangue. Sangue!

(Dados:9, 4, 10
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Apesar das investidas furiosas e enlouquecidas da Besta, Daniel encontrou forças dentro de si, milagrosamente, para se conter. Diante de si, estava posta a cena de um desastre. E, absurdamente, o silêncio retornou, conforme o motor do carro desligou-se. Contudo, uma chama logo irrompeu, provavelmente do motor, de onde óleo e combustível começavam a vazar, como o sangue, vindo da cabine. Daniel escutou, então, um som que parecia de tosse. O corpo, que havia sido arremessado, estava, ainda, vivo. De onde Daniel estava, parecia ser uma mulher, de não mais de 30 anos, cabelos avermelhados, a pele branca, dilacerada, em diversos pontos, por vidro. Os membros dispostos de um modo estranho, certamente quebrados. A boca, a garganta, o peito e outras partes do corpo muito feridas, sangrando. Mas, ainda assim, estava viva e consciente.

Não havia sinal de outras pessoas por ali. De onde estava, Daniel não podia ver ninguém mais.

- Me ajuda... - Murmurou baixo a mulher sobre o chão, conforme seu sangue escorria de sua boca, em meio à tosse, e de seu corpo, misturando-se à água da chuva, ao óleo do asfalto.
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Mensagem por Undead Freak Sáb Dez 12, 2020 2:26 am

As passadas eram pesarosas. Não haviam obstáculos, nem nada que pudesse desviar a atenção. Afinal, era um grande nada opressor. Mas ainda assim era difícil. Era como caminhar em direção a uma porta que se tornava cada vez mais distante, afastando-se como que por mágica. Daniel sentia-se caminhando em um deserto de eternidade, onde nada levava a nada e todo esforço era inútil. Aquele casulo temporal, totalmente estático, era como o próprio purgatório.

Daniel andava com ânsia, ainda que lento. A dor não permitia maior ímpeto no caminhar. A dor pulsava. A voz do monstro reverberava na mente. O vampiro sentia-se açoitado conforme avançava. Sentia que enlouqueceria ali. Se aquela noite não fosse o fim do seu corpo, talvez fosse o fim da sua mente – ou da sua alma…

Uma nova pontada de dor, agora mais forte. Esta não soou como castigo, mas sim como alerta. Foi como se o monstro dele gritasse de repente “Preste atenção, seu idiota!”, pois assim que olhou adiante, viu um carro avançando. A primeira mudança da violação da regra estática daquele purgatório, pois o silêncio agora não mais imperava. Desgovernado ele passou por Daniel, quase acertando-o, para então virar e derrapar… O metal deslizou pelo asfalto, tão alto e estridente que o vampiro cerrou os olhos e rangeu os dentes, como se agulhas incandescentes estocassem seus tímpanos. A massa de metal terminou acertando um poste, quando finalmente se silenciou, como um grande animal abatido.

“Essa noite ainda vai ser minha sina…”

Instintivamente Daniel aproximou-se. O Corolla estava em pedaços. Toda a lataria estava amassada, seus eixos retorcidos e não sobrara um único vidro intacto naquela carcaça. O rastro de sangue que partia do para-brisas estilhaçado foi seguido pelos olhos do vampiro, como era de se esperar. Foi então que a visão do corpo imprimiu-se em sua mente. A besta lhe falava em um murmúrio quase pornográfico “Uma morte recente… O sangue ainda está fresco!”. Daniel se aproximou e, sabe por qual razão, ele conseguiu manter a consciência, em vez de saltar sobre aquela fonte escarlate como um animal. Fora um ato e tanto de vontade, pois sua boca estava seca, sua garganta arranhava e parecia que ele tinha areia entre os dentes, em vez de saliva. Daniel não conseguiu interpretar aquilo como nada que não fosse um ato de boa vontade do monstro interior. “Estou contando com você, Daniel. Não me decepcione”.

– Me ajude… – Murmurou baixo a mulher sobre o chão, conforme seu sangue escorria de sua boca, em meio à tosse, e de seu corpo, misturando-se à água da chuva, ao óleo do asfalto.

Daniel tocou sua testa. A pele estava quente, as artérias abertas e dilatadas. O cheiro do sangue impregnava. O vampiro sentiu a boca salivar. A mulher era bela, ainda que estivesse ferida daquela forma. Seus cabelos eram avermelhados, e ela era pálida. Junto com o cheiro do sangue, veio o cheiro da gasolina sendo queimada pelo fogo; uma chama que irrompia do motor destruído. A sede misturava-se com o desconforto das chamas, e independente do que Daniel faria, ele teria de fazer logo.

Absit omen… Eu sinto muito.

Daniel tomou todo o sangue que podia, sem se importar com mais nada. Queria a paz. Queria que o monstro dentro dele recuasse. Em paz ele poderia pensar e refletir melhor sobre os próximos passos a se fazer aquela noite. Ele não poderia sacanear a besta, não depois de ela ter deixado ele permanecer consciente de boa vontade. Ele até tinha o cenário mais perfeito e favorável. O destino conspirava para isso. Depois que terminou de drenar a infeliz dama, ele arremessou seu cadáver no fogo que se alastrava, retomando sua caminhada e saindo daquele local o mais rápido possível.

– Que noite horrível para se ter uma maldição... – falou, enquanto caminhava olhando para trás, contemplando o cadáver nas chamas mais uma vez. – Os mortos são os mais afortunados em tempos como este.
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Mensagem por Han Sáb Dez 12, 2020 11:02 am

Sangue... o doce líquido que nos faz fortes e fracos ao mesmo tempo... A vitae daquela cainita descia por minha garganta me causando uma sensação de êxtase que o sangue humano nunca será capaz de proporcionar... Eu não queria parar... Eu iria secar aquela pobre diabo que teve o azar de cruzar o meu caminho. Porém, um evento inesperado acontece e salva a vida daquela amaldiçoada. Uma pancada forte na cabeça me fazia largar a vampira, me jogando para o lado. Caído no chão, eu tento olhar para o meu agressor, mas minha vista estava turva por causa da chuva, da parca iluminação e a pancada na cabeça. Demoro alguns segundos para recobrar o juízo e então, ouço a voz.

- Ora, ora, ora. O que temos aqui?

Essa voz... essa voz é familiar... mas a dor na cabeça e a raiva por ter sido interrompido enquanto me alimentava, me trás dificuldades para reconhece-la de imediato. Ele continua...

– Vou te dar uma chance, apenas, de me dizer quem você é. Se a resposta não for a que eu espero que seja... bom, as coisas vão ficar pior para você do que já estão.

Qadir... o Xerife. O que esse desgraçado faz aqui? — BaRock... Boris BaRock... Digo enquanto me levanto e me recomponho. A vontade era de dar um belo soco bem na fuça desse maldito. — Não te ensinaram que é falta de educação interromper o amiguinho enquanto ele se alimenta? Dizia em tom irônico para maquiar um pouco a minha raiva. É por essa e outras que cada vez mais a Camarilla tem afundado. Cada noite que passa, o Estado Anarquista fica mais atraente para a maioria dos vampiros como eu. Penso em perguntar o que ele fazia ali e o que queria mas, o ego dos Cammy são frágil demais. Ele poderia tomar isso como insulto e querer me punir deliberadamente. Infelizmente, esse bastardo é mais poderoso do que eu, por isso sou obrigado a me conter... desgraçado... Mas acredito que ele mesmo dirá alguma coisa...
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Ameaças novas, ameaças antigas Empty Giuliano Damazio, Lasombra Antitribu

Mensagem por Ed Araújo Seg Dez 14, 2020 9:58 pm

Ameaças novas, ameaças antigas Diy3ceD

A Fome havia deixado Giuliano cometer falhas terríveis.

Como não lembrara que as igrejas estavam todas fechadas? Que não havia fiéis? Aquilo podia bem ser uma armadilha e ele estaria condenado.

Mas o padre diante dele parecia estar bem tranquilo e até sabia seu nome. Damazio se aprumou. A Besta rosnava, mas ele podia se conter. Não estava tão desesperado ainda.

"Eu podia ter pego meu carro, merda."

Apalpou a arma sob o terno. Olhou ao redor. Buscou por ameaças, tentou farejá-las, ouvi-las. Esforçando-se por aparentar tranquilidade e normalidade, falou com o outro.

– O que deseja, padre...?
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Mensagem por NightChill Dom Dez 20, 2020 7:09 pm

Boris BaRock


PS: 4/13
FdV:6/6





Qadir olhava Boris atentamente, de cima a baixo e de baixo para cima, medindo-o sem pressa, enquanto aguardava que o cainita se recompusesse e formulasse uma resposta. Ao lado de ambos, estava caída a vampira, paralisada, com sua expressão facial e corporal de horror iminente, com uma estaca de madeira cruelmente fincada em seu peito. Do outro lado dos dois, o homem mastigado, desfigurado e com sangue sobre seu corpo, denunciando, junto a seus ferimentos, a morte violenta e cruel à qual fora submetido. Ao receber de Boris a resposta quanto a sua identidade e, em seguida, a pergunta irônica e irreverente, Qadir fechou o semblante e olhou-o penetrantemente.

- BaRock, a cria de Jack Hunter. – Disse, sem tirar os olhos de Boris, levando uma das mãos ao queixo, pensativo, enquanto a outra segurava um guarda-chuva negro, que impedia, muito mal, que ele e suas roupas – um elegante terno escuro, assim como seus sapatos, e uma camisa de algodão egípcio – fossem completamente encharcadas pela chuva. – Evidentemente, seu Senhor esqueceu-se de te ensinar algumas regras básicas quanto à conduta que se espera dos Membros. A primeira é o respeito. – E, ao dizer isso, não conseguiu esconder o desgosto que sentira com a resposta mal-criada que recebera. – A segunda, é a de que atacar e se alimentar de outro Membro é um ato repulsivo e visto com péssimos olhos por todos. É, até mesmo, criminoso. E eu não ficaria surpreso com a quantidade de outras regras simples e fundamentais que você não aprendeu ou, simplesmente, decidiu ignorar. – O tom usado por Qadir, agora, era, de certa forma, ameaçador.

A chuva não cessava e o vento mostrava-se, progressivamente, mais intenso. No beco escuro em que estavam, Qadir, Boris e as duas vítimas estavam, aparentemente, escondidos suficientemente de transeuntes e curiosos. A fome que Boris sentia havia arrefecido um pouco, mas ainda se fazia sentir. A Besta, por sua vez, parecia, por alguns instantes, saciada, entorpecida pelo prazer de provar o vitae vampírico que, certamente, fazia muito tempo que não sentia – talvez sentira, apenas, por ocasião do Abraço.

- Você está em sérios apuros, BaRock. O que você fez aqui, não me importa sua justificativa, é condenável, e eu não ficaria nada surpreso se Hellene Panhard decidir ter sua cabeça, por isso. Sem falar nas consequências desse seu ato abjeto para Hunter. – Dizendo isso, Qadir logo prosseguiu, não parecendo muito interessado em ouvir a versão ou as justificativas que Boris pudesse dar. – Na verdade, eu poderia muito bem acabar com sua existência aqui e não precisaria me justificar muito, para convencer Panhard e o alto escalão da Corte da gravidade do que você fez. E do que você faria, se eu houvesse permitido - Diablerie. Dessa vez, Boris, eu duvido muito que Jack conseguiria – ou até mesmo se arriscaria a intervir. – Dizendo isso, usou a ponta do sapato para mover o rosto da cainita caída, olhando-a de perfil. – Mas eu tenho uma saída para você.

Voltando a olhar Boris com intensidade, Qadir aproximou-se o suficiente para, se quisesse, golpear Boris, sem parecer se preocupar se o próprio Boris não poderia atacá-lo.

– Eu não estou aqui por acaso e não encontrei você e essa... jovem, por acaso. Vamos ver se você me entende: você está ferrado e eu poderia me beneficiar da sua ajuda no trabalho que estou fazendo para Panhard. A alternativa é... você deixar de existir aqui, agora, ou daqui a uma ou duas horas, se eu decidir esperar um veredito do Príncipe. O que vai ser?

Um raio cruzou os céus, novamente, iluminando o beco por breves segundos. Durante aquele clarão, a figura de Qadir pareceu ainda mais ameaçadora, assim como a cena da mulher com uma estaca em seu peito e o homem semidevorado se mostrava ainda mais grotesca.
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Mensagem por Han Seg Dez 21, 2020 7:33 am

— Droga, esse pau mandado tinha que aparecer logo agora? Qadir havia me pegado em flagrante. Não tinha como eu me livrar dessa. Não com justificativas, ele deixou isso bem claro. A presença do Xerife era mais intimidante do que eu queria admitir. Ele era frio e ameaçador em suas palavras. Eu não estava em condições de negociar — filho da puta! Até me passa pela cabeça deixar ser conduzido até a corte. Panhard era bastante benevolente, porém, ela era pressionada pela primigênie e, mesmo contra sua vontade, me sacrificaria para servir de exemplo e, manter a ordem (temor nos corações mortos).

— Não tenho o que dizer Qadir. Não estou em posição de negociar. Se eu tivesse poder suficiente para acabar com Qadir, o faria agora mesmo. Mas infelizmente, seria uma burrice tentar algo contra o Xerife. — Diga-me, qual é o trabalho? E assim, eu vendia minha alma para o diabo. Que hipocrisia, lutei a minha vida toda contra a opressão e, agora estou amarrado a vontade desse filho da puta.

Apesar de momentaneamente saciada, a fome estava longe de me deixar em paz. Eu ainda estava perigosamente perto do limite e, precisava sugar mais sangue. O cheiro de sangue me atentava e, manter uma conversa digna com Qadir era um esforço grande demais para uma simples tarefa. O cheiro do sangue naquele local era forte. Os flashes vindos do céu, denunciavam o vermelho que pintava aquele ambiente... — Droga Qadir, diga logo qual será o preço e dê o fora daqui para eu acabar o que comecei!
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Mensagem por NightChill Ter Dez 22, 2020 6:57 pm

Giuliano Damazio



PS: 2/13
FdV: 8





O padre olhava Giuliano curiosamente, e o cainita podia seguir seus olhos, indo de seu cabelo encharcado, passando por seus olhos, seu nariz, sua boca, seu queixo. O religioso parecia absorver suas feições sem pressa, enquanto o silêncio quase absoluto, a não ser pelo leve som da chuva, do lado de fora, se fazia presente timidamente. O homem sorriu um pouco e disse:

- Você deve estar se perguntando tantas coisas agora... todos nos perguntamos e nos questionamos todo o tempo, não é mesmo? Afinal... o que se sabe sobre a vida? E mais! – Ergueu um pouco a voz, levantando o dedo indicador, como se quisesse reforçar o que diria em seguida. – O que se sabe sobre a não-vida? Sobre a condição daqueles que morreram, mas não descansaram. Sobre aqueles que são filhos do Amaldiçoado. – O padre, ainda que jovem, dizia aquelas palavras como se possuísse um espírito antigo, uma alma mais velha que seu corpo, sábia e profunda. – Os filhos de Caim, o primeiro assassino, o primeiro... vampiro. O que se sabe sobre os vampiros, além de superstições e crenças criadas por todos aqueles que vieram antes de nós, e que tinham seus próprios interesses?

O padre levantou-se e colocou-se a caminhar de forma lenta pela nave da catedral, pensativo, até parar e virar-se para Giuliano, com seus olhos azuis grandes.

- E o que se sabe sobre essa praga, que está destruindo nossa sociedade rápida e inesperadamente? O que você sabe, Giuliano? Ou o que você acredita saber? Fale comigo. Aposto que faz muito tempo que você não conversa com um padre.

O religioso ficou ali, parado, há cerca de 10 metros do cainita, olhando-o com um sorriso inquebrantável e indecifrável, aparentemente, aguardando uma resposta, mas ciente de que o vampiro deveria estar mais ávido por respostas que ele.

Nesse momento, ouvia-se o vento, que escapava pela fresta de alguma porta ou janela, fazendo um uivo distante, mas, de certa forma assustador, naquele templo monumental e vazio, perdido em um mundo de modernidade e que, até há poucas semanas, era frenético e com cada vez menos lugar para templos. Giuiano ouvia, também, além da chuva e do uivo do vento, a voz feroz e constante da Besta, clamando por sangue, pelo único alimento que o cainita poderia almejar, por toda a eternidade. Pelo único desejo que ele poderia ter, realmente, até o fim de sua existência.
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Mensagem por Ed Araújo Qua Dez 23, 2020 10:22 pm

Ameaças novas, ameaças antigas Diy3ceD

Aquele homem era estranho. E, embora demonstrasse um perigoso conhecimento sobre os Membros, era simplesmente um mortal. Giuliano decidiu ir pra cima.

– Então, padre, você me conhece e claramente sabe bastante sobre minha Família. Alguns dizem que conhecimento em demasia pode ser prejudicial à saúde. Agora, corte o papo furado, pois tenho fome e não sou o tipo de pessoa que fica perdendo o tempo com conjecturas. Então me diga... por que ainda está vivo? Sugiro pensar cuidadosamente na resposta.
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Mensagem por NightChill Qua Dez 30, 2020 10:11 am

Daniel Murdoch


PS: 2/13
FdV: 7



Diante do desastre e do corpo da mulher atirado ao asfalto molhado, frio e duro, Daniel pareceu demonstrar a frieza de sua alma e a flexibilidade de sua consciência, adquiridas, provavelmente, em decorrência dos anos de não-vida, de um viver artificial e predatório – o destino de todos os cainitas. Daniel controlara sua Besta, para não sucumbir a ela como um animal selvagem e descontrolado e devorar, como um lobo, aquela mulher, que estava entre a vida e a morte, que clamava por ajuda diante do que ela própria era capaz de reconhecer como uma situação fatal; contudo, ela pedira ajuda à pessoa errada. Mesmo sob controle, Daniel cedeu à Besta e à fome, de forma consciente. Como um predador, ainda que demonstrando - ou simulando? - alguma compaixão ao enunciar sentir muito pelo que faria, cravou suas presas ferinas carne adentro e sugou o sangue da mulher, terminando por matá-la. Para sua decepção, não havia muito o que sugar.

(Dados:10, 7, 5
DANIEL MURDOCH rolou 3 dado(s) com dificuldade 8 para Teste de consciência e obteve 1 sucesso(s)
Re-rolar 10: não
Ignorar 1: não)


(Daniel Murdoch adquire 3 pontos de sangue)

Naquele momento em que pôde sentir o sangue em sua boca, em sua garganta, preenchendo, em seguida, seu corpo, realmente, não havia nada mais, para ele, ao seu redor. Havia sido como se o mundo houvesse desaparecido. A avenida não existia. O asfalto não exista. O fogo não existia. A morte não existia. A pandemia não existia. Nova Iorque não existia. Apenas o êxtase, o prazer, o deleite existiam. Aparentemente, até mesmo a cautela deixara de existir.

Após terminar de sugar todo o sangue que havia em sua vítima – ou era ele seu salvador, que lhe proporcionara uma morte prazerosa e a poupara de desesperadores momentos de angústia e de agonia ante a morte inevitável? -, viu-se diante de um corpo morto, suspeitamente drenado de todo o seu sangue, no meio da mais importante avenida da cidade mais importante do mundo. Sem hesitar, tomou o corpo em seus braços e arremessou-o às chamas que começavam a se formar sobre a carcaça do automóvel, na esperança de que elas consumissem a mulher morta. Mas a avenida vazia dava a certeza de que, do alto os inúmeros prédios que a seguiam, ninguém havia visto aquele ato monstruoso e inumano que ele cometera? Daniel não poderia saber e, aparentemente, sequer cogitara a possibilidade de ter sido visto.

Caminhando e falando consigo mesmo, afastando-se do local do acidente e do crime consequente, não demorou muito para que Daniel chegasse diante do Knickerbocker Club. Deparou-se com um edifício tradicional da região, com sua base em concreto aparente, no estilo clássico, as paredes em tijolos avermelhados e várias janelas dispostas por todos os três andares da edificação tradicional. Até pouquíssimo tempo, aquele era um clube extremamente restrito, acessível apenas à alta sociedade – aquela aristrocracia burguesa que se formara na Grande Maçã. Nos últimos anos, tornou-se, também, um clube noturno – ainda assim, extremamente restrito.

O lugar estava, aparentemente, fechado, como todos os outros empreendimentos, clubes e negócios na cidade, no país.

(Dados:4, 5, 9, 2
DANIEL MURDOCH rolou 4 dado(s) com dificuldade 6 para Percepção + Investigação e obteve 1 sucesso(s)
Re-rolar 10: não
Ignorar 1: não)


Após alguns instantes, contudo, Daniel pôde ver que, na parte de trás do edifício, havia uma típica porta dos fundos, com uma portinhola à altura dos olhos, por meio da qual alguém, dentro do edifício, poderia ver quem estava do lado de fora, sem ter de abrir toda a porta. E, de onde estava, Daniel pôde ver que alguém abrira a portinhola e, instantes depois, a fechou. Sem dúvida, havia alguém dentro do edifício, provavelmente à espera de algo ou de alguém.

Em meio àquela situação, a chuva tornava-se mais intensa, assim como o vento. Os relâmpagos e os trovões seguiam esparsos, mas se faziam presentes ainda assim. Teriam as chamas do carro sido resilientes o bastante para vencer a água e o vento, a fim de consumirem o carro e, mais importante, o corpo drenado da mulher?


Última edição por NightChill em Qua Dez 30, 2020 11:15 am, editado 1 vez(es)
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