Raven - Lasombra - Sabbat
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Raven - Lasombra - Sabbat
1. Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Recursos: 4 (4PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
- Voz Encantadora (2)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Repulsa a Alho (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 30
- Idade Total: ??
- Data de Nascimento: ??/??/????
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
7. Banco de Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Recursos: 4 (4PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
- Voz Encantadora (2)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Repulsa a Alho (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 30
- Idade Total: ??
- Data de Nascimento: ??/??/????
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
7. Banco de Dados
Convidado- Convidado
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Olá, boa noite! Serei o avaliador da sua ficha!
Uma irmã de clã, que empolgante! No aguardo do prelúdio para dar início aos trabalhos!
Uma irmã de clã, que empolgante! No aguardo do prelúdio para dar início aos trabalhos!
Padre Judas- Administrador
- Data de inscrição : 08/03/2010
Idade : 30
Localização : Brasília - DF
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Olá. O preludio ainda está em construção, aos poucos irei complementar conforme a inspiração vir surgindo.
1. Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Recursos: 4 (4PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
- Voz Encantadora (2)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Repulsa a Alho (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 30
- Idade Total: ??
- Data de Nascimento: ??/??/????
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
7. Banco de Dados
1. Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Recursos: 4 (4PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
- Voz Encantadora (2)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Repulsa a Alho (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 30
- Idade Total: ??
- Data de Nascimento: ??/??/????
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
Prelúdio inspirado na obra de Anne Rice
- Entrevista com Vampiro.
- Entrevista com Vampiro.
- Compreendo... - disse pensativa, caminhando lentamente pela sala até a janela. Durante muito tempo permaneci de pé em frente à luz fraca e à torrente de tráfego da Rua Divisadero. Não sabia se agora o rapaz conseguia ver os móveis da sala mais claramente, a mesa de carvalho redonda, as cadeiras. Numa das paredes, uma bacia pendia sob um espelho. Mas ele apoiou a maleta na mesa e esperou.
- Qual a quantidade de fita que você trouxe? - perguntei, virando-me agora de modo que o menino pudesse ver meu perfil. - O suficiente para registrar a história de uma vida?
- Certamente, se for uma vida movimentada. Às vezes chego a entrevistar três ou quatro pessoas, numa noite de sorte. Mas tem de ser uma boa história.
- É claro - respondi. - Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.
- Ótimo - disse o jovem. E tirou rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. - Estou realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que...
- Não - disse à ele rispidamente. - Não podemos começar desse jeito. Seu equipamento já está pronto?
- Está.
- Então sente-se. Vou acender a lâmpada
- Pensei que os vampiros não gostassem de luz - comentou o rapaz. - Mas caso ache que a escuridão pode ajudar a criar uma atmosfera... - Então, ele parou de falar. Eu o observei de de costas para a janela. O rapaz não conseguia tirar nenhuma informação de minha expressão mas, ainda assim, havia algo em mim que o perturbava. Começou novamente a tentar falar, mas não disse nada. E então viu, com alívio, que eu me dirigi à mesa e apertava o interruptor. A sala foi imediatamente invadida por uma desagradável luz amarela. E o rapaz, fitando-me, não pôde deixar de engolir em seco. Seus dedos bailaram novamente pela mesa, agarrando a borda.
- Meu Deus! - murmurou, fitando-me sem fala. Sou incrivelmente branca e suave, como se tivesse sido esculpida em osso descorado. Meu rosto parecia tão inanimado quanto uma estátua, exceto pelos dois olhos cor-de-mel e brilhantes que examinavam-no atentamente, como se
fossem chamas saindo de um crânio. Eu sorri, quase melancolicamente, e a substância branca e macia de meu rosto se moveu como as linhas infinitamente
flexíveis, mas mínimas, de um desenho animado.
- Compreende? - perguntei suavemente. O rapaz estremeceu, levantando a mão como se quisesse se proteger de uma luz poderosa. Seus olhos passearam lentamente pelo paletó preto, de bom corte, que tinha somente vislumbrado no bar, as longas dobras da capa, o lenço de seda negra amarrado no pescoço, e o brilho do colarinho branco, tão branco quanto minha carne. Fitou-me, espantado, meu cabelo liso e negro, as mechas cuidadosamente penteadas para expor uma perfeito moldura de meu rosto e exibir as orelhas, as mechas que se estendiam até a altura de meu queixo.
- Agora, ainda quer a entrevista? - perguntei a ele. A boca do rapaz ficou aberta, sem emitir nenhum som. Balançava a cabeça. Depois disse: - Quero. - Sentei-me à sua frente e: inclinando-me, disse calma e confidencialmente: - Não tenha medo. Simplesmente ligue o gravador. - E, então, me estendi sobre a mesa. O rapaz se encolheu, com o suor descendo por sua face. Pusei pesadamente a mão sobre o ombro do rapaz, e disse:
- Acredite-me, não lhe farei mal. Quero esta oportunidade. É mais importante para mim do que pode lhe parecer agora. Quero que comece. - Retirei a mão e sentei-me calmamente, esperando. O rapaz precisou de algum tempo para enxugar a testa e os lábios com um lenço, verificar se o microfone estava ligado, apertar o botão e dizer que o aparelho estava funcionando. - Você não foi sempre uma vampira, não é?
- Não - Respondi à ele enquanto tentava fitar-me com naturalidade.
- Eu nasci em 1848 quando a Romênia, minha terra natal, ainda era parte do Império Otomano. Eu tinha 32 anos quando a morte me encontrou e convidou-me a caminhar ao seu lado. Meus pais eram camponeses de uma pequena vila no norte chamada Valenkar (Aldeia fictícia).
- Nunca ouvi falar dessa vila, está nos mapas? - Disse o rapaz curioso.
- Não - Respondi à ele em tom sereno - A aldeia nunca teve força econômica, e hoje ela não existe mais, foi consumida pelo abandono, pela terra infértil e os ventos gélidos que impediam o gado de proliferar com vigor, mesmo com o passar de tantos anos a minha terra natal não prosperou e hoje é apenas uma lembrança morta, como eu. Diziam: Eram apenas caipiras. Não possuíam relevância além dos impostos que o povo tinha de pagar, mal era considerada uma vila. A maior parte que não era grande vinha de famílias cristãs remanescentes já que as terras boas estavam destinadas aos muçulmanos mas minha família viveu no paganismo, escolhemos continuar os passos de nossos antepassados druidas para manter viva a herança de nosso povo, mas as pessoas... Acredito que você as conheça, elas temem tudo o que é diferente embora fossemos todos seres humanos. - Eu vi o rapaz assentir com a cabeça, ele retirava um do bolso um maço de cigarro e eu o alertei - Não. - Ele olhou para mim confuso mas entendeu que eu não queria que fumasse - O cheiro te desagrada? - Eu assenti com a cabeça, não queria revelar a ele a fraqueza mais destruidora da minha espécie.
O rapaz guardou o maço nos bolsos, ele ficava mais à vontade comigo à medida que via minhas intensões de simples prosa, ele estava abaixando sua guarda e meu instinto não pode deixar de sentir júbilo por ser tão eficaz em misturar-me entre as ovelhas mesmo sendo um lobo. Ele fez outra pergunta: - Você e sua família eram pagãos. Eles maltrataram vocês? - Eu respondi: - Como animais. Durante séculos minha família conseguiu se proteger escondendo nossa cultura e nossas crenças dos cristãos e dos muçulmanos, mas foi a traição de alguém que amávamos que transformou nossa vida em jaulas de fogo e dor.- Eu estava pensativa quando terminei de falar, meus olhos miravam a face vazia de meu entrevistador. - Nós somos todos vazios, vivos e mortos, mas além de vazios os mortos são exilados e assim devem permanecer, como o primeiro de nós.
O jovem rapaz ajeitava seus óculos e perguntava: - Quem foi o primeiro vampiro? - Eu o olhei e sorri com meus lábios finos, um misto de sarcasmo e agrado por ter recebido uma pergunta sobre um assunto que eu apreciava debater, mas para minha infelicidade aquele rapaz era incapaz de argumentar sobre este tópico e outros relacionados. - Caim. - Eu disse. - Caim? Como na Bíblia? O assassino do irmão Abel? - Eu senti a descrença em suas palavras mesmo que ele tenha acreditado em tudo o que eu disse até agora. Me levantei e ele alterou sua postura, não estava tão confortável quanto pensei que estivesse, mas nada o fiz, caminhei até a janela onde fiquei de costas observando o movimento das ruas noturnas e da vida mortal tão diferente da minha, vida que decidi abandonar para seguir os verdadeiros passos da minha espécie, uma decisão que nunca me arrependi e por isso estou aqui esta noite, com o rebanho registrando minha história, gastando o tempo de minha pesquisa a um dos símbolos tão importantes para entender a maldição que o Pai Sombrio sofreu e abraçou, o exílio.(Nodista)
- Cain foi amaldiçoado pelo Criador Divino, como deve saber. Seus feitos após seu exílio foram grandiosos em uma terra conhecida como Enoch. Lá, ele viveu como uma divindade exilada e teve três filhos para compartilhar de sua solidão imortal. Zillah, Irad e Ynosh. Eu passei a maior parte do meu despertar dedicando-me aos estudos e análises de nossa origem. O que nós somos, de onde viemos e para onde vamos? As mesmas perguntas que os humanos fazem para si mesmos nós fazemos a nós, ao menos alguns poucos. Quando se é imortal, fica fácil deixar de se importar com o amanhã, pois ele sempre será o hoje. - Ouvi o som do toca fitas indicar o término de sua gravação, parecia ter acabado muito rápido.
-Espere um minuto, por favor. - Ele dizia para mim e sem nada a falar esperei até que ele trocasse a fita e apertasse o botão de gravação. - Por favor, continue! - Senti a empolgação em sua voz e não pude evitar de sorrir mas virei meu rosto para que ele não visse meu gosto pelo seu interesse em minhas palavras.
- Quando eu era jovem conheci um homem cristão: Ciprian Íon, era um camponês, como eu. Nossos pais passaram a trabalhar juntos em minas de carvão recém descobertas, as metalurgia e a industria ainda não tinha chegado ao nosso país, eramos uma terra atrasada. Conheci Ciprian e passei todas as minhas tardes livres com ele, era a melhor fração dos meus dias. Nossos pais decidiram nos casar quando eu tinha dezesseis anos e Ciprian vinte e três. Eu era tola e ingênua, acreditei que meu amado sentia o mesmo que passei a sentir por ele quando comecei a vê-lo em meus sonhos, e eu estava certa, eu acreditava no amor que ele me jurou mas meu erro foi ter superestimado esse amor e foi quando contei a ele as tradições da minha família. O medo superou toda e unica beleza que vivíamos. Ciprian contou ao pai dele sobre minha família, e ele contou aos colegas de trabalho do meu pai, a notícia se espalhou como doença em uma pequena vila e em dois dias eramos detestados em Valenkar. Tivemos trabalhos recusados, meu pai foi agredido severas vezes, minha honra e de minha mãe quase foi maculada. Eu passei a detestar essas pessoas com todas as minhas forças, não há nada mais cruel e doloso que o preconceito (Intolerância)- Virei-me ao rapaz e vi em seus olhos o que é chamado de "empatia", ele se compadecia de minha história. Levemente ri daquele olhar - Está com pena de mim? - Perguntei. Ele tirou os óculos e limpou-os com a camisa de algodão branca - Não... Eu só... Tenho de concordar com você. As pessoas fazem coisas terríveis por preconceito. - Ele botava novamente os óculos e apoiava os cotovelos em cima da mesa, semelhante a um aluno atencioso. - Fazem... - Respondi - Faz parte da natureza, assim como eu preciso beber sangue para sobreviver, as pessoas precisam expressar sua raiva de alguma forma, mas é algo que até mesmo a grande maioria da minha espécie necessita. Nós todos fomos humanos um dia e por mais que os séculos nos façam esquecer de nossa humanidade, apenas as coisas que são consideradas positivas do seu ponto de vista caem no oblívio. As trevas nos corações de cada vampiro ficam mais fortes. - Ele respondeu: - Você não parece ser alguém má. - E eu retruquei - Não, eu não sou, ser o que sou hoje não me é considerado mal, nem a nenhum outro vampiro que segue filosofias alternativas às minhas ou às suas, mas de acordo com sua filosofia somos apenas monstros. Permita-me continuar - O rapaz assentiu se ausentando a continuar o debate, ainda tinham fitas a gravar - Nós decidimos que era tempo de abandonarmos Valenkar para sempre, estávamos arriscando viagens com pouca comida, pouca água e nenhuma proteção, mas nós partimos mesmo assim e por mais que o tormento de minha família tivesse findado a um preço alto, os meus só se intensificaram, eu me amargurei por muito tempo pelo que fiz minha família passar e decidi que minha mente infantil e sonhadora era um estorvo, prometi dar à minha família o dobro do que possuíam foi assim que comecei a ficar ambiciosa e abandonar meus desejos para obter poder, proteger e construir duas vezes melhor o que eu destruí.
- Nosso inicio deu-se em meio à fome pois tínhamos pouco, por sorte nós conseguimos encontrar estalagens no caminho e viajantes bem intencionados que foram bondosos conosco nos dando comida e abrigo durante a passagem. Meu pai era orgulhoso e fazia questão de compensar com algum trabalho, não ficávamos mais do que um dia em cada lugar, tivemos de evitar rotas da guarda imperial para que não descobrissem nossos pertences hereges em suas inspeções. Foi duro, mas conseguimos. Nós chegamos à Grande Valáquia após meses de viagem mas nas cidades as pessoas são mais frias que no interior, não tivemos a mesma sorte de conseguir abrigo para todos, não com prontidão. Cada trabalho era uma vaga, eu não tinha a força para realizá-los nem o conhecimento, nem minha mãe, meu pai tinha como sua força e experiência como camponês, a força era útil mas a experiência como camponês nem tanto pois o comércio era abrangente, ninguém mais plantava ou colhia nas cidades, mas ele conseguiu um emprego como assistente ferreiro, o ferreiro era um homem honesto e permitiu que meu pai dividisse o quarto conosco temporariamente. Para ajudar meu pai eu também parti em busca de emprego e foi quando vi pela primeira vez um lugar que continha tudo o que eu procurava... Uma biblioteca. Entrei na biblioteca e me encantei com o que vi mas também fiquei triste pois eu não era alfabetizada, senti-me diminuta diante daquelas pessoas bem vestidas e cultas, inferior, impotente... Mas eu queria ser como eles, queria ser inteligente e ter uma educação digna para ter poder e nunca mais passar pelos apuros que fiz minha família passar. A bibliotecária, assim como o ferreiro, era uma mulher bondosa, ela reparou na figura solitária, pequena e ignorante naquele vasto domínio do saber, fora ela quem se apiedou de mim e me ensinou a ler e a escrever e após isso me ofereceu um emprego como sua assistente. Nossa vida começou a melhorar e eu passei a morar na biblioteca dando mais espaço para meus pais. Durante meu tempo livre, normalmente na madrugada, passei a ler e a ler muitos livros, em especial, história e filosofia, o passado era algo que me intrigava, a arte acompanhava seus passos assim como a filosofia, estão interligados e sempre estarão e junto delas, se olhar profundamente, encontrará os conhecimentos obscuros das culturas e do mundo e isto roubou toda minha atenção o que era um desvio em meus objetivos e o inicio de outros.
- Haviam livros que não eram traduzidos para o Romeno, então aprendi a língua mais próxima através de um dicionário, o latim. Com o latim abri muitas portas para a minha mente e passei a entender o pensamento cristão lendo a bíblia judaico-cristã, foi uma leitura agradável e vendo a justificativa de seus rituais, cerimonias e tradições passei entender o medo e o escárnio que sentiam de nós, mas não entenda errado, isso não me fez odiá-los menos. Da mesma forma, aprendi o Árabe para poder compreender melhor como funcionava o Império em que vivia e poder lidar com os muçulmanos. Com o tempo passei a conversar com os estudiosos que chegavam à biblioteca, indicando livros e debatendo sobre assuntos variados, mas a política era algo que não era adepta apesar de minha compreensão do todo.
- As coisas estavam indo bem, quando recebi a notícia de meu pai que minha mãe estava doente. Câncer de mama. Os médicos não podiam fazer nada, na verdade, eles não queriam fazer pois não tínhamos dinheiro para o tratamento então eu mesma passei a procurar uma solução na biblioteca, passei a estudar medicina e fazer perguntas a médicos e especialistas que passavam. Estudei dia e noite, minha empregadora compreendia minha situação e nada podia fazer além de permitir que eu tentasse buscar uma solução por mim mesma... Como parte de meus estudos medicinais autônomos passei a sugerir secretamente a pacientes pobres tratamentos fáceis com ervas naturais que funcionavam bem, mas por mais que eu tivesse aprendido, por mais que eu tivesse me esforçado não foi o suficiente. Minha mãe faleceu em 1873.
CONTINUA...- Qual a quantidade de fita que você trouxe? - perguntei, virando-me agora de modo que o menino pudesse ver meu perfil. - O suficiente para registrar a história de uma vida?
- Certamente, se for uma vida movimentada. Às vezes chego a entrevistar três ou quatro pessoas, numa noite de sorte. Mas tem de ser uma boa história.
- É claro - respondi. - Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.
- Ótimo - disse o jovem. E tirou rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. - Estou realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que...
- Não - disse à ele rispidamente. - Não podemos começar desse jeito. Seu equipamento já está pronto?
- Está.
- Então sente-se. Vou acender a lâmpada
- Pensei que os vampiros não gostassem de luz - comentou o rapaz. - Mas caso ache que a escuridão pode ajudar a criar uma atmosfera... - Então, ele parou de falar. Eu o observei de de costas para a janela. O rapaz não conseguia tirar nenhuma informação de minha expressão mas, ainda assim, havia algo em mim que o perturbava. Começou novamente a tentar falar, mas não disse nada. E então viu, com alívio, que eu me dirigi à mesa e apertava o interruptor. A sala foi imediatamente invadida por uma desagradável luz amarela. E o rapaz, fitando-me, não pôde deixar de engolir em seco. Seus dedos bailaram novamente pela mesa, agarrando a borda.
- Meu Deus! - murmurou, fitando-me sem fala. Sou incrivelmente branca e suave, como se tivesse sido esculpida em osso descorado. Meu rosto parecia tão inanimado quanto uma estátua, exceto pelos dois olhos cor-de-mel e brilhantes que examinavam-no atentamente, como se
fossem chamas saindo de um crânio. Eu sorri, quase melancolicamente, e a substância branca e macia de meu rosto se moveu como as linhas infinitamente
flexíveis, mas mínimas, de um desenho animado.
- Compreende? - perguntei suavemente. O rapaz estremeceu, levantando a mão como se quisesse se proteger de uma luz poderosa. Seus olhos passearam lentamente pelo paletó preto, de bom corte, que tinha somente vislumbrado no bar, as longas dobras da capa, o lenço de seda negra amarrado no pescoço, e o brilho do colarinho branco, tão branco quanto minha carne. Fitou-me, espantado, meu cabelo liso e negro, as mechas cuidadosamente penteadas para expor uma perfeito moldura de meu rosto e exibir as orelhas, as mechas que se estendiam até a altura de meu queixo.
- Agora, ainda quer a entrevista? - perguntei a ele. A boca do rapaz ficou aberta, sem emitir nenhum som. Balançava a cabeça. Depois disse: - Quero. - Sentei-me à sua frente e: inclinando-me, disse calma e confidencialmente: - Não tenha medo. Simplesmente ligue o gravador. - E, então, me estendi sobre a mesa. O rapaz se encolheu, com o suor descendo por sua face. Pusei pesadamente a mão sobre o ombro do rapaz, e disse:
- Acredite-me, não lhe farei mal. Quero esta oportunidade. É mais importante para mim do que pode lhe parecer agora. Quero que comece. - Retirei a mão e sentei-me calmamente, esperando. O rapaz precisou de algum tempo para enxugar a testa e os lábios com um lenço, verificar se o microfone estava ligado, apertar o botão e dizer que o aparelho estava funcionando. - Você não foi sempre uma vampira, não é?
- Não - Respondi à ele enquanto tentava fitar-me com naturalidade.
- Eu nasci em 1848 quando a Romênia, minha terra natal, ainda era parte do Império Otomano. Eu tinha 32 anos quando a morte me encontrou e convidou-me a caminhar ao seu lado. Meus pais eram camponeses de uma pequena vila no norte chamada Valenkar (Aldeia fictícia).
- Nunca ouvi falar dessa vila, está nos mapas? - Disse o rapaz curioso.
- Não - Respondi à ele em tom sereno - A aldeia nunca teve força econômica, e hoje ela não existe mais, foi consumida pelo abandono, pela terra infértil e os ventos gélidos que impediam o gado de proliferar com vigor, mesmo com o passar de tantos anos a minha terra natal não prosperou e hoje é apenas uma lembrança morta, como eu. Diziam: Eram apenas caipiras. Não possuíam relevância além dos impostos que o povo tinha de pagar, mal era considerada uma vila. A maior parte que não era grande vinha de famílias cristãs remanescentes já que as terras boas estavam destinadas aos muçulmanos mas minha família viveu no paganismo, escolhemos continuar os passos de nossos antepassados druidas para manter viva a herança de nosso povo, mas as pessoas... Acredito que você as conheça, elas temem tudo o que é diferente embora fossemos todos seres humanos. - Eu vi o rapaz assentir com a cabeça, ele retirava um do bolso um maço de cigarro e eu o alertei - Não. - Ele olhou para mim confuso mas entendeu que eu não queria que fumasse - O cheiro te desagrada? - Eu assenti com a cabeça, não queria revelar a ele a fraqueza mais destruidora da minha espécie.
O rapaz guardou o maço nos bolsos, ele ficava mais à vontade comigo à medida que via minhas intensões de simples prosa, ele estava abaixando sua guarda e meu instinto não pode deixar de sentir júbilo por ser tão eficaz em misturar-me entre as ovelhas mesmo sendo um lobo. Ele fez outra pergunta: - Você e sua família eram pagãos. Eles maltrataram vocês? - Eu respondi: - Como animais. Durante séculos minha família conseguiu se proteger escondendo nossa cultura e nossas crenças dos cristãos e dos muçulmanos, mas foi a traição de alguém que amávamos que transformou nossa vida em jaulas de fogo e dor.- Eu estava pensativa quando terminei de falar, meus olhos miravam a face vazia de meu entrevistador. - Nós somos todos vazios, vivos e mortos, mas além de vazios os mortos são exilados e assim devem permanecer, como o primeiro de nós.
O jovem rapaz ajeitava seus óculos e perguntava: - Quem foi o primeiro vampiro? - Eu o olhei e sorri com meus lábios finos, um misto de sarcasmo e agrado por ter recebido uma pergunta sobre um assunto que eu apreciava debater, mas para minha infelicidade aquele rapaz era incapaz de argumentar sobre este tópico e outros relacionados. - Caim. - Eu disse. - Caim? Como na Bíblia? O assassino do irmão Abel? - Eu senti a descrença em suas palavras mesmo que ele tenha acreditado em tudo o que eu disse até agora. Me levantei e ele alterou sua postura, não estava tão confortável quanto pensei que estivesse, mas nada o fiz, caminhei até a janela onde fiquei de costas observando o movimento das ruas noturnas e da vida mortal tão diferente da minha, vida que decidi abandonar para seguir os verdadeiros passos da minha espécie, uma decisão que nunca me arrependi e por isso estou aqui esta noite, com o rebanho registrando minha história, gastando o tempo de minha pesquisa a um dos símbolos tão importantes para entender a maldição que o Pai Sombrio sofreu e abraçou, o exílio.(Nodista)
- Cain foi amaldiçoado pelo Criador Divino, como deve saber. Seus feitos após seu exílio foram grandiosos em uma terra conhecida como Enoch. Lá, ele viveu como uma divindade exilada e teve três filhos para compartilhar de sua solidão imortal. Zillah, Irad e Ynosh. Eu passei a maior parte do meu despertar dedicando-me aos estudos e análises de nossa origem. O que nós somos, de onde viemos e para onde vamos? As mesmas perguntas que os humanos fazem para si mesmos nós fazemos a nós, ao menos alguns poucos. Quando se é imortal, fica fácil deixar de se importar com o amanhã, pois ele sempre será o hoje. - Ouvi o som do toca fitas indicar o término de sua gravação, parecia ter acabado muito rápido.
-Espere um minuto, por favor. - Ele dizia para mim e sem nada a falar esperei até que ele trocasse a fita e apertasse o botão de gravação. - Por favor, continue! - Senti a empolgação em sua voz e não pude evitar de sorrir mas virei meu rosto para que ele não visse meu gosto pelo seu interesse em minhas palavras.
- Quando eu era jovem conheci um homem cristão: Ciprian Íon, era um camponês, como eu. Nossos pais passaram a trabalhar juntos em minas de carvão recém descobertas, as metalurgia e a industria ainda não tinha chegado ao nosso país, eramos uma terra atrasada. Conheci Ciprian e passei todas as minhas tardes livres com ele, era a melhor fração dos meus dias. Nossos pais decidiram nos casar quando eu tinha dezesseis anos e Ciprian vinte e três. Eu era tola e ingênua, acreditei que meu amado sentia o mesmo que passei a sentir por ele quando comecei a vê-lo em meus sonhos, e eu estava certa, eu acreditava no amor que ele me jurou mas meu erro foi ter superestimado esse amor e foi quando contei a ele as tradições da minha família. O medo superou toda e unica beleza que vivíamos. Ciprian contou ao pai dele sobre minha família, e ele contou aos colegas de trabalho do meu pai, a notícia se espalhou como doença em uma pequena vila e em dois dias eramos detestados em Valenkar. Tivemos trabalhos recusados, meu pai foi agredido severas vezes, minha honra e de minha mãe quase foi maculada. Eu passei a detestar essas pessoas com todas as minhas forças, não há nada mais cruel e doloso que o preconceito (Intolerância)- Virei-me ao rapaz e vi em seus olhos o que é chamado de "empatia", ele se compadecia de minha história. Levemente ri daquele olhar - Está com pena de mim? - Perguntei. Ele tirou os óculos e limpou-os com a camisa de algodão branca - Não... Eu só... Tenho de concordar com você. As pessoas fazem coisas terríveis por preconceito. - Ele botava novamente os óculos e apoiava os cotovelos em cima da mesa, semelhante a um aluno atencioso. - Fazem... - Respondi - Faz parte da natureza, assim como eu preciso beber sangue para sobreviver, as pessoas precisam expressar sua raiva de alguma forma, mas é algo que até mesmo a grande maioria da minha espécie necessita. Nós todos fomos humanos um dia e por mais que os séculos nos façam esquecer de nossa humanidade, apenas as coisas que são consideradas positivas do seu ponto de vista caem no oblívio. As trevas nos corações de cada vampiro ficam mais fortes. - Ele respondeu: - Você não parece ser alguém má. - E eu retruquei - Não, eu não sou, ser o que sou hoje não me é considerado mal, nem a nenhum outro vampiro que segue filosofias alternativas às minhas ou às suas, mas de acordo com sua filosofia somos apenas monstros. Permita-me continuar - O rapaz assentiu se ausentando a continuar o debate, ainda tinham fitas a gravar - Nós decidimos que era tempo de abandonarmos Valenkar para sempre, estávamos arriscando viagens com pouca comida, pouca água e nenhuma proteção, mas nós partimos mesmo assim e por mais que o tormento de minha família tivesse findado a um preço alto, os meus só se intensificaram, eu me amargurei por muito tempo pelo que fiz minha família passar e decidi que minha mente infantil e sonhadora era um estorvo, prometi dar à minha família o dobro do que possuíam foi assim que comecei a ficar ambiciosa e abandonar meus desejos para obter poder, proteger e construir duas vezes melhor o que eu destruí.
- Nosso inicio deu-se em meio à fome pois tínhamos pouco, por sorte nós conseguimos encontrar estalagens no caminho e viajantes bem intencionados que foram bondosos conosco nos dando comida e abrigo durante a passagem. Meu pai era orgulhoso e fazia questão de compensar com algum trabalho, não ficávamos mais do que um dia em cada lugar, tivemos de evitar rotas da guarda imperial para que não descobrissem nossos pertences hereges em suas inspeções. Foi duro, mas conseguimos. Nós chegamos à Grande Valáquia após meses de viagem mas nas cidades as pessoas são mais frias que no interior, não tivemos a mesma sorte de conseguir abrigo para todos, não com prontidão. Cada trabalho era uma vaga, eu não tinha a força para realizá-los nem o conhecimento, nem minha mãe, meu pai tinha como sua força e experiência como camponês, a força era útil mas a experiência como camponês nem tanto pois o comércio era abrangente, ninguém mais plantava ou colhia nas cidades, mas ele conseguiu um emprego como assistente ferreiro, o ferreiro era um homem honesto e permitiu que meu pai dividisse o quarto conosco temporariamente. Para ajudar meu pai eu também parti em busca de emprego e foi quando vi pela primeira vez um lugar que continha tudo o que eu procurava... Uma biblioteca. Entrei na biblioteca e me encantei com o que vi mas também fiquei triste pois eu não era alfabetizada, senti-me diminuta diante daquelas pessoas bem vestidas e cultas, inferior, impotente... Mas eu queria ser como eles, queria ser inteligente e ter uma educação digna para ter poder e nunca mais passar pelos apuros que fiz minha família passar. A bibliotecária, assim como o ferreiro, era uma mulher bondosa, ela reparou na figura solitária, pequena e ignorante naquele vasto domínio do saber, fora ela quem se apiedou de mim e me ensinou a ler e a escrever e após isso me ofereceu um emprego como sua assistente. Nossa vida começou a melhorar e eu passei a morar na biblioteca dando mais espaço para meus pais. Durante meu tempo livre, normalmente na madrugada, passei a ler e a ler muitos livros, em especial, história e filosofia, o passado era algo que me intrigava, a arte acompanhava seus passos assim como a filosofia, estão interligados e sempre estarão e junto delas, se olhar profundamente, encontrará os conhecimentos obscuros das culturas e do mundo e isto roubou toda minha atenção o que era um desvio em meus objetivos e o inicio de outros.
- Haviam livros que não eram traduzidos para o Romeno, então aprendi a língua mais próxima através de um dicionário, o latim. Com o latim abri muitas portas para a minha mente e passei a entender o pensamento cristão lendo a bíblia judaico-cristã, foi uma leitura agradável e vendo a justificativa de seus rituais, cerimonias e tradições passei entender o medo e o escárnio que sentiam de nós, mas não entenda errado, isso não me fez odiá-los menos. Da mesma forma, aprendi o Árabe para poder compreender melhor como funcionava o Império em que vivia e poder lidar com os muçulmanos. Com o tempo passei a conversar com os estudiosos que chegavam à biblioteca, indicando livros e debatendo sobre assuntos variados, mas a política era algo que não era adepta apesar de minha compreensão do todo.
- As coisas estavam indo bem, quando recebi a notícia de meu pai que minha mãe estava doente. Câncer de mama. Os médicos não podiam fazer nada, na verdade, eles não queriam fazer pois não tínhamos dinheiro para o tratamento então eu mesma passei a procurar uma solução na biblioteca, passei a estudar medicina e fazer perguntas a médicos e especialistas que passavam. Estudei dia e noite, minha empregadora compreendia minha situação e nada podia fazer além de permitir que eu tentasse buscar uma solução por mim mesma... Como parte de meus estudos medicinais autônomos passei a sugerir secretamente a pacientes pobres tratamentos fáceis com ervas naturais que funcionavam bem, mas por mais que eu tivesse aprendido, por mais que eu tivesse me esforçado não foi o suficiente. Minha mãe faleceu em 1873.
7. Banco de Dados
Convidado- Convidado
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
1. Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Recursos: 4 (4PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
- Voz Encantadora (2)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Repulsa a Alho (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 32
- Idade Total: 167
- Data de Nascimento: 14/02/1848
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
7. Banco de Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Lyanna Lewis:
Carniçal com Potência 1 e Dominação 1
- Recursos: 4 (4PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
- Voz Encantadora (2)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Repulsa a Alho (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 32
- Idade Total: 167
- Data de Nascimento: 14/02/1848
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
Prelúdio inspirado na obra de Anne Rice
- Entrevista com Vampiro.
- Entrevista com Vampiro.
- Compreendo... - disse pensativa, caminhando lentamente pela sala até a janela. Durante muito tempo permaneci de pé em frente à luz fraca e à torrente de tráfego da Rua Divisadero. Não sabia se agora o rapaz conseguia ver os móveis da sala mais claramente, a mesa de carvalho redonda, as cadeiras. Numa das paredes, uma bacia pendia sob um espelho. Mas ele apoiou a maleta na mesa e esperou.
- Qual a quantidade de fita que você trouxe? - perguntei, virando-me agora de modo que o menino pudesse ver meu perfil. - O suficiente para registrar a história de uma vida?
- Certamente, se for uma vida movimentada. Às vezes chego a entrevistar três ou quatro pessoas, numa noite de sorte. Mas tem de ser uma boa história.
- É claro - respondi. - Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.
- Ótimo - disse o jovem. E tirou rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. - Estou realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que...
- Não - disse à ele rispidamente. - Não podemos começar desse jeito. Seu equipamento já está pronto?
- Está.
- Então sente-se. Vou acender a lâmpada
- Pensei que os vampiros não gostassem de luz - comentou o rapaz. - Mas caso ache que a escuridão pode ajudar a criar uma atmosfera... - Então, ele parou de falar. Eu o observei de de costas para a janela. O rapaz não conseguia tirar nenhuma informação de minha expressão mas, ainda assim, havia algo em mim que o perturbava. Começou novamente a tentar falar, mas não disse nada. E então viu, com alívio, que eu me dirigi à mesa e apertava o interruptor. A sala foi imediatamente invadida por uma desagradável luz amarela. E o rapaz, fitando-me, não pôde deixar de engolir em seco. Seus dedos bailaram novamente pela mesa, agarrando a borda.
- Meu Deus! - murmurou, fitando-me sem fala. Sou incrivelmente branca e suave, como se tivesse sido esculpida em osso descorado. Meu rosto parecia tão inanimado quanto uma estátua, exceto pelos dois olhos cor-de-mel e brilhantes que examinavam-no atentamente, como se
fossem chamas saindo de um crânio. Eu sorri, quase melancolicamente, e a substância branca e macia de meu rosto se moveu como as linhas infinitamente
flexíveis, mas mínimas, de um desenho animado.
- Compreende? - perguntei suavemente. O rapaz estremeceu, levantando a mão como se quisesse se proteger de uma luz poderosa. Seus olhos passearam lentamente pelo paletó preto, de bom corte, que tinha somente vislumbrado no bar, as longas dobras da capa, o lenço de seda negra amarrado no pescoço, e o brilho do colarinho branco, tão branco quanto minha carne. Fitou-me, espantado, meu cabelo liso e negro, as mechas cuidadosamente penteadas para expor uma perfeito moldura de meu rosto e exibir as orelhas, as mechas que se estendiam até a altura de meu queixo.
- Agora, ainda quer a entrevista? - perguntei a ele. A boca do rapaz ficou aberta, sem emitir nenhum som. Balançava a cabeça. Depois disse: - Quero. - Sentei-me à sua frente e: inclinando-me, disse calma e confidencialmente: - Não tenha medo. Simplesmente ligue o gravador. - E, então, me estendi sobre a mesa. O rapaz se encolheu, com o suor descendo por sua face. Pousei pesadamente a mão sobre o ombro do rapaz, e disse:
- Acredite-me, não lhe farei mal. Quero esta oportunidade. É mais importante para mim do que pode lhe parecer agora. Quero que comece -Retirei a mão e sentei-me calmamente, esperando. O rapaz precisou de algum tempo para enxugar a testa e os lábios com um lenço, verificar se o microfone estava ligado, apertar o botão e dizer que o aparelho estava funcionando. - Você não foi sempre uma vampira, não é?
- Não - Respondi à ele enquanto tentava fitar-me com naturalidade.
- Eu nasci em 1848 quando a Romênia, minha terra natal, ainda era parte do Império Otomano. Eu tinha 32 anos quando a morte me encontrou e convidou-me a caminhar ao seu lado. Meus pais eram camponeses de uma pequena vila no norte chamada Valenkar (Aldeia fictícia).
- Nunca ouvi falar dessa vila, está nos mapas? - Disse o rapaz curioso.
- Não - Respondi à ele em tom sereno - A aldeia nunca teve força econômica, e hoje ela não existe mais, foi consumida pelo abandono, pela terra infértil e os ventos gélidos que impediam o gado de proliferar com vigor, mesmo com o passar de tantos anos a minha terra natal não prosperou e hoje é apenas uma lembrança morta, como eu. Diziam: Eram apenas caipiras. Não possuíam relevância além dos impostos que o povo tinha de pagar, mal era considerada uma vila. A maior parte que não era grande vinha de famílias cristãs remanescentes já que as terras boas estavam destinadas aos muçulmanos mas minha família viveu no paganismo, escolhemos continuar os passos de nossos antepassados druidas para manter viva a herança de nosso povo, mas as pessoas... Acredito que você as conheça, elas temem tudo o que é diferente embora fossemos todos seres humanos. - Eu vi o rapaz assentir com a cabeça, ele retirava um do bolso um maço de cigarro e eu o alertei - Não. - Ele olhou para mim confuso mas entendeu que eu não queria que fumasse - O cheiro te desagrada? - Eu assenti com a cabeça, não queria revelar a ele a fraqueza mais destruidora da minha espécie.
O rapaz guardou o maço nos bolsos, ele ficava mais à vontade comigo à medida que via minhas intensões de simples prosa, ele estava abaixando sua guarda e meu instinto não pode deixar de sentir júbilo por ser tão eficaz em misturar-me entre as ovelhas mesmo sendo um lobo. Ele fez outra pergunta: - Você e sua família eram pagãos. Eles maltrataram vocês? - Eu respondi: - Como animais. Durante séculos minha família conseguiu se proteger escondendo nossa cultura e nossas crenças dos cristãos e dos muçulmanos, mas foi a traição de alguém que amávamos que transformou nossa vida em jaulas de fogo e dor.- Eu estava pensativa quando terminei de falar, meus olhos miravam a face vazia de meu entrevistador. - Nós somos todos vazios, vivos e mortos, mas além de vazios os mortos são exilados e assim devem permanecer, como o primeiro de nós.
O jovem rapaz ajeitava seus óculos e perguntava: - Quem foi o primeiro vampiro? - Eu o olhei e sorri com meus lábios finos, um misto de sarcasmo e agrado por ter recebido uma pergunta sobre um assunto que eu apreciava debater, mas para minha infelicidade aquele rapaz era incapaz de argumentar sobre este tópico e outros relacionados. - Caim. - Eu disse. - Caim? Como na Bíblia? O assassino do irmão Abel? - Eu senti a descrença em suas palavras mesmo que ele tenha acreditado em tudo o que eu disse até agora. Me levantei e ele alterou sua postura, não estava tão confortável quanto pensei que estivesse, mas nada o fiz, caminhei até a janela onde fiquei de costas observando o movimento das ruas noturnas e da vida mortal tão diferente da minha, vida que decidi abandonar para seguir os verdadeiros passos da minha espécie, uma decisão que nunca me arrependi e por isso estou aqui esta noite, com o rebanho registrando minha história, gastando o tempo de minha pesquisa a um dos símbolos tão importantes para entender a maldição que o Pai Sombrio sofreu e abraçou, o exílio.(Nodista)
- Cain foi amaldiçoado pelo Criador Divino, como deve saber. Seus feitos após seu exílio foram grandiosos em uma terra conhecida como Nod. Lá, ele viveu como uma divindade exilada e teve três filhos para compartilhar de sua solidão imortal. Zillah, Irad e Ynosh. Eu passei a maior parte do meu despertar dedicando-me aos estudos e análises de nossa origem. O que nós somos, de onde viemos e para onde vamos? As mesmas perguntas que os humanos fazem para si mesmos nós fazemos a nós, ao menos alguns poucos. Quando se é imortal, fica fácil deixar de se importar com o amanhã, pois ele sempre será o hoje. - Ouvi o som do toca fitas indicar o término de sua gravação, parecia ter acabado muito rápido.
-Espere um minuto, por favor. - Ele dizia para mim e sem nada a falar esperei até que ele trocasse a fita e apertasse o botão de gravação. - Por favor, continue! - Senti a empolgação em sua voz e não pude evitar de sorrir mas virei meu rosto para que ele não visse meu gosto pelo seu interesse em minhas palavras.
- Quando eu era jovem conheci um homem cristão: Ciprian Íon, era um camponês, como eu. Nossos pais passaram a trabalhar juntos em minas de carvão recém descobertas, as metalurgia e a industria ainda não tinha chegado ao nosso país, eramos uma terra atrasada. Conheci Ciprian e passei todas as minhas tardes livres com ele, era a melhor fração dos meus dias. Nossos pais decidiram nos casar quando eu tinha dezesseis anos e Ciprian vinte e três. Eu era tola e ingênua, acreditei que meu amado sentia o mesmo que passei a sentir por ele quando comecei a vê-lo em meus sonhos, e eu estava certa, eu acreditava no amor que ele me jurou mas meu erro foi ter superestimado esse amor e foi quando contei a ele as tradições da minha família. O medo superou toda e unica beleza que vivíamos. Ciprian contou ao pai dele sobre minha família, e ele contou aos colegas de trabalho do meu pai, a notícia se espalhou como doença em uma pequena vila e em dois dias eramos detestados em Valenkar. Tivemos trabalhos recusados, meu pai foi agredido severas vezes, minha honra e de minha mãe quase foi maculada. Eu passei a detestar essas pessoas com todas as minhas forças, não há nada mais cruel e doloso que o preconceito (Intolerância)- Virei-me ao rapaz e vi em seus olhos o que é chamado de "empatia", ele se compadecia de minha história. Levemente ri daquele olhar - Está com pena de mim? - Perguntei. Ele tirou os óculos e limpou-os com a camisa de algodão branca - Não... Eu só... Tenho de concordar com você. As pessoas fazem coisas terríveis por preconceito. - Ele botava novamente os óculos e apoiava os cotovelos em cima da mesa, semelhante a um aluno atencioso. - Fazem. - Respondi - Faz parte da natureza, assim como eu preciso beber sangue para sobreviver, as pessoas precisam expressar sua raiva de alguma forma, mas é algo que até mesmo a grande maioria da minha espécie necessita. Nós todos fomos humanos um dia e por mais que os séculos nos façam esquecer de nossa humanidade, apenas as coisas que são consideradas positivas do seu ponto de vista caem no oblívio. As trevas nos corações de cada vampiro ficam mais fortes. - Ele respondeu: - Você não parece ser alguém má. - E eu retruquei - Não, eu não sou, ser o que sou hoje não me é considerado mal, nem a nenhum outro vampiro que segue filosofias alternativas às minhas ou às suas, mas de acordo com sua filosofia somos apenas monstros. Permita-me continuar - O rapaz assentiu se ausentando a continuar o debate, ainda tinham fitas a gravar - Nós decidimos que era tempo de abandonarmos Valenkar para sempre, estávamos arriscando viagens com pouca comida, pouca água e nenhuma proteção, mas nós partimos mesmo assim e por mais que o tormento de minha família tivesse findado a um preço alto, os meus só se intensificaram, eu me amargurei por muito tempo pelo que fiz minha família passar e decidi que minha mente infantil e sonhadora era um estorvo, prometi dar à minha família o dobro do que possuíam foi assim que comecei a ficar ambiciosa e abandonar meus desejos para obter poder, proteger e construir duas vezes melhor o que eu destruí.
- Nosso novo inicio deu-se em meio à fome pois tínhamos pouco, por sorte nós conseguimos encontrar estalagens no caminho e viajantes bem intencionados que foram bondosos conosco nos dando comida e abrigo durante a passagem. Meu pai era orgulhoso e fazia questão de compensar com algum trabalho, não ficávamos mais do que um dia em cada lugar, tivemos de evitar rotas da guarda imperial para que não descobrissem nossos pertences hereges em suas inspeções. Foi duro, mas conseguimos. Nós chegamos à Grande Valáquia após meses de viagem mas nas cidades as pessoas são mais frias que no interior, não tivemos a mesma sorte de conseguir abrigo para todos, não com prontidão. Cada trabalho era uma vaga, eu não tinha a força para realizá-los nem o conhecimento, nem minha mãe, meu pai tinha como sua força e experiência como camponês, a força era útil mas a experiência como camponês nem tanto pois o comércio era abrangente, ninguém mais plantava ou colhia nas cidades, mas ele conseguiu um emprego como assistente ferreiro, o ferreiro era um homem honesto e permitiu que meu pai dividisse o quarto conosco temporariamente. Para ajudar meu pai eu também parti em busca de emprego e foi quando vi pela primeira vez um lugar que continha tudo o que eu procurava... Uma biblioteca. Entrei na biblioteca e me encantei com o que vi mas também fiquei triste pois eu não era alfabetizada, senti-me diminuta diante daquelas pessoas bem vestidas e cultas, inferior, impotente... Mas eu queria ser como eles, queria ser inteligente e ter uma educação digna para ter poder e nunca mais passar pelos apuros que fiz minha família passar. A bibliotecária, assim como o ferreiro, era uma mulher bondosa, ela reparou na figura solitária, pequena e ignorante naquele vasto domínio do saber, fora ela quem se apiedou de mim e me ensinou a ler e a escrever e após isso me ofereceu um emprego como sua assistente. Nossa vida começou a melhorar e eu passei a morar na biblioteca dando mais espaço para meus pais. Durante meu tempo livre, normalmente na madrugada, passei a ler e a ler muitos livros, em especial, história e filosofia, o passado era algo que me intrigava, a arte acompanhava seus passos assim como a filosofia, estão interligados e sempre estarão e junto delas, se olhar profundamente, encontrará os conhecimentos obscuros das culturas e do mundo e isto roubou toda minha atenção o que era um desvio em meus objetivos e o inicio de outros.
- Haviam livros que não eram traduzidos para o Romeno, então aprendi a língua mais próxima através de um dicionário, o latim. Com o latim abri muitas portas para a minha mente e passei a entender o pensamento cristão lendo a bíblia judaico-cristã, foi uma leitura agradável e vendo a justificativa de seus rituais, cerimonias e tradições passei entender o medo e o escárnio que sentiam de nós, mas não entenda errado, isso não me fez odiá-los menos. Da mesma forma, aprendi o Árabe para poder compreender melhor como funcionava o Império em que vivia e poder lidar com os muçulmanos. Com o tempo passei a conversar com os estudiosos que chegavam à biblioteca, indicando livros e debatendo sobre assuntos variados, mas a política era algo que não era adepta apesar de minha compreensão do todo.
- As coisas estavam indo bem, quando recebi a notícia de meu pai que minha mãe estava doente. Câncer de mama. Os médicos não podiam fazer nada, na verdade, eles não queriam fazer pois não tínhamos dinheiro para o tratamento então eu mesma passei a procurar uma solução na biblioteca, passei a estudar medicina e fazer perguntas a médicos e especialistas que passavam. Estudei dia e noite, minha empregadora compreendia minha situação e nada podia fazer além de permitir que eu tentasse buscar uma solução por mim mesma... Como parte de meus estudos medicinais autônomos passei a sugerir secretamente a pacientes pobres tratamentos fáceis com ervas naturais que funcionavam bem, mas por mais que eu tivesse aprendido, por mais que eu tivesse me esforçado não foi o suficiente. Minha mãe faleceu em 1873.- Ouvimos a fita parar de rodar, eu pacientemente esperei meu entrevistador trocar a fita - Eu sinto muito. Também perdi minha mãe a alguns anos, sei como é difícil. - Eu respondi à ele, não sentia a empatia por ele que ele sentia por mim, não me apiedei de sua tristeza como ele se apiedou do que já me foi importante mas que hoje é tão irrelevante que mal lembro como era o rosto daquela que me deu a vida. As fitas foram trocadas, ele apertou o botão e continuei: - Novamente acreditava ter falhado com a minha família, ajudar meu pai era a única forma de corrigir meu erro. Decidida a crescer em minha vida e trazer meu pai junto ao topo deitei-me com um médico idoso viúvo que vinha com relativa frequência buscar livros e cuidei dele como pai e amante, em pouco tempo casei-me com ele. Não foi tão ruim, precisávamos um do outro, ele necessitava alguém que cuidasse dele e era sozinho, seus filhos tinham lhe abandonado depois que sua esposa faleceu. Meu pai não aceitou que eu fizesse isso, mas ele não pode me impedir, meu desejo de melhorar o patamar de minha vida e da dele já havia ultrapassado qualquer limite e eu faria de tudo pra conseguir. Ele me ensinou coisas sobre a medicina, me permitiu a prática de cirurgia e autópsias,(Medicina 3) ele fazia de tudo por mim e eu faria de tudo por ele mas eu havia falhado novamente com a minha família pois meu pai negava-se a usufruir dessa farsa para benefício próprio. Meu pai era um bom, honrado e justo, eu já deveria saber que ele seria teimoso e estúpido o suficiente para que este meu esforço também fosse em vão. Quando meu marido faleceu eu fiquei com toda sua herança, seus filhos voltaram para reclamarem mas eu não os dei nenhum tostão do dinheiro que agora me pertencia. Mesmo que lhes fosse direito meu coração já havia se enchido de frieza e clamava por posses. Havia passado pela minha cabeça envenena-lo para adiantar minha recompensa mas não o fiz pois ele já não duraria muito mais neste mundo, era melhor que eu não levantasse olhos para sua morte. Fui paciente. Ah sim... Devo dizer, na época estes pensamentos me tiraram o sono pois sabia que seria capaz de fazer, hoje já são naturais como respirar para você.- O rapaz engoliu a seco quando eu revelei que matar não é mais um problema, mas ele sabia que eu queria que ele continuasse vivo para continuar com o que demos inicio, essa foi a segurança que ele precisava para se manter onde estava. - Os filhos de meu marido e suas famílias ficaram revoltados, ele tinha me deixado uma herança magnifica, algo que nenhum dos seus pentelhos imaginavam e se arrependeram de abandonar o pai para que uma mulher qualquer pudesse tomar deles, meu marido amava os filhos apesar de terem-no abandonado, ele era um bom homem, eu sabia que ele ficaria insatisfeito de me ver negar conforto para eles se tivessem se arrependido dos maus tratos, ele era um tolo no final das contas já que o verdadeiro arrependimento não havia acontecido, e mesmo sabendo de sua vontade o contrariei. Meu pai ficou contra mim, ele não me reconhecia mais, nós brigamos e na noite seguinte ele foi assassinado. Se antes eu me sentia fracassada pela minha família então senti-me no fundo do posso pois havia falhado miseravelmente em dar o poder e o conforto à minha família, tudo o que havia conseguido, todo o conhecimento e a riqueza foram próprios, nada do que havia tomado e conquistado tinha sido de beneficio para quem eu amava, para piorar os filhos de meu marido passaram a tornar minha vida um inferno, difamando-me nas ruas, implantando provas incriminadoras para que a guarda me investigasse, eu não esperava tal coisa e não sentia-me com mais nada a perder, era um jogo e nada mais me restava além de jogar, mas eu jogava mais baixo que eles. Contratei mercenários e ladrões para assassina-los e implantar provas novas e cartas incriminadoras suicidas perto de seus cadáveres, o trabalho foi feito e os meninos não mais me incomodaram, aquele havia sido um jogo rápido, que eu era nova e não tive paciência de aprender a jogar certo, o que me importou no final foi vencer e ser deixada em paz com minha própria amargura. Cedo ou tarde meu dinheiro acabaria então adentrei na academia medica e com o conhecimento e prática que já possuía licenciei-me médica e com esse poder e conhecimento em mãos abri um serviço secreto de eutanásia com ervas que eu sabia misturar. Felizmente eu não tinha mais respeito pela vida como antes, mas não via alegria no sofrimento alheio por isso a eutanásia veio bem a calhar. Eu não tinha mais nada que pudesse fazer além continuar minha vida, um passo de cada vez, eu ainda tinha amigos mas eles não me eram o suficiente, os visitava mas não acabava com a minha solidão e então minha antiga empregadora me entregou um livro de conhecimentos ocultos que ela escondia, ela sabia que ler e conhecer o obscuro me alegrou na época e tinha tornado-se um objetivo secundário para mim, agora que minha família estava morta era o que me restava.
- Graças ao livro e as referências que peguei com ele, cheguei a viajar para a Bucareste onde conheci a Ordem Rosacruz, apesar da ordem ter os cristão como a maioria de sua composição, eram os protestantes, pessoas de caráter mais digno. Dentro da sociedade elevei meu potencial místico onde foquei e descobri sobre uma ordem Tradicional de Magos que conquistou a imortalidade, a Ordem de Hermes, apesar de serem agora criaturas malditas, conhecidos como Vampiros, os Tremere ainda tinham deixado rastros em sua transição. Aprendi muitas coisas principalmente sobre os Vampiros, mas até onde eram reais eu não sabia dizer. O Rosacrucianos eram arcanos, estudioso do mundo místico e sobrenatural, apesar de não serem de fato magos eram feiticeiros e podiam realizar rituais de efeitos menores derivados de coisas que conheciam como "Focos", eram feitiços, não a Magika que compunham suas atividades e pesquisas. Meus estudos me levaram até uma forma de me unir minha mente ao espaço tempo com esses rituais e dar a mim mesma uma habilidade que pode ser descrita como um Oraculado. Realizei o ritual sem o conhecimento da Ordem e foi um sucessos. (Habilidade Oracular). Tais habilidades são naturais de um próprio espírito e segundo teorias alguém que não nasceu com este dom só o consegue após receber um choque espiritual como uma experiência de quase morte, os Rosacrucistas não gostavam de interferir mais do que o necessário e graças a essa habilidade eu descobri de antemão que as mesmas trevas que atormentaram uma vez me entregaria, eles saberiam e me perseguiriam então eu fugi levando comigo alguns livros, atrai os que me perseguiram até uma armadilha e incendiei o lugar com livros falsos. Foi na noite seguinte que a morte surgiu pra mim como a sombra: Amadeo. Ele me ofereceu a imortalidade e as sombras como sua ferramenta, eu aceitei e desde 1880 estive morta.
Mais uma vez escutamos as fitas findarem, e como de praxe o rapaz trocou as fitas. - Impressionante! Sua vida foi cheia de perigos. - Eu concordei com a cabeça: - A maior parte deles foram perigos que eu mesma me pus, ou assim fui incentivada a pensar. - Confuso, meu entrevistador perguntou: - Como assim? - Retruquei: - Logo entenderá. Podemos continuar? - Ele respondeu: - Sim, por favor!
- Amadeo me deu um refúgio para me esconder do sol, quis tirar proveito de minha nova capacidade e não vi motivos para não dar a ele o que queria. Ele me introduziu ao Sabbat, uma sociedade de Vampiros que tem como filosofia a liberdade de nossa espécie e sua supremacia, há um outro objetivo por detrás dessa sociedade, mas isto será outra história mais longa. Amadeo me ensinou sobre minha condição, como me alimentar, o que era importante nesta nova vida e o que não era. Assim como era de se esperar, viver com Amadeo era o céu e o inferno ao mesmo tempo. As coisas novas que aprendi eram incríveis e facilmente eu abracei o vampirismo, mas como muitas crianças da noite, com o tempo eu vi que ser um imortal era uma maldição, vi a amargura que era viver nas trevas, que jamais poderia conhecer outras pessoas, apesar de toda minha imortalidade eu estava enjaulada na morte para sempre, mas Amadeo vivia sua não-vida com uma paz inquietante, mas Amadeo era um sacerdote de nossa sociedade ele me ajudou a me encontrar no meio da noite, ele me apresentou os Amigos da Noite, é o conselho interno de nossa Linhagem. Cada linhagem, ou como dizemos, cada clã tem características e cultura própria, nós, do clã Lasombra, manipuladoras das verdadeiras trevas e nativos dos mares temos os Amigos da Noite e as Cortes de Sangue para resolver nossos assuntos sem incluir o Sabbat. Nós nos mudamos para as Ilhas Britânicas onde eu aprendi a falar o meu inglês foi lá que tive uma visão das mesmas trevas que tinham me atacado em vida, denunciando-me para cada vez mais obter mais inimigos, ensinando-me como ser uma sombra ainda mais escura que ela mesma, foi assim que interpretei que Amadeo era o inimigo que havia assassinado meu pai, coagido médicos a não terem a bondade de tratar minha mãe, incentivado os filhos de meu marido a me atormentarem e informado aos Rosacrucistas de minhas ambições. Enfureci-me no mesmo instante, enfrentei Amadeo e perdi, fui envolta nos sombras do torpor e como surpresa, percebi cento e dez anos depois que minha eternidade ainda me pertencia. - O rapaz expressou sua surpresa - Nossa... Quer dizer que você não é tão antiga assim. - Eu respondi: - Tecnicamente, não. Eu pouco vivi nessa época, mas adiantei-me a compreender como as coisas funcionam com a ajuda de alguém, apesar de serem coisas novas não são mais desconhecidas. Eu despertei nas ruínas de Tebas, Amadeo havia poupado-me por algum motivo, mesmo após meu ato de rebeldia. Fui paralisada e assim permaneci em sono longo e profundo por cento e dez anos. Fui despertada por Samael, um membro do meu clã a pedido dos Amigos da Noite o que eu especulo uma conspiração entre meu sire e os Amigos. - Ele me interrompeu: - Deve ter sido assustador passar por isso. - Foi. - Eu respondi - Estava em outro mundo, minha terra natal havia conquistado sua independência, o nome de minha família havia caído no esquecimento, os Anghel deixaram de existir pois não tive herdeiros, se antes quis preservar minha família eu a direcionei ao oblívio. Samuel me consolou e entendeu eu ainda era uma recém criada apesar de ter nascido no século passado, me deu um outro ponto de vista quando me apresentou o novo mundo, a nova Grécia onde aprendi a falar o grego, mas apesar do novo mundo a conhecer eu estava fora de mim mesma, como meu corpo, minha alma não possuía vida e Samael tentou me animar e me apresentar coisas e mais coisas novas, foi algo incrível quando ele me apresentou a tecnologia de inicio, mas não fora o suficiente, para o alivio dele. Já era de seu conhecimento minhas tendencias ocultistas e para me encantar ele me aprofundou em nossas histórias que para mim foi como presentar um brinquedo novo a uma criança triste e isso o agradou. A história sempre foi algo que me fascinou, o misticismo dava o toque mágico que ele é, foi demorado, foi árduo mas minhas lástimas estavam dando lugar à curiosidade insaciável, como uma criança que senta ao lado do contador de histórias e sempre volta no dia seguinte para descobrir mais. Minhas noites foram todas dedicadas ao estudo e pesquisa de onde quer que minha espécie tenha pisado ou botado suas mãos no mundo e no tempo, era tudo que havia me sobrado, era tudo o que me permitia viver novamente uma noite de cada vez, minha própria espécie me fascinava cada vez mais e procurei saber tudo sobre eles viajando com Samael e seu bando para vários cantos do mundo (Ocultismo 4 Cultura Cainita) e eles me mostravam que ser um Vampiro era uma maldição mas não era para ser visto como algo negativo, nós temos nosso lugar do mundo, a aceitação, a compreensão e o aprimoramento de nossa posição era tudo o que precisávamos fazer e saber para chegar ao ponto que todos nós secretamente ansiamos. - Eu mal percebia mas pela primeira vez nessa entrevista minhas voz entonava alegria e satisfação naquela entrevista, eu percebia isso porque meu entrevistador sorria para mim, feliz por eu estar feliz. Ele se encantou facilmente comigo, algo tão diferente e ao mesmo parecido devia ser fascinante para os humanos, eu também pensei assim uma vez, mas essa impressão perdia sua opacidade ao decorrer dos anos. Continuei - Descobrir de onde viemos, se realmente somos o que somos e nosso lugar deveria ser essencial para toda criatura e é por compreender isso que Samael me apresentou trechos do que nós vampiros temos de mais perto de um livro sagrado, o Livro de Nod. O livro estava numa tradução do latim e eu comecei a ter uma base sólida de nossa origem, apesar de ainda crer que tenha muito a ser investigado, foi quando me decidi e comprometi a procurar e a comprovar tudo o que era fato e tudo o que era mito, pois para isso eu tenho a eternidade. (Objetivo Condutor). Abandonei minha humanidade após isso, ela só me causava dor e sofrimento, no lugar adotei a mesma filosofia de Samael e seu bando (Nodista) com eles aprendi também três rituais de unificação de nossos costumes no Sabbat, O Sermão de Cain foi o primeiro que fui ensinada, logo em seguida da Vaulderie, um ritual de união e fraternidade de nossa sociedade e o Ritus de Criação, que é a iniciação de todo novo Vampiro como um próprio Vampiro.(Rituais 1) Além disso eles me ensinaram como agir através da violência quando necessário, seja através de minhas palavras ou de meus atos (Briga 2, Intimidação 2). Quando fui nomeada uma Sacerdote do Sabbat passei a me voluntariar para fazer estes rituais onde necessitavam de um sacerdote e embora nunca tenha conseguido um bando por mim mesma, eu nunca me importei, assim como o primeiro de nós, o exílio e a solidão virou minha meta.
- Você passou a ficar sozinha desde então? - Ele me perguntou curioso e fascinado - Sim, mas não totalmente, meu exílio é da sociedade mortal, mas ainda interajo com minha espécie, mas assim como Caim, eu me propus a ter apenas uma companhia mortal, mas foi mais uma necessidade do que carência, como Caim. Caim teve uma esposa mortal, uma mulher que ele obrigou a ama-lo para sempre com o seu sangue, minha companhia era mais uma ferramenta do que companhia. A juíza Lyanna Lewis tinha os recursos que eu precisei para me adaptar e sobreviver neste mundo sem chamar a atenção desnecessária.(Lacaios 1, Recursos 4) o comércio sempre foi algo vivo tanto no mundo de Caim, quanto meu mundo mortal e o seu, mas isso faz parte da sobrevivência e como Caim, devo ser uma sobrevivente.
- E Amadeo? Você nunca mais o viu? - Eu respondi: - Não. Minha ultima lembrança dele foi quando falhei miseravelmente em tentar destruí-lo. - Ele me retornou outra pergunta: - Acha que ele está vivo? - Tornei a responder: - Ele esteve morto desde que o conheci, não sei dizer se ele sofreu a morte-final, mas acredito que não. Acredito que ele possa estar por aí em algum lugar, não acredito que ele esteja ressentido comigo, caso contrário eu não estaria aqui esta noite - Ele me perguntou: - Você ainda sente raiva dele? - Eu esbocei um leve sorriso e me pus em um breve devaneio antes de responder: - Se não fosse por Amadeo ter insistido em sua campanha para testar meus limites, eu não estaria aqui esta noite. Assim como meu pai mortal, ele é meu pai imortal, antes eu não compreendia seus pensamentos, agora como um membro do meu clã com o conhecimento de nossos costumes eu entendo que o que ele fez foi o melhor. Não guardo ressentimentos, muito pelo contrário, sou grata à ele. - Meu entrevistador assentiu com a cabeça e continuou com as perguntas: - E sobre crucifixos? Agua corrente, alho, prata? - Dei mais uma risada, mas parte dessa risada foi um disfarce e respondi: - Tudo propaganda nossa, para que vocês não possam nos reconhecer, mas se tem algo que é verdade, é que se você me olhar por um espelho não me verá. - Menti ao me referir ao alho e à prata, estranhamente essas duas coisas me desagradam fortemente, algo que eu nunca descobri o porque afetava a mim e não a outros de minha espécie, mas essas fraquezas são alvo de minhas pesquisas. (Vulnerabilidade a Prata, Repulsa a alho) Fascinado, o rapaz perguntou-me: - Se importa? - Eu assenti negativamente com a cabeça e ele pegou do bolso um pequeno pedaço de espelho que carregava consigo, ajeitou o ângulo e confirmou a ausência de meu reflexo. Ele se espantou, naturalmente, mas eu via um largo sorriso de alegria e ele me fez outra pergunta: - O que houve com a Ordem Rosacruz? - E eu respondi: - Pouco tempo depois de viver na noite, e antes de descobrir os feitos de Amadeo eu os denunciei aos Amigos da Noite, mas eu nunca soube o que decidiram fazer com eles. - O som da fita se esgotando novamente tinha interrompido nossa prosa.
- Oh, acabou, vou por outra. - E eu interrompi - Não será necessário, disse lhe tudo o que tinha para dizer. - O rapaz olhou para o relógio - Nossa, foi uma história cumprida. Gostaria de lhe perguntar uma coisa, os outros vampiros não ficarão irritados se você divulgar essa história? - Sorri ao jovem rapaz novamente, e respondi - Sim, de fato eles iriam procurar minha cabeça e difamar toda essa gravação, em pouco tempo eu não existiria mais. - Meu entrevistador estava confuso era fácil para qualquer pessoa notar isso - E mesmo assim quer publicar? - E eu respondi: - Oh... Não, essas fitas ficarão em minha posse, agradeço à sua atenção e ao seu trabalho, é de muita valia para minha pesquisa e minhas reflexões quanto ao Exílio. - Eu me levantei e estendi minhas mãos para que ele me entregasse as gravações. Ele olhava para minha mão estendida e para as fitas, existia um apego grandioso com aquela história, era como se fosse a melhor história que tinha gravado até agora, mas ele temia por sua vida e me entregou-as com dor no coração. Eu virei-me de costas para ele caminho até a outra mesa da escrivaninha onde havia minha bolsa e enquanto guardava as sombras próximas à ele começavam a se mover sem que ele reparasse sua presença: - Infelizmente, o senhor também não poderá sair com esse conhecimento. - Eu não estava vendo mas senti quando as sombras manipuladas por mim o agarraram pelo pescoço, como assassinos tenebrosos sufocavam-no enquanto e ele tentava respirar a vida que lhe era negada - Sinto muito ter mentido, de que não lhe faria mal, mas garanto-lhe que toda a minha história é verdadeira. - Ele estava se ajoelhando com a fraqueza e a pressão que as minhas trevas o impunham, seus olhos me diziam o tamanho do medo que passava - Em respeito do seu valor à minha pesquisa irei telefonar para a emergência para que achem seu corpo e possa receber o funeral humano antes que seu corpo decomponha-se. - Ao terminar de arrumar as gravações na minha bolsa vi o corpo de meu entrevistador arrochado e desfalecido ao chão. Olhei-o com indiferença, não via necessidade de dar-lhe uma morte dolorosa, ele era apenas um humano e todos os humanos morriam eventualmente, assim como nós vampiros. Se não descobrirmos como burlar as fraquezas de nossa condição e como coexistir no mundo como nos é devido, seremos tão frágeis e iguais quanto eles, isso é algo que não pode acontecer.
- Qual a quantidade de fita que você trouxe? - perguntei, virando-me agora de modo que o menino pudesse ver meu perfil. - O suficiente para registrar a história de uma vida?
- Certamente, se for uma vida movimentada. Às vezes chego a entrevistar três ou quatro pessoas, numa noite de sorte. Mas tem de ser uma boa história.
- É claro - respondi. - Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.
- Ótimo - disse o jovem. E tirou rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. - Estou realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que...
- Não - disse à ele rispidamente. - Não podemos começar desse jeito. Seu equipamento já está pronto?
- Está.
- Então sente-se. Vou acender a lâmpada
- Pensei que os vampiros não gostassem de luz - comentou o rapaz. - Mas caso ache que a escuridão pode ajudar a criar uma atmosfera... - Então, ele parou de falar. Eu o observei de de costas para a janela. O rapaz não conseguia tirar nenhuma informação de minha expressão mas, ainda assim, havia algo em mim que o perturbava. Começou novamente a tentar falar, mas não disse nada. E então viu, com alívio, que eu me dirigi à mesa e apertava o interruptor. A sala foi imediatamente invadida por uma desagradável luz amarela. E o rapaz, fitando-me, não pôde deixar de engolir em seco. Seus dedos bailaram novamente pela mesa, agarrando a borda.
- Meu Deus! - murmurou, fitando-me sem fala. Sou incrivelmente branca e suave, como se tivesse sido esculpida em osso descorado. Meu rosto parecia tão inanimado quanto uma estátua, exceto pelos dois olhos cor-de-mel e brilhantes que examinavam-no atentamente, como se
fossem chamas saindo de um crânio. Eu sorri, quase melancolicamente, e a substância branca e macia de meu rosto se moveu como as linhas infinitamente
flexíveis, mas mínimas, de um desenho animado.
- Compreende? - perguntei suavemente. O rapaz estremeceu, levantando a mão como se quisesse se proteger de uma luz poderosa. Seus olhos passearam lentamente pelo paletó preto, de bom corte, que tinha somente vislumbrado no bar, as longas dobras da capa, o lenço de seda negra amarrado no pescoço, e o brilho do colarinho branco, tão branco quanto minha carne. Fitou-me, espantado, meu cabelo liso e negro, as mechas cuidadosamente penteadas para expor uma perfeito moldura de meu rosto e exibir as orelhas, as mechas que se estendiam até a altura de meu queixo.
- Agora, ainda quer a entrevista? - perguntei a ele. A boca do rapaz ficou aberta, sem emitir nenhum som. Balançava a cabeça. Depois disse: - Quero. - Sentei-me à sua frente e: inclinando-me, disse calma e confidencialmente: - Não tenha medo. Simplesmente ligue o gravador. - E, então, me estendi sobre a mesa. O rapaz se encolheu, com o suor descendo por sua face. Pousei pesadamente a mão sobre o ombro do rapaz, e disse:
- Acredite-me, não lhe farei mal. Quero esta oportunidade. É mais importante para mim do que pode lhe parecer agora. Quero que comece -Retirei a mão e sentei-me calmamente, esperando. O rapaz precisou de algum tempo para enxugar a testa e os lábios com um lenço, verificar se o microfone estava ligado, apertar o botão e dizer que o aparelho estava funcionando. - Você não foi sempre uma vampira, não é?
- Não - Respondi à ele enquanto tentava fitar-me com naturalidade.
- Eu nasci em 1848 quando a Romênia, minha terra natal, ainda era parte do Império Otomano. Eu tinha 32 anos quando a morte me encontrou e convidou-me a caminhar ao seu lado. Meus pais eram camponeses de uma pequena vila no norte chamada Valenkar (Aldeia fictícia).
- Nunca ouvi falar dessa vila, está nos mapas? - Disse o rapaz curioso.
- Não - Respondi à ele em tom sereno - A aldeia nunca teve força econômica, e hoje ela não existe mais, foi consumida pelo abandono, pela terra infértil e os ventos gélidos que impediam o gado de proliferar com vigor, mesmo com o passar de tantos anos a minha terra natal não prosperou e hoje é apenas uma lembrança morta, como eu. Diziam: Eram apenas caipiras. Não possuíam relevância além dos impostos que o povo tinha de pagar, mal era considerada uma vila. A maior parte que não era grande vinha de famílias cristãs remanescentes já que as terras boas estavam destinadas aos muçulmanos mas minha família viveu no paganismo, escolhemos continuar os passos de nossos antepassados druidas para manter viva a herança de nosso povo, mas as pessoas... Acredito que você as conheça, elas temem tudo o que é diferente embora fossemos todos seres humanos. - Eu vi o rapaz assentir com a cabeça, ele retirava um do bolso um maço de cigarro e eu o alertei - Não. - Ele olhou para mim confuso mas entendeu que eu não queria que fumasse - O cheiro te desagrada? - Eu assenti com a cabeça, não queria revelar a ele a fraqueza mais destruidora da minha espécie.
O rapaz guardou o maço nos bolsos, ele ficava mais à vontade comigo à medida que via minhas intensões de simples prosa, ele estava abaixando sua guarda e meu instinto não pode deixar de sentir júbilo por ser tão eficaz em misturar-me entre as ovelhas mesmo sendo um lobo. Ele fez outra pergunta: - Você e sua família eram pagãos. Eles maltrataram vocês? - Eu respondi: - Como animais. Durante séculos minha família conseguiu se proteger escondendo nossa cultura e nossas crenças dos cristãos e dos muçulmanos, mas foi a traição de alguém que amávamos que transformou nossa vida em jaulas de fogo e dor.- Eu estava pensativa quando terminei de falar, meus olhos miravam a face vazia de meu entrevistador. - Nós somos todos vazios, vivos e mortos, mas além de vazios os mortos são exilados e assim devem permanecer, como o primeiro de nós.
O jovem rapaz ajeitava seus óculos e perguntava: - Quem foi o primeiro vampiro? - Eu o olhei e sorri com meus lábios finos, um misto de sarcasmo e agrado por ter recebido uma pergunta sobre um assunto que eu apreciava debater, mas para minha infelicidade aquele rapaz era incapaz de argumentar sobre este tópico e outros relacionados. - Caim. - Eu disse. - Caim? Como na Bíblia? O assassino do irmão Abel? - Eu senti a descrença em suas palavras mesmo que ele tenha acreditado em tudo o que eu disse até agora. Me levantei e ele alterou sua postura, não estava tão confortável quanto pensei que estivesse, mas nada o fiz, caminhei até a janela onde fiquei de costas observando o movimento das ruas noturnas e da vida mortal tão diferente da minha, vida que decidi abandonar para seguir os verdadeiros passos da minha espécie, uma decisão que nunca me arrependi e por isso estou aqui esta noite, com o rebanho registrando minha história, gastando o tempo de minha pesquisa a um dos símbolos tão importantes para entender a maldição que o Pai Sombrio sofreu e abraçou, o exílio.(Nodista)
- Cain foi amaldiçoado pelo Criador Divino, como deve saber. Seus feitos após seu exílio foram grandiosos em uma terra conhecida como Nod. Lá, ele viveu como uma divindade exilada e teve três filhos para compartilhar de sua solidão imortal. Zillah, Irad e Ynosh. Eu passei a maior parte do meu despertar dedicando-me aos estudos e análises de nossa origem. O que nós somos, de onde viemos e para onde vamos? As mesmas perguntas que os humanos fazem para si mesmos nós fazemos a nós, ao menos alguns poucos. Quando se é imortal, fica fácil deixar de se importar com o amanhã, pois ele sempre será o hoje. - Ouvi o som do toca fitas indicar o término de sua gravação, parecia ter acabado muito rápido.
-Espere um minuto, por favor. - Ele dizia para mim e sem nada a falar esperei até que ele trocasse a fita e apertasse o botão de gravação. - Por favor, continue! - Senti a empolgação em sua voz e não pude evitar de sorrir mas virei meu rosto para que ele não visse meu gosto pelo seu interesse em minhas palavras.
- Quando eu era jovem conheci um homem cristão: Ciprian Íon, era um camponês, como eu. Nossos pais passaram a trabalhar juntos em minas de carvão recém descobertas, as metalurgia e a industria ainda não tinha chegado ao nosso país, eramos uma terra atrasada. Conheci Ciprian e passei todas as minhas tardes livres com ele, era a melhor fração dos meus dias. Nossos pais decidiram nos casar quando eu tinha dezesseis anos e Ciprian vinte e três. Eu era tola e ingênua, acreditei que meu amado sentia o mesmo que passei a sentir por ele quando comecei a vê-lo em meus sonhos, e eu estava certa, eu acreditava no amor que ele me jurou mas meu erro foi ter superestimado esse amor e foi quando contei a ele as tradições da minha família. O medo superou toda e unica beleza que vivíamos. Ciprian contou ao pai dele sobre minha família, e ele contou aos colegas de trabalho do meu pai, a notícia se espalhou como doença em uma pequena vila e em dois dias eramos detestados em Valenkar. Tivemos trabalhos recusados, meu pai foi agredido severas vezes, minha honra e de minha mãe quase foi maculada. Eu passei a detestar essas pessoas com todas as minhas forças, não há nada mais cruel e doloso que o preconceito (Intolerância)- Virei-me ao rapaz e vi em seus olhos o que é chamado de "empatia", ele se compadecia de minha história. Levemente ri daquele olhar - Está com pena de mim? - Perguntei. Ele tirou os óculos e limpou-os com a camisa de algodão branca - Não... Eu só... Tenho de concordar com você. As pessoas fazem coisas terríveis por preconceito. - Ele botava novamente os óculos e apoiava os cotovelos em cima da mesa, semelhante a um aluno atencioso. - Fazem. - Respondi - Faz parte da natureza, assim como eu preciso beber sangue para sobreviver, as pessoas precisam expressar sua raiva de alguma forma, mas é algo que até mesmo a grande maioria da minha espécie necessita. Nós todos fomos humanos um dia e por mais que os séculos nos façam esquecer de nossa humanidade, apenas as coisas que são consideradas positivas do seu ponto de vista caem no oblívio. As trevas nos corações de cada vampiro ficam mais fortes. - Ele respondeu: - Você não parece ser alguém má. - E eu retruquei - Não, eu não sou, ser o que sou hoje não me é considerado mal, nem a nenhum outro vampiro que segue filosofias alternativas às minhas ou às suas, mas de acordo com sua filosofia somos apenas monstros. Permita-me continuar - O rapaz assentiu se ausentando a continuar o debate, ainda tinham fitas a gravar - Nós decidimos que era tempo de abandonarmos Valenkar para sempre, estávamos arriscando viagens com pouca comida, pouca água e nenhuma proteção, mas nós partimos mesmo assim e por mais que o tormento de minha família tivesse findado a um preço alto, os meus só se intensificaram, eu me amargurei por muito tempo pelo que fiz minha família passar e decidi que minha mente infantil e sonhadora era um estorvo, prometi dar à minha família o dobro do que possuíam foi assim que comecei a ficar ambiciosa e abandonar meus desejos para obter poder, proteger e construir duas vezes melhor o que eu destruí.
- Nosso novo inicio deu-se em meio à fome pois tínhamos pouco, por sorte nós conseguimos encontrar estalagens no caminho e viajantes bem intencionados que foram bondosos conosco nos dando comida e abrigo durante a passagem. Meu pai era orgulhoso e fazia questão de compensar com algum trabalho, não ficávamos mais do que um dia em cada lugar, tivemos de evitar rotas da guarda imperial para que não descobrissem nossos pertences hereges em suas inspeções. Foi duro, mas conseguimos. Nós chegamos à Grande Valáquia após meses de viagem mas nas cidades as pessoas são mais frias que no interior, não tivemos a mesma sorte de conseguir abrigo para todos, não com prontidão. Cada trabalho era uma vaga, eu não tinha a força para realizá-los nem o conhecimento, nem minha mãe, meu pai tinha como sua força e experiência como camponês, a força era útil mas a experiência como camponês nem tanto pois o comércio era abrangente, ninguém mais plantava ou colhia nas cidades, mas ele conseguiu um emprego como assistente ferreiro, o ferreiro era um homem honesto e permitiu que meu pai dividisse o quarto conosco temporariamente. Para ajudar meu pai eu também parti em busca de emprego e foi quando vi pela primeira vez um lugar que continha tudo o que eu procurava... Uma biblioteca. Entrei na biblioteca e me encantei com o que vi mas também fiquei triste pois eu não era alfabetizada, senti-me diminuta diante daquelas pessoas bem vestidas e cultas, inferior, impotente... Mas eu queria ser como eles, queria ser inteligente e ter uma educação digna para ter poder e nunca mais passar pelos apuros que fiz minha família passar. A bibliotecária, assim como o ferreiro, era uma mulher bondosa, ela reparou na figura solitária, pequena e ignorante naquele vasto domínio do saber, fora ela quem se apiedou de mim e me ensinou a ler e a escrever e após isso me ofereceu um emprego como sua assistente. Nossa vida começou a melhorar e eu passei a morar na biblioteca dando mais espaço para meus pais. Durante meu tempo livre, normalmente na madrugada, passei a ler e a ler muitos livros, em especial, história e filosofia, o passado era algo que me intrigava, a arte acompanhava seus passos assim como a filosofia, estão interligados e sempre estarão e junto delas, se olhar profundamente, encontrará os conhecimentos obscuros das culturas e do mundo e isto roubou toda minha atenção o que era um desvio em meus objetivos e o inicio de outros.
- Haviam livros que não eram traduzidos para o Romeno, então aprendi a língua mais próxima através de um dicionário, o latim. Com o latim abri muitas portas para a minha mente e passei a entender o pensamento cristão lendo a bíblia judaico-cristã, foi uma leitura agradável e vendo a justificativa de seus rituais, cerimonias e tradições passei entender o medo e o escárnio que sentiam de nós, mas não entenda errado, isso não me fez odiá-los menos. Da mesma forma, aprendi o Árabe para poder compreender melhor como funcionava o Império em que vivia e poder lidar com os muçulmanos. Com o tempo passei a conversar com os estudiosos que chegavam à biblioteca, indicando livros e debatendo sobre assuntos variados, mas a política era algo que não era adepta apesar de minha compreensão do todo.
- As coisas estavam indo bem, quando recebi a notícia de meu pai que minha mãe estava doente. Câncer de mama. Os médicos não podiam fazer nada, na verdade, eles não queriam fazer pois não tínhamos dinheiro para o tratamento então eu mesma passei a procurar uma solução na biblioteca, passei a estudar medicina e fazer perguntas a médicos e especialistas que passavam. Estudei dia e noite, minha empregadora compreendia minha situação e nada podia fazer além de permitir que eu tentasse buscar uma solução por mim mesma... Como parte de meus estudos medicinais autônomos passei a sugerir secretamente a pacientes pobres tratamentos fáceis com ervas naturais que funcionavam bem, mas por mais que eu tivesse aprendido, por mais que eu tivesse me esforçado não foi o suficiente. Minha mãe faleceu em 1873.- Ouvimos a fita parar de rodar, eu pacientemente esperei meu entrevistador trocar a fita - Eu sinto muito. Também perdi minha mãe a alguns anos, sei como é difícil. - Eu respondi à ele, não sentia a empatia por ele que ele sentia por mim, não me apiedei de sua tristeza como ele se apiedou do que já me foi importante mas que hoje é tão irrelevante que mal lembro como era o rosto daquela que me deu a vida. As fitas foram trocadas, ele apertou o botão e continuei: - Novamente acreditava ter falhado com a minha família, ajudar meu pai era a única forma de corrigir meu erro. Decidida a crescer em minha vida e trazer meu pai junto ao topo deitei-me com um médico idoso viúvo que vinha com relativa frequência buscar livros e cuidei dele como pai e amante, em pouco tempo casei-me com ele. Não foi tão ruim, precisávamos um do outro, ele necessitava alguém que cuidasse dele e era sozinho, seus filhos tinham lhe abandonado depois que sua esposa faleceu. Meu pai não aceitou que eu fizesse isso, mas ele não pode me impedir, meu desejo de melhorar o patamar de minha vida e da dele já havia ultrapassado qualquer limite e eu faria de tudo pra conseguir. Ele me ensinou coisas sobre a medicina, me permitiu a prática de cirurgia e autópsias,(Medicina 3) ele fazia de tudo por mim e eu faria de tudo por ele mas eu havia falhado novamente com a minha família pois meu pai negava-se a usufruir dessa farsa para benefício próprio. Meu pai era um bom, honrado e justo, eu já deveria saber que ele seria teimoso e estúpido o suficiente para que este meu esforço também fosse em vão. Quando meu marido faleceu eu fiquei com toda sua herança, seus filhos voltaram para reclamarem mas eu não os dei nenhum tostão do dinheiro que agora me pertencia. Mesmo que lhes fosse direito meu coração já havia se enchido de frieza e clamava por posses. Havia passado pela minha cabeça envenena-lo para adiantar minha recompensa mas não o fiz pois ele já não duraria muito mais neste mundo, era melhor que eu não levantasse olhos para sua morte. Fui paciente. Ah sim... Devo dizer, na época estes pensamentos me tiraram o sono pois sabia que seria capaz de fazer, hoje já são naturais como respirar para você.- O rapaz engoliu a seco quando eu revelei que matar não é mais um problema, mas ele sabia que eu queria que ele continuasse vivo para continuar com o que demos inicio, essa foi a segurança que ele precisava para se manter onde estava. - Os filhos de meu marido e suas famílias ficaram revoltados, ele tinha me deixado uma herança magnifica, algo que nenhum dos seus pentelhos imaginavam e se arrependeram de abandonar o pai para que uma mulher qualquer pudesse tomar deles, meu marido amava os filhos apesar de terem-no abandonado, ele era um bom homem, eu sabia que ele ficaria insatisfeito de me ver negar conforto para eles se tivessem se arrependido dos maus tratos, ele era um tolo no final das contas já que o verdadeiro arrependimento não havia acontecido, e mesmo sabendo de sua vontade o contrariei. Meu pai ficou contra mim, ele não me reconhecia mais, nós brigamos e na noite seguinte ele foi assassinado. Se antes eu me sentia fracassada pela minha família então senti-me no fundo do posso pois havia falhado miseravelmente em dar o poder e o conforto à minha família, tudo o que havia conseguido, todo o conhecimento e a riqueza foram próprios, nada do que havia tomado e conquistado tinha sido de beneficio para quem eu amava, para piorar os filhos de meu marido passaram a tornar minha vida um inferno, difamando-me nas ruas, implantando provas incriminadoras para que a guarda me investigasse, eu não esperava tal coisa e não sentia-me com mais nada a perder, era um jogo e nada mais me restava além de jogar, mas eu jogava mais baixo que eles. Contratei mercenários e ladrões para assassina-los e implantar provas novas e cartas incriminadoras suicidas perto de seus cadáveres, o trabalho foi feito e os meninos não mais me incomodaram, aquele havia sido um jogo rápido, que eu era nova e não tive paciência de aprender a jogar certo, o que me importou no final foi vencer e ser deixada em paz com minha própria amargura. Cedo ou tarde meu dinheiro acabaria então adentrei na academia medica e com o conhecimento e prática que já possuía licenciei-me médica e com esse poder e conhecimento em mãos abri um serviço secreto de eutanásia com ervas que eu sabia misturar. Felizmente eu não tinha mais respeito pela vida como antes, mas não via alegria no sofrimento alheio por isso a eutanásia veio bem a calhar. Eu não tinha mais nada que pudesse fazer além continuar minha vida, um passo de cada vez, eu ainda tinha amigos mas eles não me eram o suficiente, os visitava mas não acabava com a minha solidão e então minha antiga empregadora me entregou um livro de conhecimentos ocultos que ela escondia, ela sabia que ler e conhecer o obscuro me alegrou na época e tinha tornado-se um objetivo secundário para mim, agora que minha família estava morta era o que me restava.
- Graças ao livro e as referências que peguei com ele, cheguei a viajar para a Bucareste onde conheci a Ordem Rosacruz, apesar da ordem ter os cristão como a maioria de sua composição, eram os protestantes, pessoas de caráter mais digno. Dentro da sociedade elevei meu potencial místico onde foquei e descobri sobre uma ordem Tradicional de Magos que conquistou a imortalidade, a Ordem de Hermes, apesar de serem agora criaturas malditas, conhecidos como Vampiros, os Tremere ainda tinham deixado rastros em sua transição. Aprendi muitas coisas principalmente sobre os Vampiros, mas até onde eram reais eu não sabia dizer. O Rosacrucianos eram arcanos, estudioso do mundo místico e sobrenatural, apesar de não serem de fato magos eram feiticeiros e podiam realizar rituais de efeitos menores derivados de coisas que conheciam como "Focos", eram feitiços, não a Magika que compunham suas atividades e pesquisas. Meus estudos me levaram até uma forma de me unir minha mente ao espaço tempo com esses rituais e dar a mim mesma uma habilidade que pode ser descrita como um Oraculado. Realizei o ritual sem o conhecimento da Ordem e foi um sucessos. (Habilidade Oracular). Tais habilidades são naturais de um próprio espírito e segundo teorias alguém que não nasceu com este dom só o consegue após receber um choque espiritual como uma experiência de quase morte, os Rosacrucistas não gostavam de interferir mais do que o necessário e graças a essa habilidade eu descobri de antemão que as mesmas trevas que atormentaram uma vez me entregaria, eles saberiam e me perseguiriam então eu fugi levando comigo alguns livros, atrai os que me perseguiram até uma armadilha e incendiei o lugar com livros falsos. Foi na noite seguinte que a morte surgiu pra mim como a sombra: Amadeo. Ele me ofereceu a imortalidade e as sombras como sua ferramenta, eu aceitei e desde 1880 estive morta.
Mais uma vez escutamos as fitas findarem, e como de praxe o rapaz trocou as fitas. - Impressionante! Sua vida foi cheia de perigos. - Eu concordei com a cabeça: - A maior parte deles foram perigos que eu mesma me pus, ou assim fui incentivada a pensar. - Confuso, meu entrevistador perguntou: - Como assim? - Retruquei: - Logo entenderá. Podemos continuar? - Ele respondeu: - Sim, por favor!
- Amadeo me deu um refúgio para me esconder do sol, quis tirar proveito de minha nova capacidade e não vi motivos para não dar a ele o que queria. Ele me introduziu ao Sabbat, uma sociedade de Vampiros que tem como filosofia a liberdade de nossa espécie e sua supremacia, há um outro objetivo por detrás dessa sociedade, mas isto será outra história mais longa. Amadeo me ensinou sobre minha condição, como me alimentar, o que era importante nesta nova vida e o que não era. Assim como era de se esperar, viver com Amadeo era o céu e o inferno ao mesmo tempo. As coisas novas que aprendi eram incríveis e facilmente eu abracei o vampirismo, mas como muitas crianças da noite, com o tempo eu vi que ser um imortal era uma maldição, vi a amargura que era viver nas trevas, que jamais poderia conhecer outras pessoas, apesar de toda minha imortalidade eu estava enjaulada na morte para sempre, mas Amadeo vivia sua não-vida com uma paz inquietante, mas Amadeo era um sacerdote de nossa sociedade ele me ajudou a me encontrar no meio da noite, ele me apresentou os Amigos da Noite, é o conselho interno de nossa Linhagem. Cada linhagem, ou como dizemos, cada clã tem características e cultura própria, nós, do clã Lasombra, manipuladoras das verdadeiras trevas e nativos dos mares temos os Amigos da Noite e as Cortes de Sangue para resolver nossos assuntos sem incluir o Sabbat. Nós nos mudamos para as Ilhas Britânicas onde eu aprendi a falar o meu inglês foi lá que tive uma visão das mesmas trevas que tinham me atacado em vida, denunciando-me para cada vez mais obter mais inimigos, ensinando-me como ser uma sombra ainda mais escura que ela mesma, foi assim que interpretei que Amadeo era o inimigo que havia assassinado meu pai, coagido médicos a não terem a bondade de tratar minha mãe, incentivado os filhos de meu marido a me atormentarem e informado aos Rosacrucistas de minhas ambições. Enfureci-me no mesmo instante, enfrentei Amadeo e perdi, fui envolta nos sombras do torpor e como surpresa, percebi cento e dez anos depois que minha eternidade ainda me pertencia. - O rapaz expressou sua surpresa - Nossa... Quer dizer que você não é tão antiga assim. - Eu respondi: - Tecnicamente, não. Eu pouco vivi nessa época, mas adiantei-me a compreender como as coisas funcionam com a ajuda de alguém, apesar de serem coisas novas não são mais desconhecidas. Eu despertei nas ruínas de Tebas, Amadeo havia poupado-me por algum motivo, mesmo após meu ato de rebeldia. Fui paralisada e assim permaneci em sono longo e profundo por cento e dez anos. Fui despertada por Samael, um membro do meu clã a pedido dos Amigos da Noite o que eu especulo uma conspiração entre meu sire e os Amigos. - Ele me interrompeu: - Deve ter sido assustador passar por isso. - Foi. - Eu respondi - Estava em outro mundo, minha terra natal havia conquistado sua independência, o nome de minha família havia caído no esquecimento, os Anghel deixaram de existir pois não tive herdeiros, se antes quis preservar minha família eu a direcionei ao oblívio. Samuel me consolou e entendeu eu ainda era uma recém criada apesar de ter nascido no século passado, me deu um outro ponto de vista quando me apresentou o novo mundo, a nova Grécia onde aprendi a falar o grego, mas apesar do novo mundo a conhecer eu estava fora de mim mesma, como meu corpo, minha alma não possuía vida e Samael tentou me animar e me apresentar coisas e mais coisas novas, foi algo incrível quando ele me apresentou a tecnologia de inicio, mas não fora o suficiente, para o alivio dele. Já era de seu conhecimento minhas tendencias ocultistas e para me encantar ele me aprofundou em nossas histórias que para mim foi como presentar um brinquedo novo a uma criança triste e isso o agradou. A história sempre foi algo que me fascinou, o misticismo dava o toque mágico que ele é, foi demorado, foi árduo mas minhas lástimas estavam dando lugar à curiosidade insaciável, como uma criança que senta ao lado do contador de histórias e sempre volta no dia seguinte para descobrir mais. Minhas noites foram todas dedicadas ao estudo e pesquisa de onde quer que minha espécie tenha pisado ou botado suas mãos no mundo e no tempo, era tudo que havia me sobrado, era tudo o que me permitia viver novamente uma noite de cada vez, minha própria espécie me fascinava cada vez mais e procurei saber tudo sobre eles viajando com Samael e seu bando para vários cantos do mundo (Ocultismo 4 Cultura Cainita) e eles me mostravam que ser um Vampiro era uma maldição mas não era para ser visto como algo negativo, nós temos nosso lugar do mundo, a aceitação, a compreensão e o aprimoramento de nossa posição era tudo o que precisávamos fazer e saber para chegar ao ponto que todos nós secretamente ansiamos. - Eu mal percebia mas pela primeira vez nessa entrevista minhas voz entonava alegria e satisfação naquela entrevista, eu percebia isso porque meu entrevistador sorria para mim, feliz por eu estar feliz. Ele se encantou facilmente comigo, algo tão diferente e ao mesmo parecido devia ser fascinante para os humanos, eu também pensei assim uma vez, mas essa impressão perdia sua opacidade ao decorrer dos anos. Continuei - Descobrir de onde viemos, se realmente somos o que somos e nosso lugar deveria ser essencial para toda criatura e é por compreender isso que Samael me apresentou trechos do que nós vampiros temos de mais perto de um livro sagrado, o Livro de Nod. O livro estava numa tradução do latim e eu comecei a ter uma base sólida de nossa origem, apesar de ainda crer que tenha muito a ser investigado, foi quando me decidi e comprometi a procurar e a comprovar tudo o que era fato e tudo o que era mito, pois para isso eu tenho a eternidade. (Objetivo Condutor). Abandonei minha humanidade após isso, ela só me causava dor e sofrimento, no lugar adotei a mesma filosofia de Samael e seu bando (Nodista) com eles aprendi também três rituais de unificação de nossos costumes no Sabbat, O Sermão de Cain foi o primeiro que fui ensinada, logo em seguida da Vaulderie, um ritual de união e fraternidade de nossa sociedade e o Ritus de Criação, que é a iniciação de todo novo Vampiro como um próprio Vampiro.(Rituais 1) Além disso eles me ensinaram como agir através da violência quando necessário, seja através de minhas palavras ou de meus atos (Briga 2, Intimidação 2). Quando fui nomeada uma Sacerdote do Sabbat passei a me voluntariar para fazer estes rituais onde necessitavam de um sacerdote e embora nunca tenha conseguido um bando por mim mesma, eu nunca me importei, assim como o primeiro de nós, o exílio e a solidão virou minha meta.
- Você passou a ficar sozinha desde então? - Ele me perguntou curioso e fascinado - Sim, mas não totalmente, meu exílio é da sociedade mortal, mas ainda interajo com minha espécie, mas assim como Caim, eu me propus a ter apenas uma companhia mortal, mas foi mais uma necessidade do que carência, como Caim. Caim teve uma esposa mortal, uma mulher que ele obrigou a ama-lo para sempre com o seu sangue, minha companhia era mais uma ferramenta do que companhia. A juíza Lyanna Lewis tinha os recursos que eu precisei para me adaptar e sobreviver neste mundo sem chamar a atenção desnecessária.(Lacaios 1, Recursos 4) o comércio sempre foi algo vivo tanto no mundo de Caim, quanto meu mundo mortal e o seu, mas isso faz parte da sobrevivência e como Caim, devo ser uma sobrevivente.
- E Amadeo? Você nunca mais o viu? - Eu respondi: - Não. Minha ultima lembrança dele foi quando falhei miseravelmente em tentar destruí-lo. - Ele me retornou outra pergunta: - Acha que ele está vivo? - Tornei a responder: - Ele esteve morto desde que o conheci, não sei dizer se ele sofreu a morte-final, mas acredito que não. Acredito que ele possa estar por aí em algum lugar, não acredito que ele esteja ressentido comigo, caso contrário eu não estaria aqui esta noite - Ele me perguntou: - Você ainda sente raiva dele? - Eu esbocei um leve sorriso e me pus em um breve devaneio antes de responder: - Se não fosse por Amadeo ter insistido em sua campanha para testar meus limites, eu não estaria aqui esta noite. Assim como meu pai mortal, ele é meu pai imortal, antes eu não compreendia seus pensamentos, agora como um membro do meu clã com o conhecimento de nossos costumes eu entendo que o que ele fez foi o melhor. Não guardo ressentimentos, muito pelo contrário, sou grata à ele. - Meu entrevistador assentiu com a cabeça e continuou com as perguntas: - E sobre crucifixos? Agua corrente, alho, prata? - Dei mais uma risada, mas parte dessa risada foi um disfarce e respondi: - Tudo propaganda nossa, para que vocês não possam nos reconhecer, mas se tem algo que é verdade, é que se você me olhar por um espelho não me verá. - Menti ao me referir ao alho e à prata, estranhamente essas duas coisas me desagradam fortemente, algo que eu nunca descobri o porque afetava a mim e não a outros de minha espécie, mas essas fraquezas são alvo de minhas pesquisas. (Vulnerabilidade a Prata, Repulsa a alho) Fascinado, o rapaz perguntou-me: - Se importa? - Eu assenti negativamente com a cabeça e ele pegou do bolso um pequeno pedaço de espelho que carregava consigo, ajeitou o ângulo e confirmou a ausência de meu reflexo. Ele se espantou, naturalmente, mas eu via um largo sorriso de alegria e ele me fez outra pergunta: - O que houve com a Ordem Rosacruz? - E eu respondi: - Pouco tempo depois de viver na noite, e antes de descobrir os feitos de Amadeo eu os denunciei aos Amigos da Noite, mas eu nunca soube o que decidiram fazer com eles. - O som da fita se esgotando novamente tinha interrompido nossa prosa.
- Oh, acabou, vou por outra. - E eu interrompi - Não será necessário, disse lhe tudo o que tinha para dizer. - O rapaz olhou para o relógio - Nossa, foi uma história cumprida. Gostaria de lhe perguntar uma coisa, os outros vampiros não ficarão irritados se você divulgar essa história? - Sorri ao jovem rapaz novamente, e respondi - Sim, de fato eles iriam procurar minha cabeça e difamar toda essa gravação, em pouco tempo eu não existiria mais. - Meu entrevistador estava confuso era fácil para qualquer pessoa notar isso - E mesmo assim quer publicar? - E eu respondi: - Oh... Não, essas fitas ficarão em minha posse, agradeço à sua atenção e ao seu trabalho, é de muita valia para minha pesquisa e minhas reflexões quanto ao Exílio. - Eu me levantei e estendi minhas mãos para que ele me entregasse as gravações. Ele olhava para minha mão estendida e para as fitas, existia um apego grandioso com aquela história, era como se fosse a melhor história que tinha gravado até agora, mas ele temia por sua vida e me entregou-as com dor no coração. Eu virei-me de costas para ele caminho até a outra mesa da escrivaninha onde havia minha bolsa e enquanto guardava as sombras próximas à ele começavam a se mover sem que ele reparasse sua presença: - Infelizmente, o senhor também não poderá sair com esse conhecimento. - Eu não estava vendo mas senti quando as sombras manipuladas por mim o agarraram pelo pescoço, como assassinos tenebrosos sufocavam-no enquanto e ele tentava respirar a vida que lhe era negada - Sinto muito ter mentido, de que não lhe faria mal, mas garanto-lhe que toda a minha história é verdadeira. - Ele estava se ajoelhando com a fraqueza e a pressão que as minhas trevas o impunham, seus olhos me diziam o tamanho do medo que passava - Em respeito do seu valor à minha pesquisa irei telefonar para a emergência para que achem seu corpo e possa receber o funeral humano antes que seu corpo decomponha-se. - Ao terminar de arrumar as gravações na minha bolsa vi o corpo de meu entrevistador arrochado e desfalecido ao chão. Olhei-o com indiferença, não via necessidade de dar-lhe uma morte dolorosa, ele era apenas um humano e todos os humanos morriam eventualmente, assim como nós vampiros. Se não descobrirmos como burlar as fraquezas de nossa condição e como coexistir no mundo como nos é devido, seremos tão frágeis e iguais quanto eles, isso é algo que não pode acontecer.
7. Banco de Dados
Convidado- Convidado
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Boa tarde!
Primeiramente, seja bem-vinda(o). Eu serei o avaliador da sua ficha. Sua personagem tem personalidade, uma boa história e uma boa coerência ficha-prelúdio. Tão boa que Raven se juntou ao grupo de seletos personagens que eu não cobro uma modificação nesse sentido. Parabéns!
Minha única ressalva, mas não um pedido de alteração é: O prelúdio deve ser um texto com o objetivo primordial de contar a história do personagem, mas claro sem esquecer de esmiuçar o conteúdo presente na ficha. Isso você fez muito bem, mas você foi além. Se preocupou em criar uma cena e explicar pontos de vista da personagem que poderiam ser mostrados durante o jogo. Perceba, como uma forma de entretenimento, seria maravilhoso ler essas coisas. Eu mesmo me senti entertido com sua história. Mas lembre-se que não só eu, mas todos os seus futuros narradores serão obrigados a ler seu prelúdio e nem sempre estamos munidos de muito tempo disponível para ler um textão. Nesse caso, menos é mais! O texto grande por si só já é intimidador, o que pode acabar fazendo com o que o avalidor/narrador acabe procrastinando por não achar que terá tempo suficiente para leitura naquele momento. Fica essa dica para os futuros personagens.
Único pedido de alteração: Você gastou 25 pontos bônus (Esqueceu de apontar os 2 pontos a mais em Força de Vontade). Os pontos extras concedidos por Defeitos tem um teto de 7 pontos. Você pode até colocar mais Defeitos, se quiser, mas não vai ganhar mais pontos por isso. Arrume isso e a ficha estará aprovada. No aguardo.
Primeiramente, seja bem-vinda(o). Eu serei o avaliador da sua ficha. Sua personagem tem personalidade, uma boa história e uma boa coerência ficha-prelúdio. Tão boa que Raven se juntou ao grupo de seletos personagens que eu não cobro uma modificação nesse sentido. Parabéns!
Minha única ressalva, mas não um pedido de alteração é: O prelúdio deve ser um texto com o objetivo primordial de contar a história do personagem, mas claro sem esquecer de esmiuçar o conteúdo presente na ficha. Isso você fez muito bem, mas você foi além. Se preocupou em criar uma cena e explicar pontos de vista da personagem que poderiam ser mostrados durante o jogo. Perceba, como uma forma de entretenimento, seria maravilhoso ler essas coisas. Eu mesmo me senti entertido com sua história. Mas lembre-se que não só eu, mas todos os seus futuros narradores serão obrigados a ler seu prelúdio e nem sempre estamos munidos de muito tempo disponível para ler um textão. Nesse caso, menos é mais! O texto grande por si só já é intimidador, o que pode acabar fazendo com o que o avalidor/narrador acabe procrastinando por não achar que terá tempo suficiente para leitura naquele momento. Fica essa dica para os futuros personagens.
Único pedido de alteração: Você gastou 25 pontos bônus (Esqueceu de apontar os 2 pontos a mais em Força de Vontade). Os pontos extras concedidos por Defeitos tem um teto de 7 pontos. Você pode até colocar mais Defeitos, se quiser, mas não vai ganhar mais pontos por isso. Arrume isso e a ficha estará aprovada. No aguardo.
Padre Judas- Administrador
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Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Ola, obrigado e desculpa o texto longo, eu queria mesmo fazer algo divertido e diferente. Vou manter assim apenas porque deu trabalho fazer essa criação, mas vou acatar a dica para a proxima. Sobre o limite de defeitos eu vou tirar um e modificar a ficha. Sobre a força de vontade, quando se é de uma trilha da sabedoria não se comeca com nivel 5 independente do nivel de coragem?
Convidado- Convidado
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Vampiros: a Máscara, Página: 287 escreveu:Um vampiro que siga uma Trilha da Sabedoria precisa começar o jogo com Força de Vontade mínima igual a 5: Isso pode ser conseguido gastando-se pontos em Coragem ou aumentando a Força de Vontade com pontos de bônus. Seres de ego inferior simplesmente não têm a força espiritual necessária para aquebrantar suas próprias almas e reconstruí-las a partir do zero
Padre Judas- Administrador
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Localização : Brasília - DF
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
1. Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Recursos: 3 (3PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5 (2PB)
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 32
- Idade Total: 167
- Data de Nascimento: 14/02/1848
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
7. Banco de Dados
Nome: Lady Raven
Personagem: Raven Anghel
Clã: Lasombra
Natureza: Guru
Comportamento: Guru
Geração: 8ª
Refúgio:
Conceito: Ocultista
Saldo de XP:0/0
2. Atributos
Físicos (Terciário 3)
- Força: 1
- Destreza: 1 + 1
- Vigor: 1 + 2
Sociais (Secundário 5)
- Carisma: 1 + 2
- Manipulação: 1 + 1
- Aparência: 1 + 2
Mentais (Primário 7)
- Percepção: 1 + 3 (Atento)
- Inteligência: 1 + 2
- Raciocínio: 1 + 2
3. Habilidades
Talentos (Secundária 9)
- Prontidão: 1
- Esportes:
- Briga: 2
- Esquiva:
- Empatia: 2
- Expressão:
- Intimidação: 2
- Liderança:
- Manha:
- Lábia: 2
Perícias (Terciária 5)
- Empatia c/ Animais:
- Ofícios:
- Condução: 1
- Etiqueta: 3
- Armas de Fogo:
- Armas Brancas:
- Performance:
- Segurança:
- Furtividade:
- Sobrevivência: 1
Conhecimentos (Primário 13)
- Acadêmicos: 3
- Computador: 1
- Finanças:
- Investigação:
- Direito:
- Linguística: 3 (Vernáculo: Romeno + Inglês + Latim + Grego + Árabe)
- Medicina: 3
- Ocultismo: 4 (3 Pontos iniciais + 2 de Bônus) (Cultura Cainita)
- Política:
- Ciências:
4. Vantagens
Antecedentes 0 (Sabbat)
- Geração: 5 (9PB)
- Status Sabá: 1 (1PB)
- Rituais: 1 (1PB)
- Lacaios: 1 (1PB)
- Lyanna Lewis:
Carniçal com Potência 1 e Dominação 1
- Recursos: 3 (3PB)
Disciplinas 4 (Sabbat)
- Tenebrosidade: 2
- Dominação: 1
- Potência: 1
5. Virtudes
Virtudes 5 (Sabbat)
- Convicção: 0 + 1
- Instinto: 0 + 2
- Coragem: 1 + 2
Trilha de Caim: 3
Força de Vontade: 5 (2PB)
Qualidades e Defeitos
Qualidade
- Habilidade Oracular (3)
Defeito
- Objetivo Condutor (3)
- Fetiche ao se Alimentar (1)
- Intolerância (1)
- Vulnerabilidade a prata (2)
Informações do Personagem
- Idade antes do abraço: 32
- Idade Total: 167
- Data de Nascimento: 14/02/1848
- Aparência: Alta (1,79) Magra com curvas sutis, cabelos negros e olhos cor-de-mel
- Personalidade: Misteriosa, sábia, mística
- Fraqueza do clã: Sem reflexo. +1 de dano ao sol.
6. Prelúdio
Prelúdio inspirado na obra de Anne Rice
- Entrevista com Vampiro.
- Entrevista com Vampiro.
- Compreendo... - disse pensativa, caminhando lentamente pela sala até a janela. Durante muito tempo permaneci de pé em frente à luz fraca e à torrente de tráfego da Rua Divisadero. Não sabia se agora o rapaz conseguia ver os móveis da sala mais claramente, a mesa de carvalho redonda, as cadeiras. Numa das paredes, uma bacia pendia sob um espelho. Mas ele apoiou a maleta na mesa e esperou.
- Qual a quantidade de fita que você trouxe? - perguntei, virando-me agora de modo que o menino pudesse ver meu perfil. - O suficiente para registrar a história de uma vida?
- Certamente, se for uma vida movimentada. Às vezes chego a entrevistar três ou quatro pessoas, numa noite de sorte. Mas tem de ser uma boa história.
- É claro - respondi. - Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.
- Ótimo - disse o jovem. E tirou rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. - Estou realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que...
- Não - disse à ele rispidamente. - Não podemos começar desse jeito. Seu equipamento já está pronto?
- Está.
- Então sente-se. Vou acender a lâmpada
- Pensei que os vampiros não gostassem de luz - comentou o rapaz. - Mas caso ache que a escuridão pode ajudar a criar uma atmosfera... - Então, ele parou de falar. Eu o observei de de costas para a janela. O rapaz não conseguia tirar nenhuma informação de minha expressão mas, ainda assim, havia algo em mim que o perturbava. Começou novamente a tentar falar, mas não disse nada. E então viu, com alívio, que eu me dirigi à mesa e apertava o interruptor. A sala foi imediatamente invadida por uma desagradável luz amarela. E o rapaz, fitando-me, não pôde deixar de engolir em seco. Seus dedos bailaram novamente pela mesa, agarrando a borda.
- Meu Deus! - murmurou, fitando-me sem fala. Sou incrivelmente branca e suave, como se tivesse sido esculpida em osso descorado. Meu rosto parecia tão inanimado quanto uma estátua, exceto pelos dois olhos cor-de-mel e brilhantes que examinavam-no atentamente, como se
fossem chamas saindo de um crânio. Eu sorri, quase melancolicamente, e a substância branca e macia de meu rosto se moveu como as linhas infinitamente
flexíveis, mas mínimas, de um desenho animado.
- Compreende? - perguntei suavemente. O rapaz estremeceu, levantando a mão como se quisesse se proteger de uma luz poderosa. Seus olhos passearam lentamente pelo paletó preto, de bom corte, que tinha somente vislumbrado no bar, as longas dobras da capa, o lenço de seda negra amarrado no pescoço, e o brilho do colarinho branco, tão branco quanto minha carne. Fitou-me, espantado, meu cabelo liso e negro, as mechas cuidadosamente penteadas para expor uma perfeito moldura de meu rosto e exibir as orelhas, as mechas que se estendiam até a altura de meu queixo.
- Agora, ainda quer a entrevista? - perguntei a ele. A boca do rapaz ficou aberta, sem emitir nenhum som. Balançava a cabeça. Depois disse: - Quero. - Sentei-me à sua frente e: inclinando-me, disse calma e confidencialmente: - Não tenha medo. Simplesmente ligue o gravador. - E, então, me estendi sobre a mesa. O rapaz se encolheu, com o suor descendo por sua face. Pousei pesadamente a mão sobre o ombro do rapaz, e disse:
- Acredite-me, não lhe farei mal. Quero esta oportunidade. É mais importante para mim do que pode lhe parecer agora. Quero que comece -Retirei a mão e sentei-me calmamente, esperando. O rapaz precisou de algum tempo para enxugar a testa e os lábios com um lenço, verificar se o microfone estava ligado, apertar o botão e dizer que o aparelho estava funcionando. - Você não foi sempre uma vampira, não é?
- Não - Respondi à ele enquanto tentava fitar-me com naturalidade.
- Eu nasci em 1848 quando a Romênia, minha terra natal, ainda era parte do Império Otomano. Eu tinha 32 anos quando a morte me encontrou e convidou-me a caminhar ao seu lado. Meus pais eram camponeses de uma pequena vila no norte chamada Valenkar (Aldeia fictícia).
- Nunca ouvi falar dessa vila, está nos mapas? - Disse o rapaz curioso.
- Não - Respondi à ele em tom sereno - A aldeia nunca teve força econômica, e hoje ela não existe mais, foi consumida pelo abandono, pela terra infértil e os ventos gélidos que impediam o gado de proliferar com vigor, mesmo com o passar de tantos anos a minha terra natal não prosperou e hoje é apenas uma lembrança morta, como eu. Diziam: Eram apenas caipiras. Não possuíam relevância além dos impostos que o povo tinha de pagar, mal era considerada uma vila. A maior parte que não era grande vinha de famílias cristãs remanescentes já que as terras boas estavam destinadas aos muçulmanos mas minha família viveu no paganismo, escolhemos continuar os passos de nossos antepassados druidas para manter viva a herança de nosso povo, mas as pessoas... Acredito que você as conheça, elas temem tudo o que é diferente embora fossemos todos seres humanos. - Eu vi o rapaz assentir com a cabeça, ele retirava um do bolso um maço de cigarro e eu o alertei - Não. - Ele olhou para mim confuso mas entendeu que eu não queria que fumasse - O cheiro te desagrada? - Eu assenti com a cabeça, não queria revelar a ele a fraqueza mais destruidora da minha espécie.
O rapaz guardou o maço nos bolsos, ele ficava mais à vontade comigo à medida que via minhas intensões de simples prosa, ele estava abaixando sua guarda e meu instinto não pode deixar de sentir júbilo por ser tão eficaz em misturar-me entre as ovelhas mesmo sendo um lobo. Ele fez outra pergunta: - Você e sua família eram pagãos. Eles maltrataram vocês? - Eu respondi: - Como animais. Durante séculos minha família conseguiu se proteger escondendo nossa cultura e nossas crenças dos cristãos e dos muçulmanos, mas foi a traição de alguém que amávamos que transformou nossa vida em jaulas de fogo e dor.- Eu estava pensativa quando terminei de falar, meus olhos miravam a face vazia de meu entrevistador. - Nós somos todos vazios, vivos e mortos, mas além de vazios os mortos são exilados e assim devem permanecer, como o primeiro de nós.
O jovem rapaz ajeitava seus óculos e perguntava: - Quem foi o primeiro vampiro? - Eu o olhei e sorri com meus lábios finos, um misto de sarcasmo e agrado por ter recebido uma pergunta sobre um assunto que eu apreciava debater, mas para minha infelicidade aquele rapaz era incapaz de argumentar sobre este tópico e outros relacionados. - Caim. - Eu disse. - Caim? Como na Bíblia? O assassino do irmão Abel? - Eu senti a descrença em suas palavras mesmo que ele tenha acreditado em tudo o que eu disse até agora. Me levantei e ele alterou sua postura, não estava tão confortável quanto pensei que estivesse, mas nada o fiz, caminhei até a janela onde fiquei de costas observando o movimento das ruas noturnas e da vida mortal tão diferente da minha, vida que decidi abandonar para seguir os verdadeiros passos da minha espécie, uma decisão que nunca me arrependi e por isso estou aqui esta noite, com o rebanho registrando minha história, gastando o tempo de minha pesquisa a um dos símbolos tão importantes para entender a maldição que o Pai Sombrio sofreu e abraçou, o exílio.(Nodista)
- Cain foi amaldiçoado pelo Criador Divino, como deve saber. Seus feitos após seu exílio foram grandiosos em uma terra conhecida como Nod. Lá, ele viveu como uma divindade exilada e teve três filhos para compartilhar de sua solidão imortal. Zillah, Irad e Ynosh. Eu passei a maior parte do meu despertar dedicando-me aos estudos e análises de nossa origem. O que nós somos, de onde viemos e para onde vamos? As mesmas perguntas que os humanos fazem para si mesmos nós fazemos a nós, ao menos alguns poucos. Quando se é imortal, fica fácil deixar de se importar com o amanhã, pois ele sempre será o hoje. - Ouvi o som do toca fitas indicar o término de sua gravação, parecia ter acabado muito rápido.
-Espere um minuto, por favor. - Ele dizia para mim e sem nada a falar esperei até que ele trocasse a fita e apertasse o botão de gravação. - Por favor, continue! - Senti a empolgação em sua voz e não pude evitar de sorrir mas virei meu rosto para que ele não visse meu gosto pelo seu interesse em minhas palavras.
- Quando eu era jovem conheci um homem cristão: Ciprian Íon, era um camponês, como eu. Nossos pais passaram a trabalhar juntos em minas de carvão recém descobertas, as metalurgia e a industria ainda não tinha chegado ao nosso país, eramos uma terra atrasada. Conheci Ciprian e passei todas as minhas tardes livres com ele, era a melhor fração dos meus dias. Nossos pais decidiram nos casar quando eu tinha dezesseis anos e Ciprian vinte e três. Eu era tola e ingênua, acreditei que meu amado sentia o mesmo que passei a sentir por ele quando comecei a vê-lo em meus sonhos, e eu estava certa, eu acreditava no amor que ele me jurou mas meu erro foi ter superestimado esse amor e foi quando contei a ele as tradições da minha família. O medo superou toda e unica beleza que vivíamos. Ciprian contou ao pai dele sobre minha família, e ele contou aos colegas de trabalho do meu pai, a notícia se espalhou como doença em uma pequena vila e em dois dias eramos detestados em Valenkar. Tivemos trabalhos recusados, meu pai foi agredido severas vezes, minha honra e de minha mãe quase foi maculada. Eu passei a detestar essas pessoas com todas as minhas forças, não há nada mais cruel e doloso que o preconceito (Intolerância)- Virei-me ao rapaz e vi em seus olhos o que é chamado de "empatia", ele se compadecia de minha história. Levemente ri daquele olhar - Está com pena de mim? - Perguntei. Ele tirou os óculos e limpou-os com a camisa de algodão branca - Não... Eu só... Tenho de concordar com você. As pessoas fazem coisas terríveis por preconceito. - Ele botava novamente os óculos e apoiava os cotovelos em cima da mesa, semelhante a um aluno atencioso. - Fazem. - Respondi - Faz parte da natureza, assim como eu preciso beber sangue para sobreviver, as pessoas precisam expressar sua raiva de alguma forma, mas é algo que até mesmo a grande maioria da minha espécie necessita. Nós todos fomos humanos um dia e por mais que os séculos nos façam esquecer de nossa humanidade, apenas as coisas que são consideradas positivas do seu ponto de vista caem no oblívio. As trevas nos corações de cada vampiro ficam mais fortes. - Ele respondeu: - Você não parece ser alguém má. - E eu retruquei - Não, eu não sou, ser o que sou hoje não me é considerado mal, nem a nenhum outro vampiro que segue filosofias alternativas às minhas ou às suas, mas de acordo com sua filosofia somos apenas monstros. Permita-me continuar - O rapaz assentiu se ausentando a continuar o debate, ainda tinham fitas a gravar - Nós decidimos que era tempo de abandonarmos Valenkar para sempre, estávamos arriscando viagens com pouca comida, pouca água e nenhuma proteção, mas nós partimos mesmo assim e por mais que o tormento de minha família tivesse findado a um preço alto, os meus só se intensificaram, eu me amargurei por muito tempo pelo que fiz minha família passar e decidi que minha mente infantil e sonhadora era um estorvo, prometi dar à minha família o dobro do que possuíam foi assim que comecei a ficar ambiciosa e abandonar meus desejos para obter poder, proteger e construir duas vezes melhor o que eu destruí.
- Nosso novo inicio deu-se em meio à fome pois tínhamos pouco, por sorte nós conseguimos encontrar estalagens no caminho e viajantes bem intencionados que foram bondosos conosco nos dando comida e abrigo durante a passagem. Meu pai era orgulhoso e fazia questão de compensar com algum trabalho, não ficávamos mais do que um dia em cada lugar, tivemos de evitar rotas da guarda imperial para que não descobrissem nossos pertences hereges em suas inspeções. Foi duro, mas conseguimos. Nós chegamos à Grande Valáquia após meses de viagem mas nas cidades as pessoas são mais frias que no interior, não tivemos a mesma sorte de conseguir abrigo para todos, não com prontidão. Cada trabalho era uma vaga, eu não tinha a força para realizá-los nem o conhecimento, nem minha mãe, meu pai tinha como sua força e experiência como camponês, a força era útil mas a experiência como camponês nem tanto pois o comércio era abrangente, ninguém mais plantava ou colhia nas cidades, mas ele conseguiu um emprego como assistente ferreiro, o ferreiro era um homem honesto e permitiu que meu pai dividisse o quarto conosco temporariamente. Para ajudar meu pai eu também parti em busca de emprego e foi quando vi pela primeira vez um lugar que continha tudo o que eu procurava... Uma biblioteca. Entrei na biblioteca e me encantei com o que vi mas também fiquei triste pois eu não era alfabetizada, senti-me diminuta diante daquelas pessoas bem vestidas e cultas, inferior, impotente... Mas eu queria ser como eles, queria ser inteligente e ter uma educação digna para ter poder e nunca mais passar pelos apuros que fiz minha família passar. A bibliotecária, assim como o ferreiro, era uma mulher bondosa, ela reparou na figura solitária, pequena e ignorante naquele vasto domínio do saber, fora ela quem se apiedou de mim e me ensinou a ler e a escrever e após isso me ofereceu um emprego como sua assistente. Nossa vida começou a melhorar e eu passei a morar na biblioteca dando mais espaço para meus pais. Durante meu tempo livre, normalmente na madrugada, passei a ler e a ler muitos livros, em especial, história e filosofia, o passado era algo que me intrigava, a arte acompanhava seus passos assim como a filosofia, estão interligados e sempre estarão e junto delas, se olhar profundamente, encontrará os conhecimentos obscuros das culturas e do mundo e isto roubou toda minha atenção o que era um desvio em meus objetivos e o inicio de outros.
- Haviam livros que não eram traduzidos para o Romeno, então aprendi a língua mais próxima através de um dicionário, o latim. Com o latim abri muitas portas para a minha mente e passei a entender o pensamento cristão lendo a bíblia judaico-cristã, foi uma leitura agradável e vendo a justificativa de seus rituais, cerimonias e tradições passei entender o medo e o escárnio que sentiam de nós, mas não entenda errado, isso não me fez odiá-los menos. Da mesma forma, aprendi o Árabe para poder compreender melhor como funcionava o Império em que vivia e poder lidar com os muçulmanos. Com o tempo passei a conversar com os estudiosos que chegavam à biblioteca, indicando livros e debatendo sobre assuntos variados, mas a política era algo que não era adepta apesar de minha compreensão do todo.
- As coisas estavam indo bem, quando recebi a notícia de meu pai que minha mãe estava doente. Câncer de mama. Os médicos não podiam fazer nada, na verdade, eles não queriam fazer pois não tínhamos dinheiro para o tratamento então eu mesma passei a procurar uma solução na biblioteca, passei a estudar medicina e fazer perguntas a médicos e especialistas que passavam. Estudei dia e noite, minha empregadora compreendia minha situação e nada podia fazer além de permitir que eu tentasse buscar uma solução por mim mesma... Como parte de meus estudos medicinais autônomos passei a sugerir secretamente a pacientes pobres tratamentos fáceis com ervas naturais que funcionavam bem, mas por mais que eu tivesse aprendido, por mais que eu tivesse me esforçado não foi o suficiente. Minha mãe faleceu em 1873.- Ouvimos a fita parar de rodar, eu pacientemente esperei meu entrevistador trocar a fita - Eu sinto muito. Também perdi minha mãe a alguns anos, sei como é difícil. - Eu respondi à ele, não sentia a empatia por ele que ele sentia por mim, não me apiedei de sua tristeza como ele se apiedou do que já me foi importante mas que hoje é tão irrelevante que mal lembro como era o rosto daquela que me deu a vida. As fitas foram trocadas, ele apertou o botão e continuei: - Novamente acreditava ter falhado com a minha família, ajudar meu pai era a única forma de corrigir meu erro. Decidida a crescer em minha vida e trazer meu pai junto ao topo deitei-me com um médico idoso viúvo que vinha com relativa frequência buscar livros e cuidei dele como pai e amante, em pouco tempo casei-me com ele. Não foi tão ruim, precisávamos um do outro, ele necessitava alguém que cuidasse dele e era sozinho, seus filhos tinham lhe abandonado depois que sua esposa faleceu. Meu pai não aceitou que eu fizesse isso, mas ele não pode me impedir, meu desejo de melhorar o patamar de minha vida e da dele já havia ultrapassado qualquer limite e eu faria de tudo pra conseguir. Ele me ensinou coisas sobre a medicina, me permitiu a prática de cirurgia e autópsias,(Medicina 3) ele fazia de tudo por mim e eu faria de tudo por ele mas eu havia falhado novamente com a minha família pois meu pai negava-se a usufruir dessa farsa para benefício próprio. Meu pai era um bom, honrado e justo, eu já deveria saber que ele seria teimoso e estúpido o suficiente para que este meu esforço também fosse em vão. Quando meu marido faleceu eu fiquei com toda sua herança, seus filhos voltaram para reclamarem mas eu não os dei nenhum tostão do dinheiro que agora me pertencia. Mesmo que lhes fosse direito meu coração já havia se enchido de frieza e clamava por posses. Havia passado pela minha cabeça envenena-lo para adiantar minha recompensa mas não o fiz pois ele já não duraria muito mais neste mundo, era melhor que eu não levantasse olhos para sua morte. Fui paciente. Ah sim... Devo dizer, na época estes pensamentos me tiraram o sono pois sabia que seria capaz de fazer, hoje já são naturais como respirar para você.- O rapaz engoliu a seco quando eu revelei que matar não é mais um problema, mas ele sabia que eu queria que ele continuasse vivo para continuar com o que demos inicio, essa foi a segurança que ele precisava para se manter onde estava. - Os filhos de meu marido e suas famílias ficaram revoltados, ele tinha me deixado uma herança magnifica, algo que nenhum dos seus pentelhos imaginavam e se arrependeram de abandonar o pai para que uma mulher qualquer pudesse tomar deles, meu marido amava os filhos apesar de terem-no abandonado, ele era um bom homem, eu sabia que ele ficaria insatisfeito de me ver negar conforto para eles se tivessem se arrependido dos maus tratos, ele era um tolo no final das contas já que o verdadeiro arrependimento não havia acontecido, e mesmo sabendo de sua vontade o contrariei. Meu pai ficou contra mim, ele não me reconhecia mais, nós brigamos e na noite seguinte ele foi assassinado. Se antes eu me sentia fracassada pela minha família então senti-me no fundo do posso pois havia falhado miseravelmente em dar o poder e o conforto à minha família, tudo o que havia conseguido, todo o conhecimento e a riqueza foram próprios, nada do que havia tomado e conquistado tinha sido de beneficio para quem eu amava, para piorar os filhos de meu marido passaram a tornar minha vida um inferno, difamando-me nas ruas, implantando provas incriminadoras para que a guarda me investigasse, eu não esperava tal coisa e não sentia-me com mais nada a perder, era um jogo e nada mais me restava além de jogar, mas eu jogava mais baixo que eles. Contratei mercenários e ladrões para assassina-los e implantar provas novas e cartas incriminadoras suicidas perto de seus cadáveres, o trabalho foi feito e os meninos não mais me incomodaram, aquele havia sido um jogo rápido, que eu era nova e não tive paciência de aprender a jogar certo, o que me importou no final foi vencer e ser deixada em paz com minha própria amargura. Cedo ou tarde meu dinheiro acabaria então adentrei na academia medica e com o conhecimento e prática que já possuía licenciei-me médica e com esse poder e conhecimento em mãos abri um serviço secreto de eutanásia com ervas que eu sabia misturar. Felizmente eu não tinha mais respeito pela vida como antes, mas não via alegria no sofrimento alheio por isso a eutanásia veio bem a calhar. Eu não tinha mais nada que pudesse fazer além continuar minha vida, um passo de cada vez, eu ainda tinha amigos mas eles não me eram o suficiente, os visitava mas não acabava com a minha solidão e então minha antiga empregadora me entregou um livro de conhecimentos ocultos que ela escondia, ela sabia que ler e conhecer o obscuro me alegrou na época e tinha tornado-se um objetivo secundário para mim, agora que minha família estava morta era o que me restava.
- Graças ao livro e as referências que peguei com ele, cheguei a viajar para a Bucareste onde conheci a Ordem Rosacruz, apesar da ordem ter os cristão como a maioria de sua composição, eram os protestantes, pessoas de caráter mais digno. Dentro da sociedade elevei meu potencial místico onde foquei e descobri sobre uma ordem Tradicional de Magos que conquistou a imortalidade, a Ordem de Hermes, apesar de serem agora criaturas malditas, conhecidos como Vampiros, os Tremere ainda tinham deixado rastros em sua transição. Aprendi muitas coisas principalmente sobre os Vampiros, mas até onde eram reais eu não sabia dizer. O Rosacrucianos eram arcanos, estudioso do mundo místico e sobrenatural, apesar de não serem de fato magos eram feiticeiros e podiam realizar rituais de efeitos menores derivados de coisas que conheciam como "Focos", eram feitiços, não a Magika que compunham suas atividades e pesquisas. Meus estudos me levaram até uma forma de me unir minha mente ao espaço tempo com esses rituais e dar a mim mesma uma habilidade que pode ser descrita como um Oraculado. Realizei o ritual sem o conhecimento da Ordem e foi um sucessos. (Habilidade Oracular). Tais habilidades são naturais de um próprio espírito e segundo teorias alguém que não nasceu com este dom só o consegue após receber um choque espiritual como uma experiência de quase morte, os Rosacrucistas não gostavam de interferir mais do que o necessário e graças a essa habilidade eu descobri de antemão que as mesmas trevas que atormentaram uma vez me entregaria, eles saberiam e me perseguiriam então eu fugi levando comigo alguns livros, atrai os que me perseguiram até uma armadilha e incendiei o lugar com livros falsos. Foi na noite seguinte que a morte surgiu pra mim como a sombra: Amadeo. Ele me ofereceu a imortalidade e as sombras como sua ferramenta, eu aceitei e desde 1880 estive morta.
Mais uma vez escutamos as fitas findarem, e como de praxe o rapaz trocou as fitas. - Impressionante! Sua vida foi cheia de perigos. - Eu concordei com a cabeça: - A maior parte deles foram perigos que eu mesma me pus, ou assim fui incentivada a pensar. - Confuso, meu entrevistador perguntou: - Como assim? - Retruquei: - Logo entenderá. Podemos continuar? - Ele respondeu: - Sim, por favor!
- Amadeo me deu um refúgio para me esconder do sol, quis tirar proveito de minha nova capacidade e não vi motivos para não dar a ele o que queria. Ele me introduziu ao Sabbat, uma sociedade de Vampiros que tem como filosofia a liberdade de nossa espécie e sua supremacia, há um outro objetivo por detrás dessa sociedade, mas isto será outra história mais longa. Amadeo me ensinou sobre minha condição, como me alimentar, o que era importante nesta nova vida e o que não era. Assim como era de se esperar, viver com Amadeo era o céu e o inferno ao mesmo tempo. As coisas novas que aprendi eram incríveis e facilmente eu abracei o vampirismo, mas como muitas crianças da noite, com o tempo eu vi que ser um imortal era uma maldição, vi a amargura que era viver nas trevas, que jamais poderia conhecer outras pessoas, apesar de toda minha imortalidade eu estava enjaulada na morte para sempre, mas Amadeo vivia sua não-vida com uma paz inquietante, mas Amadeo era um sacerdote de nossa sociedade ele me ajudou a me encontrar no meio da noite, ele me apresentou os Amigos da Noite, é o conselho interno de nossa Linhagem. Cada linhagem, ou como dizemos, cada clã tem características e cultura própria, nós, do clã Lasombra, manipuladoras das verdadeiras trevas e nativos dos mares temos os Amigos da Noite e as Cortes de Sangue para resolver nossos assuntos sem incluir o Sabbat. Nós nos mudamos para as Ilhas Britânicas onde eu aprendi a falar o meu inglês foi lá que tive uma visão das mesmas trevas que tinham me atacado em vida, denunciando-me para cada vez mais obter mais inimigos, ensinando-me como ser uma sombra ainda mais escura que ela mesma, foi assim que interpretei que Amadeo era o inimigo que havia assassinado meu pai, coagido médicos a não terem a bondade de tratar minha mãe, incentivado os filhos de meu marido a me atormentarem e informado aos Rosacrucistas de minhas ambições. Enfureci-me no mesmo instante, enfrentei Amadeo e perdi, fui envolta nos sombras do torpor e como surpresa, percebi cento e dez anos depois que minha eternidade ainda me pertencia. - O rapaz expressou sua surpresa - Nossa... Quer dizer que você não é tão antiga assim. - Eu respondi: - Tecnicamente, não. Eu pouco vivi nessa época, mas adiantei-me a compreender como as coisas funcionam com a ajuda de alguém, apesar de serem coisas novas não são mais desconhecidas. Eu despertei nas ruínas de Tebas, Amadeo havia poupado-me por algum motivo, mesmo após meu ato de rebeldia. Fui paralisada e assim permaneci em sono longo e profundo por cento e dez anos. Fui despertada por Samael, um membro do meu clã a pedido dos Amigos da Noite o que eu especulo uma conspiração entre meu sire e os Amigos. - Ele me interrompeu: - Deve ter sido assustador passar por isso. - Foi. - Eu respondi - Estava em outro mundo, minha terra natal havia conquistado sua independência, o nome de minha família havia caído no esquecimento, os Anghel deixaram de existir pois não tive herdeiros, se antes quis preservar minha família eu a direcionei ao oblívio. Samuel me consolou e entendeu eu ainda era uma recém criada apesar de ter nascido no século passado, me deu um outro ponto de vista quando me apresentou o novo mundo, a nova Grécia onde aprendi a falar o grego, mas apesar do novo mundo a conhecer eu estava fora de mim mesma, como meu corpo, minha alma não possuía vida e Samael tentou me animar e me apresentar coisas e mais coisas novas, foi algo incrível quando ele me apresentou a tecnologia de inicio, mas não fora o suficiente, para o alivio dele. Já era de seu conhecimento minhas tendencias ocultistas e para me encantar ele me aprofundou em nossas histórias que para mim foi como presentar um brinquedo novo a uma criança triste e isso o agradou. A história sempre foi algo que me fascinou, o misticismo dava o toque mágico que ele é, foi demorado, foi árduo mas minhas lástimas estavam dando lugar à curiosidade insaciável, como uma criança que senta ao lado do contador de histórias e sempre volta no dia seguinte para descobrir mais. Minhas noites foram todas dedicadas ao estudo e pesquisa de onde quer que minha espécie tenha pisado ou botado suas mãos no mundo e no tempo, era tudo que havia me sobrado, era tudo o que me permitia viver novamente uma noite de cada vez, minha própria espécie me fascinava cada vez mais e procurei saber tudo sobre eles viajando com Samael e seu bando para vários cantos do mundo (Ocultismo 4 Cultura Cainita) e eles me mostravam que ser um Vampiro era uma maldição mas não era para ser visto como algo negativo, nós temos nosso lugar do mundo, a aceitação, a compreensão e o aprimoramento de nossa posição era tudo o que precisávamos fazer e saber para chegar ao ponto que todos nós secretamente ansiamos. - Eu mal percebia mas pela primeira vez nessa entrevista minhas voz entonava alegria e satisfação naquela entrevista, eu percebia isso porque meu entrevistador sorria para mim, feliz por eu estar feliz. Ele se encantou facilmente comigo, algo tão diferente e ao mesmo parecido devia ser fascinante para os humanos, eu também pensei assim uma vez, mas essa impressão perdia sua opacidade ao decorrer dos anos. Continuei - Descobrir de onde viemos, se realmente somos o que somos e nosso lugar deveria ser essencial para toda criatura e é por compreender isso que Samael me apresentou trechos do que nós vampiros temos de mais perto de um livro sagrado, o Livro de Nod. O livro estava numa tradução do latim e eu comecei a ter uma base sólida de nossa origem, apesar de ainda crer que tenha muito a ser investigado, foi quando me decidi e comprometi a procurar e a comprovar tudo o que era fato e tudo o que era mito, pois para isso eu tenho a eternidade. (Objetivo Condutor). Abandonei minha humanidade após isso, ela só me causava dor e sofrimento, no lugar adotei a mesma filosofia de Samael e seu bando (Nodista) com eles aprendi também três rituais de unificação de nossos costumes no Sabbat, O Sermão de Cain foi o primeiro que fui ensinada, logo em seguida da Vaulderie, um ritual de união e fraternidade de nossa sociedade e o Ritus de Criação, que é a iniciação de todo novo Vampiro como um próprio Vampiro.(Rituais 1) Além disso eles me ensinaram como agir através da violência quando necessário, seja através de minhas palavras ou de meus atos (Briga 2, Intimidação 2). Quando fui nomeada uma Sacerdote do Sabbat passei a me voluntariar para fazer estes rituais onde necessitavam de um sacerdote e embora nunca tenha conseguido um bando por mim mesma, eu nunca me importei, assim como o primeiro de nós, o exílio e a solidão virou minha meta.
- Você passou a ficar sozinha desde então? - Ele me perguntou curioso e fascinado - Sim, mas não totalmente, meu exílio é da sociedade mortal, mas ainda interajo com minha espécie, mas assim como Caim, eu me propus a ter apenas uma companhia mortal, mas foi mais uma necessidade do que carência, como Caim. Caim teve uma esposa mortal, uma mulher que ele obrigou a ama-lo para sempre com o seu sangue, minha companhia era mais uma ferramenta do que companhia. A juíza Lyanna Lewis tinha os recursos que eu precisei para me adaptar e sobreviver neste mundo sem chamar a atenção desnecessária.(Lacaios 1, Recursos 3) o comércio sempre foi algo vivo tanto no mundo de Caim, quanto meu mundo mortal e o seu, mas isso faz parte da sobrevivência e como Caim, devo ser uma sobrevivente.
- E Amadeo? Você nunca mais o viu? - Eu respondi: - Não. Minha ultima lembrança dele foi quando falhei miseravelmente em tentar destruí-lo. - Ele me retornou outra pergunta: - Acha que ele está vivo? - Tornei a responder: - Ele esteve morto desde que o conheci, não sei dizer se ele sofreu a morte-final, mas acredito que não. Acredito que ele possa estar por aí em algum lugar, não acredito que ele esteja ressentido comigo, caso contrário eu não estaria aqui esta noite - Ele me perguntou: - Você ainda sente raiva dele? - Eu esbocei um leve sorriso e me pus em um breve devaneio antes de responder: - Se não fosse por Amadeo ter insistido em sua campanha para testar meus limites, eu não estaria aqui esta noite. Assim como meu pai mortal, ele é meu pai imortal, antes eu não compreendia seus pensamentos, agora como um membro do meu clã com o conhecimento de nossos costumes eu entendo que o que ele fez foi o melhor. Não guardo ressentimentos, muito pelo contrário, sou grata à ele. - Meu entrevistador assentiu com a cabeça e continuou com as perguntas: - E sobre crucifixos? Agua corrente, alho, prata? - Dei mais uma risada, mas parte dessa risada foi um disfarce e respondi: - Tudo propaganda nossa, para que vocês não possam nos reconhecer, mas se tem algo que é verdade, é que se você me olhar por um espelho não me verá. - Menti ao me referir à prata, estranhamente essa coisa me desagrada fortemente, algo que eu nunca descobri o porque afetava a mim e não a outros de minha espécie, mas essa fraqueza é alvo de minhas pesquisas. (Vulnerabilidade a Prata) Fascinado, o rapaz perguntou-me: - Se importa? - Eu assenti negativamente com a cabeça e ele pegou do bolso um pequeno pedaço de espelho que carregava consigo, ajeitou o ângulo e confirmou a ausência de meu reflexo. Ele se espantou, naturalmente, mas eu via um largo sorriso de alegria e ele me fez outra pergunta: - O que houve com a Ordem Rosacruz? - E eu respondi: - Pouco tempo depois de viver na noite, e antes de descobrir os feitos de Amadeo eu os denunciei aos Amigos da Noite, mas eu nunca soube o que decidiram fazer com eles. - O som da fita se esgotando novamente tinha interrompido nossa prosa.
- Oh, acabou, vou por outra. - E eu interrompi - Não será necessário, disse lhe tudo o que tinha para dizer. - O rapaz olhou para o relógio - Nossa, foi uma história cumprida. Gostaria de lhe perguntar uma coisa, os outros vampiros não ficarão irritados se você divulgar essa história? - Sorri ao jovem rapaz novamente, e respondi - Sim, de fato eles iriam procurar minha cabeça e difamar toda essa gravação, em pouco tempo eu não existiria mais. - Meu entrevistador estava confuso era fácil para qualquer pessoa notar isso - E mesmo assim quer publicar? - E eu respondi: - Oh... Não, essas fitas ficarão em minha posse, agradeço à sua atenção e ao seu trabalho, é de muita valia para minha pesquisa e minhas reflexões quanto ao Exílio. - Eu me levantei e estendi minhas mãos para que ele me entregasse as gravações. Ele olhava para minha mão estendida e para as fitas, existia um apego grandioso com aquela história, era como se fosse a melhor história que tinha gravado até agora, mas ele temia por sua vida e me entregou-as com dor no coração. Eu virei-me de costas para ele caminho até a outra mesa da escrivaninha onde havia minha bolsa e enquanto guardava as sombras próximas à ele começavam a se mover sem que ele reparasse sua presença: - Infelizmente, o senhor também não poderá sair com esse conhecimento. - Eu não estava vendo mas senti quando as sombras manipuladas por mim o agarraram pelo pescoço, como assassinos tenebrosos sufocavam-no enquanto e ele tentava respirar a vida que lhe era negada - Sinto muito ter mentido, de que não lhe faria mal, mas garanto-lhe que toda a minha história é verdadeira. - Ele estava se ajoelhando com a fraqueza e a pressão que as minhas trevas o impunham, seus olhos me diziam o tamanho do medo que passava - Em respeito do seu valor à minha pesquisa irei telefonar para a emergência para que achem seu corpo e possa receber o funeral humano antes que seu corpo decomponha-se. - Ao terminar de arrumar as gravações na minha bolsa vi o corpo de meu entrevistador arrochado e desfalecido ao chão. Olhei-o com indiferença, não via necessidade de dar-lhe uma morte dolorosa, ele era apenas um humano e todos os humanos morriam eventualmente, assim como nós vampiros. Se não descobrirmos como burlar as fraquezas de nossa condição e como coexistir no mundo como nos é devido, seremos tão frágeis e iguais quanto eles, isso é algo que não pode acontecer.
- Qual a quantidade de fita que você trouxe? - perguntei, virando-me agora de modo que o menino pudesse ver meu perfil. - O suficiente para registrar a história de uma vida?
- Certamente, se for uma vida movimentada. Às vezes chego a entrevistar três ou quatro pessoas, numa noite de sorte. Mas tem de ser uma boa história.
- É claro - respondi. - Então, gostaria de lhe contar a história de minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo.
- Ótimo - disse o jovem. E tirou rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. - Estou realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que...
- Não - disse à ele rispidamente. - Não podemos começar desse jeito. Seu equipamento já está pronto?
- Está.
- Então sente-se. Vou acender a lâmpada
- Pensei que os vampiros não gostassem de luz - comentou o rapaz. - Mas caso ache que a escuridão pode ajudar a criar uma atmosfera... - Então, ele parou de falar. Eu o observei de de costas para a janela. O rapaz não conseguia tirar nenhuma informação de minha expressão mas, ainda assim, havia algo em mim que o perturbava. Começou novamente a tentar falar, mas não disse nada. E então viu, com alívio, que eu me dirigi à mesa e apertava o interruptor. A sala foi imediatamente invadida por uma desagradável luz amarela. E o rapaz, fitando-me, não pôde deixar de engolir em seco. Seus dedos bailaram novamente pela mesa, agarrando a borda.
- Meu Deus! - murmurou, fitando-me sem fala. Sou incrivelmente branca e suave, como se tivesse sido esculpida em osso descorado. Meu rosto parecia tão inanimado quanto uma estátua, exceto pelos dois olhos cor-de-mel e brilhantes que examinavam-no atentamente, como se
fossem chamas saindo de um crânio. Eu sorri, quase melancolicamente, e a substância branca e macia de meu rosto se moveu como as linhas infinitamente
flexíveis, mas mínimas, de um desenho animado.
- Compreende? - perguntei suavemente. O rapaz estremeceu, levantando a mão como se quisesse se proteger de uma luz poderosa. Seus olhos passearam lentamente pelo paletó preto, de bom corte, que tinha somente vislumbrado no bar, as longas dobras da capa, o lenço de seda negra amarrado no pescoço, e o brilho do colarinho branco, tão branco quanto minha carne. Fitou-me, espantado, meu cabelo liso e negro, as mechas cuidadosamente penteadas para expor uma perfeito moldura de meu rosto e exibir as orelhas, as mechas que se estendiam até a altura de meu queixo.
- Agora, ainda quer a entrevista? - perguntei a ele. A boca do rapaz ficou aberta, sem emitir nenhum som. Balançava a cabeça. Depois disse: - Quero. - Sentei-me à sua frente e: inclinando-me, disse calma e confidencialmente: - Não tenha medo. Simplesmente ligue o gravador. - E, então, me estendi sobre a mesa. O rapaz se encolheu, com o suor descendo por sua face. Pousei pesadamente a mão sobre o ombro do rapaz, e disse:
- Acredite-me, não lhe farei mal. Quero esta oportunidade. É mais importante para mim do que pode lhe parecer agora. Quero que comece -Retirei a mão e sentei-me calmamente, esperando. O rapaz precisou de algum tempo para enxugar a testa e os lábios com um lenço, verificar se o microfone estava ligado, apertar o botão e dizer que o aparelho estava funcionando. - Você não foi sempre uma vampira, não é?
- Não - Respondi à ele enquanto tentava fitar-me com naturalidade.
- Eu nasci em 1848 quando a Romênia, minha terra natal, ainda era parte do Império Otomano. Eu tinha 32 anos quando a morte me encontrou e convidou-me a caminhar ao seu lado. Meus pais eram camponeses de uma pequena vila no norte chamada Valenkar (Aldeia fictícia).
- Nunca ouvi falar dessa vila, está nos mapas? - Disse o rapaz curioso.
- Não - Respondi à ele em tom sereno - A aldeia nunca teve força econômica, e hoje ela não existe mais, foi consumida pelo abandono, pela terra infértil e os ventos gélidos que impediam o gado de proliferar com vigor, mesmo com o passar de tantos anos a minha terra natal não prosperou e hoje é apenas uma lembrança morta, como eu. Diziam: Eram apenas caipiras. Não possuíam relevância além dos impostos que o povo tinha de pagar, mal era considerada uma vila. A maior parte que não era grande vinha de famílias cristãs remanescentes já que as terras boas estavam destinadas aos muçulmanos mas minha família viveu no paganismo, escolhemos continuar os passos de nossos antepassados druidas para manter viva a herança de nosso povo, mas as pessoas... Acredito que você as conheça, elas temem tudo o que é diferente embora fossemos todos seres humanos. - Eu vi o rapaz assentir com a cabeça, ele retirava um do bolso um maço de cigarro e eu o alertei - Não. - Ele olhou para mim confuso mas entendeu que eu não queria que fumasse - O cheiro te desagrada? - Eu assenti com a cabeça, não queria revelar a ele a fraqueza mais destruidora da minha espécie.
O rapaz guardou o maço nos bolsos, ele ficava mais à vontade comigo à medida que via minhas intensões de simples prosa, ele estava abaixando sua guarda e meu instinto não pode deixar de sentir júbilo por ser tão eficaz em misturar-me entre as ovelhas mesmo sendo um lobo. Ele fez outra pergunta: - Você e sua família eram pagãos. Eles maltrataram vocês? - Eu respondi: - Como animais. Durante séculos minha família conseguiu se proteger escondendo nossa cultura e nossas crenças dos cristãos e dos muçulmanos, mas foi a traição de alguém que amávamos que transformou nossa vida em jaulas de fogo e dor.- Eu estava pensativa quando terminei de falar, meus olhos miravam a face vazia de meu entrevistador. - Nós somos todos vazios, vivos e mortos, mas além de vazios os mortos são exilados e assim devem permanecer, como o primeiro de nós.
O jovem rapaz ajeitava seus óculos e perguntava: - Quem foi o primeiro vampiro? - Eu o olhei e sorri com meus lábios finos, um misto de sarcasmo e agrado por ter recebido uma pergunta sobre um assunto que eu apreciava debater, mas para minha infelicidade aquele rapaz era incapaz de argumentar sobre este tópico e outros relacionados. - Caim. - Eu disse. - Caim? Como na Bíblia? O assassino do irmão Abel? - Eu senti a descrença em suas palavras mesmo que ele tenha acreditado em tudo o que eu disse até agora. Me levantei e ele alterou sua postura, não estava tão confortável quanto pensei que estivesse, mas nada o fiz, caminhei até a janela onde fiquei de costas observando o movimento das ruas noturnas e da vida mortal tão diferente da minha, vida que decidi abandonar para seguir os verdadeiros passos da minha espécie, uma decisão que nunca me arrependi e por isso estou aqui esta noite, com o rebanho registrando minha história, gastando o tempo de minha pesquisa a um dos símbolos tão importantes para entender a maldição que o Pai Sombrio sofreu e abraçou, o exílio.(Nodista)
- Cain foi amaldiçoado pelo Criador Divino, como deve saber. Seus feitos após seu exílio foram grandiosos em uma terra conhecida como Nod. Lá, ele viveu como uma divindade exilada e teve três filhos para compartilhar de sua solidão imortal. Zillah, Irad e Ynosh. Eu passei a maior parte do meu despertar dedicando-me aos estudos e análises de nossa origem. O que nós somos, de onde viemos e para onde vamos? As mesmas perguntas que os humanos fazem para si mesmos nós fazemos a nós, ao menos alguns poucos. Quando se é imortal, fica fácil deixar de se importar com o amanhã, pois ele sempre será o hoje. - Ouvi o som do toca fitas indicar o término de sua gravação, parecia ter acabado muito rápido.
-Espere um minuto, por favor. - Ele dizia para mim e sem nada a falar esperei até que ele trocasse a fita e apertasse o botão de gravação. - Por favor, continue! - Senti a empolgação em sua voz e não pude evitar de sorrir mas virei meu rosto para que ele não visse meu gosto pelo seu interesse em minhas palavras.
- Quando eu era jovem conheci um homem cristão: Ciprian Íon, era um camponês, como eu. Nossos pais passaram a trabalhar juntos em minas de carvão recém descobertas, as metalurgia e a industria ainda não tinha chegado ao nosso país, eramos uma terra atrasada. Conheci Ciprian e passei todas as minhas tardes livres com ele, era a melhor fração dos meus dias. Nossos pais decidiram nos casar quando eu tinha dezesseis anos e Ciprian vinte e três. Eu era tola e ingênua, acreditei que meu amado sentia o mesmo que passei a sentir por ele quando comecei a vê-lo em meus sonhos, e eu estava certa, eu acreditava no amor que ele me jurou mas meu erro foi ter superestimado esse amor e foi quando contei a ele as tradições da minha família. O medo superou toda e unica beleza que vivíamos. Ciprian contou ao pai dele sobre minha família, e ele contou aos colegas de trabalho do meu pai, a notícia se espalhou como doença em uma pequena vila e em dois dias eramos detestados em Valenkar. Tivemos trabalhos recusados, meu pai foi agredido severas vezes, minha honra e de minha mãe quase foi maculada. Eu passei a detestar essas pessoas com todas as minhas forças, não há nada mais cruel e doloso que o preconceito (Intolerância)- Virei-me ao rapaz e vi em seus olhos o que é chamado de "empatia", ele se compadecia de minha história. Levemente ri daquele olhar - Está com pena de mim? - Perguntei. Ele tirou os óculos e limpou-os com a camisa de algodão branca - Não... Eu só... Tenho de concordar com você. As pessoas fazem coisas terríveis por preconceito. - Ele botava novamente os óculos e apoiava os cotovelos em cima da mesa, semelhante a um aluno atencioso. - Fazem. - Respondi - Faz parte da natureza, assim como eu preciso beber sangue para sobreviver, as pessoas precisam expressar sua raiva de alguma forma, mas é algo que até mesmo a grande maioria da minha espécie necessita. Nós todos fomos humanos um dia e por mais que os séculos nos façam esquecer de nossa humanidade, apenas as coisas que são consideradas positivas do seu ponto de vista caem no oblívio. As trevas nos corações de cada vampiro ficam mais fortes. - Ele respondeu: - Você não parece ser alguém má. - E eu retruquei - Não, eu não sou, ser o que sou hoje não me é considerado mal, nem a nenhum outro vampiro que segue filosofias alternativas às minhas ou às suas, mas de acordo com sua filosofia somos apenas monstros. Permita-me continuar - O rapaz assentiu se ausentando a continuar o debate, ainda tinham fitas a gravar - Nós decidimos que era tempo de abandonarmos Valenkar para sempre, estávamos arriscando viagens com pouca comida, pouca água e nenhuma proteção, mas nós partimos mesmo assim e por mais que o tormento de minha família tivesse findado a um preço alto, os meus só se intensificaram, eu me amargurei por muito tempo pelo que fiz minha família passar e decidi que minha mente infantil e sonhadora era um estorvo, prometi dar à minha família o dobro do que possuíam foi assim que comecei a ficar ambiciosa e abandonar meus desejos para obter poder, proteger e construir duas vezes melhor o que eu destruí.
- Nosso novo inicio deu-se em meio à fome pois tínhamos pouco, por sorte nós conseguimos encontrar estalagens no caminho e viajantes bem intencionados que foram bondosos conosco nos dando comida e abrigo durante a passagem. Meu pai era orgulhoso e fazia questão de compensar com algum trabalho, não ficávamos mais do que um dia em cada lugar, tivemos de evitar rotas da guarda imperial para que não descobrissem nossos pertences hereges em suas inspeções. Foi duro, mas conseguimos. Nós chegamos à Grande Valáquia após meses de viagem mas nas cidades as pessoas são mais frias que no interior, não tivemos a mesma sorte de conseguir abrigo para todos, não com prontidão. Cada trabalho era uma vaga, eu não tinha a força para realizá-los nem o conhecimento, nem minha mãe, meu pai tinha como sua força e experiência como camponês, a força era útil mas a experiência como camponês nem tanto pois o comércio era abrangente, ninguém mais plantava ou colhia nas cidades, mas ele conseguiu um emprego como assistente ferreiro, o ferreiro era um homem honesto e permitiu que meu pai dividisse o quarto conosco temporariamente. Para ajudar meu pai eu também parti em busca de emprego e foi quando vi pela primeira vez um lugar que continha tudo o que eu procurava... Uma biblioteca. Entrei na biblioteca e me encantei com o que vi mas também fiquei triste pois eu não era alfabetizada, senti-me diminuta diante daquelas pessoas bem vestidas e cultas, inferior, impotente... Mas eu queria ser como eles, queria ser inteligente e ter uma educação digna para ter poder e nunca mais passar pelos apuros que fiz minha família passar. A bibliotecária, assim como o ferreiro, era uma mulher bondosa, ela reparou na figura solitária, pequena e ignorante naquele vasto domínio do saber, fora ela quem se apiedou de mim e me ensinou a ler e a escrever e após isso me ofereceu um emprego como sua assistente. Nossa vida começou a melhorar e eu passei a morar na biblioteca dando mais espaço para meus pais. Durante meu tempo livre, normalmente na madrugada, passei a ler e a ler muitos livros, em especial, história e filosofia, o passado era algo que me intrigava, a arte acompanhava seus passos assim como a filosofia, estão interligados e sempre estarão e junto delas, se olhar profundamente, encontrará os conhecimentos obscuros das culturas e do mundo e isto roubou toda minha atenção o que era um desvio em meus objetivos e o inicio de outros.
- Haviam livros que não eram traduzidos para o Romeno, então aprendi a língua mais próxima através de um dicionário, o latim. Com o latim abri muitas portas para a minha mente e passei a entender o pensamento cristão lendo a bíblia judaico-cristã, foi uma leitura agradável e vendo a justificativa de seus rituais, cerimonias e tradições passei entender o medo e o escárnio que sentiam de nós, mas não entenda errado, isso não me fez odiá-los menos. Da mesma forma, aprendi o Árabe para poder compreender melhor como funcionava o Império em que vivia e poder lidar com os muçulmanos. Com o tempo passei a conversar com os estudiosos que chegavam à biblioteca, indicando livros e debatendo sobre assuntos variados, mas a política era algo que não era adepta apesar de minha compreensão do todo.
- As coisas estavam indo bem, quando recebi a notícia de meu pai que minha mãe estava doente. Câncer de mama. Os médicos não podiam fazer nada, na verdade, eles não queriam fazer pois não tínhamos dinheiro para o tratamento então eu mesma passei a procurar uma solução na biblioteca, passei a estudar medicina e fazer perguntas a médicos e especialistas que passavam. Estudei dia e noite, minha empregadora compreendia minha situação e nada podia fazer além de permitir que eu tentasse buscar uma solução por mim mesma... Como parte de meus estudos medicinais autônomos passei a sugerir secretamente a pacientes pobres tratamentos fáceis com ervas naturais que funcionavam bem, mas por mais que eu tivesse aprendido, por mais que eu tivesse me esforçado não foi o suficiente. Minha mãe faleceu em 1873.- Ouvimos a fita parar de rodar, eu pacientemente esperei meu entrevistador trocar a fita - Eu sinto muito. Também perdi minha mãe a alguns anos, sei como é difícil. - Eu respondi à ele, não sentia a empatia por ele que ele sentia por mim, não me apiedei de sua tristeza como ele se apiedou do que já me foi importante mas que hoje é tão irrelevante que mal lembro como era o rosto daquela que me deu a vida. As fitas foram trocadas, ele apertou o botão e continuei: - Novamente acreditava ter falhado com a minha família, ajudar meu pai era a única forma de corrigir meu erro. Decidida a crescer em minha vida e trazer meu pai junto ao topo deitei-me com um médico idoso viúvo que vinha com relativa frequência buscar livros e cuidei dele como pai e amante, em pouco tempo casei-me com ele. Não foi tão ruim, precisávamos um do outro, ele necessitava alguém que cuidasse dele e era sozinho, seus filhos tinham lhe abandonado depois que sua esposa faleceu. Meu pai não aceitou que eu fizesse isso, mas ele não pode me impedir, meu desejo de melhorar o patamar de minha vida e da dele já havia ultrapassado qualquer limite e eu faria de tudo pra conseguir. Ele me ensinou coisas sobre a medicina, me permitiu a prática de cirurgia e autópsias,(Medicina 3) ele fazia de tudo por mim e eu faria de tudo por ele mas eu havia falhado novamente com a minha família pois meu pai negava-se a usufruir dessa farsa para benefício próprio. Meu pai era um bom, honrado e justo, eu já deveria saber que ele seria teimoso e estúpido o suficiente para que este meu esforço também fosse em vão. Quando meu marido faleceu eu fiquei com toda sua herança, seus filhos voltaram para reclamarem mas eu não os dei nenhum tostão do dinheiro que agora me pertencia. Mesmo que lhes fosse direito meu coração já havia se enchido de frieza e clamava por posses. Havia passado pela minha cabeça envenena-lo para adiantar minha recompensa mas não o fiz pois ele já não duraria muito mais neste mundo, era melhor que eu não levantasse olhos para sua morte. Fui paciente. Ah sim... Devo dizer, na época estes pensamentos me tiraram o sono pois sabia que seria capaz de fazer, hoje já são naturais como respirar para você.- O rapaz engoliu a seco quando eu revelei que matar não é mais um problema, mas ele sabia que eu queria que ele continuasse vivo para continuar com o que demos inicio, essa foi a segurança que ele precisava para se manter onde estava. - Os filhos de meu marido e suas famílias ficaram revoltados, ele tinha me deixado uma herança magnifica, algo que nenhum dos seus pentelhos imaginavam e se arrependeram de abandonar o pai para que uma mulher qualquer pudesse tomar deles, meu marido amava os filhos apesar de terem-no abandonado, ele era um bom homem, eu sabia que ele ficaria insatisfeito de me ver negar conforto para eles se tivessem se arrependido dos maus tratos, ele era um tolo no final das contas já que o verdadeiro arrependimento não havia acontecido, e mesmo sabendo de sua vontade o contrariei. Meu pai ficou contra mim, ele não me reconhecia mais, nós brigamos e na noite seguinte ele foi assassinado. Se antes eu me sentia fracassada pela minha família então senti-me no fundo do posso pois havia falhado miseravelmente em dar o poder e o conforto à minha família, tudo o que havia conseguido, todo o conhecimento e a riqueza foram próprios, nada do que havia tomado e conquistado tinha sido de beneficio para quem eu amava, para piorar os filhos de meu marido passaram a tornar minha vida um inferno, difamando-me nas ruas, implantando provas incriminadoras para que a guarda me investigasse, eu não esperava tal coisa e não sentia-me com mais nada a perder, era um jogo e nada mais me restava além de jogar, mas eu jogava mais baixo que eles. Contratei mercenários e ladrões para assassina-los e implantar provas novas e cartas incriminadoras suicidas perto de seus cadáveres, o trabalho foi feito e os meninos não mais me incomodaram, aquele havia sido um jogo rápido, que eu era nova e não tive paciência de aprender a jogar certo, o que me importou no final foi vencer e ser deixada em paz com minha própria amargura. Cedo ou tarde meu dinheiro acabaria então adentrei na academia medica e com o conhecimento e prática que já possuía licenciei-me médica e com esse poder e conhecimento em mãos abri um serviço secreto de eutanásia com ervas que eu sabia misturar. Felizmente eu não tinha mais respeito pela vida como antes, mas não via alegria no sofrimento alheio por isso a eutanásia veio bem a calhar. Eu não tinha mais nada que pudesse fazer além continuar minha vida, um passo de cada vez, eu ainda tinha amigos mas eles não me eram o suficiente, os visitava mas não acabava com a minha solidão e então minha antiga empregadora me entregou um livro de conhecimentos ocultos que ela escondia, ela sabia que ler e conhecer o obscuro me alegrou na época e tinha tornado-se um objetivo secundário para mim, agora que minha família estava morta era o que me restava.
- Graças ao livro e as referências que peguei com ele, cheguei a viajar para a Bucareste onde conheci a Ordem Rosacruz, apesar da ordem ter os cristão como a maioria de sua composição, eram os protestantes, pessoas de caráter mais digno. Dentro da sociedade elevei meu potencial místico onde foquei e descobri sobre uma ordem Tradicional de Magos que conquistou a imortalidade, a Ordem de Hermes, apesar de serem agora criaturas malditas, conhecidos como Vampiros, os Tremere ainda tinham deixado rastros em sua transição. Aprendi muitas coisas principalmente sobre os Vampiros, mas até onde eram reais eu não sabia dizer. O Rosacrucianos eram arcanos, estudioso do mundo místico e sobrenatural, apesar de não serem de fato magos eram feiticeiros e podiam realizar rituais de efeitos menores derivados de coisas que conheciam como "Focos", eram feitiços, não a Magika que compunham suas atividades e pesquisas. Meus estudos me levaram até uma forma de me unir minha mente ao espaço tempo com esses rituais e dar a mim mesma uma habilidade que pode ser descrita como um Oraculado. Realizei o ritual sem o conhecimento da Ordem e foi um sucessos. (Habilidade Oracular). Tais habilidades são naturais de um próprio espírito e segundo teorias alguém que não nasceu com este dom só o consegue após receber um choque espiritual como uma experiência de quase morte, os Rosacrucistas não gostavam de interferir mais do que o necessário e graças a essa habilidade eu descobri de antemão que as mesmas trevas que atormentaram uma vez me entregaria, eles saberiam e me perseguiriam então eu fugi levando comigo alguns livros, atrai os que me perseguiram até uma armadilha e incendiei o lugar com livros falsos. Foi na noite seguinte que a morte surgiu pra mim como a sombra: Amadeo. Ele me ofereceu a imortalidade e as sombras como sua ferramenta, eu aceitei e desde 1880 estive morta.
Mais uma vez escutamos as fitas findarem, e como de praxe o rapaz trocou as fitas. - Impressionante! Sua vida foi cheia de perigos. - Eu concordei com a cabeça: - A maior parte deles foram perigos que eu mesma me pus, ou assim fui incentivada a pensar. - Confuso, meu entrevistador perguntou: - Como assim? - Retruquei: - Logo entenderá. Podemos continuar? - Ele respondeu: - Sim, por favor!
- Amadeo me deu um refúgio para me esconder do sol, quis tirar proveito de minha nova capacidade e não vi motivos para não dar a ele o que queria. Ele me introduziu ao Sabbat, uma sociedade de Vampiros que tem como filosofia a liberdade de nossa espécie e sua supremacia, há um outro objetivo por detrás dessa sociedade, mas isto será outra história mais longa. Amadeo me ensinou sobre minha condição, como me alimentar, o que era importante nesta nova vida e o que não era. Assim como era de se esperar, viver com Amadeo era o céu e o inferno ao mesmo tempo. As coisas novas que aprendi eram incríveis e facilmente eu abracei o vampirismo, mas como muitas crianças da noite, com o tempo eu vi que ser um imortal era uma maldição, vi a amargura que era viver nas trevas, que jamais poderia conhecer outras pessoas, apesar de toda minha imortalidade eu estava enjaulada na morte para sempre, mas Amadeo vivia sua não-vida com uma paz inquietante, mas Amadeo era um sacerdote de nossa sociedade ele me ajudou a me encontrar no meio da noite, ele me apresentou os Amigos da Noite, é o conselho interno de nossa Linhagem. Cada linhagem, ou como dizemos, cada clã tem características e cultura própria, nós, do clã Lasombra, manipuladoras das verdadeiras trevas e nativos dos mares temos os Amigos da Noite e as Cortes de Sangue para resolver nossos assuntos sem incluir o Sabbat. Nós nos mudamos para as Ilhas Britânicas onde eu aprendi a falar o meu inglês foi lá que tive uma visão das mesmas trevas que tinham me atacado em vida, denunciando-me para cada vez mais obter mais inimigos, ensinando-me como ser uma sombra ainda mais escura que ela mesma, foi assim que interpretei que Amadeo era o inimigo que havia assassinado meu pai, coagido médicos a não terem a bondade de tratar minha mãe, incentivado os filhos de meu marido a me atormentarem e informado aos Rosacrucistas de minhas ambições. Enfureci-me no mesmo instante, enfrentei Amadeo e perdi, fui envolta nos sombras do torpor e como surpresa, percebi cento e dez anos depois que minha eternidade ainda me pertencia. - O rapaz expressou sua surpresa - Nossa... Quer dizer que você não é tão antiga assim. - Eu respondi: - Tecnicamente, não. Eu pouco vivi nessa época, mas adiantei-me a compreender como as coisas funcionam com a ajuda de alguém, apesar de serem coisas novas não são mais desconhecidas. Eu despertei nas ruínas de Tebas, Amadeo havia poupado-me por algum motivo, mesmo após meu ato de rebeldia. Fui paralisada e assim permaneci em sono longo e profundo por cento e dez anos. Fui despertada por Samael, um membro do meu clã a pedido dos Amigos da Noite o que eu especulo uma conspiração entre meu sire e os Amigos. - Ele me interrompeu: - Deve ter sido assustador passar por isso. - Foi. - Eu respondi - Estava em outro mundo, minha terra natal havia conquistado sua independência, o nome de minha família havia caído no esquecimento, os Anghel deixaram de existir pois não tive herdeiros, se antes quis preservar minha família eu a direcionei ao oblívio. Samuel me consolou e entendeu eu ainda era uma recém criada apesar de ter nascido no século passado, me deu um outro ponto de vista quando me apresentou o novo mundo, a nova Grécia onde aprendi a falar o grego, mas apesar do novo mundo a conhecer eu estava fora de mim mesma, como meu corpo, minha alma não possuía vida e Samael tentou me animar e me apresentar coisas e mais coisas novas, foi algo incrível quando ele me apresentou a tecnologia de inicio, mas não fora o suficiente, para o alivio dele. Já era de seu conhecimento minhas tendencias ocultistas e para me encantar ele me aprofundou em nossas histórias que para mim foi como presentar um brinquedo novo a uma criança triste e isso o agradou. A história sempre foi algo que me fascinou, o misticismo dava o toque mágico que ele é, foi demorado, foi árduo mas minhas lástimas estavam dando lugar à curiosidade insaciável, como uma criança que senta ao lado do contador de histórias e sempre volta no dia seguinte para descobrir mais. Minhas noites foram todas dedicadas ao estudo e pesquisa de onde quer que minha espécie tenha pisado ou botado suas mãos no mundo e no tempo, era tudo que havia me sobrado, era tudo o que me permitia viver novamente uma noite de cada vez, minha própria espécie me fascinava cada vez mais e procurei saber tudo sobre eles viajando com Samael e seu bando para vários cantos do mundo (Ocultismo 4 Cultura Cainita) e eles me mostravam que ser um Vampiro era uma maldição mas não era para ser visto como algo negativo, nós temos nosso lugar do mundo, a aceitação, a compreensão e o aprimoramento de nossa posição era tudo o que precisávamos fazer e saber para chegar ao ponto que todos nós secretamente ansiamos. - Eu mal percebia mas pela primeira vez nessa entrevista minhas voz entonava alegria e satisfação naquela entrevista, eu percebia isso porque meu entrevistador sorria para mim, feliz por eu estar feliz. Ele se encantou facilmente comigo, algo tão diferente e ao mesmo parecido devia ser fascinante para os humanos, eu também pensei assim uma vez, mas essa impressão perdia sua opacidade ao decorrer dos anos. Continuei - Descobrir de onde viemos, se realmente somos o que somos e nosso lugar deveria ser essencial para toda criatura e é por compreender isso que Samael me apresentou trechos do que nós vampiros temos de mais perto de um livro sagrado, o Livro de Nod. O livro estava numa tradução do latim e eu comecei a ter uma base sólida de nossa origem, apesar de ainda crer que tenha muito a ser investigado, foi quando me decidi e comprometi a procurar e a comprovar tudo o que era fato e tudo o que era mito, pois para isso eu tenho a eternidade. (Objetivo Condutor). Abandonei minha humanidade após isso, ela só me causava dor e sofrimento, no lugar adotei a mesma filosofia de Samael e seu bando (Nodista) com eles aprendi também três rituais de unificação de nossos costumes no Sabbat, O Sermão de Cain foi o primeiro que fui ensinada, logo em seguida da Vaulderie, um ritual de união e fraternidade de nossa sociedade e o Ritus de Criação, que é a iniciação de todo novo Vampiro como um próprio Vampiro.(Rituais 1) Além disso eles me ensinaram como agir através da violência quando necessário, seja através de minhas palavras ou de meus atos (Briga 2, Intimidação 2). Quando fui nomeada uma Sacerdote do Sabbat passei a me voluntariar para fazer estes rituais onde necessitavam de um sacerdote e embora nunca tenha conseguido um bando por mim mesma, eu nunca me importei, assim como o primeiro de nós, o exílio e a solidão virou minha meta.
- Você passou a ficar sozinha desde então? - Ele me perguntou curioso e fascinado - Sim, mas não totalmente, meu exílio é da sociedade mortal, mas ainda interajo com minha espécie, mas assim como Caim, eu me propus a ter apenas uma companhia mortal, mas foi mais uma necessidade do que carência, como Caim. Caim teve uma esposa mortal, uma mulher que ele obrigou a ama-lo para sempre com o seu sangue, minha companhia era mais uma ferramenta do que companhia. A juíza Lyanna Lewis tinha os recursos que eu precisei para me adaptar e sobreviver neste mundo sem chamar a atenção desnecessária.(Lacaios 1, Recursos 3) o comércio sempre foi algo vivo tanto no mundo de Caim, quanto meu mundo mortal e o seu, mas isso faz parte da sobrevivência e como Caim, devo ser uma sobrevivente.
- E Amadeo? Você nunca mais o viu? - Eu respondi: - Não. Minha ultima lembrança dele foi quando falhei miseravelmente em tentar destruí-lo. - Ele me retornou outra pergunta: - Acha que ele está vivo? - Tornei a responder: - Ele esteve morto desde que o conheci, não sei dizer se ele sofreu a morte-final, mas acredito que não. Acredito que ele possa estar por aí em algum lugar, não acredito que ele esteja ressentido comigo, caso contrário eu não estaria aqui esta noite - Ele me perguntou: - Você ainda sente raiva dele? - Eu esbocei um leve sorriso e me pus em um breve devaneio antes de responder: - Se não fosse por Amadeo ter insistido em sua campanha para testar meus limites, eu não estaria aqui esta noite. Assim como meu pai mortal, ele é meu pai imortal, antes eu não compreendia seus pensamentos, agora como um membro do meu clã com o conhecimento de nossos costumes eu entendo que o que ele fez foi o melhor. Não guardo ressentimentos, muito pelo contrário, sou grata à ele. - Meu entrevistador assentiu com a cabeça e continuou com as perguntas: - E sobre crucifixos? Agua corrente, alho, prata? - Dei mais uma risada, mas parte dessa risada foi um disfarce e respondi: - Tudo propaganda nossa, para que vocês não possam nos reconhecer, mas se tem algo que é verdade, é que se você me olhar por um espelho não me verá. - Menti ao me referir à prata, estranhamente essa coisa me desagrada fortemente, algo que eu nunca descobri o porque afetava a mim e não a outros de minha espécie, mas essa fraqueza é alvo de minhas pesquisas. (Vulnerabilidade a Prata) Fascinado, o rapaz perguntou-me: - Se importa? - Eu assenti negativamente com a cabeça e ele pegou do bolso um pequeno pedaço de espelho que carregava consigo, ajeitou o ângulo e confirmou a ausência de meu reflexo. Ele se espantou, naturalmente, mas eu via um largo sorriso de alegria e ele me fez outra pergunta: - O que houve com a Ordem Rosacruz? - E eu respondi: - Pouco tempo depois de viver na noite, e antes de descobrir os feitos de Amadeo eu os denunciei aos Amigos da Noite, mas eu nunca soube o que decidiram fazer com eles. - O som da fita se esgotando novamente tinha interrompido nossa prosa.
- Oh, acabou, vou por outra. - E eu interrompi - Não será necessário, disse lhe tudo o que tinha para dizer. - O rapaz olhou para o relógio - Nossa, foi uma história cumprida. Gostaria de lhe perguntar uma coisa, os outros vampiros não ficarão irritados se você divulgar essa história? - Sorri ao jovem rapaz novamente, e respondi - Sim, de fato eles iriam procurar minha cabeça e difamar toda essa gravação, em pouco tempo eu não existiria mais. - Meu entrevistador estava confuso era fácil para qualquer pessoa notar isso - E mesmo assim quer publicar? - E eu respondi: - Oh... Não, essas fitas ficarão em minha posse, agradeço à sua atenção e ao seu trabalho, é de muita valia para minha pesquisa e minhas reflexões quanto ao Exílio. - Eu me levantei e estendi minhas mãos para que ele me entregasse as gravações. Ele olhava para minha mão estendida e para as fitas, existia um apego grandioso com aquela história, era como se fosse a melhor história que tinha gravado até agora, mas ele temia por sua vida e me entregou-as com dor no coração. Eu virei-me de costas para ele caminho até a outra mesa da escrivaninha onde havia minha bolsa e enquanto guardava as sombras próximas à ele começavam a se mover sem que ele reparasse sua presença: - Infelizmente, o senhor também não poderá sair com esse conhecimento. - Eu não estava vendo mas senti quando as sombras manipuladas por mim o agarraram pelo pescoço, como assassinos tenebrosos sufocavam-no enquanto e ele tentava respirar a vida que lhe era negada - Sinto muito ter mentido, de que não lhe faria mal, mas garanto-lhe que toda a minha história é verdadeira. - Ele estava se ajoelhando com a fraqueza e a pressão que as minhas trevas o impunham, seus olhos me diziam o tamanho do medo que passava - Em respeito do seu valor à minha pesquisa irei telefonar para a emergência para que achem seu corpo e possa receber o funeral humano antes que seu corpo decomponha-se. - Ao terminar de arrumar as gravações na minha bolsa vi o corpo de meu entrevistador arrochado e desfalecido ao chão. Olhei-o com indiferença, não via necessidade de dar-lhe uma morte dolorosa, ele era apenas um humano e todos os humanos morriam eventualmente, assim como nós vampiros. Se não descobrirmos como burlar as fraquezas de nossa condição e como coexistir no mundo como nos é devido, seremos tão frágeis e iguais quanto eles, isso é algo que não pode acontecer.
7. Banco de Dados
Última edição por Lady Raven em Qua maio 31, 2017 12:39 am, editado 2 vez(es)
Convidado- Convidado
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Olá denovo. Desculpe o meu erro de interpretação. Tirei a qualidade da voz encantadora, o defeito da repulsa a alho e 1 ponto de recursos
Convidado- Convidado
Re: Raven - Lasombra - Sabbat
Ficha aprovada!
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