Vampiros - A Máscara
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Contando o passado à um amigo - Uma criança assustada - No seculo passado

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Mensagem por Appollo Dragúlia Sex Abr 01, 2016 5:12 pm






Sr. e Sra. Wagner, vocês serão levados sob custódia...
Eu não consegui ouvir o restante da frase... Eles agrediram meus pais. Não consegui fazer nada. Eu tinha apenas 7 anos, mas me lembro bem. Houve muito sangue. Eles ( os homens fardados) pareciam usar algo de ferro nas mãos. Cada golpe na cabeça do meu pai me fazia fechar os olhos. Eles colocaram os braços da minha mãe pra trás e quebraram sem o mínimo  esforço.

Eu fiquei um tempo na casa do meu tio Jonas até que meus pais pudessem se recuperar. Foram meses comendo coisas "exóticas", e ouvindo um blá blá blá sobre a importância de seguir a tradição religiosa da família.

Me lembro de  começar a frequentar a Igreja pra poder ir a biblioteca no sub solo. Ah, haviam também as aulas de músicas, muito produtivas. Nada acadêmico, era um fator secundário pra eles. Na verdade, eu estava "fugindo da responsabilidade", na visão deles, ao "perder tempo" com aqueles livros, que de certa forma eram proibidos. Eles me queriam estudando filosofia, sociologia e teologia... era um saco.
Quando voltei pra casa, meus pais estavam diferentes. Eles pareciam não me enxergar. Não olhavam pra mim como antes. Nem sentiram minha falta. Foram  6 meses de ausência. Mas eu estava feliz por estar de volta em casa.

Meu pai falava de tudo um pouco, ele era muito sábio, mas parecia que seus olhos brilhavam quando o assunto era arte poética e música. Era um pedagogo nato.

Eu não conseguia sair na rua. Tinha medo dos caras de farda.
Tinha vislumbres fugazes sobre aquela noite. Aliás, eu preferia nem lembrar deles. Era muito difícil.

Aos 13 anos eu foi meu bar-mitzvah. Me lembro de ter visto gente de vários lugares. Digo isso porque Judeus tem características peculiares, eles usavam estilos de roupas bem diferentes dos alemães, e cá pra nós, é fácil descrever um alemão. Agora que mencionei, eu não pareço muito com um Judeu não. Estranho não ter ponderado antes. Me sinto estranho agora.
Bem, voltando. Onde eu estava?
Ah sim, os alemães faziam parte da sinagoga também. Me lembro de ter visto alguns. Mas eu ficava distraído com toda aquela falácia. Eu queria mesmo era que aquilo acabasse pra mim ir pra casa. Dia cansativo, mas agora eu era de maior, precisava entender que era necessário. Pelo menos entender que era importante pra eles.

Meus pais tinham uma empresa de lã e algodão pra comercialização de roupas mas, eu soube que eles estavam mal dos negócios por lá. Eu mesmo comecei a me preparar pra trabalhar com eles mas a empresa fechou.
Me lembro de um dia ter ido até lá uma vez pra saber como era.
Sozinho, à noite, e poucas luzes faziam o ambiente meio sombrio. Andei pelas caixas enormes de mercadorias. Vi uma caixa aberta e dei uma olhada dentro. Não pareciam nada com roupas. Haviam fardas e equipamentos militares. Eu sabia que eram eles quem estavam acabando com os negócios dos meus pais. Olhei ao redor e as máquinas não eram as mesmas também. Logo, cheguei perto do pátio. Haviam escadas pro andar de baixo, fui atraído pela luz. Aquilo deveria estar fechado e escuro. Ao descer as escadas fui inclinado à um som que lembrava canto-luterano e segui. Um som abafado. - O que será que estão fazendo ali embaixo se a empresa fechou? Pensei comigo. Era um clima estranho e eu já não me sentia bem. Parecia um ritual. Olhando de longe, me deparei com um ser estranho. Ele tinha um rosto meio leproso e dentes como de rato. Ele estava falando alguma coisa que não consegui identificar. Haviam umas 10 pessoas ali. Não sei se ele me viu mas eu me escondi no corredor pra olhar o que faziam. Eu estava realmente com medo, mas curioso também, então olhei outra vez e vi uma mulher colocando uma aranha na boca. Sim, deu pra ver. Era uma aranha enorme.Em seguida, a vi subir pelas paredes até a janela que dava no andar de cima.
Eu tirei os sapatos e saí o mais rápido que pude.  Voltei pra casa pra contar aos meus pais o que vi mas eles não estavam. Havia um bilhete dizendo que eles fariam uma viajem pra Polônia à negócios e eu teria que ficar na casa do tio Jonas.
- Geöffnet 14.  ( - Abram a 14).
Depois te conto o resto ok? Tenho que ir...
Appollo Dragúlia
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Mensagem por Appollo Dragúlia Sáb Abr 02, 2016 8:45 pm

...
Meu tio não era uma pessoa ruim. Mas era chato porque ele queria enfiar na minha cabeça, coisas sobre hierarquia, rituais e cerimônias, já eu queria treinar nos violinos. É sério. Eu estava preocupado com a ausência dos meus pais, e pensado nos babacas de farda. Cogitando o que seria aquele negócio no subsolo da empresa e me sentindo estranho com as notícias sobre o mundo lá fora. Nazismo é um termo que me deixa confuso. Então, prefiro me distrair com arte musical. Ludwig van Beethoven me cativara. Me anestesiava a dor interna.
Um ano se passara desde que meus pais se foram. Fora a saudade, um sentimento ruim me consumia. Eu temia não vê-los. Minha vida era solitária por dois motivos: Eu tinha obrigações intelectuais que me distanciavam da mentalidade dos jovens que conhecia, e também tinha medo de sair na rua. O céu estava sempre escuro. Não existiam dias ensolarados. o clima era pesado.
Certa vez, fomos á uma igreja romana. Era uma catedral incrível e eu seria músico para a cerimônia.

Eu fiquei empolgado porque o piano ficava no centro da igreja. Tinha um timbre lindo. Eu iria impressionar a todos com uma música que fiz.



Estralei os dedos enquanto frades, freiras e bispos se organizavam eu comecei a ensaiar algo. Enquanto tocava sentia uma angústia profunda. Olhava pro lado e via algumas pessoas com semblante frio, outras com olhos lacrimejando e na galeria alguns me olhando com uma expressão de ódio. Eu estava realmente empolgado mas parecia que minhas músicas estavam causando um efeito perturbador nas pessoas. Eu ouvi barulhos de gritos e tiros vindo do lado de fora da igreja mas não parei de tocar. Num dado momento vi os nazistas, embora não estivessem com a farda, eu sabia que eram eles. Todos eles tinham aquele aspecto de iludido pelo poder. Aquele semblante tolo de homens que pensam ter poder mas não passam de marionetes. Eles me davam arrepios e traziam a memória as cenas de dor da minha infância.
Tentei tocar algo mais calmo mas o povo parecia agitado. Foi quando ouvi um grito. Uma voz feminina, que ao gritar, fez  as outras pessoas gritarem mais alto, e de repente, aquele lugar parecia uma expressão do inferno. Até eu sentia vontade de gritar e gritei mas não consegui largar o piano. Eu toquei mais alto pra ver se o som cobria a gritaria, porém tudo ficou mais tenso.  Começaram a cair pessoas da galeria e outras corriam em direção da porta. Então vi sangue escorrendo pelo chão, até meus pés. Foi quando  tudo escureceu do nada. Sim do nada. Eu perdi a respiração e desafinei legal, mesmo tendo certeza de que decorei a partitura, o som saía opaco então me levantei, mesmo sem enxergar nada, comecei a correr em direção que pensava ser a da saída, e quase sem fôlego, gritei pelo meu tio... nem eu mesmo me ouvi. Perdi as forças e caí. Apaguei.
Quando acordei estava numa carroça. Era uma carroça familiar mas não me lembrava direito quem era o dono. Custou muito pra lembrar por causa do que houve anteriormente. Eu estava apavorado por causa de tudo aquilo.
- Sou eu.
Era um amigo da família.
- Onde está o tio Jonas? O que houve na igreja? Porque estou aqui?
- Do que está falando garoto? Eu fui te chamar pra ir buscar seus pais e você desmaiou. Acho que ficou emocionado não foi? De que igreja você ta falando? Bem que seu tio falou que você estava estranho.
- Mas... mas... mas tá tudo bem com ele? Ele está vivo?
- Claro que está.
-Eu vim te buscar pessoalmente pra sua nova casa. Seus pais compraram imóvel próximo a capital, e eu vou te levar até eles. Assim vocês ficam distantes do...
E se calou.
Eu juro que fiquei confuso. Parecia tão real. Eu tinha minhas dúvidas se esse homem falava a verdade. Mas ele conhecia o meu tio. Eu me lembro de o ter visto algumas vezes em algum lugar.
Me deitei e esperei a viajem acabar.
- Geöffnet 14. (Abram a 14)
Preciso ir meu amigo. Mas deixa eu te contar uma coisa que me deixou mais perturbado enquanto seguia viajem.
Olhei ligeiramente pros meus pés e... eles estavam sujos de sangue.
- Komm Junge, tun es nicht berühren. (- Anda garoto, e não encosta "nisso" - "o arame farpado").
Appollo Dragúlia
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