Vampiros - A Máscara
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O que os prelúdios convencionais não contam

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Mensagem por Padre Judas Sáb Mar 23, 2013 5:34 pm

Um Vulto na Multidão

ㅤㅤÀs vezes o Universo sacaneia a gente. E quando eu digo que sacaneia, sacaneia pesado. Eu me recuso à acreditar que eu seja o mais sacaneado nessa história, e é isso que me dá forças pra continuar. Em algum lugar desse planeta, deve ter um cara fodido, sem braço, sem perna e o caralho à quatro. E se esse cara consegue, eu também consigo. Vou te contar a minha história.

ㅤㅤEu era o cara mais normal possível. Meus pais sempre tiveram que batalhar um bocado para me dar a vida boa que eu sempre tive. Minha mãe era uma enfermeira do governo, e ganhava razoavelmente bem. Meu pai chegou a trabalhar com política, assessorando candidatos ao parlamento, e teve até uma época que ele dirigiu um pequeno hospital da cidade - apesar de não ter muito estudo -, mas no geral trabalhava mais ou menos nas mesmas coisas que minha mãe. Tive uma infância normal digna de uma criança de classe-média. Apesar de não ter tudo que queria, tinha tudo o que precisava. Fui um aluno exemplar até o secundário, e mesmo depois conseguia sempre passar de ano - mesmo que raspando -.

ㅤㅤComo pode ver, nada de especial... Meus pais se separaram quando eu tinha seis anos, aos quatorze descobri que tinha gastrite, um ano depois dei meu primeiro beijo. Terminei o Ensino Médio, e mesmo com todos aqueles colegas levei poucos amigos para a vida. Apenas meia dúzia, e um amor não-correspondido. Mesmo me relacionando com muitas mulheres, Desireé sempre foi a mulher da minha vida, e nunca passou uma noite em que eu não lembrasse dela pelo menos por um minuto. Por influência do meu irmão mais velho, entrei na Universidade cursando Direito. Acabei gostando. Um ano depois meu irmão se formou e conseguiu emprego no maior escritório de advocacia do país.

Lugar Errado... Hora Errada...

ㅤㅤFérias. Quinta à noite. Ficar em casa não era uma opção. Uns amigos me chamaram para um showzinho cover de Nirvana e Pearl Jam que ia rolar na cidade. Fui sem pensar duas vezes. Chegamos meio atrasados, e perdi metade da minha música preferida. Eu não ia dirigir, então bebida estava liberada! Whisky, Vodka, Cerveja... o que vinha eu topava. Ah, se eu não tivesse sido tão idiota... nada disso teria acontecido. Mas então... lembra que eu tinha gastrite desde moleque? Pois é... Depois de um suicídio desses, era hora da vingança do meu estômago. Meus amigos estavam mais entretidos com um grupo de garotas que estavam dando sopa no balcão, e eu não os culpo, elas eram uma delícia mesmo. Mas eu não tava me sentido legal, e fui procurar um lugar isolado. Dar uma respirada, saca? Ou então botar tudo pra fora mesmo.

ㅤㅤAchei um lugar menos movimentado, atrás do bar. Tinha grama, árvores, uns carros estacionados e pouquíssimas pessoas. Perfeito para pagar um vomitão. Mesmo sabendo que era o que deveria ser feito, esse tipo de coisa não se faz com a mesma facilidade com que se come uma maçã... tem que tomar coragem. Eu demorei uns cinco minutos até conseguir da início à aquele processo nojento. O sangue no vômito pouco me assustou, já era algo rotineiro na minha vida de doente. Mas parece que alguém não esperava por isso...

ㅤㅤFui surpreendido por alguém que me segurava contra a parede. Senti seu perfume feminino antes de conseguir me desvencilhar e ver seu rosto. Era uma mulher. A vadia até que era bonita, mas tinha uma loucura em seu olhar. Não sei descrever direito. Ela não era muito forte, mas eu já estava trêbado. Na segunda investida eu acabei perdendo o equilíbrio e nós dois caímos. Ela por cima de mim. Havia umas poucas pessoas mais afastadas olhando, mas deviam pensar que eram apenas um casal se divertindo e eu não iria gritar por ajuda, oras! Era só uma mulherzinha!

ㅤㅤNão. Não era só uma mulherzinha. A puta mordeu meu ombro. Na hora eu só senti uma dorzinha, e depois eu até que gostei, sabe? Mas me entregar à aquela mordida fodeu minha vida, cara. Aí eu apaguei.

Vivendo um Pesadelo

ㅤㅤ"Caracas, velho... tá de boa?". Isso e umas cutucadas na costela. É assim que começa o pesadelo. Era um dos amigos que veio comigo até o show. Eu me sentia estranho. Meu estômago se contraía tanto, que eu mal podia sentir as batidas do meu coração. Fome! Não era uma fome incontrolável, mas sentia fome. Não sei se era porque eu estava bêbado, mas eu tava curtindo a lombra de ver o sangue pulsando na veia da galera, sei lá. Eu sempre tive essa vontade de beber sangue. Mas por motivos óbvios nunca cheguei a beber o sangue de ninguém.

ㅤㅤJá era final de festa, e os caras já tavam preocupados comigo, acharam melhor me levar pra casa mesmo. Chegando em casa, fui comer alguma coisa. Assim que a comido encostou no meu estômago, me senti mal. Mal deu tempo de alcançar a privada. Outra vez, vômito. O barulho foi suficiente para fazer minha mãe acordar e cuspir toda aquela baboseira de mãe: "Você nunca mais vai beber, blablabla!". E a última vez que eu vi minha velha com vida foi essa. Me arrependo amargamente de não ter falado que a amo antes de ir dormir.

ㅤㅤDe manhã cedo, minha mãe sai pra trabalhar, e lá pra seis horas da tarde ela chega. Nesse horário o sol ainda está suficiente alto no céu. Depois de chegar em casa completamente bêbado, fazendo barulho e vomitando, ela não admitiu que às seis horas da tarde eu ainda estivesse dormindo. Entrou no meu quarto e me sacolejou. Nada. Estava dormindo feito uma pedra. Não deu outra. Abriu as cortinas. A luz queimava como ácido, eu não consegui me controlar. Pulei da cama em direção as cortinas e assim que estava seguro. Algo dentro de mim fez todo o trabalho sujo.

ㅤㅤSegurei minha mãe pelos braços, ela gritava para eu parar e se debatia, mas eu estava no automático, era impossível parar. Senti seu pulso estalar, enquanto eu apertava mais e afastava seus braços do tronco, procurando seu pescoço. Assim que alcancei, suguei seu sangue, apenas o bastante para saciar minha fome, e então, caí no sono mais uma vez. Assim que o sol se pôs por completo, acordei no chão em cima do corpo da minha mãe. Não acreditei que aquilo fosse realidade, devia ser apenas um pesadelo. Tentei reanimá-la, mas já estava pálida e fria. Dos meus olhos, escorreram lágrimas de sangue, o que até então eu pensava ser apenas uma expressão.
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Mensagem por Padre Judas Qui Abr 04, 2013 5:57 pm

Caindo na Real

ㅤㅤA culpa me anestesiava. Por um momento, não me importava se a polícia arrombasse a porta da frente e me prendesse, ou que se irmão enfurecido resolvesse estourar meus miolos. Pra falar a verdade, eu até torcia por isso. Tirando seus pulsos arroxeados, seu corpo estava intacto. Fiz questão de deitar-lhe em sua cama e a cobrir. Eu sabia que devia sair dali o mais rápido possível, mas simplesmente não tinha vontade. Por quase duas horas, eu permaneci encarando a parede. Olhei as horas no visor do celular. 8:43pm. A qualquer momento Peter passaria pela porta e minha vida estaria oficialmente acabada. Pensar nisso me deixou inquieto. E esse desconforto foi crescendo e quando percebi, estava desesperado.

ㅤㅤPrecisava sumir! E rápido! Corri pegando minha velha mochilha, companheira de todas as horas, juntando apenas o essencial. Não fazia ideia do tempo que iria passar fora, talvez nunca voltasse. Mas, às pressas, juntei tudo que julguei importante. 9:12pm. Ouvi o som do elevador parando no segundo andar e, se eu estivesse vivo, meu coração pararia junto. Ouvi o bater dos sapatos se aproximando da porta e o chacoalhar do molho de chaves. Aquela era a única saída da casa, e estava bloqueada. De outra forma, teria que pular de uma janela, e cair 5 ou 6 metros. E foi o que eu fiz. Nessa noite descobri que quedas pouco me machucam.

ㅤㅤNão sei se ele me viu pular, e pra dizer a verdade, não ligo se tiver visto. Ele iria saber que era eu de qualquer forma. Só sei que eu corri. Corri como se minha vida dependesse disso, e dependia. Corri sem destino, apenas o mais longe possível dalí. Não conseguia raciocinar direito, porém, de uma forma quase inconsciente procurava evitar os lugares mais óbvios em que eu poderia estar, como a casa do meu pai, por exemplo. Afinal, depois de ligar pra polícia, a primeiro pessoa que Peter ligaria seria pro meu pai. Na verdade, isso mais tarde geraria outro dilema.
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Mensagem por Padre Judas Sáb Abr 13, 2013 8:53 pm

Caindo na Real II

ㅤㅤParei em uma praça a uns quatro quilômetros de casa. Minhas pernas doíam de tanto correr, e decidi que já estava suficientemente distante para poder descansar. No fim das contas, vampiros também cansam. Sentei em um banco, colocando a mochila entre as pernas. E agora? Não podia ir pra casa, e se cada vez que a luz do sol tocasse minha pele fosse como ferro quente marcando o gado, não poderia ficar na rua também.

ㅤㅤAlguns motéis baratos cobravam 20 dólares a diária. Nesse ritmo meu dinheiro se esgotaria em poucos dias. Que outra opção restava? Meus amigos? Todos moravam com os pais. Vai explicar que aquele vagabundo precisa passar o dia dormindo na casa dele... Minha família? O primeiro lugar em que a polícia bateria na porta. Fora isso, era melhor evitar outro homicídio nas minhas costas. Acabei cedendo a gastar o meu escasso e precioso dinheiro em uma necessária despesa.

ㅤㅤDurante 24 horas aquele cubículo com uma cama, uma tv e um banheiro seria todo meu. Paguei adiantado pra não ter problema. Se é que era possível não ter problema... Assim que eu desocupava a cabeça, pensava em minha mãe, e a mais pura tristeza acompanhava essa lembrança. É estranho, mas eu meio que me obrigava a pensar nisso. Talvez no fundo eu sentia que dessa maneira eu estaria me castigando de certa forma.

ㅤㅤPensei em me entregar pra polícia. Poderia alegar doença mental, e excluir a culpabilidade do ato. Na teoria era uma coisa muito bonita de se pensar. Na prática, eu passaria meses esperando julgamento, e então, seria mandado para um manicômio judicial, o que seria pior que a própria cadeia. Na verdade mesmo, logo na primeira manhã, não sobraria restos de Paul Gibson.

ㅤㅤPor mais que eu tentasse dormir, era um esforço em vão. Talvez por eu ter passado o dia todo justamente dormindo, o sono não me alcançaria tão cedo. 1:43am. Pulava de canal em canal, procurando um lixo interessante pra assistir. Tive um sentimento estranho, como se me dissesse para sair dali imediatamente. Eu não sabia explicar, mas tinha praticamente certeza de a coisa não ia ficar bonita pro meu lado.

ㅤㅤA maçaneta girou, e para o meu espanto, abriu. Eu havia trancado a porta!
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Mensagem por Ignus Sáb Abr 13, 2013 9:01 pm

Estranhamente, só tenho a elogiar a produção literária. rs

Vc usou de licença poetica uma ou duas vezes pra mudar um pouquinho o que aconteceria pelas regras do corebook, mas isso não é suficiente pra eu fazer uma crítica.

Parabéns pelo texto.
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Mensagem por Gam Seg maio 20, 2013 6:27 pm

Não achei as licenças poéticas. Tudo me parece perfeitamente plausível pelas regras do corebook, ué. o-o

Anyway, perfeito. Daria um puta de um prelúdio de neófito mesmo.
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Mensagem por Padre Judas Seg Jun 03, 2013 9:27 pm

Caindo na Real III

ㅤㅤPor um momento eu não soube o que fazer, simplesmente esperei apreensivo, na esperança de ver uma figura pouco intimidadora do outro lado. Eu não poderia estar mais enganado. Um sujeito baixinho, porém atarracado, com traços latinos e cavanhaque. Alguma coisa no rosto dele passava a sensação de que matar uma pessoa era a coisa mais natural do mundo pra ele. Não esperei ele dizer uma palavra, simplesmente saltei em direção à janela, mas antes que eu pudesse alcançá-la, senti uma dor assombrosa nas costas.

ㅤㅤMeu corpo parou de funcionar. Ele quebrou minha coluna? Por mais que eu tentasse gritar por socorro, os esforços eram todos em vão. Estava completamente paralisado e confuso. Uma fratura à aquela altura deveria inutilizar apenas minhas pernas, ao invés disso, meu corpo inteiro parecia mortificado. Por que aquele filho da puta estava me matando? Ele tinha uma puta cara de assassino de aluguel, mas quem iria ordenar isso?

ㅤㅤAli estava eu, completamente a mercê do assassino. Estirado, com a cara no chão. O filho da puta se aproximou e pisou na porra da faca, fazendo ela entrar ainda mais nas minhas costas. Não dá pra por o tamanho da dor em palavras. Só de lembrar, dói. Com pouca dificuldade, ele me vestiu uma jaqueta azul, provavelmente para esconder o ferimento, e passou pela recepção me carregando com a maior cara de pau do mundo. O boçal do recepcionista não desconfiou de nada. Finalmente me jogou no banco de trás do Fiat Uno vinho dele.
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Mensagem por Padre Judas Sáb Jun 08, 2013 10:21 pm

Conhecendo o Inimigo

ㅤㅤAs luzes dos posts vinham e iam rápido e o som dos outros carros me dizia que ainda estávamos na cidade. Menos assustado, eu tentava assimilar alguma coisa enquanto a baba escorria pelo meu queixo. O que iria levar alguém a me atacar dessa forma e me sequestrar, e porque eu não consigo me mexer? Duas coisas mudaram drasticamente na última noite. Agora sou um assassino e um vampiro. Logo uma das duas coisas é a causa dos meus problemas. Se fosse por ser um assassino, poderia ser alguém buscando vingança, o que eu acho improvável. A única pessoa que iria querer algo assim, meu irmão, faria isso com suas próprias mãos, nunca contrataria outra pessoa. O conheço bem demais para saber isso.

ㅤㅤO que nos leva a crer que só poderia ser pelo vampirismo. Poderia ser um caçador, por que não? Mas como ele me descobriu tão rápido? Será que ele tem a capacidade de sentir a presença vampírica de alguma forma? Não interessa, eu preciso sair daqui o mais rápido possível. Tentei mais uma vez juntar forças para me mexer, mas não consegui mover nem mesmo um músculo. Desisti. Era impossível. Talvez tudo já estivesse perdido. Talvez se eu não resistisse, me concederiam uma morte rápida e sem dor. Era a minha única esperança.

ㅤㅤO carro finalmente estacionou. Não ouvia ninguém na rua, já era alta madrugada. O latino pegou o celular e ligou para alguém, disse ter capturado mais um "Caitiff". Seria esse o nome que os caçadores davam para os vampiros? Depois de trocar uma ou outra palavra ele me tirou do Uno. Estávamos de frente para um grande edifício, no centro da cidade. Agora percebi que tinha algumas pessoas isoladas por ali, mas elas nem desconfiaram de nada. Muito menos o porteiro que ajudou o latino a passar abrindo a porta.

ㅤㅤDescemos para o subsolo dois, e ele me carregou até uma sala totalmente suspeita. A razão me dizia: "É apenas o quartinho do zelador". Mas senti aquela mesma sensação ruim me dizendo para fugir. Dessa vez eu correria sem pensar, porém não conseguia. Ao abrir a porta, meu sangue congelou. Algemas nas paredes me lembrava as masmorras dos filmes. Além de várias ferramentas de tortura, havia uma pequena fogueira que esquentava um ferro de marcar. Me fudi.

ㅤㅤDepois de algemar meus pulsos e tornozelos na parede, e enfiar um trapo de pano na minha boca, o filho da puta finalmente tirou o que eu pensei ser uma faca, mas na verdade era uma estaca de madeira! Como nas lendas! Como um reflexo, gritei de dor, mas foi abafado pelo pano na minha boca. O homem segurou o ferro quente com sua mão protegida por um tecido, erguendo a brasa vermelha na ponta e avivando-a com sopros suaves.

ㅤㅤ- Eu vou te dar uma chance de sair inteiro daqui, moleque. - Ele disse olhando fundo nos meus olhos, e então colocou a brasa tão perto do meu rosto que pude sentir o calor na minha bochecha. Minhas tentativas de resposta não saíram mais compreensíveis que meros grunhidos. - Agora você vai cantar como passarinho, e se você pensar em gritar... - Então ele aproximou a brasa quente do meu saco. Minha reação foi me encolher o mais longe que as algemas permitiam e grunhir desesperadamente. - Entendeu? - Acenei que sim com a cabeça mais que o suficiente. E ele tirou o trapo da minha boca. - Me conta exatamente como e quem te abraç - Ele pensou melhor, e corrigiu. - transformou.

ㅤㅤContei toda a verdade. Sem omitir nenhum detalhe, o que não impediu que ele me queimasse uma ou duas vezes com a brasa quente, e que me socasse como repreensão aos gritos de dor. A cada vez que o ferro encostava minha pele, sentia que aquela fúria irracional que tomou o controle e matou minha mãe iria imergir de novo, porém consegui me controlar. Falei de como cheguei ao show, até o momento que ele me encontrou, e isso levou horas. Pelo menos foi o que pareceu. Uma eternidade!

ㅤㅤPara a minha surpresa, no final o desgraçado simplesmente virou as costas e saiu da sala.
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Mensagem por Padre Judas Qui Dez 05, 2013 9:14 pm

A Luz no Fim do Túnel

ㅤㅤAs horas seguintes foram de puro pânico. Não tinha ideia do que aconteceria comigo. Tudo o que eu mais queria era correr dali e não ver aquele homem nunca mais. Sentia que havia acabado de frustrá-lo. Algo dentro de mim sabia que o instinto assassino do latino clamava por uma pequena sessão de tortura, e por conta do terror que eu senti, acabei vomitando tudo o que ele queria saber. E lá se foi sua oportunidade de infringir dor e sofrimento em um pobre miserável.

ㅤㅤPor mais medo que eu sentisse, não consegui me soltar, e em algum momento da noite, acabei apagando. Por estar no subsolo, nunca sabia quando era dia ou noite. Ao acordar, meus pulsos, já feridos, pediam penico. Agora estava mais calmo, como quem aceitava o destino que o Universo lhe impusera. Apenas torcia para que minha morte fosse rápida e misericordiosa.

ㅤㅤDepois de horas no escuro silencioso naquele quartinho, o baixinho finalmente voltou, fazendo meu sangue congelar. Contrariando todas as expectativas, ele não me machucou ou fez sequer uma ameaça, apenas me libertou e ordenou que eu o acompanhasse. Nesse momento, comecei a procurar uma oportunidade para fugir dali. Confesso, tive mais de uma oportunidade para tentar escapar, mas meu medo de fracassar foi maior do que eu, de modo que eu apenas o obedeci. Pegamos o elevador, e dessa vez, fomos até o décimo terceiro andar.

ㅤㅤA porta do elevador abriu, dando para um hall bem sofisticado. Piso de mármore branco, mobília de madeira rústica, um tapete vermelho chique, até a luz amarelada cooperava para criar um ambiente nobre. Sem contar o próprio cheiro do ambiente. Cheiro de gente rica e importante. Havia muitas portas por ali, mas caminhamos até a última e enquanto isso a curiosidade me corroía por dentro.

ㅤㅤFinalmente no tal escritório. Ainda mais luxuoso que o ambiente anterior, porém ainda seguindo o mesmo tom de decoração, com uma estante repleta de livros, uma bela mesa de madeira fina, e sobre ela, havia uma pequena estatueta de pedra da deusa Minerva, a deusa romana da justiça. Sentado atrás dela, um sujeito de meia idade, vestido em um elegante terno risca-de-giz, com um ar respeitável e sério. Do outro, um senhor idoso, também de terno e que acabara de assoar o nariz. E então ele se virou para me olhar, eu não acreditei. - Tio Guillaume?
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Mensagem por Padre Judas Dom Dez 08, 2013 10:47 pm

ㅤㅤUm milhão de coisas passaram na minha cabeça. Só naqueles breves instantes, devo ter imaginado, no mínimo, umas quinze teorias conspiratórias envolvendo maçonaria, Illuminati, vampiros e tudo mais. Então ele levantou com dificuldade, devido seu problema na coluna, e me abraçou como o de costume. - Seu pai está preocupadíssimo! Ele até chorou! - Eu nunca vi meu pai chorar. - Mas você fez bem em não ter ido até ele. Teria sido muito pior.

ㅤㅤ- O que que tá rolando? - Perguntei, sem entender nada. 
ㅤㅤ- Esse aqui é o Príncipe Richard, meu filho. - Enfim apresentou o homem, que se levantou e apertou minha mão. - Obrigado, senhor Príncipe! Muito obrigado! - Disse em um tom de pura submissão, o cara deveria ser pica mesmo. 
ㅤㅤ- O senhor fez por merecer, Doutor D'eveque. Além do mais, o garoto é filho do Jack. - Eu não sabia que meu pai era tão importante assim, pra conhecer um príncipe. - Eu não poderia fazer isso com ele. - Richard, então, se virou para o latino e disse. - Juarez, chame Beatriz e diga que eu tenho uma coisa muito importante à tratar com ela.
ㅤㅤO latino saiu, fechando a porta e meu tio continuou a explicação. - Você foi abraçado, Paul. - Continuei sem entender, mas antes que eu perguntasse qualquer coisa, ele continuou. - Significa dizer que você foi transformado em vampiro. - Agora é oficial. - O Príncipe Richard é o encarregado dessa cidade e todos os vampiros precisam da autorização dele antes de abraçarem alguém. Acontece que a vampira que te abraçou não teve essa autorização. - A coisa só piorava. - Mas não precisa ficar preocupado, nós já resolvemos esse mal-entendido, huh? - E então ele soltou uma gargalhada tentando quebrar o clima tenso que se formara ali.
ㅤㅤ- É... Mas e a minha mãe? - Por mais que dissessem que estava tudo bem, eu nunca conseguiria lidar com o isso. - Meu irmão sabe que fui eu! - Mais uma vez, senti o desespero tomar conta do meu peito. A garganta ficou apertada, e os olhos começaram a se avermelhar.
ㅤㅤ- Fique calmo, garoto. - Disse o príncipe. - Eu já providenciei tudo. Por que achas que as pessoas pensam que somos apenas lendas? - A pergunta foi retórica. - É porque há uma organização muito influente que faz questão de nos esconder. 
ㅤㅤ- A Maçonaria! - Ingenuamente o interrompi, pensando ter desvendado todo o mistério. Eu sabia que meu tio era maçon e desconfiava que meu pai também o fosse. 
ㅤㅤ- Não. - Disse, sem demonstrar nenhum traço de raiva, no entanto percebi que fui inconveniente pela cara do meu tio Guillaume. - Algo muito maior que a Maçonaria. Sua família pensa que Peter matou o assassino de sua mãe em legítima defesa, infelizmente o tiro que o ladrão dera nela fora fatal. - Que conversa fiada, Peter tinha me visto pulando a janela.
ㅤㅤ- Mas como... 
ㅤㅤ- Somos vampiros, ora! - Reservou-se a responder apenas isso.

ㅤㅤA porta do escritório foi aberta, e o latino pigarregou. Quando eu olhei pra trás, não acreditei no que meus olhos viam. Uma mulher muito gata e gostosa. A tal Beatriz. Pele morena, mas não negra. Cabelos negros e lisos até a altura dos seios, que por sinal eram fartíssimos. Coxas grossas, barriga massa. Enfim, se você passasse horas olhando pra ela, não conseguiria achar um defeito. Vestia um vestido vermelho na altura do joelho, com um decote de deixar qualquer homem louco. Melhor primeira impressão seria impossível. - Senhor, mandou me chamar?
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Mensagem por Padre Judas Sáb Dez 21, 2013 8:48 pm

ㅤㅤPensei um monte de putaria com aquela gostosa, mas fiquei na minha. O tal Príncipe pediu para que todos se sentassem, porém, só havia duas cadeiras. Por educação, me afastei dos assentos, deixando que meu tio idoso e a mulher se sentassem. Fiquei escorado na parede perto da porta e Richard não protestou. - Sim, mandei.

ㅤㅤ- Pois então... Sobre o que se trata. - Tudo nela era atraente. O perfume parecia afrodisíaco, e o jeitinho de menina... passava um ar inocente, mas eu sabia que na cama ela devia ser uma safada. Eu tava muito na dela.
ㅤㅤ- Se me lembro bem, você havia me pedido permissão para ter um aprendiz. - A voz do Richard tinha um tom meio estranho, como se ele esperasse uma reação negativa e tentava ser o mais político possível.
ㅤㅤ- Siiim! - Beatriz ficou tão felizinha que seus peitões quicaram no decote, o que me fez encher os pulmões de ar e liberar bem devagar, quase em um suspiro. - Eu pedi! Quer dizer que posso?
ㅤㅤO Príncipe tomou coragem, como se fosse dar notícia de falecimento de algum parente e então revelou. - Este garoto se chama Paul Gibson, e ele será o seu Aprendiz. - Fiquei surpreso. Não sabia exatamente o que significaria, mas deduzi que teria que passar bastante tempo com aquela beldade. Sorte a minha! Ou não...

ㅤㅤBeatriz me encarou com um olhar misto de nojo e desilusão, então ela se virou para Richard para protestar, mas as palavras não saíam. Depois de balbuciar alguma coisa, ela finalmente conseguiu decidir o que falar. - Não pode fazer isso comigo! Não era pra ser ele, e-eu já tenho um mortal em mente! Ele é um excelente pintor, ele é reconhecido no meio artístico, é rico e... - Ela se virou pra mim com a mesma cara de nojo de antes e então continuou. - ele é só um Caitiff nojento! - Por mais que ela tentasse conter suas lágrimas, todos perceberam que ela estava a beira de abrir o berreiro. - Você não tem o direito de me manchar assim! - Pegou pesado, hein! Tudo bem, eu posso não ser um príncipe encantado, mas também não é pra tanto. Magoou meu coraçãozinho.
ㅤㅤ- Sim, eu tenho! E assim será! - As palavras do homem foram firmes e poderosas o bastante para fazer com que todos os presentes se encolhessem, especialmente Beatriz, que o encarava inconformada, porém ainda com submissão. - A partir de agora, esse Caitiff é de tua responsabilidade! E qualquer crime dele será um crime teu! Fui claro o suficiente?
ㅤㅤ- Sim, senhor Príncipe. - A resposta veio acompanhada de lágrimas e do tom esganiçado típico do choro. Quase tive pena dela, no entanto, me forcei a lembrar do modo humilhante como ela me tratou.
ㅤㅤ- Ótimo! Agora que já estamos conversados, pode se retirar. - Disse, esfregando a testa em um claro sinal de estresse. - Bom, Doutor D'Eveque, creio que já resolvemos o seu problema também. Não me entenda mal, mas eu gostaria de ficar sozinho agora.
ㅤㅤ- Cla-claro, Senhor! - Agora ficava fácil entender porque todo mundo tinha medo do cara. - Neste caso, já vou indo... Mais uma vez, muito obrigado! - Tio Guillaume se levanta com dificuldade outra vez e me puxa para a porta antes que eu tivesse a chance de falar qualquer besteira.
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Mensagem por Guidim Qua Mar 25, 2015 4:26 pm

Continua ae mano....
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Mensagem por Padre Judas Qui Abr 02, 2015 8:07 pm

Pô, Guidim, tempão que não tenho ideias novas pra essa história. Mas eu escrevi essa outra.

Um conto de amor no Mundo das Trevas
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Mensagem por Appollo Dragúlia Qua Mar 30, 2016 8:51 pm

Poxa cara.
Perfeito!
Parabéns!
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Mensagem por Padre Judas Dom Abr 03, 2016 8:35 pm

Obrigado, cara.

Pra mim é uma surpresa ainda existir gente lendo isso.
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Mensagem por Fuuma Monou Qua maio 18, 2016 3:22 pm

Cara, manda mais....
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O que os prelúdios convencionais não contam Empty Re: O que os prelúdios convencionais não contam

Mensagem por Dylan Dog Dom Ago 21, 2016 12:30 pm

Aguardo a continuação, ficou muito boa.
Dylan Dog
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