Vampiros - A Máscara
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Merakku, o Arauto Caído

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Mensagem por Amaya Takenouchi Sáb Fev 01, 2020 10:25 pm

DISCLAIMER:



Merakku, o Arauto Caído Como-rezar-a-quaresma-de-sao-miguel-arcanjo

Cap 1. A Aurora da Arrogância.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

João 1:1-5

Olhando para trás, eu posso compreender agora.

O Senhor era Perfeito. Poderoso. Primordial. Uno.

E guardem bem esta palavra: UNO.

Eu irei me referir a ela algumas vezes. O fato é que Deus era tudo o que existia. Um ser único, com poderes além de qualquer tipo de compreensão. Sua influência era inimaginável, de tão grandiosa. Mas algo faltava para ele. Uma criação. Uma criação, à sua imagem e semelhança.

E isto, começou conosco. Os Anjos.

Os anjos foram criados para apoiar o Nosso Pai, na questão da Criação. Nada foi feito em "sete dias", como as Escrituras dizem, mas suponho que vocês saibam que isto é uma metáfora bíblica. Ou deveriam saber, pelo menos.

Durou tempo. Muito tempo.

Anjos da Aurora. Do Firmamento. Do Fundamento. Das Esferas. Da Imensidão. Da Natureza. E do Segundo Mundo.

Estávamos lá quando foram criados os céus e a terra. As águas. As plantas. Os animais. E finalmente, a humanidade.

Amávamos a humanidade tanto, ou talvez até mais do que a nós mesmos. Pois nós a vimos nascer. Eram nossos irmãos, só que mais novos, ao menos era essa a visão da maioria de nós. E a todos, era dada uma regra primordial: a de não interferir na Humanidade.

Para mim, me pareceu certo não intervir. Yhwh era a voz da verdade, absoluta. Ele saberia que os humanos teriam como se desenvolver, sozinhos. Ao longo dos tempos era o que todos acreditavam.

Mas então... podíamos ver que nada acontecia da maneira que foi idealizada, por muitos de nós. Eu acreditava que Deus não podia ser questionado. E que os humanos se dariam conta da imensidão que lhes foi oferecida, algum dia.

Mas mesmo para nós, Elohins, onde o tempo na maioria das vezes era meramente um conceito... era tempo demais.

E então, um dos nossos decidiu intervir. Lúcifer.

O mais belo, imponente e valoroso dentre nós. Literalmente, a mão direita de Deus. Um querubim. Um mensageiro. Um orgulhoso Líder da Casa da Aurora. Eu também era da mesma Casa que ele, e bem quisto entre os meus. Mas não tanto quanto ele.

Claro, antes dele tomar aquela decisão. Uma decisão que iria contra os desígnios de Deus. E aquilo, eu não poderia apoiar. Um terço dos Elohins foi com ele. Mas eu jamais poderia ir. A Palavra de Yhwh era justa. Correta. Absoluta.

E eu não poderia perdoar Lúcifer por isso.

Desta forma, Lúcifer ofereceu conhecimento à Humanidade. Acompanhado dos seus, como Madisel, Grifiel, Senivel, Gaar-Asok, Togu'iel e Nazriel. Eles queriam ajudar, querendo evitar os augúrios previstos por Ahrimel, sobre tempos de dor, horror e luta. Mas tudo o que acabou acontecendo depois deste dia, fora exatamente isso.

E tudo começou com a ordem que recebi. Eu agora era a Espada Flamejante e a Voz de Deus. Nesse ponto, eu tinha ocupado o lugar de Lúcifer e ido até estes.

... Sabe. É até engraçado ver figuras do suposto São Miguel Arcanjo com uma balança em mãos, pisoteando o demônio. Dando-me uma imagem de uma autoridade santa e justa. Mas uma coisa deve ser admitida, aqui.

Lúcifer não foi o único a sentir orgulho do posto mais alto. Eu senti também. E ele sabia disso. Eu apenas não conseguia entender os meus sentimentos como algo além de uma vontade de obedecer ao Pai.

Agora vejo claramente.

E como eu disse, era engraçado ver as imagens que os humanos fazem de mim, como uma entidade que pisoteava demônios.

Afinal de contas... contra o maior dos Caídos, eu perdi. Mesmo com a minha Espada, que existia em inúmeras dimensões possíveis, contra uma simples foice de Madisel, empunhada por Lúcifer.

Mas ainda assim, era Lúcifer que estava a empunhando. O maior dentre os Anjos da Aurora. A Estrela da Manhã. Gracioso e sagaz, ficou claro para nós dois que ele me feriria antes. Nós não matávamos, naquela época.

Mas ainda assim, eles seriam castigados.

Ainda mais ao ouvir as palavras de rebeldia do Casal Primordial. Adão e Eva. Nunca me esquecerei delas.

- Lúcifer nos ensinou, Belial nos ajudou e Senivel construiu a nosso lado. Eles nos deram muitas coisas boas, e nós os conhecemos. Sois um estranho para nós, Miguel, Portador da Espada, e nada nos ofereceis além de ignorância, privação e isolamento. Ficaremos com nossos amigos.

Eu era uma criatura poderosa. Mas senti como se milhões de espadas tivessem cravado o meu peito naquele momento. Lúcifer fez a cabeça deles. Ele queria tomar o lugar de Deus.

Dessa forma, eu sentia a ingratidão de meus irmãos, e da humanidade, verdadeiros filhos do Altíssimo. Eu senti duas coisas que jamais imaginei sentir.

Soberba. Ira.

Isso precisava parar, essa traição a Deus precisava ser interrompida.

E assim, anunciei os castigos, depois de ver que apenas dois dos anjos rebeldes aceitariam um castigo indolor. Os outros 30.300.028 estavam ali. E assim, castiguei a cada um. Castiguei os Rebeldes do Segundo Mundo com a responsabilidade de ceifar os mortos. Os Rebeldes da Natureza foram punidos ao verem os animais tratarem os humanos como presas a serem caçadas ou inimigos a serem evitados. E por mais que eu me envergonhe disso hoje, eu senti um certo prazer macabro ao ver Grifiel protestando sobre isso. Hoje nada mais sinto além de dor, ao lembrar deste momento.

Os Rebeldes da Imensidão viu o castigo da verdade se perdendo em várias mentidas. Os Rebeldes das Esferas viram o nascimento da inveja. Os Rebeldes do Fundamento sentiram em sua pena, a dor da ganância e da devastação que seria criada pela humanidade. Os Rebeldes do Firmamento ouviram da boca de Miguel, que os humanos seriam fracos contra o tempo. Não dependeriam mais do Kairós, mas do Kronos. E isso era algo que nenhum deles poderia impedir. Todos iriam morrer, mesmo se escapassem a doenças e lutas.

Halaku. Rabisu. Lammasu. Neberu. Annunaki. Asharu.

Nomes asquerosos. Indignos. Para chamá-los de algozes, devoradores,profanadores, infestos, malfeitores e flagelos. Nomes típicos dados aos atuais Demônios. Era isso o que eles mereciam. Mereciam este tipo de punição. E eu me regozijava por, teoricamente, obedecer à Palavra de Deus.

Mas o pior ainda estava por vir. Eu olhei diretamente para Lúcifer. Todo o seu ego, toda a sua pompa... eu sabia exatamente qual seria a pior punição para eles.

Afinal de contas, traidores da Primeira Casa se mostraram indignos demais... até para merecer uma punição de Deus. Anjos da Casa que deveria proteger a Ele das contaminações, eram os que deveriam sofrer mais com isso.

Eu mal sabia que ali, enquanto eu anunciava para eles a sua punição... começava a minha própria desgraça. Mas a minha devoção cega e o meu orgulho, a minha arrogância por ser a nova Mão Direita de Deus, não me deixaram ver.

- Rebeldes da Aurora. Eu vos batizo Namaru, os Diabos.
Amaya Takenouchi
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Mensagem por Beaumont Ter Fev 04, 2020 10:18 pm

Muito Top ! Tive a chance de narrar pra esse grande personagem !! Sad
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Mensagem por Amaya Takenouchi Ter Fev 04, 2020 10:40 pm



Merakku, o Arauto Caído Passionofchrist

Cap 2. ELOÍ! ELOÍ! LAMÁ SABACTÂNI!?*

Jesus voltou-se e disse-lhes: "Filhas de Jerusalém, não chorem por mim; chorem por vocês mesmas e por seus filhos!
Pois chegará a hora em que vocês dirão: 'Felizes as estéreis, os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram!'
Então dirão às montanhas: "Caiam sobre nós!" e às colinas: "Cubram-nos!"
Pois, se fazem isto com a árvore verde, o que acontecerá quando ela estiver seca?"

Lucas 23:28-31



Vou contar-lhes uma história bastante interessante. Mas é bem provável que vocês não venham a acreditar. Contudo, é a única que eu possuo em minha mente, neste exato momento. Não é a primeira vez que eu vaguei pela Terra. Foi um certo tempo. Depois das primeiras cidades. Das primeiras civilizações. Da Escrita, e de tudo mais.

Eu observava os humanos, ainda. O Éden, já não era mais, há tempos. Eu sei de algumas coisas a mais que alguns Elohins que vagam sobre a Terra hoje, não sabem. Por exemplo, com o que aconteceu a Gabriel, depois de desobedecer a uma ordem de Deus.

Ele foi advertido. E foi impedido de agir por  muito tempo sobre a Terra, até 1 A.C.

Eu não o apoiei por ter desobedecido a Deus, para salvar uma mortal contra uma das viscerais legiões de demônios que haviam. Mas posso dizer que intercedi por ele, para que não fosse destruído, e que bom que não o fiz.

Afinal de contas... passar por todas aquelas lutas, ver humanos, anjos e demônios mortos por tanto tempo... desde a Maldição de Caim, que se reverbera até hoje, em mais formas do que apenas o assassinato entre seres humanos... aquilo me deu um estalo.

O meu orgulho por estar entre os generais de Yhwh estava cessando. Ser a Voz e a Espada de Deus não me aprazia tanto.

Será que aquilo era mesmo necessário?

As lutas cordiais não existiam mais. Fui obrigado a me envolver em sangue. De uma forma que eu me sentia sujo. Podre. Por um leve momento, pensei que levar o Castigo Final de Deus a Lúcifer e a seus correligionários ao menos aplacaria parte dos problemas. Mas não foi isso que aconteceu.

Eu fiquei feliz pelo Criador ao menos, tentar um diálogo com os humanos, através de reis e profetas como Moisés, Davi, Salomão, Ezequiel... por outro lado, a questão de ter escolhido uma "nação eleita" enquanto todas as outras tateavam às cegas... era um tanto difícil de entender.

Mas quem disse que éramos capazes de entender os desígnios de Deus?

Até chegar um momento em que ele decidiu não mais falar com os humanos. Uma época escura. Em que os Reinos de Israel e Judá já não eram mais e em que surgiu o poderoso Império Romano, sobrepujando tudo o que via. Nem mesmo Babilônia, Egito, Grécia ou Cartago - local onde posteriormente descobri que um grupo de inúmeros "descendentes" de Caim, que se autodenominavam como um clã de reis e filósofos (e que perduram até hoje, mas na sua maioria como fanáticos, ativistas ou mesmo, apenas desordeiros) dominavam - eram páreos para aquele poder.

Foi muito sangue derramado. Diante de meus olhos e eu não fiz nada além de observar e não interferir. Como eu sempre fiz, desde o início dos tempos. Eu começava então, a entender o ponto de Gabriel. Por que ele fez o que fez.

E eu o via. Isolado do resto. E triste. Ainda mantinha seu status de general celeste, como eu, mas ele nem mesmo poderia mais ver o que eu via, estando ocupado demais com os assuntos de outras esferas do Céu.

Mas eu precisava de Gabriel. Eu não podia mais esperar.

Eu tinha um plano. Eu não ia mais observar. E desta forma, ao me conectar com o Pai, por várias esferas de existência, onde se passaram milésimos de segundos, ou centenas de anos, dependendo do ponto de vista, eu Lhe falava.

- Pai. Peço-lhe permissão para descer à Terra. Mas desta vez, não como um anjo. Eu quero ver o que a Humanidade vê. Sentir o que a Humanidade sente. E saber porque tudo deu tão errado.

A minha proposta foi recebida com uma certa desaprovação.

- Miguel... há tempos que Eu sinto... dúvida em seu coração. Achas que isso que vê não deveria ter acontecido?

- Não, Senhor! - Eu falei, apressando-me. - És o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, e tudo sabes. Sua palavra é Única. Eu só queria entender... como a vossa Criação pensa. E desta forma, ver o que levou eles a agirem desta forma. Lúcifer trouxe muito mal à Criação, mas também a todos nós. Sinto que nenhum de nós é mais o mesmo. Sinto que... Caim, o Primeiro Fraticida foi no fim das contas, um ápice de sucessão de pecados, de orgulho...

- Claro. Orgulho. Ira. Ganância. Mas não apenas de Lúcifer. Tua também. Não é mesmo, meu filho?

Eu hesitei, por um momento. Eu não poderia negar aquilo. Eu era parte daquilo. Eu nutri sentimentos de orgulho e fúria também. Nenhum deles digno. Agora, começava a nutrir um ainda pior.

E esta, iria me acompanhar pelo resto de meus dias. E só aumentaria.

A culpa.

Mas eu estava disposto a ignorar isso.

- Não nego que posso ter sido parte do problema, Senhor. E isso me faz lamentar muito. Mas sempre segui a Vossa Palavra. Para mim, é lei.

- Como sempre fez e te agradeço. Por isso, eu te questiono. Por que agora? E por que com Gabriel?

Mais uma vez, o Senhor dava mostras de sua onisciência. Eu nem tinha citado Gabriel, mas ele sabia que eu iria entrar neste assunto.

- Creio que Gabriel, por ter tido contato direto com mortais, em outras vezes, é o único que pode me compreender e me ajudar no plano que eu possuo. Ele irá dar conforto à população. Gostaria de espalhar Vossa Palavra, Pai. Os humanos precisam ouvir Vossa Voz. Eles precisam de conforto e precisam saber que tem alguém velando por eles. Eu pretendo ir. Mas não quero fazer isso para me vangloriar, nem para agir como profeta. Quero apenas passar os Vossos Ensinamentos para aqueles que mais precisam. Para aqueles que foram Teus Eleitos, também possam repassar aos gentios e assim, todos possam adorar Teu Nome.

Yhwh sabia tudo o que eu pretendia. Mas Ele queria ser convencido disso. Eu podia sentir. Falei com toda a sinceridade que podia. Então, eu me surpreendi com Sua resposta positiva. Mas obviamente, tudo tinha um preço.

- Muito bem. Eu farei com que Gabriel volte à Terra, por esta vez, para preparar tua chegada. Mas fique sabendo de uma coisa: irás sofrer. No momento em que decidires viver como humano, irás sentir todas as dores e augúrios de um, até morrer como homem e voltar como anjo à tua Casa. Não irás como a Espada Flamejante. Mas como o Cordeiro de Deus. Terás poderes limitados, porém será o suficiente para fazer a diferença, enquanto fores carne.

- Muito bem, Senhor. Eu aceito o preço necessário.

E assim eu cumpri os desígnios de Deus. Uno, Primordial e Indivisível. Sua Palavra era a Verdade...

(...)

Eu não sabia que seria tão duro.

Era a noite anterior à Santa Ceia. E estava em um campo escuro. Com um de meus discípulos.

- Mas Senhor... eu... eu não posso fazer isso! - dizia Judas Iscariotes, desesperado. - Eu não quero este papel... eu não quero sequer que aconteça algo com o Senhor! Eu jamais o trairia, eu jamais me perdoaria se sequer o traísse! Dê esse papel para alguém, talvez para Pedro, mas... não para mim, Jesus! - O homem estava em prantos. E era difícil não cair em tentação de confortá-lo, ainda que eu estivesse em carne. Eu queria abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem.

Mas não ficaria.

Ao invés disso, eu coloquei as mãos sobre seus ombros e olhei nos seus olhos. - Judas. - Falava com a doçura de um pai ou um irmão mais velho, mas também como a autoridade que eu tinha, como o Filho de Deus, mesmo que usando outro nome. - Tu és o único em que eu confio para isto. Eu preciso voltar à casa do Meu Pai. Para que eu possa entregar a mensagem final que Ele tem para a humanidade. Eu não tenho mais com quem contar. Tu sabes. Tu tens o dom da presciência. Tu enxergas longe, muito mais longe que os outros. Sabes que isto é necessário. E que tens um papel árduo, porém necessário a cumprir, também.

Outra culpa que iria me consumir, por séculos. Ter praticamente selado o destino de Judas, após sua morte. E colocado nela a pecha de traidor até o fim dos tempos...

Passou-se a Última Ceia. Onde eu dei a ordem para Judas me trair. E também para Pedro me negar três vezes na mesma madrugada. Era um teatro. Um teatro muito bem executado.

E mais uma noite, enquanto eu rezava e tentava me conectar ao Pai. Mas a Sua presença estava longe. Inatingível. Como se ignorasse minhas súplicas. Eu queria que houvesse um outro jeito. Pois a morte humana, daquela forma que estava se desenhando pra mim, era algo que me arrepiava a pele. Eu senti de tudo, naquela casca humana. Alegria. Tristeza. Dor. Desejo. Solidão. Amizade. Mas eu não deixei o meu coração abrir espaço para a ganância, a culpa e o orgulho. A última vez que isso me aconteceu, eu falhei com a humanidade.

Não queria que isso acontecesse de novo.

"Pai. Se possível, afaste de mim este cálice. Contudo, que não seja como eu quero, mas sim como tu queres."

E assim foi. Pelos desígnios d'Ele. Meu augúrio começou, quando Judas enfim, revelou a minha localização para meus perseguidores. E me beijou. Não foi um beijo com traição, com fúria. Mas como um pedido de desculpas...

(...)

Esse era o meu destino. Eu não era Miguel. Eu era Jesus.

Dor. Humilhação. Angústia. Sangue.

Eu nunca me senti tão fraco e incapaz em toda a minha existência. E de certo modo, isso era bom. Eu sempre fui a Espada e a Voz de Deus. Aquele que chegava para resolver tudo. Para punir. Para lutar. Para ser ouvido. A sensação de não ter ninguém a me ouvir, e de ser golpeado com a espada, ao invés de golpear, era nova. Além de me banhar com meu próprio sangue, ao invés do fluido de terceiros. Eu era Jesus.

O ardor de minha carne dilacerada era algo indescritível. Mas eu sentia que precisava passar por isso, enfim. Precisava me lavar de minhas próprias culpas. Do próprio sangue que eu permiti que jorrasse. Que jorre o meu, se for necessário, para salvar o de tantos outros. Eu era Jesus.

Mas em nenhum momento, eu ouvia a voz de Deus.

Pregado na cruz e erguido para agonizar até a morte em meu calvário, ao lado de dois homens, onde um deles falou comigo e eu tentei confortá-lo de alguma forma... eu tentava fazer a coisa certa até o fim.

Eu queria ter a certeza de que aquele homem, de fato, estaria comigo no Paraíso. Mas na realidade, ele não estaria.

Eu queria que a Humanidade fosse perdoada por esse mal. Não o que causaram a mim, esse pedaço de carne pouco me importa. Mas o que estava causando a si mesma.

- PAI! PERDOE-OS! ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM!

Nenhuma resposta. Mesmo naquela hora. Perdoe-os, Meu Pai. Nada ouvia. Nada me tocava. E então, gritei, na língua terrena principal que aprendi, o aramaico:

- MEU DEUS! MEU DEUS! POR QUE ME DESAMPARASTES!?*

E eu olhava para os céus. Mas sentia minhas forças se esvaírem. Eu sabia. O fim estava chegando. Eu vi Gabriel na multidão, acenando a cabeça para mim. Perto de minha mãe terrena, Maria, e de Maria Madalena, sem que elas o vissem... eu sabia que ele estava ali para me buscar.

Eu me lembrava de tudo. Do meu nascimento e dos Três Reis. Da minha infância como carpinteiro. Da minha mãe terrena Maria, com sua doçura e paciência. Do meu pai de criação e irmãos. Da minha educação. Dos sinais da presença de Deus, que queria fazer com que eles enxergassem e das parábolas. Da promessa de uma nova aliança. Não uma aliança de sangue, mas uma aliança de paz. Dos apóstolos. Dos ensinamentos. Dos questionamentos. Da vivência com Judas, como um irmão. E com a vivência com Maria Madalena, a pecadora que se redimiu, como um pouco mais.

Das visões e das lágrimas de Judas. Do teatro. Da traição. Da negação de Pedro. Do martírio.

33 anos terrenos. E vivi muito mais do que milhões e milhões de anos como um anjo.

- Pai... em tuas mãos entrego o meu espírito...

E tudo ficou escuro. Acordei nos braços de Gabriel, junto às esferas, com o Pai.

- Está tudo bem agora, Miguel. Está de volta. Apenas falta uma parte, para concluirmos tudo... e assim, podermos ver o mundo em paz.

Eu nunca desejei tanto que Gabriel estivesse certo.

E assim, eu voltei, depois de três dias, usando os meus poderes, permitidos pelo Pai, para que mostrasse que Deus era com eles. E que iria cuidar deles. Dava os meus últimos ensinamentos para aqueles que me seguiram. E subia às alturas... um pouco antes de saber do trágico destino de Judas Iscariotes, que não suportou a dor de tudo aquilo...

De qualquer forma, o Pai estava nas alturas. E o Filho olharia por eles. O Espírito Santo da Hoste do Senhor os guiaria.

Essa era a tal "trindade".

Uma trindade que nunca existiu.

Mas que na época... parecia fazer sentido. Eu me sentia parte de Deus. Parte da criação de Deus.

Até perceber que Deus sem mim, sem Gabriel, sem Lúcifer, sem o mundo ao redor... simplesmente continuava sendo Deus. Uno. Indivisível. Perfeito.

O Pai não estava mais ali. O Filho só podia olhar. E o Espírito Santo nunca mais pisou na Terra.

Eloí... Eloí... lamá sabactâni?
Amaya Takenouchi
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