Dener: Diário de um Nosferatu
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Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 1: OHNE DICH
Umas das primeiras lembranças de Dener é a de seu pai se suicidando. O garoto tinha apenas dois anos, e lembra-se de abrir uma porta, e lá dentro, um homem de rosto familiar, pendurado pelo pescoço em uma corda improvisada. Ele não se lembra muito da cena, exceto os olhos verdes vidrados e sem brilho de seu pai. Eles miravam o vazio ou estavam encarando-o? Dener nunca saberá, mas estes olhos continuariam encarando-o pelo resto de sua vida em seus sonhos.
Dener lembra-se pouco de sua mãe, apenas que nunca foi uma pessoa presente em sua criação. Sofria de esquizofrenia ou algo do tipo, tomava remédios traja preta, tornou-se alcoólatra e o entregou para viver com sua avó quando seu pai se suicidou. O tempo passava, e o garoto perguntava sobre seus pais.
- Papai foi para o céu, Denninho. E mamãe está doente, mas ama você!
- Vovó, eu também vou para o céu um dia?
- Claro que sim, Denninho, e seu papai vai estar lá te esperando!
- E a mamãe?
- Sim, ela também vai estar lá, e vocês três serão uma família feliz novamente!
- Mas quando ela vai sarar?
- ... Logo, Denninho, logo!
O tempo passava, mas sua mãe nunca retornava. Sua avó sentia muita pena do jovem neto. Tão jovem e precisando passar por isso. Como tal, ela agiu como uma mãe substituta super protetiva, lhe dando tudo o que ele desejava e mantendo-o em uma "gaiola dourada" para que não se machucasse.
Em sua infância, Dener passava a maior parte do tempo em casa jogando videogame e comendo os doces feitos por sua avó, que atendia todas as suas vontades. Porém, o garoto tinha pouco ou nenhum contato com as crianças vizinhas, desenvolvendo sobrepeso e tendo poucas amizades reais. Ele não precisava disso, seus amigos eram suas action figures, os personagens de desenhos animados que assistia, os heróis dos jogos que jogava. Ele preferia ficar em seu quarto jogando videogame ou assistindo TV até a madrugada a subir em árvores e brincar de esconde esconde com seus vizinhos. Sua avó também preferia assim, essas brincadeiras eram muito perigosas e o pobre Dener já havia sofrido demais para alguém com sua idade, ele precisava de toda a proteção do mundo. Enquanto ela beijava a testa do menino para colocá-lo para dormir, apagava a luz e saia do quarto, ele ainda se perguntava por que seu pai teria se matado e sua mãe não vinha vê-lo.
***
Em seu primeiro dia de aula, sua avó o deixava na porta da escola. Ela sorria acenando para ele, mas ele chorava ao ver sua avó deixando-o sozinho lá. Teria ela abandonado-o como seus pais? A professora tentava acalmá-lo, enquanto seus colegas riam do gordinho chorão.
Ao voltar para buscá-lo, ele vinha correndo abraçá-la.
- Como foi, Denninho, fez amiguinhos?
- Por favor, vovó, não me traga mais aqui!
A pobre avó não sabia como lidar com isso, mas acreditou que fosse apenas uma fase. Em breve ele se acostumaria, adoraria ir para a escola, faria amigos, como qualquer garoto. Já ele, morria de medo que sua avó o abandonasse, a única pessoa que ele tinha nesse mundo.
***
Diversas vezes a avó do menino precisou trocá-lo de escola. Dener tinha dificuldades em socializar com outros colegas, não gostava de dividir brinquedos com eles, era vítima de brincadeiras de mal gosto e não tinha amigos. Para ele, a escola era seu tormento, mas ele sempre podia contar com o consolo de voltar para casa ao final do dia e ser consolado por sua avó, que lhe dava doces, o deixava permanecer acordado até tarde e procurava elevar sua auto estima.
- Não ligue para seus coleguinhas, Dener. Eles tem inveja de você, e se alguém te bater novamente, me diga que eu mesma irei falar com os pais desse malcriado! Você é o garotinho mais lindo e amável que qualquer mãe poderia ter, e tenho orgulho de ser sua avó!
No dia seguinte, Dener foi para a escola mais confiante. Ele olhava em desafio para os garotos que o humilhavam, pois sabia que tinha a proteção de sua avó. Como resposta, os outros garotos riam dele. na hora da aula, Dener anotava os nomes de todos os seus algozes com o sorriso mais maquiavélico que uma criança poderia dar, antes de ser repreendido pela professora, que o humilhava na frente de toda a sala por não estar prestando atenção na aula, causando ainda mais risos maldosos de seus colegas.
Na hora da saída, Dener ainda segurava as lágrimas, pois seria vergonhoso demais chorar na frente de seus inimigos. Ele descarregaria sua tristeza com sua avó em casa, e iria delatar todos os que o humilharam, inclusive sua professora. Esse pensamento o acalmava e desviava sua atenção, quando ele sentia um solavanco. Alguém vinha correndo em sua direção e o empurrava com força, derrubando-o no chão, com o rosto em cheio em um excremento de cachorro.
- Consegui, hahahahaha, que gosto tem cocô de cachorro, Dener?
Dener se levantava, limpava as fezes dos olhos e cuspia o excesso que havia entrado em sua boca e nariz. Praticamente toda a escola ria dele agora, seus colegas, garotos mais velhos, garotas, até mesmo algum ou outro adolescentes que vinham buscar seus irmãos mais novos.
No ônibus escolar, ninguém quis sentar ao seu lado (embora isso não fosse incomum), mas Dener precisou aguentar por todo o caminho até sua casa os risos e piadas sobre o ocorrido além do motorista o xingando "Vá limpar essa cara, fedelho! Eu não vou te deixar entrar aqui desse jeito"!
Finalmente o ônibus chegava até a parada de sua casa, e o garoto corre para fora, evitando bolinhas de papel molhadas disparadas de canetas em seu rosto, e comentários como: "Até amanhã, Dener comedor de b0st4"!
Finalmente seu tormento iria acabar, ele descia do ônibus, mas por alguma razão, sua avó não estava lá esperando por ele. Esse estava sendo o pior dia de sua vida. Ele esperava por mais longos minutos e nada. Ele já deixava algumas lágrimas escaparem, quando decide voltar para casa a pé. Por que sua avó o teria deixado sozinho justo naquele dia, quando ele mais precisava dela?
Finalmente, ao chegar em casa, com o rosto já coberto de lágrimas, ele via luzes e uma multidão. Uma ambulância e vários vizinhos olhavam tristemente para a residência. Ele caminhava chorando e chamando por sua avó, até que um homem desconhecido o abordava.
- Olá jovenzinho, você é Dener?
- S... sim, cadê a vovó?
-... Bem... não sei como lhe dizer isso, garoto, mas você precisa ser forte!
Dener sentiu um aperto em seu coração, e em segundos, tudo ficou escuro. Ele apenas ouvia vozes à sua volta, mas não era capaz de entender o que diziam, e nem desejava. Tudo o que ele queria era ter sua avó afagando-o novamente em seu colo, acariciando seu cabelo e dizendo que ele não tinha culpa de nada que havia acontecido...
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
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Re: Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 2: MUTTER
Era o primeiro velório que Dener participava. Ele queria olhar uma última vez o rosto de sua avó, mas era pequeno demais para alcançá-la e apenas teve um vislumbre de seu rosto pálido quando fechavam o caixão.
Ao lado de Dener estava sua mãe biológica. Sim, após a morte da avó, ele foi informado de que teria de morar com ela. Sua primeira surpresa é de que ela não esteve no hospital este tempo todo, e isso implicava uma dúvida. Por que ela nunca veio vê-lo?
Durante todo o velório, sua mãe disse poucas palavras e não olhou-o nos olhos. Ele tenta segurar sua mão, e ela apenas a segura de forma fria, quase indiferente.
Após enxugar as lágrimas, ela o levava de carro para sua nova casa. Ele olhava para o rosto de sua mãe. O sol batia nela, revelando seus traços. Parecia-lhe uma completa desconhecida, mas ainda podia notar alguns traços de sua avó nela. Tudo era muito recente, e ele conhecia muito pouco sua mãe para lhe dirigir a palavra, mas no fundo, tudo o que desejava era que ela o abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem. Mas ela não o fez...
Sua nova casa era muito maior e mais aconchegante que a de sua avó, mas ainda assim, o vazio no peito de Dener jamais seria ocupado. Sua mãe era tão parecida com ela, e ao mesmo tempo tão diferente.
- Este será seu quarto, aquele é o meu, quando precisar de algo, pode chamar! Soube que você teve problemas em sua antiga escola, não se preocupe, você será matriculado em outra! - Sua mãe forçava um sorriso ao falar com ele, mas Dener não sentia o mesmo afeto que o de sua avó em suas palavras. Enfim, ela não era sua avó, e nunca a substituiria.
***
Dener estava no chão, com o nariz sangrando, do lado de fora de sua escola. À sua volta, todos os colegas riam dele. Em seu primeiro dia de aula, um colega o chamou de gordo, mas desta vez, Dener tentou revidar... mas apenas acabou piorando as coisas. O garoto, mais velho, era muito maior e mais forte que ele, e todos os colegas próximos se juntaram em volta de ambos como em um círculo "briga, briga, briga", aquilo não era uma briga, era um massacre, e Dener saiu ainda mais humilhado e se sentindo um inútil quando o sinal tocou e ele fora deixado lá, choramingando e com a camiseta suja de terra e sangue.
Ao voltar para casa, ele trouxe consigo um bilhete para sua mãe. Ele imaginou que assim como sua avó, ela o encorajaria e iria até a escola para falar com os pais do menino, mas sua reação foi muito diferente da que ele esperava.
- Ah, Den... filho. Por que você fez isso? Minha mãe já havia me dito que você era um aluno problema, mas arrumar briga no primeiro dia de aula?!
Seu peito doía novamente quando ela mencionava que sua avó o achava um "aluno problema", seria isso mesmo verdade?!
- Tudo bem, filho, vá tomar um banho, eu lavo sua roupa, mas não faça mais isso! – A forma como ela se dirigia a ele, a expressão “filho” era um tanto quanto estranha para Dener. Talvez o fato de nunca ter sido chamado assim antes, talvez o fato de sua mãe nunca tê-la usado antes. Ter alguém chamando-o de filho deveria confortá-lo, mas este não era o caso.
***
Nos dias seguintes, Dener percebeu que sua mãe era muito diferente de sua avó, e sozinho em seu quarto, chorava debaixo das cobertas. Em seus sonhos, ela via novamente sua avó sendo enterrada, então, os olhos vidrados de seu pai morto, encarando-o.
Com o pouco que conviviam durante os dias seguintes, ele descobre que sua mãe realmente tinha problemas, sendo aposentada por invalidez devido a problemas psiquiátricos, vivendo da aposentadoria de seu pai. Por diversas vezes ele pensou em lhe perguntar por que o deixou com sua avó, mas não tinha coragem.
Os dias passavam e sua mãe demonstrava pouca atenção para com ele. Acostumado com sua avó lavando suas roupas, arrumando sua cama e lhe mandando tomar banho, Dener tornou-se desleixado (aumentando ainda mais o bullying sofrido na escola). Assim como sua avó, porém, ela o deixava o dia todo assistindo TV e jogando videogame, que se tornaram suas únicas formas de fuga da realidade.
Ocasionalmente, ele e sua mãe tinham bons momentos juntos, assistindo TV ou conversando, mas a mágoa por sua mãe, a perda da avó e a distância aparente entre ambos impedia que seu relacionamento evoluísse. Ela parece ter percebido isso, ou talvez sentisse que não estava fazendo um bom papel como mãe, então começava a fazer perguntas sobre como foi seu dia de aula, embora achasse muito estranho o fato do filho não ter amigos.
Certo dia, Dener voltou da escola e encontrou sua mãe caída na cozinha, com uma poça de vômito ao redor de seu rosto, uma garrafa vazia quebrada no chão e comprimidos sobre a pia. O desespero o tomou, e ele imaginava ter perdido mais uma pessoa. Ele gritou, tentou acordá-la, sem sucesso. Desesperado ele corre para fora e grita para os vizinhos.
No hospital, Dener esperava em um banco junto com os vizinhos que chamaram a ambulância. Um médico se aproxima, o coração de Dener bate, mas a notícia era boa.
- Não se preocupem, ela já acordou e não corre mais riscos de vida, mas é melhor que ainda não tenha visitas pois está muito alterada psicológicamen... Ei, menino, espere!
Dener ignorava o conselho do médico e corria até o quarto de sua mãe, e lá estava ela, deitada, pálida e com olheiras. Ele vinha correndo e a abraçava, mas era repelido por ela.
- Seu inútil, além de tirar meu sossego, ainda tenta tirar minha última chance de escapar deste mundo nojento? Não é à toa que seu pai se matou, ele foi mais esperto do que eu. Se soubesse que meu filho seria um merda que não serve para nada, teria abortado você quando soube que estava grávida! – Então lhe dava um tapa no rosto.
Os médicos chegam e afastam o garoto da mãe, mas o pior já havia acontecido. Dener jamais esqueceria aquelas palavras proferidas por sua genitora.
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
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Re: Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 3: KEINE LUST
Dener estava parado em frente ao túmulo de seu pai, quem ele mal lembra da voz, e a única lembrança que possui é do dia de sua morte. Chovia, mas ele não se importava, a única coisa que ele pensava era: "Nossos pais não deveriam nos abandonar. Todo garoto precisa de um pai para ensiná-lo a se defender dos valentões da escola, para jogar bola com eles, ensiná-los a ser homens, ou apenas para estar com eles".
Nesse momento, Dener odiava todos à sua volta. Odiava sua frígida mãe por tê-lo colocado neste mundo amaldiçoado, odiava seu pai por ter se suicidado antes mesmo de ter a chance de conhecê-lo como deveria, e odiava até mesmo sua avó por tê-lo deixado sozinho neste mundo de dor e sofrimento.
Anos se passaram e o relacionamento de Dener com sua mãe foi se tornando cada vez pior. Ela tinha crises de identidade e ora tentava fazer seu papel de mãe, ora descontava suas frustrações nele, seja ofendendo-o com palavras ou agredindo-o. Dener se tornou um adolescente obeso, de baixa estatura, com uma postura curvada e sem habilidades sociais. Cabelos compridos e engordurados emolduravam seu rosto oleoso coberto de acne. Ele se sentia totalmente inadequado a este mundo e culpava sua mãe por isso.
***
Um jato de urina vinha em sua direção. Dois garotos o seguravam no banheiro, enquanto um terceiro, com as calças abaixadas urinava em seu rosto.
- Será que ele consegue engolir tudo? Isso é o que você merece por ter me entregado para a diretora, seu X9! Eu peguei suspensão por um mês, e agora você vai aprender a ficar de bico fechado!
Quando eles saem rindo, Dener vomita no vaso sanitário. Ainda assim, suas roupas cheiravam a urina, e ele não poderia voltar para a aula desse jeito, apenas lhe sobrava fugir da escola e voltar para casa.
Quando ele passava pelo corredor, um grupo de meninas ria alto dele. Com certeza seus algozes já deveriam ter espalhado para todos os seus colegas a humilhação que ele foi submetido. Dener havia aprendido a lição, ele vivia em uma selva urbana, ali o mais forte sempre vence. Ele era a base da pirâmide, o ômega, e as fêmeas jamais se interessariam nele. Ele apenas serviria de alimento para os alfas se vangloriarem e obterem sexo das fêmeas ao demonstrarem sua superioridade. Ele já nem ligava tanto para estas humilhações corriqueiras, pois havia compreendido seu lugar na cadeia alimentar.
Apesar de ser um garoto inteligente (talvez até acima da média, julgava ele próprio), suas notas iam despencando à medida que precisava matar aula para não ser espancado e humilhado pelos colegas, e com sua auto estima destruída ele mal tinha ânimo de estudar para as provas. Durante as aulas, ao invés de prestar atenção no que a professora explicava, ele fantasiava como seria explodir uma ogiva no meio da cidade. Ele passou a admirar genocidas como Stalin, Hitler, entre outros. Dener não possuía uma ideologia, apenas admirava o estrago que eles fizeram e imaginava-se no lugar deles.
Enquanto voltava para casa, ele percebia o quanto se sentia estranho caminhando na rua. Enquanto estava em casa, trancado em seu quarto escuro, jogando videogame, ele se sentia mais vivo do que nunca, já quando colocava os pés para fora de casa e tinha de encarar o mundo, se sentia indefeso, nu, como um nervo exposto. Era irônico como ele se sentia real jogando videogame e sentia-se artificial, como um personagem de videogame quando caminhava na rua.
A chuva começava, mas ele não se importava. Carros passavam por ele, correndo rapidamente sobre poças de água que o encharcavam. Alguns até riam dele, outros nem ligavam. Ele era o maior perdedor do mundo, não precisava que o lembrassem disso. Uma necessidade então o tomava. Dener havia desenvolvido diversos transtornos nos últimos anos, como TOC e um hábito de masturbação compulsiva. Ele se apressava para chegar em casa e ligar seu computador em algum vídeo de S&M para descontar suas frustrações.
Ele abria a porta e sua mãe vinha gritando com ele por estar matando aula novamente e estar caminhando na chuva sem capa. Naquele momento ela era apenas um estorvo. Não, apenas um estorvo não, era mais uma pessoa a importuná-lo. Justo ela que deveria consolá-lo, mas ele já não esperava conforto da serpente que o gerou. Ela era como as garotas que o rejeitavam, como os meninos que o humilhavam, como os professores que o viam sendo surrado todos os dias, mas permitiam mesmo assim. Sim, ela era como os garotos que urinaram nele hoje... mas menor.
Dener levanta seu pulso e desfere um soco no rosto de sua mãe, que cai no chão com o nariz quebrado, choramingando. Ele sabia que deveria se sentir culpado por agredir a própria mãe, mesmo que ela nunca tenha agido como tal, mas no fundo, ele não sentia nada.
Ele passa por cima de sua mãe, que ainda estava no chão, sem nem ligar para seu choro (assim como ela sempre havia ignorado o seu), entra em seu quarto, fecha a porta, e liga o computador. Finalmente ele poderia deixar para trás seus problemas, sua vida patética e viver de verdade.
É, talvez este dia não tenha sido assim tão ruim!
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
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Re: Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 4: ROSENROT
Dener estava na faculdade. Sua aparência continuava praticamente a mesma, com o agravante de que agora usava óculos de grau e uma leve calvice começava a se manifestar precocemente (mas ainda assim ele deixava os cabelos compridos para esconderem seu rosto). Ele sentava-se no fundo da sala e não interagia com ninguém. Seus colegas o achavam um estranho, mas ele não ligava para nenhum deles... exceto Gal.
Gal era uma menina tímida e retraída que também se sentava no fundo da sala e interagia muito pouco. Para muitos poderia ser uma menina sem atrativos, extremamente magra, sem busto ou qualquer outra característica que atraia os garotos populares da turma. Mas para Dener ela era especial. Uma solitária como ele, com um olhar distante, como se buscasse algo que não pode ter, como uma criança perdida chorando para a lua. Dener prestava atenção em todos os seus detalhes. Suas roupas refletiam a depressão em sua alma, o negro e vermelho eram suas cores favoritas. Ah, ele a achava tão bela de vermelho, como uma rosa triste em um jardim, cercada por ervas daninhas, esperando para ser colhida por seu salvador. Cabelos e olhos negros, lábios vermelhos como o sangue. Dener imaginava qual seria o sabor daqueles lábios, e seus olhos começavam a substituir os de seu pai em seus sonhos noturnos.
O inexperiente jovem tentava encontrar seus olhos durante as aulas, mas a tímida garota sempre desviava deles. Talvez ela tivesse asco dele como todas as outras, mas diferente das outras, essa ao menos não ria dele. Ainda assim, ele não tinha coragem de tomar a iniciativa. O tempo fez isso por ele, quando ambos foram os únicos a não serem escolhidos por ninguém quando um trabalho em duplas foi solicitado. Dener se aproximou dela, suas mãos tremendo e suando frio. Seus passos desencontrados, assim como suas palavras, mas ainda assim ela sorriu para ele. Esse sorriso derreteu o gelo em torno de seu coração, e ele não conseguiu evitar em retribuir timidamente.
Ambos se reuniram na biblioteca da faculdade para realizar o trabalho. Era a primeira vez que ele sentia-se tão próximo de uma garota. Em determinado momento, sua mão acidentalmente toca a dela. Ele sente como eram geladas, ainda mais que as suas, mas ela afasta a mão.
Os dias se passavam e as esperanças de Dener aumentavam. Ambos se reuniam quase todos os dias para terminarem o trabalho e agora ele se sentia mais íntimo dela, conversando sobre assuntos aleatórios durante os intervalos de aulas, e sentindo-se realizado ao perceber que ela não desejava que ele simplesmente a deixasse em paz, como todas as outras garotas que ele tentou aproximar-se desde a escola.
Pela primeira vez na vida, Dener começava a cuidar de sua aparência. Sim, ele ainda era um jovem de 1,60, obeso, começando a ficar careca, mas em vez de óculos, agora usava lentes, cuidava de sua acne e dos cabelos e pele oleosa. Não era nenhum partido, mas esperava ao menos ter alguma chance com a tímida garota.
Era sua chance de finalmente ser feliz e aceito por alguém. Ele até mesmo havia parado de assistir pornografia no computador e fantasiar ser um ditador mandando todos os seus desafetos para Gulags e campos de concentração.
A cada dia ele aprendia mais sobre a vida da menina, inclusive detalhes íntimos. Ela havia sido criada em uma cidade do interior, de forma modesta, ao chegar à adolescência, seu corpo não se desenvolveu da mesma forma que suas colegas e ela foi muitas vezes preterida pelos bad boys da escola, exceto um homem mais velho que lhe deu esperanças, mas no fundo apenas quis se aproveitar de sua inocência, e se afastou dela após conseguir usufruir de sua virgindade.
Ela era uma alma rejeitada, assim como ele. Dener agora a via como sua alma gêmea e seria capaz de fazer tudo por ela, inclusive lhe passar cola durante as provas para evitar que ela precisasse repetir disciplinas. Gal tinha muita dificuldade em exatas e essa era justamente a área que Dener mais dominava.
Certo dia, após tirar nota máxima em uma prova graças à ajuda de Dener, esta o abraça com força e beija seu rosto. O coração do inocente jovem explodia com esta mínima prova de afeto. Debaixo de uma árvore no campus, ambos deitados na grama olhando o por do sol, ele lhe revelava todas as suas inseguranças e ela lhe dizia que não o achava feio, e que as outras garotas eram fúteis demais para verem sua beleza interior. As mãos de ambos se entrelaçam, deitados no chão, olhando para o céu.
Após aquela noite, Dener estava decidido a pedi-la em namoro. Talvez fosse algo arcaico nos dias modernos, mas era o que ele via nos filmes românticos que idealizava. Ele liga para ela, mas por alguma razão, ela não atendia. Estranho, ela sempre costumava atender suas chamadas, inclusive nos últimos tempos passavam madrugadas inteiras conversando.
No dia seguinte, suas chamadas novamente caem sempre na caixa de chamadas do telefone de Gal. Estaria ela com algum problema? Momentos antes da primeira aula, ele finalmente a via no corredor. Seu coração pulsava e suas pernas tremiam, mas ele precisava ter coragem de pedir, e se dirige a ela. Para sua surpresa (e decepção) a menina apenas o cumprimenta de maneira seca e entra na sala. Lá dentro, continua a ignorá-lo. Ele teria feito algo de errado? Esses pensamentos passaram a consumi-lo pelo resto do dia, e ele esperaria até o final da aula para perguntar o que aconteceu.
E assim foi, a aula terminava e ele esperava ela juntar seu material e sair, então ia atrás dela em busca de respostas. Ao acompanhar seu passo, ao invés de se dirigir até a casa estudantil como sempre, ela se dirigia até a rua, onde um carro parava. De dentro dele, saia um homem mais velho, então ela sorria, caminhava até ele... e o beijava nos lábios. Era um dos piores dias da vida de Dener.
Os olhos de Gal continuavam a encará-lo em seus sonhos, mas desta vez, ele não sentia esperança, mas vergonha, culpa, ódio, e o mais profundo sentimento de solidão e desespero. Durante o dia, ele tinha fantasias de ambos andando na praia de mãos dadas, seu sorriso guiando-o, e seus olhos prometendo que nunca o abandonaria. Ela era como uma droga, ele sentia falta de seu afeto e a abstinência dele estava matando-o. Por noites salgadas ele permaneceu acordado, tentando evitar que o rosto de sua amada o assombrasse em seus sonhos, mas ainda assim ela insistia em atormentá-lo em seus pensamentos acordado. Gal continuava a ignorá-lo nas aulas e nunca lhe deu nenhuma resposta. Dener formava suas próprias teorias. Teria ela apenas usado-o para passar nas provas e lhe dado esperanças por isso?
Em casa, ele se olhava no espelho. Nunca havia se sentido tão feio, tão inadequado, tão asqueroso e preso no próprio corpo e em seu próprio fracasso, então socava o espelho. Rachaduras e sangue. Ele não se importava. Agora ele tinha dezenas de imagens do próprio rosto horrendo encarando-o, e na pia, um caco de vidro ensanguentado. Ele não servia para este mundo, ele precisava encontrar uma forma de deixá-lo, então pegava o caco de vidro e perfurava seu pulso, descendo até sentir suas veias sendo abertas e o sangue espirrando no espelho, escondendo as dezenas de imagens horríveis de si mesmo em suas rachaduras. Suas pernas enfraqueciam, tudo ficava escuro e a última coisa que se lembrava eram dos gritos de sua mãe desesperada ao entrar no banheiro...
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
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Re: Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 5: BENZIN
Dener se impressionava com o quão azarado era, como se tivesse nascido para sofrer. Até mesmo a morte o rejeitava. Era como um dejavu inverso, ele havia arruinado a tentativa de suicídio de sua mãe anos atrás, e agora ela retribuía o desfavor. O mundo era como uma prisão onde ele jamais poderia escapar.
Após sua tentativa falha de suicídio, Dener foi internado em um hospital psiquiátrico (um eufemismo para sanatório, ou o popular hospício). Agora a prisão sem grades que era sua vida tornou-se uma prisão com grades.
Dener estava de frente para sua terapeuta. Ele ficava impressionado com o quanto uma pessoa formada na área poderia ser tão inútil. "Você é um caso típico de masculinidade tóxica", "Você provavelmente deve ter tido um pai opressivo que reprimia você e sua mãe", "você tinha amigos machistas?". Por acaso ela não havia nem mesmo lido sua ficha? Ele mal conheceu seu pai e nunca teve amigos. Dener apenas a manda tomar no c#, e ela retribui receitando-o uma porrada de remédios que o deixavam impotente, o faziam dormir cerca de 2/3 do dia e o deixavam tendo calafrios e tremendo o tempo inteiro.
No sanatório, Dener conheceu os tipos mais bizarros que poderia imaginar, mas também aprendeu algumas coisas. Um de seus colegas de quarto era um usuário de drogas pesadas envolvido com ocultismo. Ele lhe ensinou sobre gnose e conhecimentos ocultos, no fato de acreditar num deus maligno ou algo assim (ele o chamava de Demiurgo) e que vivemos em uma prisão de carne. Ele procurava desesperadamente uma forma de fugir desta realidade 3D, e com isso realizou um ritual, sacrificando o gato negro de sua vizinha em seu quarto. Seus pais o pegaram no ato e o internaram.
Outro colega de quarto de Dener era um hacker/cracker que dizia ter invadido o sistema da NASA e do governo e descoberto muitas coisas. Entre elas, o fato de criaturas obscuras dominarem o mundo, vivendo em segredo em nosso meio, criaturas noturnas, criaturas que podem distorcer a realidade ao seu bel prazer, seres que fazem pactos com entidades de outras realidades, deuses obscuros, técnicas de controle mental em massa, seres com aparência humana mas que podem controlar mentes com apenas um olhar e se alimentam do sangue de virgens.
Dener os achava apenas malucos, mas havia algo de sabedoria em suas palavras e assim que saísse desse hospício, procuraria se aprofundar nos segredos ocultos da internet. Mas no momento, o que ele desejava acima de tudo era colocar fogo nesse hospício, criar uma mega ogiva nuclear nunca antes inventada, capaz de explodir o mundo inteiro, assim não haveriam mais vidas, sem vidas não haveria reencarnação e sem reencarnação, o ciclo das existências seria quebrado e ele poderia fugir deste mundo 3D e mandar uma banana para o demiurgo.
Ele não sabia quanto tempo havia se passado desde que fora internado e os remédios o faziam duvidar da própria realidade. Ele realmente existia? Tudo o que ele passou era mesmo real? Seus colegas de quarto eram mesmo reais? Ele era real?
Dener começava a questionar sua própria sanidade, e começava a falar como seus colegas de quarto malucos. Eles eram o dejeto da sociedade, aqueles que ninguém deseja. O asilo era o esgoto onde eles eram jogados. Aqueles ineptos, inadequados e inúteis para a sociedade, aqueles que não serviam como formiguinhas do sistema, que não produziam, eram quebrados, bonecos com defeitos de fábrica jogados no lixo, abortos realizados na privada de um banheiro, que insistem em sobreviver mesmo após a descarga. Fracos demais para a vida, rejeitados por ela e presos como leprosos para não contaminarem as pessoas normais.
Um recluso era o que Dener era, não apenas neste hospital, mas neste mundo de carne, que com certeza era um castigo imposto a todos que nele vivem, mas as pessoas comuns eram idiotas demais para perceber, controladas pela mídia, enganadas por ideologias tolas, imersas na cultura do prazer e do consumismo. No fundo todos não passavam de vermes, vermes que o rejeitaram a vida toda, vermes que o abandonaram quando ele mais precisava, vermes que o parasitaram quando precisavam dele e após sugar tudo o que necessitavam, abandonavam sua carcaça para trás.
Quanto tempo havia se passado? Dias? Meses? Anos? Ele não sabia, apenas esperava, e o ódio crescia em seu peito, ameaçando devorá-lo.
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
Idade : 54
Re: Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 6: DU HAST
29cm Diz:
E aí Gatinh@Safada, como vai?
Gatinh@Safada Diz:
Melhor agora que você entrou, rs. Tô tão sozinha , quer ver umas fotos minhas?
29cm Diz:
Pode ser, mas primeiro gostaria de fazer uma brincadeirinha com vc!
Gatinh@Safada Diz:
Ui, brincadeirinha? Que tipo de brincadeirinha? Já to ficando molhadinha, rs.
29cm Diz:
Faz o seguinte, entra no youtube e procura pelo vídeo "Show Me you genitals 2", depois me diz o que achou!
Gatinh@Safada Diz:
Vou ver, só pelo nome já to gostando, rsrs.
5 min depois...
Gatinh@Safada Diz:
Que lixo, pq me mandou essa droga? Tá maluco?
29cm Diz:
É importante entender bem o significado da música, para entender o motivo de eu estar conversando com vc há duas semanas!
Gatinh@Safada Diz:
Q p0rr4 é essa? oq tá acontecendo aki????????
29cm Diz:
Acho que agora já posso me apresentar de forma decente. Quando nos conhecemos nas redes sociais, falei que era um cara da Alemanha, te mandei fotos de um corpo sarado e um pênis gigante. Tudo mentira, sabe quem eu sou? Vou te dizer, sou um gordinho de 1,60, cheio de espinhas, míope e adoro animes e HQs. Sou o típico nerd fracassado que você tanto odeia e acha serem indignos de seu corpo mais usado que maçaneta de porta de banheiro público, e mesmo assim dou de 10 a zero em vc e te enganei esse tempo todo, sua balzaquiana patética. Vc não passa de uma vagabundinha que casou com um nerd quase tão estranho quanto eu, para depois pedir separação e tomar metade dos seus bens, mas é tão burra que sai por aí contando suas tramas para qualquer bombado que vê na internet.
Gatinh@Safada Diz:
Q q cê tá falando? Estou ficando assustada, não eramos amigos????
29cm Diz:
Foi muito fácil te achar por aí, fuçando em sites de traição. Eu monitoro pessoas como você desde que saí do hospício. Meu passatempo é ferrar com a vida de gente da sua laia. Desde que nos conhecemos foi fácil invadir seu computador (com Gold Digger é facinho: vírus em sites de traição), manipular seus resultados de buscas e monitorar suas comunicações.
Você, sua otária, revelou seus planos para mim e diversos outros garotões por aí. Como se casou com um homem que acha nojento apenas para pôr a mão na grana dele, como sentia asco em dormir com um homem inferior que mais parecia o Bill Gates com síndrome de Down, como planejava fazer um filho com ele e depois pedir divórcio com falsas alegações de agressão, e até mesmo pensava em pagar um assassino de aluguel para dar cabo do maridão. Eu já entrei em contato com o maridão e adivinha só, você vai pro xilindró por MINHA causa. Eu, um nerd gordinho, tetudo e fracassado ri por último.
Gatinh@Safada Diz:
Seu merda, vou pegar essa conversa e deNUNCIAR VCC
29cm Diz:
Sabe de uma coisa? Não vai não! Estou acessando sua máquina de forma remota. Desabilitei printscren, copiar/colar e já estou apagando nosso histórico de conversas. Dicas de um amiguinho que conheci no manicômio. Meu acesso à internet é mascarado, meu IP é fake, meus dados criptografados. Nem me darei ao trabalho de usar termos mais técnicos, pois sei que sua cabeça de ervilha não iria entender mesmo.
Gatinh@Safada Diz:
VOU TE DESTRUYIR SEU DESGRAFADO
29cm Diz:
Sério mesmo? A polícia é quem vai te pegar. Eles já receberam uma denúncia anônima. Vc vai em cana, "gatinha safada"!
Gatinh@Safada Diz:
Por favor, vamos dialogar, o que vc quer de mim? Dinheiro? Sexo?
29cm Diz:
Por favor, guarde a pouca dignidade que ainda lhe resta, não curto mercadoria quebrada! Além disso, nem todo o dinheiro do mundo pode me trazer tanta felicidade como a que estou tendo agora.
Gatinh@Safada Diz:
DESGRAÇADOOOOOO
29cm Diz:
Bem, vou saindo. Já me diverti o suficiente às suas custas. Já apaguei meus rastros no seu computador e corrompi os arquivos de sistema necessários para que ele não possa mais reiniciar. Não se preocupe, os técnicos da polícia vão ler seu disco sem problemas para pegar as provas. Vou desligar sua máquina agora. Lembre-se, enquanto você está indo, eu já fui e voltei. Até nunca mais, vadia! Ah, quase me esqueci, se algum dia sair da cadeia, lembre-se de colocar mais alguns mls de silicone. Essas tetas caídas broxam qualquer um! Bye!
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
Idade : 54
Re: Dener: Diário de um Nosferatu
PARTE 7: MEIN TEIL
Após deixar o hospital psiquiátrico, Dener decidiu se aprofundar no submundo da internet. Computadores e jogos sempre o fascinaram, ele sempre teve certa aptidão em exatas, e ele não teve dificuldades em se tornar rapidamente um expert na área, principalmente com as dicas de seu antigo colega de quarto.
O submundo da dark net o fascinou. Toda uma subcultura, gírias próprias, fóruns secretos, apenas esperando para serem descobertos. Dener se misturou com extremistas islâmicos, nacional-socialistas, eco-fascistas, terroristas de esquerda, trolls misóginos, todos aqueles vistos como inimigos públicos e interagia com todos, independentemente de ideologia ou escrúpulos, trocando conhecimentos e se especializando em assuntos obscuros para o resto da humanidade. Estranhamente, ele sentia como se todos eles fossem no fundo apenas homens incompreendidos como ele, flagelados pela vida até se desumanizarem e pensava consigo mesmo, a própria sociedade cria estes frankensteins para depois condená-los.
Ele já não precisava trabalhar, tendo se tornado um exímio cracker, ele criava seus próprios vírus, worms, técnicas de fishing, entre outras, e conseguia faturar um bom dinheiro, furtando de milionários. No mundo real ele podia ser o maior dos fracassados, mas no meio virtual ele era um deus, passando vigaristas para trás, se infiltrando em sistemas impossíveis de serem acessados, jamais sendo rastreado, e com o tempo até mesmo foi conquistando fãs dentro da subcultura dos hackers.
O próximo passo era se aprofundar mais no meio ocultista e teorias da conspiração. Ele desejava saber se o que seu outro colega de quarto dizia era mesmo verdade. Existiam mesmo imortais entre nós? Seres que se alimentam de sangue e controlam a humanidade? Em suas buscas ele esbarrou em muitas coisas, a maioria delas obviamente tratavam-se de farsas, mas seu maior progresso ocorreu quando conseguiu se infiltrar numa rede ultrassecreta denominada "Shrecknet". Segundo suas pesquisas, uma rede tão obscura que nem mesmo hackers especialistas no lado mais oculto da internet jamais haviam sequer ouvido falar, e muitos acreditavam ser uma lenda. A própria rede dos imortais, os Iluminatti.
Dener conseguiu adentrar a rede e viu muitas conversas estranhas. Termos como "Máscara", "Camarilla", "Sabbat", "Membros", "Cainitas", "Nicktuku" entre outros que ele nunca havia visto antes entre as gírias da dark web. Ele conseguiu tirar muitos prints para estudar posteriormente e saiu da rede antes que fosse identificado.
Por dias ele estudou as conversas e chegou à conclusão que haviam ao menos duas facções entre eles, a "Camarilla" e o "Sabbat". Eles identificavam a si mesmo por termos. Cada facção tinha uma nomenclatura diferente, a primeira se identificava como "Membros", a segunda "Cainitas". A "Máscara" obviamente era uma tática que utilizavam para mascarar sua própria existência, e "Nicktuku" aparentemente era um grupo ou organização que os perseguia.
Passados alguns dias, Dener passou a receber estranhos e-mails de um remetente oculto. Primeiro ele o parabenizava por ter tido a habilidade e a coragem de adentrar a toca do coelho, mas perguntava se ele teria a coragem de entrar mais fundo e escolher a pílula vermelha. Dener se assustou com a proposta, e esse hacker parecia tão ou até mais habilidoso que ele, sendo impossível de rastrear. Ele tranquiliza Dener para não ter medo, pois se quisesse ele morto, já o teria feito. Ele apenas se impressionou com as habilidades do jovem e desejava iniciá-lo na "elite". Ele seria um imortal, alguém acima do mero gado da humanidade.
Por uma semana, Dener pensou na proposta e pensou "o que eu tenho a perder?". O misterioso hacker (identificado apenas como "Conde Orlock") combina que ambos se encontrem nas docas da cidade.
Era uma noite fria e um denso nevoeiro atrapalhava a visão. Dener chegava antes da hora como de costume, e seu misterioso hacker surgia da névoa. Um homem alto, magro, com um sobretudo marrom, bem apessoado e de bons modos. Dener era um completo zero à esquerda em habilidades sociais. Sua mão tremia ao apertar a gélida mão do homem, e o jovem gaguejava ao dizer seu nome.
- Então, Dener, como lhe disse, suas habilidades seriam muito úteis para nossa sociedade, então lhe ofereço duas opções. Como Alice no País das Maravilhas, ou Neo em Matrix, você pode escolher adentrar mais fundo na toca do coelho ou voltar para sua casa e abrir mão de tudo isso. Qual a sua escolha?
O medo, ou algo mais, dizia para Dener voltar para casa, mas sua curiosidade foi mais forte. O jovem escolhe adentrar a sociedade, e Orlock sorri.
Dener se lembra pouco do que aconteceu em seguida, apenas do homem usando o pseudônimo de um personagem famoso do terror revelar sua verdadeira e horrenda aparência, lhe cravar os caninos na jugular e tudo escurecer. Por dias, Dener sofreu dores terríveis em um túnel escuro e úmido. Seus dentes caiam e davam lugar a dentes pontiagudos. Sua pele ardia, como se fosse derreter e uma secreção semelhante à produzida pelas lesmas cobria todo o seu corpo. Membranas surgiam ao redor de seus dedos e seu rosto assumia uma forma estranha. A cartilagem de seu nariz e orelhas apodrecia e caia, deixando apenas buracos em seu lugar. Ele sempre havia sido tratado como um monstro pela sociedade e se considerado um monstro, mas agora ele realmente era um monstro.
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
Idade : 54
Re: Dener: Diário de um Nosferatu
EPÍLOGO: MEIN HERZ BRENNT
Dener finalmente havia descoberto o que havia sob a toca do coelho, e o que descobriu não era nada bonito. Falando em beleza, ele sempre achou que seria impossível ficar mais feio do que já era. Estava enganado, mas após algum tempo aprendeu a lidar com isso. Ele não devia nada para a sociedade, não haviam motivos para se tornar apresentável para o gado que o havia ignorado desde sempre, exceto talvez para conseguir sua preciosa vitae.
O neófito também acabou por descobrir que seus companheiros de ninhada eram mais humanos que os próprios humanos, tratando-o como um igual, algo que ele nunca havia vivenciado na superfície. Não, eles não eram os "caras bons", alguns deles realmente eram perturbados e faziam jus à alcunha de monstros, mas ao menos tratavam bem seus semelhantes. Muitos deles eram pessoas rejeitadas como ele durante a vida, e agora o continuavam sendo durante a não-vida, então era justo que se ninguém se importasse com eles, eles próprios se importassem com o rato de esgoto ao seu lado.
Quanto ao mundo da superfície, Dener não via motivo algum para se importar com eles. Ele continuava usando e abusando de suas habilidades com um mouse e banda larga para destruir reputações de pessoas como as que o infernizaram durante a vida. Bullyies, bad boys, cheerleaders, raínhas do baile, descolados, e qualquer um que cruzasse seu caminho. Ele ainda demonstrava sentimentos para pessoas como ele. Desajustados, vítimas de bullying, solitários, entre outros, e evitava fazer mal a estes.
A curto prazo, seus objetivos principais eram entender mais sobre o mundo oculto que havia descoberto e mostrar-se útil a seus novos irmãos, a médio prazo aprimorar suas habilidades do sangue, especialmente a habilidade da ofuscação, tanto para esconder sua aparência horrenda, quanto para enganar mortais incautos e brincar com suas presas como um gato brinca com um rato antes de matá-lo. Por fim, ele havia ouvido falar que alguns Nosferatu costumam "presentear" pessoas de grande beleza e vaidade com o abraço Nosferatu. Dener espera poder se deleitar presenteando alguém com este castigo eterno, atualmente ele está escolhendo bem sua vítima.
Heathcliff- Data de inscrição : 29/10/2013
Idade : 54
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