Lobisomem (Universidade dos Lobos)

PEDRO



      Instalados em um novo refúgio, os membros da matilha passam a se entenderem melhor. A história de Vivian era um tanto quanto chocante. Como um Garou de renome poderia se comportar de tal forma e ainda permanecer como líder de uma Seita? Em todo caso, o bando a acolhe.

      Pedro também propõe treinarem no bosque da USP algumas táticas de matilha, mas ao chegarem no local, ele se depara com o Rei e se lembra de sua promessa, a de conseguir um encontro indecente para o velho Roedor. Com dúvidas de por onde começar, ele decide pedir ajuda para Lucas e Brienne. A fêmea faz uma cara de nojo antes de responder.

- irc... Essa vai ser difícil, já vi as maiores vagabundinhas da USP dando fora no velho mesmo ele lhes oferecendo a maconha mais pura da cidade de graça. Duvido que mesmo alguma puta paga vai querer... a não ser... - Então ela olhava para Lucas, que dava de ombros, então continuava - Bem, eu conheço uma parente que vive na crackolândia. Geni é seu nome, e se ela não topar, duvido que alguém irá!

      A matilha então dirige-se à precária região. Um dos locais mais miseráveis que Pedro já havia pisado, e olha que ele havia crescido nas ruas de São Paulo.


      Ainda mais miserável que o local eram os pobres coitados que residiam nele. Era possível ver meninos de 8 anos fumando crack, adolescentes anoréxicos desmaiados no meio da rua, cercados por lixo, ratos e sua própria urina e vômito.



      Pedro tinha até medo de espiar na umbra local. Com certeza a cracolândia deveria ser um terreno onde a Wyrm reinava soberana.

      Após perambularem vários minutos por este local deplorável, finalmente a avistam.

- É ela! - Aponta Brienne para uma prostituta desesperada, obviamente sob efeito de algum tipo de drogas.







      A pobre garota de programa andava com passos incertos à procura de um cliente, mas parece que nem mesmo os crackudos a queriam (ou talvez não tivessem cinco reais para lhe pagarem).

- Ó o pograaaaaama, cinco reáu! Ó o pograma, cinco reaaaaaaau!

- Hey, Geni! Tudo bem? Acho que posso te ajudar com um cliente! - Dizia Brienne, se aproximando dela.

- Um cliente? Qual desses gatinhos? - Dizia a prostituta tentando lançar um olhar sexy para Pedro e Raul, até que seus olhos batem em Lucas - Nooooossa, eu daria de graça pro grandão aí, se não estivesse sem comer faz três dia!

- Não não, nenhum desses, é um amigo nosso, e o que é melhor, ele pode te conseguir o melhor bagulho da cidade de graça!

- O melhor bagulho? Tô drento, mas diz aí, vocês não tem um sanduíche ou alguma coisa sobrando pra mim?





      Após levar Geni até o Rei, o velho se mostra extremamente feliz.

- Caramba, já tava até achando aquela cadelinha sarnenta atraente, depois de umas biritas e uns fuminhos isso acontece, heh heh heh. Não contem pra ninguém, mas sabem aquele cabrito com cara de gente que apareceu no programa do Ratinho uns anos atrás? Desconfio que seja meu filho! Mas deixem para lá, nada como uma fêmea humana quentinha e pronta para o abate. Vou dar uma voltinha com minha nova amiga até aquelas moitinhas. Não nos perturbem por pelo menos... quinze minutos, ok?!

- Ei, ouvi dizer que te chamam de Rei da Erva, tem algum barato para mim?

- Sim, tenho sim, donzela! Prepare-se pois você vai passar pelo maior barato de sua vida, vamos fazer uma cruza entre kero-kero com pica-pau e ver no que dá. Que nome você daria para esta cruza?

      E assim, o trato com o rei estava findado, e a matilha preferiu sair do local para não presenciar a noite de núpcias do rei.

      Algumas semanas se passaram desde que ocorreu a invasão ao prédio da empresa Nightfang. A matilha dos Olhos da Serpente possui um novo QG e tem treinado nas horas vagas no bosque da USP, tendo dominado as táticas de matilha: Arrancar Pelos e Passe a Frente. Pedro já teve aulas com Tito sobre como se comunicar com cães (e levou um esporro por demorar tanto a devolver seu fetiche).

      Pedro encontrava-se neste momento no covil de seus irmãos humanos, os Órfãos da Sé. Astuto não se mostra muito satisfeito pelo tempo que Pedro sumiu do grupo, mas fica de bico calado quando o companheiro sumido larga uma carteira recheada de dólares americanos no chão. Rufino é o que mais sente sua falta, seguido por Juninho "Pô mermão, cê me deixou sozinho naquele dia lá, tive de me virar em dois pra conseguir descolar nosso rango", mas mesmo assim o cumprimenta com um sorriso no rosto. Jair permanece sentado em um canto, mas cumprimenta Pedro à distância com um gesto de cabeça quando este faz contato visual.

      Ao que parece, os Órfãos não tiveram tantos problemas para se virarem sozinhos enquanto ele esteve fora. Pedro podia ver uma porrada de celulares no chão, aquilo valeria uma pequena fortuna!


- Cortesia de um tal de "pokemongo" ou algo assim. Ficou mais fácil do que nunca passar a mão no celular desses playboy depois disso. Quem inventou esse jogo merece parabéns! - Dizia Astuto com um sorriso malicioso.

      Após algumas piadinhas sarcásticas de Astuto sobre o repentino sumiço de Pedro, o clima era de descontração e alegria. Os garotos havia comprado três pizzas tamanho família, algumas cervejas e até um MClanche Feliz apenas com o dinheiro de um dos celulares que haviam conseguido vender, e ainda havia sobrado para mais alguns dias de farra.

      Em dado momento, Juninho chama Pedro para um canto. Ele já estava um pouco bêbado, mas seu tom era de gratidão.

- Cara, fiquei muito puto mesmo quando cê sumiu. No início até pensei que tinha ido pro xilindró, depois pensei que tinha arrumado algum trampo bom e não queria dividir a grana, mas apesar de tudo, é muito bom te ver, brother! - E abraçava Pedro, babando um pouco em sua camiseta. - Queria te agradecer, mano. Não sei o que seria de nós sem você para nos ajudar diversas vezes, como naquele dia que o Jair... bom... cê sabe. Se você não tivesse chegado na hora certa, com certeza o Astuto já estaria numa vala e nós trabalhando de aviõezinhos para o Marcus. Aceita isso como presente por tudo que cê já fez por nós, mano! - E colocava um celular na sua mão.

OFF: Caso não aceite, ele insistirá.

      Pedro não sabia utilizar corretamente um desses, mas Juninho, malandro do jeito que é, havia pegado as manhas e lhe ensinava o básico. No fim, poderia ser de ajuda para se comunicar com seus amigos da Sé enquanto estivesse longe.

      Ao cair da noite, pedro contava histórias para colocar os mais jovens para dormir, ajudava a carregar Juninho (que já havia caído de bêbado) para seu colchão e dava um jeito de sair para reunir-se novamente com sua matilha. Era compreensível que um ser de dupla natureza possuísse uma vida dupla, e como tal, duas famílias, mas em seu coração havia espaço para ambas.

      Enquanto caminhava pela rua escura, subitamente seu celular tocava. Estranhamente o celular não parecia bloqueado, será que Juninho já havia aprendido a fazer isso também? E quem estaria ligando?! O antigo dono do celular? Seus colegas da Sé? Ele segurava o aparelho em sua mão enquanto se decidia entre atender ou não.

PEDRO



      O celular tocava, e receoso do que poderia ser, Pedro ignorava a chamada. O roedor seguia seu caminho à noite, e ao chegar no prédio abandonado onde sua matilha residia, percebe que a maioria deles já estava dormindo, exceto Lucas que mantinha-se contemplando o celular na mão.

      Ao ver o roedor se aproximando, ele lhe dirige a palavra.

- Ainda bem que chegou, meu turno de vigia já está quase acabando! - Mas Pedro percebia que ele tinha algo mais a dizer, embora estivesse em dúvida se compartilharia.

      Caso insista, ele abre o jogo.

- Cara, por acaso notou alguma coisa estranha hoje? Tenho recebido estranhas mensagens anônimas há algumas horas, sempre coisas como essa! - Então lhe mostrava a tela do celular. Uma mensagem com a única palavra: "Shinzui". - Estranhamente, essa mensagem veio exatamente no momento em que eu estava no metrô. No metrô, um televisor mostrava anúncios. Algo como shampoo para pulgas e remédios para cães, então um logo animado com a mesma palavra, Shinzui, preencheu a tela! Brienne relatou algo semelhante. Enquanto passava em frente à uma loja de eletrodomésticos, as televisões começaram a mostrar anúncios de produtos para cães. De repente, os anúncios eram cortados, mostrando uma reportagem sobre executivos de uma empresa com o mesmo nome, Shinzui, sendo liberados após um julgamento, onde foram acusados de testes ilegais em animais e maus tratos. O áudio das TVs elevou-se ao máximo sem que ninguém o tivesse feito, então um dos atendentes da loja tenta sem sucesso baixar o volume, então, subitamente a programação voltou ao nor...

      O comentário de Lucas era interrompido por seu celular, que tocava em sua mão. Repentinamente, pedro também sentia o seu celular tocando em seu bolso. Seria apenas coincidência? Lucas olhava para ele confuso, então atendia o telefone. No mesmo momento, o celular de Pedro parava de tocar.

- Alô? Quem? Ahn... quem gostaria de falar? - Então olhava para Pedro e lhe entregava o celular.

- Um tal de "cifrão". Ele diz ser um Roedor de Ossos e diz que está há horas tentando falar com você!

      Um Roedor de Ossos? Pedro não se lembrava deste nome, mas sabia que vários outros Garou de regiões vizinhas foram convocados pela seita para reporem os membros caídos das últimas missões. Seria este Roedor um deles? E por que desejava tão insistentemente falar com ele? Aliás, se ele for mesmo o indivíduo que estivera ligando momentos antes, como sabia de seu telefone, que havia sido dado há algumas horas após ter sido roubado de um desconhecido?